domingo, 12 de agosto de 2007

A não perder: chuva de estrelas hoje



Como referi no post «De Hidras, mitologia e realidade», a origem das constelações está associada aos mesopotâmios, que incorporaram mitos locais nos nomes com que mimosearam agrupamentos de estrelas, posteriormente absorvidos pela civilização minóica e que deram origem a alguns mitos e tradições helénicas. As constelações do Zodíaco mesopotâmico serviam para prever as estações do ano e as enchentes dos rios Tigre e Eufrates e assim as constelações que brilhavam na época das chuvas e inundações foram relacionadas com mitos envolvendo «água». Esta herança foi preservada na família de constelações 'aquáticas' gregas, que dominam o céu nocturno na época das chuvas, mais concretamenteas constelações de Capricórnio, Aquário, Peixes e Baleia, «geograficamente» muito próximas.

A tradição de nomear as constelações com base em mitologias sortidas foi mantida pelos gregos que preservaram igualmente o agrupamento de constelações em grupos «familiares», isto é, situavam próximo na «geografia» celeste as constelações associadas a um dado tema. Já referi os mitos associados a Hércules, mas podem encontrar-se outros como as constelações associadas às mitologias de Órion, Jasão ou Calisto. Mas certamente que o grupo «familiar» mais famoso é o associado a Perseu, constituído pelas constelações de Cassiopeia, Cefeu, Andrómeda, Pégaso, Perseu, Medusa (Caputis Medusae, cabeça de Medusa) e Baleia.

A constelação de Perseu esta associada a um fenómeno que é citado há mais de 2000 anos, uma chuva de estrelas que em 1835 Quetelet mostrou ser um fenómeno regular. De facto, uma das mais famosas e popularmente conhecidas chuvas de estrelas anuais é a das Perseidas, assim chamadas pelo seu radiante na constelação de Perseu, que acontece com um máximo de intensidade ou pico por volta de 10-12 de Agosto. O fenómeno é por isso chamado as Lágrimas de S. Lourenço, em homenagem ao santo festejado a 10 de Agosto.

Na realidade, esta chuva de estrelas são «pequenos pedaços rochosos, a maioria menor que uma ervilha», meteoros que entram na atmosfera a uma elevada velocidade média de 212.400 quilómetros por hora o que os torna incandescentes. No caso das Perseidas, estes pedaços rochosos são restos do cometa Swift-Tuttle, cuja cauda cruza a órbita da Terra.

Segundo o director do Observatório Astronómico de Lisboa, Rui Agostinho, «a noite de 12 para 13 é o pico máximo» deste fenómeno. De acordo com o astrónomo, hoje será uma noite particularmente espectacular para observar o pico das Perseidas pois teremos Lua Nova às 00h02m.

Bill Cooke do Meteoroid Environment Office no Marshall Space Flight Center da Nasa informa que no pico (que ocorrerá em Portugal próximo das 2h da madrugada de segunda-feira) ter-se-á entre uma a duas Perseidas por minuto. Embora longe do registado pela primeira vez por E. Heis, que contabilizou um pico de 160 meteoros por hora em 1839, muito menos do que se observou em Agosto de 1993, 200 a 500 «estrelas cadentes» por hora, as cerca de 100 Perseidas por hora que se prevêem constituirão certamente um espectáculo a não perder.

2 comentários:

Fernando Martins disse...

Convinha talvez dizer, para não haver os percalços do passado, que isto de picos de meteoros é sempre bastante falível (há uns anos atrás, nas Leónidas, enganaram-se em mais de 12 horas...). Um mapa com o radiante e a explicação da ilusão de óptica que é o mesmo também valorizavam este post...

Anónimo disse...

E uma "chuva de estrelas" dos finais da década de 1930, que parece que chegou a muitas dezenas de meteoros por minuto, talvez a maior de tempos históricos em Portugal, a que se deveu? Haverá por aqui alguém que saiba?
Obrigado.
Daniel

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