domingo, 6 de junho de 2010

«Learning street»

"As novas escolas querem mudar o ensino em Portugal"
Por Alexandra Prado Coelho

"A sala de aula já não é o espaço mais importante da escola, acredita a Parque Escolar. A arquitectura poderá transformar o ensino?
»

Este é um dos títulos e lead da edição do Público de hoje. Infelizmente parece que até a arquitectura tem uma palavra a dizer sobre o papel que o professor vai perdendo. De facto, já nem era necessária a sabedoria da Parque Escolar - que a sala de aula já não parece importar é uma verdade que assimilamos a cada dia que passa... Leia aqui.

11 comentários:

Anónimo disse...

É só invenções para gastarem o dinheiro dos contribuintes é inutilidades públicas!

Depois dos Magalhães agora é isto, escola descentrada, alunos a circularem com computadores portáteis..
Não vejo o que isso traz de novo ou de melhor ao ensino, à sua qualidade.

Nada obviamente.

José Batista da Ascenção disse...

Claro que a arquitectura (também) pode transformar o ensino. E a Alexandra Prado Coelho também. Como pode qualquer bicho careta que não esteja em estado de coma.
Quem não pode transformar o ensino são os professores. Esses NÃO!

Porque esses são necessários para arcarem com as culpas dos resultados das sucessivas "inovações" em que não são tidos nem achados.
E nem devem dar qualquer opinião, sob pena de levarem tareia dentro das salas de aula e fora delas, com a garantia de que ninguém incomodará os agressores.

Anónimo disse...

José Batista:

O problema é que os professores não estão unidos e se calhar nunca o estarão devido a diferentes formações justas ou injustas, rivalidades laborais, etc..

Mas creio que a mudar têm que que haver da parte dos professores uma greve geral, não as greves que se vêm na televisão, uma greve nas escolas, total, de uma semana, depois um mês, algo que faça abanar o governo, que leve se possível à queda do ministério e quem sabe do governo em si.
Mas para isso é preciso mobilizar a sociedade, um verdadeiro maio de 68 pacífico é o que faz falta!

Fartinho da Silva disse...

Assino por baixo o que escreveu a autora do post e José Batista da Ascenção no seu primeiro comentário.

C. Alexandra disse...

Não acho que a arquitectura possa transformar o ensino. Mas a arquitectura é importante para aqueles que passam muitas horas na escola, na medida em que tem influência no gosto que nutrem pelo local e consequentemente no seu bem-estar.

Uma das coisas que achava ridícula quando andava no ensino básico era não poder andar pelos corredores. E a minha experiência no secundário e no ensino superior só me fez achar a imposição ainda mais ridícula.

Outra coisa de que me recordo bem de quando aluna do 2.º e 3.º cilos eram as casas de banho imundas, as paredes, cacifos, mesas e cadeiras todas riscadas e sujas. Se a arquitectura ajudar a mudar isso, sou completamente a favor de mudanças arquitectónicas nas escolas. Um espaço em boas condições é meio caminho andado para uma pessoa lá gostar de estar.

O que me preocupa no artigo é a colocação do edifício no centro da educação. Para mim é o aluno que deve estar no centro e alguns objectivos que passam por lhe transmitir conhecimento e ajudá-lo a desenvolver determinadas capacidades. Bem como, prepará-lo para a vida adulta, para o que é necessário, entre outras coisas, a transmissão de valores.

Também me preocupou a seguinte expressão "uma biblioteca, que passa a assumir um lugar central, com jornais, revistas, computadores, Internet." Onde estão os livros? Uma biblioteca deve ter, antes de mais, livros. Os e-books vieram para ficar, mas continuam a ser necessários livros nas bibliotecas. E que revistas?

Luis Neves disse...

Também acho que esta frase é completamente reveladora do pensamento dos actuais responsáveis da nossa governação.
Isto não é uma frase de quem está a reconstruir o nosso parque Escolar( Ainda bem que o estão a renovar).
Isto faz parte do pensamento deste Governo e deste Ministério da Educação.
O que interessa a este Primeiro Ministro e Ministra é ter escolas todas bonitas , com redes Wireless para os meninos estarem sempre ligados à internet, vigiados por camâras por todos os lados por causa do Buling, e que as Escolas os ocupem o dia inteiro com actividades extra escolares, pois os Pais têm mais que fazer que cuidar dos filhos. Isto é a Escola idealizada por estes senhores.
O que se passa nas salas de aula é para esta gente pouco relevante, são consideradas coisas antigas, velhas , que não são modernas.
Assim vamos muito mal na nossa educação.
Luis Neves

Nan disse...

O grande problema é que a ideologia contaminou muito tudo isto. O estrado, por exemplo, foi considerado «fascista» e abolido. De facto, o estrado fazia com que o professor, mesmo sentado, conseguisse ver toda a turma - ninguém estava escondido na sala de aula. Também ajudava os alunos (e os professores) mais baixos a chegar ao topo do quadro.
A existência de uma escada a ser usada apenas pelos professores foi considerada «fascista» e abolida. Mas essa escada justifica-se quando a escola tem 800 alunos e 100 professores, agilizando a deslocação destes últimos - é uma espécie de faixa «bus».
Estranhamente, não vejo as pessoas que dizem «A sala de aula já não é o espaço mais importante da escola, acredita a Parque Escolar. A arquitectura poderá transformar o ensino?»
preocupadas com o facto de as escolas serem demasiado frias no Inverno e demasiado quentes no Verão, de terem cores feias e deprimentes nas paredes, de terem uma instalação eléctrica de caca, que estoira assim que se liga qualquer coisa, de deixarem entrar água assim que chove, de servirem comida que nem por acaso tem aspecto comestível...

C. Alexandra disse...

Nan,

A existência de estrados nas salas de aula actualmente não faz sentido. A maioria das escolas tem mesas mais baixas do que várias das que se usavam no tempo dos estrados, o que permite ao professor, uma vez em pé, ver bem toda a sala. E actualmente os professores não têm outro remédio senão leccionar em pé e sentar-se apenas para preencher documentação ou outra actividade de curta duração, uma vez que os alunos requesitam constantemente a sua atenção. E muitas vezes é necessário andar de mesa em mesa a supervisionar trabalhos.

Quanto à "escada dos professores", frequentei uma faculdade com mais de 1000 alunos e nunca vi professores com atrasos devidos ao facto de terem circular nas mesmas escadas que os alunos. Numa escola básica os alunos são mais descuidados, com menor maturidade, mas ainda assim não impedem a passagem de professores pelos corredores e não o fariam nas escadas.

A deslocação dos alunos é tão importante quanto a dos professores. É incomodativo a aula começar e depois continuarem a entrar alunos ao ritmo de um ou dois de cada vez. E vi vários alunos com problemas de deslocação por terem de utilizar uma escada congestionada, porque só haviam duas e uma era reservada aos professores, mas que, ainda assim, os alunos chegavam mais cedo ao pé das salas de aula do que a maioria dos professores que, tinham uma escada com espaço de sobra.

TRA disse...

O conceito de "arquitectura pode melhorar ensino" não diminui em qualquer aspecto o papel do professor na escola, nem me parece ser um meio de se "gastar o dinheiro dos contribuintes". Pegando no assunto dinheiro dos contribuintes... para que contribuem os contribuintes? Para o melhoramento de vários aspectos essenciais ao indivíduo e à sociedade. E se saúde está no topo, educação não estará muito abaixo.

Se tem havido problemas cada vez maiores na educação a nível nacional, porque será? Porque os professores são maus? Não acredito. Porque as crianças não são bem-educadas em casa à partida? Não poderá ser tão simples quanto isto.

A verdade é que o ensino evoluiu muito nos últimos 50 anos (basta pegar nos 10 livros de um aluno de ciclo e comparar com o livro ou dois que tinham há 50 anos). A matéria é mais e mais explorada, TODAS as crianças vão à escola, os meios de comunicação multiplicaram-se, o ritmo acelerou... Os edifícios escolares, esses são os mesmos.
É natural e bom que no campo da arquitectura se tenha trabalhado os espaços de ensino, de forma a adaptá-los às necessidades de hoje em dia, e de forma sustentável, deixar flexibilidade para as necessidades de amanhã.

Os conceitos que a Parque Escola defende são, entre outros, os de parcerias, i.e. partilha de instalações (ginásio, biblioteca, entre outros...) com a comunidade em que se insere a escola. Se o assunto é gastar dinheiro, neste ponto seriam reduzidos custos, já que um mesmo edifício poderia estender o seu uso para lá das horas escolares. Ganha a escola como ganha a comunidade; menos uma biblioteca ou ginásio por construir na cidade.

O conceito de "learning street" ou "a sala de aula não é o sítio mais importante da escola", traduz a observação feita do comportamento dos alunos, e a promoção de inter-ajuda/ensino entre alunos. E se um corredor deixasse de ser vocacionado apenas para circulação, mas se alargasse para deixar espaços de "aprendizagem"/estudo? Não é raro ver grupos de alunos sentados junto às paredes dos corredores durante os recreios a estudar, fazer TPC, explicar uns aos outros a matéria. A relação social também ela pode ser educativa.

O espaço ser "bonito" ou não... como disse, e bem, C. Alexandra, faz toda a diferença. Num local em que os alunos possam ter os seus trabalhos expostos, em que se possam identificar com o seu espaço, em que se sintam bem e confortáveis... existe sentimento de pertença. A motivação é promovida. E alunos motivados... é tarefa facilitada para professores.

Não sei onde trabalham as pessoas que comentaram aqui, mas com certeza saberão ver diferença entre trabalhar num escritório com vista e luz natural, ou num escritório numa cave com lâmpadas fosforescentes. Entre trabalhar numa empresa com um espaço de convívio confortável e acolhedor, do que com uma sala com três cadeiras em linha e uma maquina de café; num sítio em que sabe o que a empresa está a fazer e produzir, para além do papel que cabe apenas a ele próprio. E saberá avaliar o aumento de produtividade de quem trabalha num local que goste.

A reforma escolar passa (Entre muita coisa) pela arquitectura também, não apenas pelo currículo ministrado. E a Parque Escola está a seguir exemplo de quem experimentou e obteve sucesso, olhando para exemplos de escolas e países em que estes conceitos, onde a aprendizagem/alunos e o ENSINO/professores têm papel principal, já são regra, e não ideal; pedagogias criadas em conjunto entre alunos, professores, comunidade, arquitectos, investidores (neste caso, governo).

Não trabalho para a Parque Escola, nem trabalho para nada, para dizer a verdade. Sou estudante universitária e estou a realizar uma dissertação de mestrado sobre escolas, olhando para o exemplo alemão. Não estou 100% a par do programa da Parque Escolas, mas se segue o modelo internacional, espero sinceramente que chegue a bom termo.

Teresa Rebello de Andrade

joão boaventura disse...

Sobre a melhoria psicológica ou sugestiva do aparelhamento arquitectónico na mentalidade das pessoas relembro aqui um caso curioso que a compagina.

Li em tempos o livro de Erico Veríssimo, "Gato preto em campo de neve", onde o autor relata, numa viagem aos EUA, para responder a um convite de uma Universidade, a sua primeira impressão quando a visitou e viu um a pista de corrida:

"Uma pista bem montada convida a correr".

Assim, uma escola bem "montada" convida ao estudo.

Só por curiosidade, o autor titulou o livro "Gato preto em campo de neve" porque, quando viajava no comboio, já em pleno EUA, enquanto olhava pela vidraça, observou que, no meio da neve, corria um gato preto.

joão boaventura disse...

O que o blog O Polvo, opina sobre a matéria.

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