sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Primatólogo preso gera campanha













A 14 de Julho fazia-se referência num post da Palmira à prisão de um primatólogo holandês, entretanto naturalizado brasileiro, pelo seu próprio governo. Marc van Roosmalen, que passou mais de 20 anos a investigar na floresta amazónica, tendo descoberto várias novas espécies de mamíferos, entre as quais sete de primatas, incluindo um Género novo (Callibella) - a última vez que um primatólogo descobriu um género novo aconteceu no Séc. XIX -, foi alvo de um processo judicial pelo governo brasileiro e condenado a 15 anos e 9 meses de prisão, uma pena absolutamente exagerada para um tipo de crime que, além do mais, ele provavelmente não cometeu.

A Nature desta semana noticia o facto e informa que os cientistas brasileiros estão a considerar passar a formas mais veementes de luta, através de desobediência civil e outras formas de luta, contra a prisão do primatólogo e contra o que consideram ser as restrições governamentais impostas aos cientistas. Nas palavras de Leandro Salles, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, “De acordo com as leis actuais, os investigadores são tratados como criminosos potenciais”.

Escudando-se numa legislação que supostamente visa combater a pirataria biológica, o governo federal acusou e considerou culpado van Roosmalen de: 1. manter sem licença primatas numa instalação de recuperação sua em Manaus – licença cuja renovação pediu, sem resposta das autoridades -; 2. leiloar a atribuição de nomes de primatas novos descobertos junto de patrocinadores ricos – o que serve para obter recursos para a sua protecção, os quais não consegue obter do governo; 3. ter vendido materiais pertencentes ao seu patrão anterior, o Instituto Nacional da Investigação Amazónica (INIA) – tudo crimes de grande peso, como se depreende.

Na opinião de Philip Fearnside do INIA, o Brasil tem perdido imenso financiamento e importância intelectual devido às tentativas governamentais de proteger a biodiversidade da interferência internacional. Entenda-se: as tentativas do governo de impedir que investigadores estrangeiros tomem conhecimento do que está a ser feito em termos de política ambiental na Amazónia. Porque a destruição a que se tem assistido na área da maior floresta do mundo não é bonita de se ver.

Convenhamos que não é muito o que o Brasil tem feito para proteger a sua biodiversidade. As atitudes proteccionistas, nacionalistas, que muitos estados têm assumido nos últimos anos, constituem parte do problema da preservação da biodiversidade. Sob a capa da luta contra a bio-pirataria e de defesa da sua integridade nacional, os estados estão a criar mecanismos para lidar com as vozes indesejáveis, que denunciam as verdadeiras práticas internas de destruição de alguns dos mais importantes habitats do mundo.

Actualmente, a principal causa da perda de diversidade biológica é a destruição de habitat. As florestas tropicais albergam a maior diversidade por Km2 do mundo. E são o habitat sujeito à mais acelerada destruição, por acção directa humana, no momento presente: cerca de um campo de futebol por segundo!

O que leva um governo a colocar na prisão, por razões obscuras, um dos cientistas vivos que mais contribuiu para a descoberta de novas espécies de mamíferos no mundo?

O intenso trabalho de van Roosmalen em defesa da floresta amazónica foi mesmo alvo de um artigo na Time, em 2000. Na altura, afirmava ser fundamental lutar pela sua preservação. De outro modo “the rain forest will be destroyed before we even know what plants and animals are out there”.

4 comentários:

Oscar Maximo disse...

Se não houver um volte-face, toda a Amazónia brazileira será para queimar. Isto apesar de agora os povos indigenas controlarem as alterações por GPS.

As principais razões, além obviamente da madeira, são:
1-Em cerca de 1990 o Brasil começou a exportar carne, imitando a Argentina. Quando comemos carne brasileira, estamos a contribuir para deitar a Amazônia abaixo.
2-Nos dias de hoje, no seguimento de uma prática com + de 25 anos (fabrico de álcool como combustivel), o Brasil pretende exportar biocombustivel.
Comprometeu-se a não usar a Amazónia para esse efeito... basta uma troca com terrenos de outro cultivo para bater tudo certo.
Da forma como o Lula abraçou esta causa (o processo inverso da "revolução verde" e grande barrete energético, em termos de $$$ não o será), não há grande salvação.

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Não há semente? Faz-se dos combustiveis fósseis (revolução verde). Não há combustiveis? Faz-se da semente (bio...tanga).

Anónimo disse...

A Amazónia ser no Brasil faz todo o sentido: Deus escolheu um dos paises mais crentes do mundo para plantar um dos seus mais exuberantes jardins. O que eu não percebo é porque é que não deu indicações a ninguém àcerca das espécies lá existentes como faria qualquer jardineiro dedicado, ou seja, não vem a sua descrição em nenhuma bíblia, esta tem sido feita pelos cientistas e se quisermos saber mais sobre estas fantásticas obras de Deus, temos que ter fé na existência de mais investigadores como este, que não se importem de ser presos!
Ainda se torna mais estranho se pensarmos que Deus mandou o Filho para o ramo das madeiras e como carpinteiro, que eu saiba, nunca disse a ninguém que o Pai ia ficar furioso se fizessem os móveis em madeira exótica e Lhe dessem cabo dos jardins!

guida martins

Anónimo disse...

A lei é para ser cumprida por todos. O facto do primatólogo não conseguir obter uma resposta positiva das autoridades ao seu pedido de licença, não legitima a sua transgressão individual de outras normas e leis.

Anónimo disse...

Só para pensar um poquinho... dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais, a 100 anos, o Brasil detinha 8% da cobertura florestal em área tropical do mundo... hoje, detém 30%...

A situação do Primatólogo piorou... foram reveladas fraudes fundiárias e uso indevido de território indígena... a comunidade científica já retira o apoio... não basta ler um só lado...

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