De acordo com um estudo de uma equipa internacional publicado terça-feira na Royal Society Biology Letters, o golfinho branco do rio Yangtze também conhecido por baiji ou Pei C'hi, está muito provavelmente extinto.
«Este resultado significa que o baiji parece estar extinto», declarou Wang Ding, o especialista nesta espécie que coordenou a expedição que percorreu 1669 quilómetros do rio, entre a cidade de Yichang (perto da barragem das Três Gargantas) e Xangai.
Por sua vez, Samuel Turvey da Sociedade Zoológica de Londres informou que
«Mesmo que ainda exista algum espécime, não o conseguimos encontrar e não podemos fazer nada para impedir a sua extinção» e resumiu em duas frases a perda irreparável esta extinção representa:
«A perda de uma espécie tão única e carismática é uma tragédia chocante. O golfinho do rio Yangtze era uma mamífero notável que se separou das restantes espécies há mais de 20 milhões de anos. Esta extinção representa o desaparecimento de um ramo completo na árvore da evolução e mostra que ainda não tomámos plena consciência do nosso papel enquanto guardiões do planeta»
De facto, o Lipotes vexillifer era o único sobrevivente dos Lipotidae, uma família que se pensa ter separado dos restantes mamíferos marinhos entre 40-20 milhões de anos atrás. Em termos evolucionários era um cetáceo único, um verdadeiro fóssil tão bem adaptado ao seu habitat que se pensa ter permanecido praticamente inalterado desde o Mioceno.
Na década de 1950, viviam milhares de golfinhos no rio Yangtzé e nos seus afluentes, protegidos durante séculos pela superstição dos pescadores que os consideravam quase semi-deuses e contavam lendas de reencarnações de princesas afogadas por amor. Contudo, a revolução cultural de Mao Tse Tung, que pôs fim a muitas superstições, terminou igualmente a protecção desta espécie que passou a ser pescada massivamente. Embora com contribuição não despicienda da referida barragem das Três Gargantas e da industrialização da China, que transformou o habitat deste golfinho único numa verdadeira auto-estrada nas imediações da qual se estima viver cerca de 10% da população mundial, a pesca intensiva, e ilegal desde 1949, terá sido a causa principal da extinção considerada a primeira de um mamífero nos últimos cinquenta anos. Mas assim de repente lembro-me pelo menos da foca-monge-do-Caribe (Monachus tropicalis), considerada oficialmente extinta em 1996 pela IUCN. Esta foca foi o primeiro mamífero do Novo Mundo com que os europeus entraram em contacto, na costa de Santo Domingo em 1494, e a sua reacção a este elegante mamífero extinto por depredação humana foi premonitória: como é relatado no diário da segunda viagem de Cristovão Colombo, este ordenou à tripulação que matasse oito focas.
Ironicamente a extinção do baiji é confirmada no ano devotado à sua preservação. De facto, 2007 foi declarado «Ano Internacional do Golfinho» numa iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Ambiente/Convenção sobre Espécies Migratórias juntamente com o ACCOBAMS - «Agreement on the Conservation of Cetaceans of the Black Sea, Mediterranean Sea and contiguous Atlantic Area» e o ASCOBANS - «Agreement on the Conservation of Small Cetaceans of the Baltic and North Seas».
Esperemos que o «Ano do Golfinho» não veja a extinção no mesmo local de outro cetáceo único, o jiangzhu ou porco do rio, o Neophocaena phocaeniodes que os especialistas prevêem desaparecer na próxima década, provavelmente acompanhado de muitas das 16 119 espécies na lista vermelha da IUCN, The World Conservation Union, entre animais e plantas - que incluem espécies tão emblemáticas como o urso polar (Ursus maritimus) e o hipopótamo (Hippopotamus amphibius).
8 comentários:
Se isto se passasse nos Estados Unidos, a culpa seria dos americanos e o principal responsável seria o Presidente Bush.
Como foi na China, a culpa é do "homem" e acerca da responsabilidade dos dirigentes da China nem uma palavra.
Jorge Oliveira
Ao anónimo Jorge Oliveira:
Todos os mamiferos, e aves estão condenados a uma extinção rápida, excepto o que chamamos pragas (incluo aqui as gaivotas).
A questão é simples: quanto mais gente há no mundo, menos "bichos" haverá. E não se pode concentrar as pessoas nas cidades, porque estas são um grande sorvedouro (ou sumidouro?) de energia, que vai escassear em breve. Logo...
Ao menos a China reconhece o problema populacional e não ocupou o Iraque, um dos poucos países que pode aumentar a produção de petróleo, quer devido á mudança de conjuntura, mas também do ponto de vista geológico.
Ao anónimo Óscar
A China reconhece o problema populacional? Acredito que sim. Fuzilam pessoas com tanta frequência e facilidade, que deve ser para reduzir o número... E quanto a ocupações, está a esquecer qualquer coisa.
Mas faça uma experiência conceptual : retire o poder militar aos Estados Unidos (o diabo seja surdo, cego e mudo) e imagine o que aconteceria.
Jorge Oliveira
Os humanos é que não se deveriam reproduzir como coelhos, de forma inconsequente e irracional...mas só quando a dor e a devastação total do planeta acontecer é que vão todos abrir os olhões e se lembrar disto, mas será demasiado tarde! Agora continuam e vão continuar a destruir, só assobiam para o lado...e não é uma questão de esquerdas ou direitas, são todos os que só pensam no poder...e quanto mais gente miseravel existir mais poder haverá para uma minoria! Gosto muito deste blog! Continuem oferecendo sabedoria e alertando para os graves problemas nacionais e internacionais...haverá sempre alguém, no meio da turba de insensatos, que achará utilidade a este trabalho.
Vóvó Donalda
E eu que fui deixar escapar a oportunidade (única?) de comer um carpaccio de golfinho em Reykjavik.
Pelos comentários que aqui se escrevem dá para perceber a importância que se dá à presumível extinção desta espécie única.
Como as "pessoas" conseguem fazer mal a um animal lindo e inocente como esse!!!!!???????
O fim esta muito próximo!!!!!
Enviar um comentário