Quando me fazem a pergunta que dá título a este post tenho a tentação de me limitar a recomendar a leitura de uma boa introdução à filosofia, como Pense, de Simon Blackburn, Que Quer Dizer Tudo Isto?, de Thomas Nagel, ou Elementos de Filosofia Moral, de James Rachels. Se depois de ler cuidadosamente qualquer um destes livros a pergunta persistir, parece desavisado tentar responder-lhe. Mas talvez algumas pessoas façam a pergunta precisamente para saber se vale a pena darem-se ao trabalho de ler um livro de filosofia. Como, por outro lado, um leitor deste blog nos fez esta pergunta, vou procurar dar uma resposta breve.
Pensemos em coisas que “não servem para nada”, como a literatura, os jogos de vídeo, o futebol, as novelas e os concursos televisivos. Não ocorre geralmente às pessoas perguntar para que servem estas actividades porque elas compreendem desde o início que servem para nos deleitar (ainda que possam servir para mais do que isso, como é o caso da literatura). A primeira resposta à pergunta deste post é que a filosofia serve para deleitar aqueles de nós que têm um espírito filosófico — que se sentem atraídos por problemas de carácter conceptual, para os quais não há soluções empíricas nem formais. Problemas como o de saber o qual é o fundamento da moralidade, ou saber o que é realmente a arte, ou saber se a mente é a mesma coisa que o cérebro, ou saber o que é o conhecimento, ou se Deus existe, ou se há universais e que tipo de ser têm, ou como raio pode a palavra “Aristóteles” referir correctamente uma pessoa que morreu há 2500 anos e com a qual não temos qualquer contacto causal directo. Por estranho que pareça, há gente que se sente atraída por este tipo de problemas, e desde há pelo menos 25 séculos que há gentalha desta.
É provável, contudo, que esta resposta levante apenas outra pergunta: “Será razoável uma pessoa preocupar-se com estes enigmas e perder o seu tempo a pensar sobre eles?” Esta é a pergunta que realmente importa responder. Porque é esta pergunta que trai uma incompreensão radical não apenas do que é a filosofia, mas do que é qualquer actividade cognitiva, como a física ou a história, a musicologia ou a geometria. Para muitas pessoas não se levanta a pergunta “Para que serve a física?” por dois motivos.
Primeiro, porque confundem a física com o corpo de resultados da física. Mas isto é ignorar que o que realmente interessa aos físicos não é o que hoje sabemos sobre a física, e que os estudantes aprendem nas escolas (ou melhor: aprendiam, antes do Ministério Pimba da Educação ter destruído o ensino da física), mas antes o que ainda ninguém sabe e que estamos a tentar descobrir.
Segundo, porque a física ou a matemática têm propósitos práticos: servem para fazer pontes, produzir riqueza, telemóveis, medicina sofisticada, etc. Mas isto é ignorar que as aplicações práticas destas disciplinas são muitas vezes coisas que vêm depois — e por vezes muito depois — da investigação pura, cuja motivação não era prática mas puramente cognitiva: a mesma curiosidade intelectual persistente que anima os filósofos.
Ironicamente, estes dois aspectos baralham-se depois no que respeita à filosofia. Como a filosofia não apresenta o mesmo tipo de resultados consensuais que apresenta a física ou a matemática (não podemos provar filosoficamente que Deus existe ou que não existe, que temos ou que não temos livre-arbítrio, que a mente é apenas o cérebro ou não), a tentação é pensar que a filosofia não serve para nada. Mas se abandonarmos os problemas que estão em aberto porque estão em aberto, nunca encontraremos soluções para eles e por isso nunca encontraremos resultados consensuais, de modo que com este tipo de mentalidade também não existiria matemática nem física. E é sempre falacioso argumentar, sem mais, que se até agora não se conseguiu resolver o problema X, então não é possível resolver tal problema — este argumento poderia ser apresentado na véspera da descoberta de qualquer solução para qualquer problema difícil, que geralmente atormenta a humanidade durante séculos.
Quanto ao segundo aspecto, algumas pessoas têm a sensação que a filosofia nada tem a ver com coisas práticas do mundo. Isto é falso. Nem todas as disciplinas da filosofia são tão teóricas como a teoria do conhecimento ou a metafísica ou a filosofia da linguagem. As áreas mais aplicadas da filosofia, como a ética, a filosofia da arte ou a filosofia política, têm relações óbvias e importantes com o mundo social, político e artístico. Livros como Ética Prática ou Um Só Mundo, de Peter Singer, assim como Sobre a Liberdade, de John Stuart Mill, ou Uma Teoria da Justiça, de John Rawls, mostram bem a importância prática de algumas áreas da filosofia.
Mas seria um erro inferir que a filosofia é importante só porque algumas das suas áreas têm aplicação prática. A filosofia é importante pura e simplesmente porque os problemas filosóficos estão aí e não desaparecem se deixarmos de pensar neles. De modo que a melhor resposta à pergunta “Por que fazes filosofia?” é paralela à resposta que dão os alpinistas quando lhes perguntam para que raio se dão ao trabalho de escalar montanhas: “Porque há montanhas”.
terça-feira, 21 de agosto de 2007
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29 comentários:
A diferença é que o filósofo nunca atinge o cume. Limita-se a subir e, de quando em vez, contemplar a sua compreensão do mundo que deixou cá em baixo. Isto, para logo de seguida, entrar em vertigem com o imenso que ainda lhe resta escalar.
Por outro lado, se querem ver resultados práticos da actividade filosofica, basta que olhem para os fundamentos de qualquer ciência. Em particular, a Física. Acorde quem ainda sonhe que a Física se faz sem a Filosofia.
Carlos:
Permita-me discordar de si (pelo menos em parte!).
Penso que o filósofo pode até chegar a um cume, mas depressa verificará que o cume que ele pensava ser o fim é apenas a base para uma nova e importante escalada... E pelo caminho vai construindo os fundamentos de disciplinas como a Física ou Linguística.
Dizia algures o Desidério qualquer coisa como: a filosofia não é para os "fracos de coração". Aqui entre nós, acho que ele tem razão!
Cumprimentos,
José Oliveira.
Sim. Talvez o José Oliveira tenha razão. Em alguns casos muito particulares, há filósofos que julgam puder alcançar o cume. Mas, a escalada continua.
Conta-se que um dia um aluno de Euclides lhe perguntou para que servia a Geometria.
Como única resposta, o mestre mandou dar-lhe uma moeda e expulsou-o...
A ideia de que a filosofia não serve para nada reinava na minha turma de secundário. A culpa não é tanto dos que partilhavam esta opinião, mas mais do programa, principalmente o do 10º ano, que apelava claramente ao "marranço", se me é permitida a expressão. Acima de tudo, gostava de ter discutido mais sobre diversos temas e aprofundado a capacidade de reflexão crítica. Nesse aspecto, a filosofia, como disciplina, foi uma desilusão.
Fazer a pergunta, que todos fazem, é já um começo de filosofia. Na realidade, nada mais prático do que a filosofia! Todos os nossos comportamentos e atitudes têm um fundamento filosófico, sob as suas variadas formas: ética, moral, estética, mundivisão, teológica, etc.
A grande diferença entre os "filósofos" comuns e os outros ainda mais comuns (deixo de lado os Filósofos) é que os primeiros submeteram, total ou parcialmente, as suas ideias e crenças a um crivo de razão própria, enquanto os segundos o adquiriram por mimetismo. A grande importância da Filosofia é a decorrente do seu método racional, essa espantosa aquisição do espírito humano.
Creio que se pagará um preço muito caro pelo "utilitarismo" predominante, cujo critério principal de valor é a utilidade (de mercado, entenda-se, e que está subjacente à questão suscitado no texto do Desidério)
Belíssimo post! Obrigada!
Muito sinceramente estou bastante confortável com a aparente indefinição da filosofia. A rainha das ciências não abarca a totalidade da nossa compreensão. Nem tão pouco se revela de uma vez só; cabe à curiosidade de cada um trabalhar os seus pontos de vista de uma forma racional e fomentar o seu próprio desenvolvimento pessoal e cognitivo!
Caro Desidério,
Antes de tudo obrigado pelo texto, mas quero aproveitar para acrescentar algo que creio não estar errado. Há duas condições principais através das quais se pode perguntar para que serve a filosofia:
1- Pergunta-se porque se pretende discutir os critérios da sua utilidade ou rever argumentos sobre a sua utilidade.
2- Pergunta-se porque se pensa que ela, pura e simplesmente não serve para nada e é uma inutilidade estúpida mantê-la, até, num sistema de ensino.
A segunda condição da pergunta é muito frequente no nosso meio. E é curioso que é frequente tendo em atenção que a filosofia faz parte da formação geral no ensino secundário. Quer isto dizer que as pessoas, depois de a estudarem, concluíram que ela não serve para nada. E isto é tanto mais grave se estivessem com o “véu de ignorância” de nunca terem contactado com a disciplina. A responsabilidade pode e deve ser aqui apurada. 1º o mau ensino da filosofia que se pratica ao nível universitário. 2º, por consequência, o mau ensino da disciplina no ensino secundário. Realidade lamentável, mas muito real. E é bom que a disciplina se actualize, antes que morra por estupidez. Há bons sinais para esta mudança. Há que operá-la.
Abraço
Rolando Almeida
Divulgação
Mais um Blog que se tornou um Livro!
Filme da apresentação disponível no YouTube em “Camarada Choco”
www.camaradachoco.blogspot.com
Recado para o Carlos
Meu caro, a filosofia nunca atinge o cume porque é ela mesma que constrói os seus próprios cumes.
Para o Rolando
Tem sem dúvida razão, meu caro. Se não o sei por experiência directa, sei-o pela vacuidade de temas acerca dos quais me pedem ajuda de vez em quando. E nota-se pela fragilidade dos conhecimentos e pouca capacidade de argumentação dos alunos universitários... ou dos que já o foram.
Para o Desidério
Belo texto. Safou-se a tempo, antes de o "sistema" triunfar.
Levandar pela manhã com uma pergunta e deitar com 101 é na minha forma de ver um dos maiores feitos do ser humano.
A imagem da montanha e alguns posts ilustram exactamente este facto. A beleza da ciência reside na procura constante de respostas e nas novas questões que estas respostas despoltam.
Fazer ciência (em todos as áreas) é como escalar uma montanha. Mas agora também digo eu nem todos nós somos alpinistas, portanto também devem existir quem nao perceba estas coisas de perguntas e respostas.
Finalizo, deixando aqui os parabéns por este excelente blog.
Dério,
Parece-me que apenas alguém com um sentimento de superioridade patológico pode afirmar algo como
"Por estranho que [vos] pareça, há gente que se sente atraída por este tipo de problemas, e desde há pelo menos 25 séculos que há gentalha desta."
Desculpe-me a franqueza.
Não consigo concordar com a linha inicial de argumentação do artigo. Pode-se fazer filosofia só porque dá prazer mas acho difícil justificar que se financie a filosofia porque há pessoas que a queiram fazer (porque lhes dá prazer)... Se, por outro lado, me disserem que esgrimir esses problemas e adquirir essa ginástica que a filosofia nos impõe nos apetrecha melhor dar entender o mundo e que ideia fazer dele já consigo concordar. É uma visão utilitária? Mas sim, concerteza. A questão é a abrangência dessa visão. Por outras palavras, não creio que se faça filosofia para resolver os problemas (i.e. pelo processo em si) mas sim, de facto, para conseguir obter a solução (venha ela ou não).
É de facto estranho que uma disciplina como a filosofia se tenha de dar numa base de impinanço ao invés de suscitar o espírito crítico e uma visão reflexiva sobre o que nos rodeia.
Caro Desidério,
parece-me que o seguinte comentário de Dummett acerca do trabalho de Frege, fornece um bom exemplo para aquilo que dizes acerca da utilidade da filosofia:
Frege wrote "The Foundations of Arithmetic" not because he thought, as Brouwer did, that mathematicians proceeded in an incorrect manner, but because he thought that they could give no clear account, since they lacked any clear perception, of what it is that they were doing.(...) It is vain, in reply to this, to point to the substancial mathematical gains made in the process of investigating the foundations: the invention of mathematical logic in the modern sense, or Frege's contributions to the theory of groups with orderings. Such discoveries were not the central point of the enquiry into foundations; to justify that enquiry by appeal to them is to admit it to be, save for by-products, unjustified. Since, however, it has no purpose beyond itself, there is no justification that can be offered to the sceptic, any more than art can be justified to the philistine."
O seu exemplo de coisas que não servem para nada é algo infeliz. Os jogos de futebol ou de vídeo geram dinheiro e a filosofia não. Sem haver dinheiro envolvido as pessoas vão continuara a dizer que a Filosofia não serve para nada.
Voltamos ao mesmo de sempre, e àquilo que neste mesmo blog já por muitas vezes foi indicado: o grande problema do descrédito da Filosofia é o sistema educativo.
Falando por experiência pessoal, minha e das pessoas à minha volta, os(as) professores(as) de Filosofia no ensino secundário que tive e conheci foram, estou em crer, os piores. Piores, em todos os sentidos: na arrogância com que abordavam as matérias e o ensino, exacerbando o fosso entre professor e aluno, na capacidade de motivar os alunos para o estudo, e sobretudo no seu talento pedagógico. Com professores destes, Platão seria chumbado.
Aquilo que me fica é esta pergunta: será que ao tentarmos formar filósofos desta maneira, não estamos apenas a conseguir formar (maus) professores de filosofia?
R.T.
Caro Desidério,
Esta eterna questão traz-me sempre à memória o Protrepticus de Aristóteles, texto que analisa a relação entre a filosofia e aquilo a que poderíamos tarefa própria do humano, i.e, à sua forma de cumprimento. Permita-me esta sugestão de (re)leitura.
LMJ
No meu anterior comentário, falta um "chamar" entre "poderíamos" e "tarefa".
As minhas desculpas
LMJ
Caro Desidério (permita-me que me enderece assim),
do seu post ressalto o que, em minha opinião, é, de todas as linhas de argumentação, a verdadeiramente válida e profícua: a de que "dediquemo-nos ou não a ela, as questões filosóficas permanecerão sempre 'por aí', mesmo que não sejam pensadas" (algo assim, não fui acima confirmar).
não porque lhes caibam, a tais questões, um qualquer estatuto estranhamente esotérico ou transcendente, mas porque, pelo contrário são humanas - e não 'demasiadamente humanas'. profundamente humanas, isso sim.
se os homens lhes virarem as costas estarão a virar as costas a si mesmos, como a realidade quotidiana prova, aliás, ser o desporto favorito dos Homens.
donde, a grande utilidade da Filosofia consiste em lidar, pela perspectiva reflexiva e crítica, com as questões humanos dos humanos. concordo consigo - não se lhes pode fugir, elas estarão sempre 'por aí'.
algumas observações, quiçá objecções, a outros momentos do seu texto são:
- a utilidade da filosofia não se esgota nas áreas que, nela, poderíamos apelidar de 'filosofia aplicada' (ética, etc); reside pelo contrário na atitude que as orienta - e essa atitude, a ser coerente, é sistematicamente aplicada, seja no exercitar teórico das conceptuologias possíveis em cada área, seja na prática quotidiana de análise de tudo, literalmente tudo, que constitui a nossa vida. assim, se a filosofia 'não serve para nada', vou ali e já volto...
- preocupa-me ainda que se defenda que a utilidade da filosofia é a do deleite; claro que, para quem a pratica - espera-se!! -, o deleite no seu exercício acontecerá. mas corre-se o risco de, invocando esta dimensão, de interpretação porventura demasiado estreita e definitivamente ambígua, limitar a filosofia a algo entre o estéril, o masturbatório e o pueril - tanto quanto o podem ser todas as actividades única e exclusivamente dirigidas ao 'deleite' (ao prazer) do seu praticante.
quanto a dois comentários anteriores sobre as culpas que caberão ao ensino da filosofia, três notas:
a) tirei o curso de filosofia, há muitos anos já, numa Universidade pública portuguesa que me escuso a nomear porque o que se segue não é agradável. foi o pior curso que poderia ter tirado. os professores eram, na sua esmagadora maioria, péssimos. as metodologias, além de inadequadas, eram didacticamente desastrosas. marranço em barda, espírito filosófico nem vê-lo. só no último ano, com uma determinada cadeira leccionada por um determinado professor, tive um assomo de como teria sido possível ter tido um curso interessante, e veradeiramente útil. o meu ponto é: tal curso, tais disciplinas, tais professores, não me mataram a paixão pela Filosofia. parece-me uma boa resposta àqueles que se queixam de que a sua opinião sobre a Filosofia reflecte o mau ensino dela a que foram sujeitos.
b) sou professora de filosofia do ensino secundário. não tenho, nestes quase 25 anos de carreira, noção que os alunos - não falo só dos meus, falo em geral - fiquem a considerar a Filosofia uma disciplina de marranço. lamento que, com estes comentadores, tal tenha acontecido. sei sim que muitos continuam, no fim, a considerar o que no início pensavam: que não serve para nada.
e, aí sim, há que encontrar as razões seja na má didáctica, seja na PORCARIA de programa que desde há uns anos a esta parte MATA a disciplina. porque a filosofia no ensino secundário passou a ser RIGOROSAMENTE NADA, ao ter extraído dos seus conteúdos o estudo dos FILÓSOFOS. a minha frustração, enquanto professora, é que aquele DESASTRE de programa tornou a disciplina num amontoado de generalidades e superficialidades ABSOLUTAMENTE DISPENSÁVEIS, de facto.
corte-se o mal pela raiz: não eliminando a discipplina dos curricula (como não muito secretamente aliás, este Ministério tenciona), mas sim dando-lhe de novo a DIGNIDADE perdida, consagrando-a ao estudo daqueles que, para todos os efeitos, a praticaram num grau sublime. porque - chame-se o que se quiser a essa experiência - perante o sublime resta ao homem, ao homem-pessoa, não só o respeito, mas também a elevação. e assistir ao (e participar no) espectáculo da genialidade escrita em palavras que nos aguçam o sentido crítico e nos põem os neurónios a mexer, é de tal maneira fascinante e gratificante que não ocorrerá sequer a alguém colocar em dúvida que a Filosofia seja útil.
Peço desculpa pela extensão deste meu comentário.
Para tirar as dúvidas sobre o que é a filosofia, porque é necessário saber de que se fala, quando se fala em filosofia,aconselho o seguinte link
http://consc.net/phil-humor.html
Olá, Sem-se-ver
Eu não defendo nem que a única utilidade da filosofia são as áreas aplicadas nem que o deleite é a utilidade da filosofia. É preciso compreender a dialéctica do texto: estou apenas a dizer às pessoas que têm tantos problemas com a utilidade da filosofia, mas não com a utilidade de outras coisas, que essa posição é insustentável.
O resto que diz, sobre o ensino e os programas de filosofia é demasiado verdade para eu comentar seja o que for. Mas não o diga muito alto, porque vai ser acusada de ser "analítica". Há anos que luto para que o programa de filosofia recupere a sua dignidade própria (veja-se o livro por mim organizado "Renovar o Ensino da Filosofia", na Gradiva). E sabe o que me chamam, não sabe? Analítico, que é uma doença rara que ocorre quando queremos meter o bedelho nas coutadas dos tais professores de que você se queixa e com razão. Enfim. Portugalidades. Muita gente prefere a ver a disciplina acabar, ou tornar-se definitivamente em conversa da treta irrelevante, a pensar que vão ter de estudar para dar aulas.
Caro Desidério,
eu sei. como sei. que essa posição - questionar a utilidade da filosofia - é insustentável, e, acrescentarei, demagógica por si mesma. e o que é mais engraçado é que quem coloca em causa a utilidade da filosofia não se apercebe, regra geral, quanto essa sua atitude enferma de um preconceito-base, de um estereótipo primário e, mais grave, é fruto de uma manipulação, inconsciente a maior parte das vezes, executada por quem e para quem a filosofia surge como uma ameaça. (porque o é) e são 2.500 anos desta conversa, hã? :-) há que ser paciente e ter as costas largas...
ui, adoro que me chamem nomes. 'analítica'? pois que o serei!! com todo o prazer! sabe porquê? porque foi sempre e invariavelmente quando 'dei' filósofos, de uma forma que o programa me permitia mais longa e desenvolvida, que os alunos ficaram 'agarrados'. e isso diz tudo, não acha? :-)
sabe, andamos muito adormecidos, nós (os profs de filosofia). demasiado. parece que as forças se nos foram todas, e com elas a capacidade de mobilização, quando do 1º ataque do ME que teve, em defesa da manutenção da Filosofia na escola, o Carrilho como mentor. lembra-se? faz-nos falta alguém com aquela garra e aquele estatuto, agora, para encabeçar uma outra luta. não lhe parece?
o que mais me preocupa é que, na altura, o discurso neo-liberal e folclore que lhe anda associado não era ainda tão obscenamente escancarado como hoje o é. dito de outra forma, havia ainda algum pudor em colocar em causa valores como o do próprio pensamento, e não, como hoje, também ele estar subjugado ao valor literalmente monetário das trocas. tempos difíceis, os nossos...
abraço.
Acredito que um dos grandes problemas da filosofia reside no fato dela quase sempre ter sido associada à metafísica.
Assim,dissipando-se a metafísica,a filosofia ficou como que sem rumo,perdendo a identidade.
Caro Paulo
A metafísica não se "dissipou". Nunca se fez tanta metafísica como hoje em dia. Para ficar a conhecer a metafísica contemporânea aconselho a leitura do livro Metaphysics, de Michael Loux (Routledge).
Por outro lado, a filosofia não perdeu o rumo. O que se passa é que muitas pessoas infelizmente conhecem mal a disciplina. É para a divulgar que precisamos de publicar mais livros de qualidade. Aconselho o livro recentemente publicado em Portugal, de McGinn, intitulado "Como se Faz um Filósofo" (Bizâncio).
O próximo grande filósofo sairá, na minha modéstia opinião, do "mundo" da física.
A física vai muito à frente e é esta que vai criando condições à existência de novas questões por responder.
Quanto ao cume da montanha tenho de acrescentar que esse discurso, o de o cume ir sempre subindo, é um discurso que já não faz sentido faz algumas décadas. Se sabemos, faz essas décadas, ser o universo finito, constituido de matéria/energia finita e logo sendo as iteracções entre essa matéria também finita então as questões possíveis têm já o seu cume... sempre tiveram (Se o conseguimos atingir e em quanto tempo é outra questão).
Isto pode ser demonstrado com um simples teorema matemático faz também as mesmas décadas.
Quando esse grande filósofo, saido da física, disser e demonstrar isto de forma clara toda a gente vai, finalmente mudar de discurso e aplaudir o homem... até lá, para a maioria dos filósofos (não para os físicos e matemáticos que percebem claramente a montanha ter um cume bem definido) o rei vai nú.
No meu longínquo 10º ano o meu professor de filosofia castigou-me fortemente nas notas por pensar assim. Só me safei quando deixei de pensar e passei a debitar os manuais religiosamente. Isto não é uma crítica à filosofia que adoro, (junto com a física) e me faz quase todas as noites companhia depois de fechar os olhos. Isto é só uma crítica ao homem que a leccionava e aposto que se mantem actual no sistema de ensino português.
Interessante sua atuação como filósofo, Desidério. Começa fazendo honrosas recomendações para ler esse e aquele autor para findar tecendo comentários prosáicos - você, no caso de pensar um dia em parar com essa postura de filósofo e esperto plagiador, recomendo ingresso na Rede Globo de Televisão para concorrer com igualdade e teor filosófico diante do Fausto Silva.
Don Juan, el burlador de Sevilla.
Grande parte das coisas que fazemos na vida (e que dão sentido à vida) não serve para nada, se o verbo «servir» significar «ter uma utilidade que todas as pessoas podem compreender».
Clarinha Maçanzinhaa...
...acho que a filosofia perte da inteligencia do ser humano, e uma forma corajosa de pensar e se expresar sobre as coisa... Se não fosse dançarina de funk seria filosoa, quem sabe quando acabar o fundamental I :D ...
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