Perguntou-me Fernando Mascarenhas, que está à frente da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna (com sede no belíssimo Palácio do Marquês de Fronteira, o edifício azulejado do século XVII que se esconde na mata de Monsanto, à beira de Benfica, em Lisboa), se queria falar sobre um livro de divulgação de ciência num conjunto de sessões que ele está a organizar à volta de livros de ciência.
Claro que queria e claro que o livro escolhido é “Cosmos” de Carl Sagan, publicado na edição original em 1980 pela Random House e na tradução portuguesa em 1984 (edição não ilustrada, logo no início da colecção “Ciência Aberta” da Gradiva) e em 2001 (edição ilustrada, fora de colecção). Agora que a editora portuguesa de Sagan começou a publicar as obras completas de Sagan com o livro póstumo “As Variedades da Experiência Científica” é uma boa altura para revisitar “Cosmos”. Aliás, qualquer altura é boa para reler “Cosmos”, no todo ou em partes, porque “Cosmos” é intemporal.
"Cosmos é tudo o que existiu, existe ou existirá". É assim que o livro começa. E continua: “A mais insignificante contemplação do cosmos emociona-nos – provoca-nos um arrepio, embarga-nos a voz, causa-nos a sensação suave de uma recordação distante. Sabemos que nos estamos a aproximar do maior de todos os mistérios.” O livro do astrofísico norte-americano Carl Sagan, que morreu há onze anos depois de uma luta com uma doença rara e fatal, trata de tudo… O que o olhar humano alcança e, mais longe ainda, o que a mente humana alcança. Leva-nos numa viagem para a frente e para trás no espaço e para trás e para a frente no tempo. Faz-nos sonhar! Não se pode pedir mais de um livro.
O livro está associado de perto a uma série de televisão (produzida pela KCET e pela Carl Sagan Productions, em associação com a BBC e transmitida pela PBS, a cadeia de televisão pública dos Estados Unidos), que hoje se pode encontrar em DVD, complementando-se um ao outro. Podemos contemplar as imagens do cosmos na série com o mesmo nome e tentar compreendê-lo no livro, guiados num caso e noutro pela superior inteligência de Sagan. Ao contemplarmos o universo deparamos com “biliões e biliões” de estrelas (a expressão ficou, tendo até dado o título a um outro livro de Sagan) – as que vemos a olho nú pertencem todas à nossa Galáxia, que é apenas uma de entre um multidão de galáxias que há no vasto cosmos. E deparamos sobretudo com espaço vazio. É difícil dizer o que mais nos emociona: se a existência de outros sóis, se o imenso e frio vazio que os muitos sóis não chegam para aquecer. Os sóis que vemos são afinal sítios onde fomos feitos, como Sagan afirma no livro e nos lembra no final. Somos filhos das estrelas, filhos que têm responsabilidades para com a sua casa:
“Somos a encarnação local de um Cosmos que toma consciência de i-próprio. Começámos a contemplar as nossas origens: pó de estrelas meditando acverca das estrelas; ajuntamentops organizados de dez mil biliões de biliões e átomos analisando a evolução do átomo: descobrindo a longa caminhada que, pelo ,enos para nós, levou ao aparecimento da consciência. Devemos a nossa lealdade às espécies e ao nosso planeta. Somos nós que nos responsabilizamos pela Terra. Devemos a nossa obrigação de sobreviver não só a nós próprios, mas ao Cosmos, vasto e antigo, de onde despontámos.”
O início e o fim de um livro são para mim bons indicadores da qualidade da escrita. Julgo que, depois de transcrever os parágrafos incial e final de “Cosmos”, o alfa e o ómega, fique claro para os leitores que não conheçam o estilo científico-poético de Sagan. Esse estilo aliado à figura carismática do seu autor é talvez o maior responsável pelo extraordinário êxito tanto do livro como do filme, em toda a Terra e também aqui em Portugal (e só não será em todo o cosmos, porque, que se saiba, só há vida inteligente na Terra). É um estilo que não só conquistou como está permanentemente a conquistar leitores. Conforme escreveu Guilherme Valente, o editor português de Sagan (só isso faz um currículo!), na badana da edição ilustrada de “Cosmos”:
“Podendo ser considerada uma das grandes obras do século XX, pelo seu conteúdo e qualidade literária. Cosmos é um clássico, isto é, um livro que e enriquece com a experiência de cada nova leitura. Não é apenas um livro sobre o conhecimento científico e a história da ciência. É um livro sobre o melhor da nossa humanidade: a aventura da descoberta, o inconformismo dom espírito humano, a tolerância, a possibilidade e o impulso humaníssimos de solidariedade; sobre a consciência moral e a responsabiliodade que essa consciência impõe, na nossa relação com os outros, com o planeta e o universo”.
Dificilmente se poderia dizer melhor sobre este livro e dificilmente se poderia dizer melhor sobre qualquer livro.
Não é só o estilo da escrita inspirada que ressalta ao lermos a abertura e o fecho do livro. É o facto de percebermos a tese do livro. Ao contemplarmos o cosmos desde tempos imemoriais, sentimo-nos atraídos por ele, quer dizer, pelo conhecimento dele. E essa procura do conhecimento tem sido, em resumo, a história da humanidade. A conclusão é que não somos seres estranhos num universo estranho. Somos feitos da matéria das estrelas e o facto de sermos o aglomerado mais complexo de átomos no universo (tanto quantos sabemos: Sagan sonhava com a existência de vida e de inteligência extraterrestre) obriga-nos a explorar o universo. Essa viagem já começou e e vai continuar, tanto do ponto de vista intelectual como do ponto de vista físico (o físico Carl Sagan teve parte activa em vários projectos da NASA de exploração do sistema solar). Temos a obrigação do conhecer. Na p. 14 da edição ilustrada escreve Sagan:
“Temos o privilégio de viver entre pessoas brilhantes e apaixonadamente curiosas e numa época em que a busca do conhecimento é apreciada. Seres humanos, nascidos em última análise das estrelas e a habitar temporariamente num mundo chamado Terra, iniciaram a sua longa viagem até casa.”
Repare-se no advérbio “temporariamente”. A Terra, nos “limites do oceano cósmico”, é o nosso berço, é o sítio onde nascemos. Foi aqui que teve lugar a aventura extraordinária do desabrochar e desenvolvimento da vida. Foi aqui que o fenómeno da consciência se desenvolveu nesse órgão extraordinário que é o cérebro humano. É por isso um sítio único. Mas já andamos em órbita da Terra. Já fomos à Lua e já enviámos engenhos a outros planetas. Viajaremos em direcção das estrelas. Espalharemos a vida e a consciência no cosmos. O nosso propósito é o de preencher e de compreender o cosmos.
Carl Sagan, como os cientistas em geral, é um grande optimista. Ele acredita que o futuro que temos pela frente é muito maior do que o nosso passado. E, como os cientistas em geral, é um grande humanista. Sobre a sua humanidade é eloquente a dedicatória que fez no “Cosmos” à sua mulher Ann Druyan, companheira não só na vida mas também na produção do filme e na redacção de alguns livros. Trata-se de uma grande declaração de amor:
“Na vastidão do espaço e na imensidade do tempo, é uma alegria para mim partilhar um planeta e uma época com Annie”.
A paráfrase é inevitável: Na vastidão do espaço e na imensidade do tempo, é uma alegria para nós partilhar um planeta e uma época com Carl.
- Carl Sagan, “Cosmos” (edição ilustrada), Gradiva, 2001.
Claro que queria e claro que o livro escolhido é “Cosmos” de Carl Sagan, publicado na edição original em 1980 pela Random House e na tradução portuguesa em 1984 (edição não ilustrada, logo no início da colecção “Ciência Aberta” da Gradiva) e em 2001 (edição ilustrada, fora de colecção). Agora que a editora portuguesa de Sagan começou a publicar as obras completas de Sagan com o livro póstumo “As Variedades da Experiência Científica” é uma boa altura para revisitar “Cosmos”. Aliás, qualquer altura é boa para reler “Cosmos”, no todo ou em partes, porque “Cosmos” é intemporal.
"Cosmos é tudo o que existiu, existe ou existirá". É assim que o livro começa. E continua: “A mais insignificante contemplação do cosmos emociona-nos – provoca-nos um arrepio, embarga-nos a voz, causa-nos a sensação suave de uma recordação distante. Sabemos que nos estamos a aproximar do maior de todos os mistérios.” O livro do astrofísico norte-americano Carl Sagan, que morreu há onze anos depois de uma luta com uma doença rara e fatal, trata de tudo… O que o olhar humano alcança e, mais longe ainda, o que a mente humana alcança. Leva-nos numa viagem para a frente e para trás no espaço e para trás e para a frente no tempo. Faz-nos sonhar! Não se pode pedir mais de um livro.
O livro está associado de perto a uma série de televisão (produzida pela KCET e pela Carl Sagan Productions, em associação com a BBC e transmitida pela PBS, a cadeia de televisão pública dos Estados Unidos), que hoje se pode encontrar em DVD, complementando-se um ao outro. Podemos contemplar as imagens do cosmos na série com o mesmo nome e tentar compreendê-lo no livro, guiados num caso e noutro pela superior inteligência de Sagan. Ao contemplarmos o universo deparamos com “biliões e biliões” de estrelas (a expressão ficou, tendo até dado o título a um outro livro de Sagan) – as que vemos a olho nú pertencem todas à nossa Galáxia, que é apenas uma de entre um multidão de galáxias que há no vasto cosmos. E deparamos sobretudo com espaço vazio. É difícil dizer o que mais nos emociona: se a existência de outros sóis, se o imenso e frio vazio que os muitos sóis não chegam para aquecer. Os sóis que vemos são afinal sítios onde fomos feitos, como Sagan afirma no livro e nos lembra no final. Somos filhos das estrelas, filhos que têm responsabilidades para com a sua casa:
“Somos a encarnação local de um Cosmos que toma consciência de i-próprio. Começámos a contemplar as nossas origens: pó de estrelas meditando acverca das estrelas; ajuntamentops organizados de dez mil biliões de biliões e átomos analisando a evolução do átomo: descobrindo a longa caminhada que, pelo ,enos para nós, levou ao aparecimento da consciência. Devemos a nossa lealdade às espécies e ao nosso planeta. Somos nós que nos responsabilizamos pela Terra. Devemos a nossa obrigação de sobreviver não só a nós próprios, mas ao Cosmos, vasto e antigo, de onde despontámos.”
O início e o fim de um livro são para mim bons indicadores da qualidade da escrita. Julgo que, depois de transcrever os parágrafos incial e final de “Cosmos”, o alfa e o ómega, fique claro para os leitores que não conheçam o estilo científico-poético de Sagan. Esse estilo aliado à figura carismática do seu autor é talvez o maior responsável pelo extraordinário êxito tanto do livro como do filme, em toda a Terra e também aqui em Portugal (e só não será em todo o cosmos, porque, que se saiba, só há vida inteligente na Terra). É um estilo que não só conquistou como está permanentemente a conquistar leitores. Conforme escreveu Guilherme Valente, o editor português de Sagan (só isso faz um currículo!), na badana da edição ilustrada de “Cosmos”:
“Podendo ser considerada uma das grandes obras do século XX, pelo seu conteúdo e qualidade literária. Cosmos é um clássico, isto é, um livro que e enriquece com a experiência de cada nova leitura. Não é apenas um livro sobre o conhecimento científico e a história da ciência. É um livro sobre o melhor da nossa humanidade: a aventura da descoberta, o inconformismo dom espírito humano, a tolerância, a possibilidade e o impulso humaníssimos de solidariedade; sobre a consciência moral e a responsabiliodade que essa consciência impõe, na nossa relação com os outros, com o planeta e o universo”.
Dificilmente se poderia dizer melhor sobre este livro e dificilmente se poderia dizer melhor sobre qualquer livro.
Não é só o estilo da escrita inspirada que ressalta ao lermos a abertura e o fecho do livro. É o facto de percebermos a tese do livro. Ao contemplarmos o cosmos desde tempos imemoriais, sentimo-nos atraídos por ele, quer dizer, pelo conhecimento dele. E essa procura do conhecimento tem sido, em resumo, a história da humanidade. A conclusão é que não somos seres estranhos num universo estranho. Somos feitos da matéria das estrelas e o facto de sermos o aglomerado mais complexo de átomos no universo (tanto quantos sabemos: Sagan sonhava com a existência de vida e de inteligência extraterrestre) obriga-nos a explorar o universo. Essa viagem já começou e e vai continuar, tanto do ponto de vista intelectual como do ponto de vista físico (o físico Carl Sagan teve parte activa em vários projectos da NASA de exploração do sistema solar). Temos a obrigação do conhecer. Na p. 14 da edição ilustrada escreve Sagan:
“Temos o privilégio de viver entre pessoas brilhantes e apaixonadamente curiosas e numa época em que a busca do conhecimento é apreciada. Seres humanos, nascidos em última análise das estrelas e a habitar temporariamente num mundo chamado Terra, iniciaram a sua longa viagem até casa.”
Repare-se no advérbio “temporariamente”. A Terra, nos “limites do oceano cósmico”, é o nosso berço, é o sítio onde nascemos. Foi aqui que teve lugar a aventura extraordinária do desabrochar e desenvolvimento da vida. Foi aqui que o fenómeno da consciência se desenvolveu nesse órgão extraordinário que é o cérebro humano. É por isso um sítio único. Mas já andamos em órbita da Terra. Já fomos à Lua e já enviámos engenhos a outros planetas. Viajaremos em direcção das estrelas. Espalharemos a vida e a consciência no cosmos. O nosso propósito é o de preencher e de compreender o cosmos.
Carl Sagan, como os cientistas em geral, é um grande optimista. Ele acredita que o futuro que temos pela frente é muito maior do que o nosso passado. E, como os cientistas em geral, é um grande humanista. Sobre a sua humanidade é eloquente a dedicatória que fez no “Cosmos” à sua mulher Ann Druyan, companheira não só na vida mas também na produção do filme e na redacção de alguns livros. Trata-se de uma grande declaração de amor:
“Na vastidão do espaço e na imensidade do tempo, é uma alegria para mim partilhar um planeta e uma época com Annie”.
A paráfrase é inevitável: Na vastidão do espaço e na imensidade do tempo, é uma alegria para nós partilhar um planeta e uma época com Carl.
- Carl Sagan, “Cosmos” (edição ilustrada), Gradiva, 2001.
17 comentários:
Esta colagem do Carlos Fiolhais ao Carl Sagan é bonita, mas convém esclarecer o público: o Carl Sagan era um excelente divulgador, mas um físico fraquinho. Daí que os seus livros ou generalizem, ou abordem a sociologia da ciência, mas não expliquem nenhuma teoria específica. Pelo contrário, o Richard Feynman e o Stephen Hawking têm créditos firmados, divulgando o que sabiam e exerciam.
Já agora: visitei a sua página pessoal e fiquei espantado com a auto-glorificação de artigos feitos algures nos anos oitenta... Não deverá um Professor Catedrático, com tantos projectos de investigação (pagos por todos nós) e alunos de doutoramento (idem) permitir-lhe escrever um artigo científico a sério?
É que, visitando o ISI Web of Knowledge, precisei de regressar a 2001 para encontrar artigos publicados em revistas minimamente sérias (International Journal of Physics, que é fracote e, essa sim, a Physical Review B).
Enfim... quem sabe faz, quem não sabe bloga.
Muito tipico dos Tugas.
Falar mal dos outros nas suas costas, sob anonimato, provavelmente com uma invejazita manhosa qualquer.
Quer ser grande é ó anónimo? Então trabalhe, nunca o conseguirá a insistir no discurso que fez acima (e já não é a primeira vez).
Manhosos e rasteiros, andamos fartos de gente como voçê a deixar excrementos em tudo o que os outros fazem ou conseguem. ODEIO gente dessa!
Este espaço não é para isso.
Bazex, toca a desimpedir a área, volta para o curral bem para o meio da manada que, pelo discurso, é lá que pertences. Vai tomar banho.
Cosmos será uma obra para a posteridade da nossa raça humana, é sem duvida um dos melhores livros que li na minha vida, dificilmente surgirá outro livro assim e outro autor assim, pessoas como Carl Sagan são unicas, que venham elas pois fazem toda a diferença..
Não é inveja, é medo de represálias; experimente dizer mal de quem tem poder para o despedir (via concursos da FCT); e sim, tenho meia dúzia de artigos científicos nos últimos anos, e um terço da idade do excelso investigador...
Se um cientista que tem mais de 250 artigos indexados na ISI Web of Knowledge é fraquinho, com largas centenas de citações, gostava que o físico a sério, que deve ser fã do comportamento conjunto da água e do azeite, me mostrasse o seu caixote do lixo.
Para dirimir a questão de quanto valem 124 artigos (e não 250), existem vários indicadores estatísticos (aceites internacionalmente e eles fruto de investigação) que quantificam não só o número, mas a relevância, pelo número de citações e factor de impacto da revista onde foram publicados. O mais importante será o chamado número de Hirsch, definido como o número h tal que, se um cientista tiver N artigos, h artigos tiverem mais que h citações, e N-h artigos tiverem menos que h citações.
Para medir a evolução temporal dos artigos, distinguindo assim trabalho consistente de produção "aos solavancos" (isto é, os artigos mais antigos são menos "valiosos" que os mais modernos), existe o número de Hirsch contemporâneo, h_c. Para ponderar artigos com muitos autores versus produção individual, pode-se normalizar as citações: tal produz o número de Hirsch individual h_i.
Em suma: o Carlos Fiolhais tem 149 artigos. Utilizando um qualquer software disponível (os valores variam ligeiramente, consoante a fonte), verifica-se que tem um número de Hirsch de h = 11. Isto indica que, destes 149 trabalhos, 11 têm mais que 11 citações, e a esmagadora maioria (138) tem menos.
Continuando: o número de Hirsch individual é de h_i = 2.69, indicando que o autor trabalha frequentemente em conjunto (o que é obviamente positivo, mas deveria obrigar a um trabalho mais consistente). Por último, o seu número de Hirsch contemporâneo é h_c = 7; como é menor que h = 11, indica que a sua produção científica tem decaído de qualidade.
Eu tenho 13 publicações (segundo o Google Scholar, excluindo duplicações); o meu número de Hirsch é h = 5.6, o contemporâneo é h_c = 7.4 e o individual é h_i = 2.5. A comparação é óbvia.
A minha mensagem: os "meus" valores em nada me distinguem, conhecendo colegas com melhores resultados. Obviamente, tenho muito menos artigos que o Carlos Fiolhais. Mas ele tem 29 anos de actividade científica, e eu tenho 27 anos de idade.
Outro exemplo: o João Magueijo, celebrado emigrante, apresenta os seguintes valores:
165 artigos com citações (eliminei duplicações)
h= 34
h_c= 28
h_i = 21.
Obviamente, é um físico a sério, e um exemplo que retenho.
Já agora, para esclarecer a minha motivação: não tenho nada pessoal contra o Carlos Fiolhais, nem nunca me cruzei directamente com ele na minha vida profissional. Já fui avaliado positivamente por ele no passado (concursos da FCT), o que obviamente poderia mudar se assinasse em nome próprio este comentário. O que me motiva é precisamente o enlevo mediático (incluindo um Globo de Ouro...), quando a crueza estatística dos factos esbate os méritos tão aclamados.
Entretanto, continuo como bolseiro ad-infinitum, porque outros tantos senhores cientistas ocupam os lugares disponíveis, encostando-se a glórias passadas ou inexistentes, e não contribuindo para a produção científica nacional. E, sim, isso deixa-me invejoso: também gostava de ter subsídio de férias e Natal, direito a subsídio de desemprego, um contrato para pedir empréstimo para comprar casa, direito a ir a uma consulta da caixa, representação sindical, etc.
Mas, claro, o contribuinte paga e manda:se julga que um artigo altissimamente citado em 1992 compensa um ano inteiro (2006) de ausência publicativa, e demais pobreza de produção, e que o meu lugar (e o dos demais bolseiros) é onde estou, preocupado apena em não ser chumbado no próximo concurso... então sou eu que estou errado.
Para os interessados:
http://en.wikipedia.org/wiki/Bibliometrics
http://en.wikipedia.org/wiki/H-index
PS - Os valores do número total de artigos podem variar consoante se usa o Google Scholar, o ISI ou o SPIRES, e os valores estatísticos que apresentei utilizam a primeira fonte referida. Posso ter falhado na eliminação de duplicações, mas tal não afecta os índices de Hirsch, visto que estas não surgem com citações.
Bom post: o Carl Sagan é, julgo, uma referência incontornável na vida de todos os que alguma vez pensaram em dedicar-se à ciência.
Quanto à polémica das citações e etc.: conheci o professor Fiolhais nos tempos do secundário, quando andava nas Olimpíadas da Física. Mais que quaisquer recordações do modo como ensinava (sempre fui mais de aprender pelos livros...), recordo o seu entusiasmo pela ciência.
Quanto à sua capacidade científica, não vou comentar o estilo dos comentários anteriores ou o mérito dos pseudo-argumentos utilizados: além da suposta verdade dos factos numéricos, há que ter em conta o contributo enquanto divulgador, algo que não pode ser contabilizado directamente, mas que certamente encorajou muitos outros cientistas a seguirem a carreira e a produzirem artigos científicos. E, tendo o professor Fiolhais escolhido conscientemente dedicar-se à comunicação das ideias, não vejo porquê a crítica.
Mas, já agora: porque não um post sobre a dita bibliometria? Parece-me que este blog seria o espaço ideal para que os visitantes mais leigos comecem a compreender como se investiga e avalia os resultados.
"Esse Físico a sério" é no mínimo deselegante... uma amostra mais ou menos factível de como caminha a ciência... O triste eh que alega ter 27 anos e se preocupa tanto com o trabalho alheio ! Meu deus !
Percebo muito bem o incómodo do físico a sério, não por ser bolseiro, mas por as perspectivas futuras de uma carreira em Portugal na área da investigação, mesmo para quem tem muito mérito não serem muito animadoras, e mesmo com o programa Ciência 2007 que vai contratar 1000 doutorados durante cinco anos. Só que me parece que falhou o alvo, tomáramos todos nós que todos os "cientistas que ocupam lugares" fossem deste calibre. De certeza que a ciência portuguesa estaria muito melhor. Saia da sua pura campânula e tente olhar olhar para todo todas as áreas científicas do país. Vai ver que vai ter muito mais vontade de gritar contra os que realmente nada publicam, nada orientam, nada investigam. Acho muito bem que nunca se cale, que mostre sempre a sua indignação. Acho é que tem que escolher os alvos certos.
27 anos e já com esta atitude???
vais longe, vais...
ó sr. físico a sério
vc concerteza que não foi estudar ciência por influência directa do trabalho do Carl Sagan (como eu), já que tratou saltar logo às canelas do Carlos Fiolhais com um fervor de inquisidor... quando o importante era o Sagan
enfim o post era acerca do trabalho (magnifico) de divulgação do Sagan e da beleza da sua prosa. o Cosmos é de facto uma obra intemporal, e já tendo lido mais uns quantos livrinhos na área da (divulgação da) ciência, ainda não encontrei outro do mesmo calibre e com a mesma capacidade de nos fazer sonhar (talvez o Hofsttader, mas esse ainda o tenho na lista de espera...)
voltando à competência ou falta dela, do Carlos Fiolhais, e como referiu o anónimo das 9.53, o Fiolhais faz um trabalho muito bom de divulgação (à nossa escala pequena, não comparar com o Sagan) e isso não é contabilizado em publicações mas não deixa de ser mt importante (aqui ou em qualquer parte do mundo), e o sr. físico a sério sabe tão bem como eu que os departamentos de física e outros por aí fora têm uma massa crítica relativamente elevada de gente que não publica, ensina mal e não pensa sequer em divulgar ciência... o alvo Fiolhais foi um pouco mal escolhido...
vc foi deselegante num post sobre um sujeito (e sua obra) maior que todos nós juntos...
olhe, faça como eu fiz, corra riscos, tente a emigração, e depois conte como foi
M.
Eu é que disse que o incentivo aos demais não é contabilizado, e assinei! Fico bem triste...
Já agora, reitero o meu desejo e juízo de valor sobre a necessidade de um post sobre a questão da bibliometria: não só uma discussão sobre os méritos do sistema peer-review, mas também alguns detalhes técnicos sobre os indicadores referidos pelo "Físico a sério", um comentário às políticas blind/ double blind peer review, e as suas falhas, ocasionais ou sistemáticas.
E, utilizando o exemplo do dito "Físico", recordo que o próprio João Magueijo (um físico a sério, sem dúvida) se mostra bastante crítico do dito sistema de peer-review, no seu livro "Faster Than the Speed of Light: The Story of a Scientific Speculation". Embora ache o seu estilo excessivo, a minha experiência mostra que terá alguma razão no que toca à possibilidade de interesses pessoais e profissionais interferirem com a apreciação imparcial de um artigo submetido.
O Sagan e o Fiolhais são (mantenho no presente...) excelentes divulgadores que são também excelentes cientistas. Se a produção científica se ressente a partir de determinada altura da actividade de divulgação, é certamente algo que tenho a certeza que ambos souberam muito bem antever... Só mesmo má-vontade, mesquinhez ou uma desculpável juventude (que acaba aos 28 anos...) é que pode dizer o contrário.
e, já agora, os autores do blogue que postem algo sobre a bibliometria
Bem dito. Parafraseando um amigo meu disléxico, há que deitar água na verdura.
E vá lá, a juventude acaba aos 30! Por favor?
Bom fim de semana a todos.
Pelos vistos a juventude dos físicos acaba muito cedo.28? 30? Ainda há pouco tempo, na época dos gordos subsídios, existiam jovens agricultores de 60 anos.
Quanto ao "físico a sério", é evidente que confunde o Germano com o género humano.
Senhor "um físico a sério", não sei se tem razão. Neste seu quase anonimato de gato quase escondido com rabo praticamente todo de fora, percebo a razão da sua atitude. Concordo consigo que há cada vez mais motivos para ter cada vez mais o "medo" de que fala. Infelizmente, constato o mesmo que o senhor. Junte mais 27 anos aos que tem e terá praticamente a minha idade. Espero que sejam 27 anos de trabalho empenhado e honesto; e que tenha o reconhecimento merecido. O entusiasmo do Professor Carlos Fiolhais - que conheço de congressos, da televisão, dos jornais e da Net - já me entusiasmou várias vezes; mas também já me desiludiu outras vezes no que diz respeito ao nível do rigor da apreciação e comentário crítico (não na sua área científica específica, na qual não tenho qualquer competência; mas naquela zona em que a ciência penetra a educação que sustenta a formação das crianças e dos jovens).
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