O livro "Histórias da Luz e das Cores" de Luís Miguel Bernardo (Editora da Universidade do Porto, 2007) de que já aqui falei dá alguns bons exemplos do nosso atraso científico-tecnológico no século XIX.
Em 1876 Joaquim da Silva Albuquerque fazia provas para catedrático na Academia Politécnica do Porto e dizia:
"A perfeição do carácter científico que oferece a astronomia, da qual result a sua primazia entre as outras ciências naturais, procede de ser o seu objecto circunscrito a fenómenos geométricos e mecânicos, únicos conhecimentos que relativamente aos corpos celestes podemos explorar."
Pois. Mas a análise espectral de Kirchhoff e Bunsen já se usava desde 1860 para estudar as riscas do Sol...
Pouco depois, em 1894, Baltazar Ozório no seu livro "Função Chimica da Luz" previu o registo fotográfico das imagens do espectroscópio:
"O espectroscópio não disse talvez tudo, quanto a meu ver, dele se pode esperar. Se o associarmos à fotografia, então creio que serão muitas e inesperadas as suas revelações, tantos e etão singulares são os fenómenos que nos revelam as substãncias que a luz impressiona, tão variados e tão imprevistos."
A ideia parece boa. Mas é tardia. Esse tipo de fotografia já se fazia desde 1890 graças aos trabalhos de H. C. Vogel!
Mas há pior. A meio do século, quando já se discutiam as vantagens da iluminação eléctrica relativamente à iluminação a gás e se mostravam modernos sistemas de uma e de outra, dois fabricantes portugueses de velas de cera apresentavam os seus exemplares na Exposição Universal de Paris de 1855. Oliveira Pimentel, que foi reitor da Universidade de Coimbra, elogia no seu "Relatório sobre a Exposição" as velas expostas (as velas do Sr. Teixeira de Melo, de Lisboa, e do Sr. Santos, de Portimão, "que os não desonram"), mas comenta a respeito das velas portuguesas em geral:
"A fabricação das velas de cera no interior do reino é cada vez mais imperfeita em todos os seus pontos; o branqueamento, a forma e as torcidas chegam a ser ignóbeis, de sorte que estamos a este respeito quase selvagens."
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
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5 comentários:
Com certeza que se pode recordar aqui o Prof. Varela Cid, do IST, que em 1957 declarou que era impossível lançar satélites artificiais.
Seria interessante recuperar uma capa do Paris-Match com a cara do douto Prof. Varela Cid e a frase "Les Portugais sont toujours gais", publicada na época.
O atraso científico está perfeitamente demonstrado na famosa Academia de Ciências que foi sempre dirigida por "Filósofos".
José Daniel Rodrigues da Costa, no vintismo, já retratava o nosso atraso em muitas coisas, nestes versos /cuja ortografia respeito)com o sugestivo título de
PORTUGAL ENFERMO
PELOS VICIOS, E ABUSOS DE AMBOS OS SEXOS
Portugal, Portugal! Eu te lastimo!
E bem que velho sou ainda me animo
A mostrar-te os defeitos, e os excessos
Dos costumes, que tens já tão avessos
Dos costumes, que tinhas algum dia,
Quando mais reflexão na gente havia.
Tu de estranhas Nações foste envejado;
Hoje faz compaixão teu pobre estado:
Cada vez te vão mais enfraquecendo,
Todo o brilho, que tinhas, vas perdendo:
Paraiso do mundo te chamavão;
As mais Nações com tigo se animavão;
Ellas porém ficarão sãs, e fortes;
E tu todo o instante exposto aos cortes
Da usura, da ambição, da falcidade,
Do egoismo, da fuga, da impiedade:
Males, que aos que bem pensão cauzão tédio,
A que apenas descubro hum só remedio,
Que outro melhor não ha, a que se apelle,
E muita gente chora a falta d’Elle*…
A falta dele era referida ao regresso do rei ezilado no Brasil.
Nota: Pela sua extensão, limito-me a transcrever o princípio. Para quem quiser compulsar todo o livreto pode fazê-lo na Biblioteca Nacional, na cota L 65160 P, correspondente à edição de 1822 que consultei, mas as outras edições também estão disponíveis: 1819, 1820, e 1829.
Mas continua meus caro, continua.
Veja-se JoséSócrates.com x JoseSocrates.com
Bem-hajam
Infelizmente, todos os países não centrais, continuam atrasados.. hoje, as superficialidades nos induzem a acreditar que não.. todos consumimos produtos semelhantes.. o paço da ciencia julgo estar-se alargando, o fosso é ainda maior !
Lúcio, Brasil.
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