terça-feira, 28 de agosto de 2007

RECEPÇÃO DE DARWIN E NIETZSCHE EM PORTUGAL



















O século XIX já não é o século passado. Já podemos falar sobre ele com maior distanciamento. É tempo, portanto, de olhar com maior acuidade o que se passou – ou o que não se passou - neste canto da Europa.

Passou-se muita coisa aqui, mas houve coisas que não se passaram aqui no devido tempo. No século XIX deu-se, na Europa do Norte e Central, uma revolução científico-industrial (já havia desde o século anterior a máquina a vapor, mas a partir de 1800 foram aparecendo a turbina e o motor eléctricos, a iluminação eléctrica e a transmissão de informação à distância). Essa revolução foi sendo acompanhada por desenvolvimentos no campo da filosofia e das ciências humanas em geral. Ao mesmo tempo, deu-se uma explosão sem precedentes na escola e na escolarização, que fez com que estratos sociais mais alargados acedessem aquilo que alguns autores da época chamaram os “benefícios da civilização”. Contudo, Portugal dificilmente conseguiu acompanhar na mesma medida que os países da Europa do Norte e central quer esses progressos científico-técnicos quer os desenvolvimentos na área das humanidades quer ainda o alargamento da população escolar. Importámos, é claro, alguns “benefícios da civilização”, mas não participámos no esforço criador que lhes deu origem.

Ao longo do século XIX, o nosso atraso no “ranking” da riqueza das nações foi-se agravando, um atraso de que ainda hoje temos sequelas (ver o capítulo “O Atraso Português” do meu livro “A Coisa Mais Preciosa que Temos”). É interessante estudar a recepção em Portugal dos grandes cientistas e pensadores oitocentistas. Quando chegaram cá as suas obras? Como?

Charles Darwin, que foi talvez o maior cientista do século XIX (apesar de não ter tido um impacto na vida quotidiana tão imediato como tiveram Faraday, Maxwell e Hertz), é um bom exemplo do afastamento dos portugueses da ciência no século XIX. Não se trata neste caso de ciência ligada à tecnologia, mas sim de ciência ligada à cultura, à visão do mundo ao qual pertencemos. O biólogo da Universidade de Lisboa (infelizmente já falecido) Germano da Fonseca Sacarrão já chamou a atenção para a forte resistência às ideias darwinistas entre nós, uma resistência decerto movida por causas semelhantes à resistência actual ao darwinismo nalguns estados norte-americanos devido a fundamentalistas religiosos. É curioso que o livro fundamental de Ana Leonor Pereira sobre a recepção de Darwin em Portugal (“Darwin em Portugal (1865-1914). Filosofia. História. Engenharia Social”, Almedina, 2001) evite as referências religiosas: a autora declara logo no prefácio que não abordará o darwinismo na perspectiva teológica. Até porque, ela própria faz questão de dizer, isso seria um outro livro, não tanto sobre o darwinismo, mas mais sobre o anti-darwinismo. E com muitas mais páginas do que as 629 que constituem o volume em causa...

Quando chegou o darwinismo a Portugal? Pois foi em 1865 pela mão de um botânico da Universidade de Coimbra, Júlio Castro Henriques. Lembre-se que o livro fundador da teoria da evolução, “A Origem das Espécies”, foi publicado em Inglaterra em 1859, tendo imediatamente suscitado uma grande procura (até 1913 publicaram-se nada mais nada menos do que 148 edições!).

O atraso foi, por isso, só de seis anos, atenuado pelo facto de a recepção de Júlio Henriques ter sido favorável... Mas já a tradução em português da “Origem das Espécies”, na Livraria Chardron, só apareceu em 1913 (a tradução de “A Origem do Homem”, cujo original é de 1871, ocorreu em 1910, portanto um pouco antes). Pasme-se com este atraso de 54 anos da edição portuguesa quando já havia edições por todo o mundo! Tal atraso poderá ser justificado pela acessibilidade das traduções francesas e pelo facto de a cultura francófona ter reinado entre nós nos finais do século XIX e inícios do século XX. Mas é, convenhamos, uma fraca explicação! Como é que se poderia ser darwinista ou antidarwinista sem se conhecer Darwin no original ou, pelo menos, sem ter uma boa tradução em português com a concomitante incorporação na cultura nacional?

No que toca às relações de Portugal com Darwin valhe-nos, para de certo modo “salvar a honra do convento”, um açoreano, Francisco de Arruda Furtado, que, apesar de ter morrido muito novo, se correspondeu com o sábio inglês e, inspirado nele, realizou estudos de malacologia nos Açores. Foi de resto Arruda Furtado quem escreveu uma notável homenagem por ocasião da morte de Darwin, que ocorreu em 1882 (o autor da teoria da evolução, a quem o açoreano chamou o “Newton da biologia”, tinha nascido em 1809: para o ano comemoram-se os 200 anos).

Por outro lado, um dos filósofos mais notáveis do século XIX foi decerto o alemão Friedrich Nietzsche. Nietzsche é um personagem “sui generis” desse século: radical e iconoclasta. Para ele Deus morre sendo substituído pelo “Superhomem”. Será que a filosofia de Nietzsche entrou cá facilmente? Não, como esclarece o livro de António Enes Monteiro, “A Recepção da Obra de Friedrich Nietzsche na Vida Intelectual Portuguesa (1892-1939)", Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e Lello Editores, 2000 (são 501 páginas de texto!). A penetração das ideias nietzschianas em Portugal foi muito lenta, demorando bastante após a morte do pensador, que ocorreu em 1900, quando ele tinha 56 anos. Só depois da implantação da República houve algum interesse por Nietzsche, tendo ele sido manifestado pela revista “Águia”, pelo grupo da “Renascença Portuguesa” (Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra), pela revista “Seara Nova” e pelos modernistas (Fernando Pessoa e Almada Negreiros, entre outros). Em todos esses casos a reivindicação era de “nascer de novo” depois do ocaso oitocentista e nada melhor para assinalar o novo do que a violência de Nietzsche. Só em 1916 surgiu a primeira tradução portuguesa de um seu livro, nomeadamente “O Anti-Cristo”, na Guimarães. Outras obras teriam de esperar: parece incrível, mas “A Gaia Ciência” só apareceu vertida em português em 1966, na mesma Guimarães.

Chegam os exemplos de Darwin e Nietzsche? Outros poderiam ser dados...

23 comentários:

Anónimo disse...

Darwin pertence ao século XIX.

O mesmo estava convencido que as células eram protoplasma inferenciado.

Neste momento não temos que aceitar Darwin. Temos que superá-lo.

O que diria Darwin se percebesse que as mutações destroem o genoma e que a selecção natural elimina os menos aptos mas não explica a origem das espécies? O que diria ele se percebesse que 150 anos depois os elos intermédios continuam por aparecer no registo fóssil, como reconheceu o próprio Stephen Jay Gould?

Pense-se, por exemplo, no paradoxo de Richard Dawkins, no seu livro The Blind Watchmaker:

"The theory of the blind watchmaker is extremely powerful given that we are allowed to assume replication and hence cumulative selection.

But if replication needs complex machinery, since the only way we know for complex machinery ultimately to come into existence is cumulative selection, we have a problem."

Sucede que temos mesmo um problema!

Pense-se igualmente no chamado ‘Dobzhansky’s Dictum’:

‘In order to have natural selection, you have to have self-reproduction or self-replication and at least two distinct self-replicating units or entities [therefore] Prebiological natural selection is a contradiction of terms.’

Continuamos a ter um grande problema.

Nem as mutações nem a selecção natural explicam a origem e a evolução das espécies.

Só uma grande crendice pseudo-científica é que pode falar em recepções de Darwin no século XXI.

Os seres humanos adquiram capacidade tecnológica para comceber e produzir maquinaria complexa, integrada e sofisticada de forma inteligente.

No entanto, os mesmos não conseguem produzir algo remotamente tão complexo como a vida.

Assim, é razoável pensar que a vida só pode ser o resultado de muito mais inteligência e informação do que aquela que toda a comunidade científica dispõe.

Deus é quem tem toda essa inteligência e informação.

José Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
De Rerum Natura disse...

Obrigado pela indicação de gralhas, que já corrigi. Os leitores do DRN são excelentes nisso!
Carlos Fiolhais

José Oliveira disse...

Já apaguei :-)
Só queria ajudar professor!

Pelo menos fica o agradecimento de mais um bom post, e o lamento de que ainda hoje o conhecimento demora a ser disponibilizado em Língua Portuguesa...

Cumprimentos,

José Manuel Oliveira.

Anónimo disse...

Mas afinal qual é o problema? Querem-ns tirar a pinta... és continental ou anglo-saxónico? de esquerda ou de direita? religioso ou cientista? anti ou contra Portugal? Já ouviram falar em hermenêutica filosófica por acaso? O contexto português do século XIX foi muito fecundo... de que servia ter assimilado os conceitos de Darwin ou Nietzsche? Aliás quem disse que não foram lidos e estudados? Talvez se calhar não tivéssemos feito tanta poesia e estaríamos como agora a discutir tendências ideológicas. A questão é: somos aquilo que lemos ou mais do que isso afinal?

Anónimo disse...

Ah, pois...
- Darwin = + poesia?
Uma balela sem pinta por onde se lhe pegue!
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Caro criacionista,

por muito que lhe custe, a ciência tem vindo a demonstar que "deus joga aos dados" e não intervem nestas coisas de formação de espécies, evolução de espécies, extinções, localização de particulas sub-atómicas, ...

Anónimo disse...

Apenas quis dizer para não se misturar a água com o vinho. E não se diz balela à opinião feita por um alguém. Não torno isto numa questão pessoal. Gilbert Durand disse que Portugal tinha em abundância todos os mitos da Europa. Eu sei que na verdade o povo português lê pouco e o pouco que pensa acaba por falar mal! Eu estou de acordo com a falta de cultura especialmente filosófico/científica em Portugal. Contudo,estou pessimista em relação à sua incrementação, aliás, até acho tendencioso implementar qualquer tipo de plano ideológico. Vamos dividir a questão: será que o atraso cultural português é proporcional à leitura filosófica que o povo tem?

Anónimo disse...

ANÓNIMO,
«Eu estou de acordo com a falta de cultura especialmente filosófico/científica em Portugal. Contudo,estou pessimista em relação à sua incrementação, aliás, até acho tendencioso implementar qualquer tipo de plano ideológico.»

O que entende por plano ideológico? Qual a relação entre incrementação de leitura filosófica/científica e o plano ideológico?

O meu caro amigo talvez se sinta satisfeito numa cultura errante, apreciadora de Goethe em alemão e do último quarto de hora de jogo, do cinema de Visconti e as sofisticações humoristicas de um Markl ou de um gato fedorento. Esta é a cultura que temos: pura ambiguidade. Nunca se sabe se da boca de um especialista de Biologia Genética vai sair o trauteio da última música de Toni Carreira.

João Vieira

Anónimo disse...

Um plano ideológico é aquilo que um partido político devia ter; é um projecto a médio e a longo prazo na defesa de um projecto; uma matriz que representa um factor de desenvolvimento. Um significado pode perder a sua validade por falta ou excesso de sentido. Por exemplo, uma aglomeração de discursos não leva a lado nenhum! Certamente falei de um plano a nível pedagógico para contrastar com o tecnológico. Pois o que importa é componente prática do pensamento abstracto e não discutir qual a boa da má literatura. Assim possamos nós ser menos sectários e ler por exemplo jornalismo com mais qualidade; talvez possamos nós conviver de uma forma mais descomprometida com a realidade e começar a agir com mais sentido de humor! Dei a minha opinião porque tive a sensação de que era sobre o contexto português que o Professor quis falar. Depois de apresentadas as ideias penso que devemos aceitar os pressupostos e fazer prontamente a chamada crítica cultural. Não quis perder tempo nem com os meus próprios promenores. Neste ponto, não interessa minimamente falar do atraso cultural português, nem do plano ideológico! Pessoalmente, depois de ler estes e aqueles autores todos, chego ao fim e digo: para que serve? Mais tarde chego à conclusão que é para me informar e saber melhor acerca do que o ser humano é capaz de ser e pensar! Quem não sabe pensar à Darwin, à Nietzsche, à Freud, à Maquiavel? Todavia não somos quem somos pelo que lemos e sabemos mas antes pelas obras que deixamos.

Marta Bellini disse...

Lendo seu texto pensei aqui no Brasil. fiz o Curso de Ci~encias Biológicas na USP na de´cada de 7o (em um campus de Ribeirão preto, interior de São Paulo) e nunca lemos darwin. Considero Darwin um primor e uma necessidade aos alunos. Meus alunos de Cbiológicas na Universidade l~eem Dobznsky, genética supervanaçda mas são criacionistas...Então, faz falata ele tendo ou não avançado em algumas questões. seu texto me estimulou a investigar como darwin foi lido no Brasil

Marta Bellini
martabellini@uol.com.br
Brasil

Anónimo disse...

O problema da extrema complexidade do genoma prende-se com o facto de que o mesmo, para além de conter informação (cuja origem a teoria da evolução pura e simplesmente não explica de forma convincente), contém meta-informação, isto é, informação sobre a informação.

É que a informação contida no genoma é inútil se a célula não souber como a utilizar.

O genoma humano contém uma quantidade inabarcável de informação, muito mais do que até recentemente imaginado.

Hoje sabe-se que a maior parte dessa informação não é primária (genes codificadores de proteínas) mas meta-informação (informação de que as células necessitam para transformarem esses genes num ser humano funcional, com capacidade para sobreviver e se reproduzir.

O DNA consiste numa dupla hélice, isto é, de duas longas cadeias de moléculas enroladas uma na outra. As mesmas contém quatro diferentes tipos de nucleótidos (TAGC).

3% do DNA contém informação primária, ao passo que 97% parece compreender informação reguladora, ou seja, meta-informação.

O DNA é uma molécula de armazenamento de informação, exactamente como um livro ou uma enciclopédia.

Esta informação armazenada é copiada para moléculas RNA, as quais colocam a informação contida no DNA em acção na célula.

Por cada molécula de RNA produtora de proteínas existem cerca de 50 moléculas contendo meta-informação.

Junto da dupla hélice existem diferentes cadeias químicas estruturadas em padrões que codificam meta-informação para transformarem células estaminais não especializadas em células especializadas necessárias à produção de dedos, pés, ossos, cabelos, olhos, ouvidos, etc., etc.,

O DNA é uma molécula muito longa. Se desdobrássemos apenas um conjunto de cromossomas humanos, o correspondente DNA mediria 2 metros.

A acomodação no seio da célula em 46 cromossomas só é possível graças à existência de outros níveis de meta-informação.

A quantidade de meta-informação contida no genoma é enorme, quando comparada com a quantidade de informação primária, codificadora de proteínas.

Como pode ter toda essa informação surgido por acaso, antes da existência do sistema de armazenamento?

Como pode o sistema de armazenamento de informação ter-se desenvolvido por acaso sem a informação necessária à sua estruturação?

Que teriam Darwin e Nietzsche a dizer sobre isto? Rigorosamente nada!

Tanto quanto nos é dado observar, toda a informação tem uma origem inteligente.

As quantidades inabarcáveis de informação contidas no genoma das diferentes espécies animais e vegetais são um testemunho incontornável da existência de Deus.

Anónimo disse...

Alguem disse:

"a ciência tem vindo a demonstar que "deus joga aos dados" e não intervem nestas coisas de formação de espécies, evolução de espécies, extinções, localização de particulas sub-atómicas, ..."


Teria todo o gosto em ver essas "demonstrações" para as poder comentar.

Uma coisa posso antecipar desde já com toda a certeza:essas demonstrações pura e simplesmente não existem!

Mas sobre isso poderemos ir conversando aqui mesmo, ao longo dos próximos anos.

Anónimo disse...

Voltando à questão da meta-informação contida no genoma e da possibilidade do seu surgimento por processos aleatórios.

É interessante notar que os evolucionistas afirmam que toda a informação contida no genoma suriu através de mutações aleatórias (isto, apesar de as mutações observadas destruírem a informação genética e de não existir evidência de evolução gradual no registo fóssil).

Sucede que a afirmação evolucionista é impossível.

Os acontecimentos aleatórios são, por definição, cegos, contingentes e independentes uns dos outros, sem qualquer capacidade de planeamento do futuro.

Os processos aleatórios não pensam, não identificam problemas, nem procuram solução para os mesmos.

Essa capacidade supõe inteligencia e design.

Pelo contrário, a meta-informação contida no genoma é totalmente dependente da informação primária que com ela se relaciona.

Assim, por exemplo, a informação relativa à divisão de uma célula só é relevante para a resolução do problema da divisão da célula e não para a resolução de outro problema.

Toda a meta-informação contida no genoma humano só faz sentido quanto aplicada ao conteúdo genético desse mesmo genoma.

Mesmo que se concedesse que a primeira informação biológica foi o resultado de um processo aleatório, a meta-informação necessária à utilização dessa informação nunca poderia ser o resultado de processos aleatórios, totalmente independentes dessa informação genética primária.

Isto, na medida em que a meta-informação é indissociável da informação genética primária a que diz respeito.

Também por aqui se conclui que é inteiramente racional e razoável acreditar que Deus, e não quaisquer processos aleatórios, criou a informação genética primária e a meta-informação que dela é indissociável e que permite a sua utilização.

Anónimo disse...

Sim, é uma balela achar que sem Darwin, ou com menos Darwin, haveria mais poesia. Afinal que noção faz de poesia?! Não a mesma que eu, seguramente. A poesia tem muito de aleatório. Dá imenso trabalho também, mas não me venham dizer que provém de um sopro divino!Acontece.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

"Teria todo o gosto em ver essas "demonstrações" para as poder comentar.

Uma coisa posso antecipar desde já com toda a certeza:essas demonstrações pura e simplesmente não existem! "

Se as quiser mesmo ver pode começar por ler "o tecido do cosmos" de brian greene, publicado pela gradiva.

Anónimo disse...

Se se refere à Mecânica Quântica digo-lhe já que o probabilismo é um postulado. Não há demonstrações algumas na mecânica quântica de que "Deus joga aos dados". Aliás, como o próprio Bohr salientou, a acausalidade não pode ser demonstrada. As demonstrações são actos da razão. A acausalidade é uma irracionalidade. Pode ser suposta, colocada como hipótese explicativa, mas não pode ser demonstrada, colocada como certa.

António Daniel disse...

Deixo aqui uma referência importante para um nome, António Caldeira Azevedo, que lançou há uns dois anos atrás uma obra interessantíssima sobre a presença de Nietzsche em Portugal, nomeadamente em Pessoa. O livro está publicado pelo Instituto Piaget. É de facto uma obra de referência quer por não haver muitas indicações sobre o assunto, quer por ser séria. Acrescento ainda que, dentro da Águia, houve Raul Proença que publicou dois volumes sobre o tema do Eterno Retorno, publicados pela Biblioteca Nacional. De qualquer forma, parabéns pelo artigo.

António Daniel

QWERTY disse...

Muito se fala de criacionismo ou de evolucionismo, vamos dar uma volta pelas duas.

Antes de mais, vamos à formação do Universo.
Do zero, do nada, do vazio, apareceu aquilo que daria origem ao Universo:

Hipótese A - Uma entidade extremamente inteligente e evoluída aparece do nada e decide criar a luz e o Universo.

Hipótese B - Um ambiente vazio com várias dimensões (infinitas por exemplo) permite que de alguma forma se forme um Universo a quatro dimensões (as três dimensões espaciais mais a dimensão temporal) composto por partículas sub-atómicas que se conjugam, por sua vez, em partículas atómicas.


Falando agora da origem da vida...

EVOLUCIONISMO:

Há muitos anos atrás um conjunto de eventos permitiu que se criasse automaticamente vida no planeta:

1 Fontes de agua onde a temperatura oscilava fortemente, preenchidas por substancias químicas diversas.
2 Formação de compostos químicos básicos através de reacções simples.
3 Colisões de cometas que permitiam que esses compostos se associassem (a energia cinética de milhões de colisões possibilitou a formação de compostos cada vez mais complexos, incluindo a formação das unidades que constituem o RNA - foi provado em laboratório).
4 As colisões foram em densidade e intensidade suficiente para que fosse possível a manutenção de pequenas "fontes da vida".
5 Alguns desses compostos semi-complexos tinham um comportamento hidrofilico (ácidos gordos), permitindo a formação de pequenas bolhas que comportavam outros compostos mais complexos (componentes do RNA por exemplo).
6 Essas bolhas dividiram-se inicialmente tal como de divide uma bolha de gordura em água, no interior destas pequenas células, com paredes compostas por ácidos gordos, começaram a desenvolver-se os primeiros alicerces da vida.
7 Eventualmente essas bolhas de gordura que comportavam no seu interior os componentes do RNA, evoluíram para seres inteligentes (período de tempo extremamente alargado).


CRIACIONISMO

Uma entidade inteligente chegou ao planeta Terra e plantou a vida:

Hipótese A - Essa entidade depositou, deliberadamente, provas da "evolução" das espécies no planeta, só para entreter a sua obra-prima: O SER HUMANO (sempre achei muito prepotente esta afirmação).

Hipótese B - Essa entidade criou os primeiros organismos vivos e tem vindo a brincar às evoluções durante os últimos milhares de milhões de anos. Aplicando, deliberadamente, pequenas alterações em determinados indivíduos de uma população de forma a se adaptarem ao meio que ela os inseria, esta entidade, para além de muito paciente, não soube como dar saltos evolucionários grandes, demorou muito tempo até chegar aquilo que somos hoje, a sua obra-prima: O SER HUMANO (sempre achei muito prepotente esta afirmação).

HIPOTESE C, D, E, F........... (todas muito semelhantes).

Importa notar que o Ser Humano é o centro das atenções desta entidade superior e inteligente. Vamos desprezar o facto de esta entidade desprezar completamente o Ser Humano em particular e a Humanidade no geral, não é preciso dar exemplos, para cada pessoa que diz ser "vítima" de um milagre, uns poucos milhares de milhão morreram de forma estúpida e irresponsável (do ponto de vista da tal entidade superior). Seria mais fácil encontrar provas da sua maldade do que da sua bondade.

QWERTY disse...

CONTINUAÇÃO


No fim ficam perguntas importantes:

1 Como é que umas simples bolhas de gordura que continham no seu interior os componentes base do RNA conseguiram evoluir, para primeiro se auto-multiplicarem (ao invés de estarem dependentes das acções do ambiente), e depois, para evoluírem? Como é que o código se escreveu?

2 De onde vem a entidade do criacionismo?

3 Porque é que a entidade do criacionismo não se dá a conhecer?

4 Porque é que a entidade do criacionismo demorou tanto tempo a criar o Ser Humano? Ou, por outro lado, porque é que ela plantou deliberadamente as evidências do evolucionismo?

5 Se essa entidade existe, e Ela realmente influencia a nossa existência, e a nossa forma de ver o mundo, então este texto foi escrito por Ela? Nesse caso, Ela quer que eu faça estas perguntas?

6 Até onde é que essa entidade nos influencia? Foi só no processo criacionista e evolutivo? Agora está só a observar? Somos uma experiência de laboratório? Se somos, então não importa aquilo em que acreditamos, no final do dia, o que importa, é o contributo que demos para essa experiência de laboratório ;)

7 Se essa entidade não existir, o que é que muda? Nada, no final do dia, o que importa, é fazermos aquilo que queremos, e acima de tudo sermos felizes. A busca pela nossa felicidade pode colidir com a busca pela felicidade de outros, o que fazer nesse momento? Eu digo, seguimos o plano, nessa altura cada um vai ter que se perguntar se quer ser um Hitler ou uma Madre Teresa de Calcutá.


NOTA: Eu prefiro pensar que posso escolher, mesmo que a escolha seja uma ilusão (as minhas acções ou são resultado de um processo químico-físico complexo ou da acção de uma entidade superior), entre um Hitler ou uma Madre Teresa de Calcutá, honestamente gostava de deixar uma marca no mundo, e preferia ser lembrado num bom sentido, sem dúvida.

Anónimo disse...

Pois,Qwerty, eu gostava era de saber porque é que o ser humano acha que tem de haver um SENTIDO para tudo aquilo que pensa, vê,ou faz;que tem de haver algures, não sei aonde, uma finalidade para os actos que protagoniza;que todo o ser humano tem uma missão a cumprir - como seja a de deixar uma marca, seja ela qual for.Para quê? Para os vindouros poderem falar evocando personalidade tão marcante? E daí?Que será feito entretanto de tal entidade? Não se encontrando à direita de Deus-pai,estará algures,transformado não sei em quê, a preparar uma nova geração de seres humanos desesperados menos angustiados com a existência que serão obrigados a viver aqui ? Qwerty preferia ser lembrado num bom sentido... Mas o que é isso de um " bom sentido"?Porque não vive simplesmente sem sentido algum? Aposto que viveria melhor, muito melhor, porque se preocuparia apenas a dizer SIM à vida!Com a dor e a alegria próprias de quem com nada se ressente. E sem em nada acreditar,porque toda a crença é castradora da vida.Eu não acredito.Tenho é a certeza de que só o esforço cavalgado por teimosa perseverança nos pode levar a algum lado.O esforço,a única coisa que vale a pena. Para sacar da vida o maior espaço de tempo possível a " viver bem ".Sem os fantasmas próprios de um espírito " décadent " como diria Nietzsche.

Unknown disse...

Veja esta matéria a respeito, muito interesante...

http://teorizando-tudo.blogspot.com.br/2012/08/evidencias-de-criacao.html

Evidencia de Criação. Deixei seu comentário após assistir, obrigado!

Anónimo disse...

A Dra. Ana Leonor Pereira é uma social-fascista que nas avaliações beneficia os alunos que são militantes de partidos de esquerda e prejudica os alunos que professem ideias liberais ou de direita.

As suas aulas, nem aulas são, são conversa de café e o Ministério do Ensino Superior deveria de ser informado desta situação.

Eu não o posso fazer porque tenho medo de sofrer represálias e por esse motivo não posso dar o meu nome.

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