terça-feira, 21 de agosto de 2007

UM “TOP TEN” DE LIVROS DE CIÊNCIA


Fazer listas de “top-tens” de livros é sempre útil pois obriga a pensar nos méritos relativos das várias obras em compita. E pode até ser divertido. Ernst Peter Fischer, professor de história da ciência da Universidade de Konstanz, na Alemanha, é o autor “Die andere Bildung – was man ueber die Naturwissenschaft wissen sollte”, Ullstein Verlag, Munique, 2002 (“A Outra Cultura – O que se deve saber sobre as Ciências Naturais”). Nele defende que as ciências, tal como a literatura e a arte, devem ser parte do cânone cultural do homem moderno. E atreve-se a escolher dez livros de ciência, que deviam ser de leitura obrigatória para quem quisesse ter uma cultura minimamente sólida. Não são os mais vendidos mas sim os mais importantes. Eis a lista, acrescida de alguns comentários, desses “dez mais”, ordenados cronologicamente segundo o nascimento do autor. Traduziu-se o título das obras e indicou-se, sempre que conhecida, a tradução portuguesa.

1- Michael Faraday, “História Natural de uma Vela”.

Faraday foi talvez o maior cientista do século XIX e foi também um dos primeiros divulgadores de ciência. O seu livro “História Natural de uma Vela” é um clássico do género. Ironicamente, Faraday lançou as bases do electromagnetismo que haveriam de permitir a substituição da vela pela lâmpada eléctrica.

2- Charles Darwin, “A Origem das Espécies” (Lello e Irmão, 1961).

Darwin, que bem pode rivalizar com Faraday a primazia científica no século XIX, é o bem conhecido pai da teoria da evolução, a qual tanta controvérsia desencadeou mas sem a qual a biologia moderna não seria possível. O seu livro original ainda hoje se lê com proveito.

3- Ludwig Boltzmann, “Escritos Populares”.

Boltzmann é o famoso físico austríaco que ensaiou uma interpretação microscópica da segunda lei da termodinâmica (aquela que é tão importante como Shakespeare para o teorizador das “duas culturas” C. P. Snow). Foi também um defensor da hipótese atómica. Incompreendido, acabou por se suicidar. Como poucos cientistas do seu tempo, deixou escritos para o povo, isto é, acessíveis aos cidadãos comuns, como estes “Escritos Populares” publicados em Leipzig, em 1905. Isto num tempo em que ainda não se falava de cultura científica.

4- Max Planck, “Conferências, Discursos e Memórias”.

O alemão Max Planck foi o criador da teoria quântica, ao propor em 1900 que a emissão e absorção de luz de um “corpo negro” se fazia em quantidades discretas, os “quanta”. Este livro é uma compilação dos seus escritos, que se debruçam por exemplo sobre problemas éticos na ciência.

5- Niels Bohr, “Física Atómica e Conhecimento Humano” (saiu em português na editora brasileira Contraponto, 1995).

Se Planck introduziu a palavra quântica, o dinamarquês Niels Bohr foi o criador da mecânica quântica antiga e o patriarca da geração que estabeleceu em 1925-1926 a mecânica quântica na forma actual. Este livro, publicado em 1958, reúne alguns dos seus ensaios entre 1932 e 1957. Um dos mais famosos debates do século XX, - o que houve entre Bohr e Einstein sobre o significado da teoria quântica -, é o assunto de um dos capítulos.

6- Albert Einstein, “Sobre a Teoria da Relatividade Restrita e Geral” (tradução correcta do título alemão: em português saiu com o título “A Teoria da Relatividade Especial e Geral”, Contraponto, 1999).

Um resumo da teoria da relatividade, feita em 1916, pelo seu famosíssimo autor, numa linguagem que se pretende acessível mas que não consegue escapar a alguma matemática. É um livro para aqueles que acreditam que nada bate a voz dos autores originais.

7- Werner Heisenberg, “A Parte e o Todo” (esta é a tradução literal do título alemão; em português saiu com o título “Diálogos sobre Física Atómica”, Verbo, 1975)

O alemão Heisenberg é um dos grandes da ciência do século XX. Neste livro conta como as ideias lhe surgiram e os diálogos que travou com outros gigantes, nomeadamente Niels Bohr.

8- Konrad Lorenz, “O Lado de Trás do Espelho”.

O austríaco Konrad Lorenz, o pai da etologia, é também conhecido como o “homem que falava com os animais”. Ultimamente o seu nome tem vindo à baila por motivos extra-científicos: a sua simpatia pelo regime nazi (tal como Heisenberg, mas em contraste com muitos sábios do seu tempo, não fugiu da Europa durante a Segunda Guerra Mundial). Tem vários livros traduzidos em português mas, salvo erro ou omissão, tal não é o caso deste.

9- Richard Feynman, “QED” (em português, Gradiva, 1988)

O norte-americano Feynman é um físico brincalhão que neste livro, bastante mais “sério” do que as suas narrativas auto-biográficas, expõe de maneira que pretendeu o mais simples possível a Electrodinâmica Quântica (em inglês Quantum Electrodynamics, QED) que ele ajudou a criar. A Electrodinâmica Quântica é, para quem não saiba, a teoria quântica da interacção da luz com a matéria.

10- James Watson, “A Dupla Hélice” (em português, Gradiva, 1988).

O norte americano James Watson fez com Francis Crick uma das descobertas mais importantes da biologia moderna – a estrutura do DNA, a molécula que guarda o código da vida. Este livro conta, de um ponto de vista pessoal, a história dessa descoberta.

Esta lista pode ser criticada por ser um pouco germanófila: cinco dos autores são alemães ou austríacos, ao passo que só quatro são anglo-saxónicos (dois ingleses e dois norte-americanos). A inclusão de Lorenz pode ser discutível. Mas cada um dos leitores, se não gostar desta, pode sempre fazer a sua própria lista...

PARA SABER MAIS

- Ernst Peter Fischer, “Die andere Bildung – was man ueber die Naturwissenschaft wissen sollte”, Ullstein Verlag, Munique, 2002.

Um livro em que se faz uma forte defesa da cultura científica. À pergunta de um jornalista da revista “Spiegel” “Como define cultura?”, o autor não hesita em responder: “Para mim alguém culto é alguém que consegue falar sobre questões do mundo de modo a tirar daí tanto lucro como prazer. E a estas questões pertencem também assuntos da Cosmologia, da Genética ou da Biologia – ao contrário do que muita gente pensa”.

11 comentários:

JSA disse...

Já agora, este livro será certamente uma resposta ao livro Bildung - Alles, was man wissen muß de Dietrich Schwanitz.

Uma pergunta: qual a razão para nomear a Teoria da Relatividade Restrita como restrita? O nome em alemão é também Spezielle Relativitätstheorie e em inglês Special Relativity. Porque razão esta tradução para português então?

O peso dos autores germanófilos não me surpreende. Houve entre eles verdadeiros gigantes da ciência do séc XX, aquele em que realmente se começou a escrever ciência para a população em geral. Antes disso, como no caso de Darwin, haveria apenas capacidade de escrever de forma clara, o que permite ler hoje os livros mesmo sem se ser cientista. Claro que a origem do autor do livro também não será alheia a esta escolha.

Anónimo disse...

Como leitura de Verão "The Hedgehog, The Fox, and the Magister's Pox" de S.J. Gould (2004) revelou-se agradável e muito interessante.

Gould faleceu em 2002 tendo como Presidente da Associação Americana Para o Avanço da Ciência durante a transição do milénio, escrito um texto, que, pela sua extenção não puderia, como é hábito, ser publicado pela Science, tendo portanto sido vertido em livro.

Sem pretender adiantar mais, "The Hedgehog..." trata alguns dos temas mencionados neste e em posts anteriores como a questão das "duas culturas", da "consiliência", e, mais geralmente da unificação do conhecimemnto e da diversidade dos saberes.

Um livro a não perder.

Anónimo disse...

Na minha opnião, falta um livro que com certeza inspirou uma geração mais jovem de cientistas e investigadores: Carl Sagan, "Cosmos" (1980).

Anónimo disse...

Uma vez mais o Fiolhais disparata afirmando que a nova mecânica quântica nasce em 1925-1926. Isto é, antes dos princípios de incerteza e de complementariedade, para além de outros desenvolvimento essenciais.Seria bom que o Fiolhais se desse ao trabalho de ler, por exemplo, "The Physical Principles of Quantum Theory" do Heisenberg. Por falar neste, é sinal de des-cultura a sua presença nesta lista. Contrário ao que o cientísmo arrogante de alguns gosta de deixar passar, a obra científica de Heisenberg não foi de monta. Teve o mérito de levar a sério o princípio de correspondência, e pouco mais. Muitíssimo mais interessantes, e porque estamos remetidos ao que em Português se editou, seria, por exemplo, "Ciência e Hipótese" de Poincaré. Este sim, um dos maiores da ciência.

Para o Fiolhais, seria interessante que lesse, por exemplo, "Os Elementos Metafísicos da Física" de Margenau. Contudo, receio que a mistura entre ignorância e arrogância seja hiper-opaca.

Anónimo disse...

Esta última participação foi tão ridícula, que a achei divertidíssima. É um comentário que ilustra perfeitamente a tal "ignorância e arrogância" que aponta a outrém, culminando com um termo, "hiper-opaca", que obviamente ninguém entende porque é inteiramente vazio, mas que dá um aspecto profundo a uma opinião inexistente e infundada. Estilo Eduardo Prado Coelho, no seu melhor!

Parabéns Carlos, excelente post.

Anónimo disse...

Julge-se.

O anónimo não percebeu o que eu queria dizer com "hiper-opaca". Logo acrescentou que ninguém poderia entender. Ignorância, no primeiro ponto. Arrogância, no segundo.

O anónimo acusa a minha opinião ser inexistente, infundada e ridícula. Contudo, nada, de facto, contradiz. Apenas adjectiva. A arrogância faz atirar. A ignorância faz fugir.

A referência final ao Carlos F e ao EPC, são pérolas que adornam bem tudo o resto.

Anónimo disse...

Bla bla bla

Joana disse...

Cá para mim deviam convidar o Carlos P para escrever um post sobre quântica. Ele casca com termos tão fortes todos os posts onde apareça a palavra quântica que deve ser a sumidade nacional em quântica.

Anónimo disse...

Eu diria que se soubermos onde está o Carlos P, sabemos que não está a quântica, e onde houver quântica certamente não haverá Carlos P.
P.V.

Anónimo disse...

Só uma pequena correcção: o título do livro de Faraday é "The chemical history of a candle", logo deveria ser a "história química..." e não "história natural..."

Anónimo disse...

Alguém me explica porque razão os grandes livros de divulgação cientifica morreram há 20 anos?

AS FÉRIAS ESCOLARES DOS ALUNOS SERÃO PARA... APRENDER IA!

Quando, em Agosto deste ano, o actual Ministério da Educação anunciou que ia avaliar o impacto dos manuais digitais suspendendo, entretanto,...