Tendo em conta que a língua materna constitui a base da
aprendizagem que se faz nas diversas áreas curriculares, e não apenas nas
atinentes à disciplina de Português, e mesmo reconhecendo que nem todos os alunos
conseguirão expressar-se como Eliza no final do seu treino e produzir textos de elevada qualidade, deve-se procurar que adquiriram um domínio linguístico, tanto escrito como falado, próximo do literário.
Esse domínio interfere na compreensão do mundo, do tempo
presente e passado, de si mesmo e do outro, daquilo que está para além do que é evidente, no discernimento que dá acesso a escolhas conscientes.
Como se perceberá, trata-se de qualidades fundamentais numa sociedade que se vê
saturada de informação, mas com escassez de espírito crítico.
O estudo da língua no sentido literário, que vai muito além do pragmático, parece a alguns autores (por exemplo, Bloom,
2001; Calvino, 2002; Compagnon, 2007), uma das chaves para o sucesso individual
e colectivo das gerações futuras, ainda que isso signifique
ir ao arrepio de concepções pseudo-pedagógicas de carácter pós-moderno, que insistem
no utilitarismo imediato daquilo que os alunos devem ler e escrever.
A este respeito João Boavida (2008)
recorda-nos que a educação continua a ser uma condição de liberdade, na medida
em que proporciona ferramentas de pensamento e de escolha pessoal. Poeticamente,
Sophia de Mello Breyner Andresen acusa o demagogo de desrespeitar a sacralidade
das palavras, ao fazer delas “poder e jogo”, esquecendo que o povo pôs na
palavra “a sua alma confiada” e foi pela palavra “que desde o início/O homem
soube de si”.
Esta insistência na preservação da literatura na escola contrasta com o lugar que ela ocupa nos currículos, cada vez mais circunstancial e servindo propósitos algo alheios ao sentido do saber (Maria do Carmo Vieira, Cécile Ladjali, George Steiner). É isto que se tem de dizer, pois alunos precisam de
desenvolver uma intuição apurada da literatura como ponto de encontro com a civilização e a fruição.
Maria Helena Damião e Ana Cristina Grave
4 comentários:
A literatura e o triunfo da forma sobre o conteudo e como tal deve ser extirpada de todo o conteudo escolar obrigatorio.
Deve ser permitido a quem quiser ser estupido enverdar por esse caminho (desde que nao espere ajuda do estado), mas a estupidez deve ser um direito e nao uma obrigacao.
Eu preocupo-me com o valor logico de preposicoes, nao se sao belas ou feias ou nos sentimentos que evocam e muito menos em adivinhacoes sobre o que o autor estava a sentir.
A prova de que o estudo da lingua ao nivel literario nao implica capacidade critica pode ser vista neste mesmo blog bastando para tal ler o poeta catedratico de coimbra que por aqui vai poluindo este espaco publico com os seus textos poeticos desprovidos de sentido. Se um campones escrevesse o mesmo nnguem diria que tinha qualidade, mas na literatura, mais importante do que o que se escreve, e quem o escreve.
Outro bom exemplo e o caso do tipo que por cada frase faz varias citacoes de gente muito ilustre que nunca acrescentam o que quer que seja a nao ser na melhor das hipoteses (muito raro) argumento por autoridade.
Eliminem esse lixo das escolas. Que o pessoal das letras goste de jogos de autoridade e pavonear a sua estupidez e uma coisa, mas nem todos temos uma falta de respeito proprio tao grande a ponto de gostarmos de nos submeter a isso.
E ja agora, deixem de mamar na teta do estado. Querem escrever, facam pela vida!
Antes que me chateiem, este teclado nao tem acentos.
Muito obrigado. Excelente texto.
Desculpe, não percebi bem. Faz equivaler a literatura ao lixo? Se sim, o que propõe que se estude nas aulas de língua materna?
Ver a literatura apenas como uma forma superficial e dispensável do manusear das palavras e do conteúdo que encerram, é para mim uma grande negação das necessidades intelectuais que autorizam o ser humano a compreender-se a si e ao mundo. A literatura permite estabelecer um “ponto de encontro com a civilização”, permite vislumbrar “aquilo que está para além do que é evidente”. A Literatura é uma grande ferramenta de liberdade! Suponha-se que a água é o conteúdo e o copo a literatura, para beber de forma saudável e persistente precisa do copo que dá forma ao conteúdo. Sem forma tudo se dispersa! Considero um retrocesso muito grande extirpar a literatura do conteúdo escolar obrigatório, pois isso implica abdicar de uma das maiores conquistas do talento e génio humano. Ver a literatura apenas como uma “ciência” de valorização estética da proposição, é revelar-se um profundo desconhecedor do que realmente é a literatura. Chega a ser ofensivo à minha inteligência tais pensamentos. E só porque em determinado momento não acedemos ao sentido de determinados textos literários, não significa que estes não tenham sentido! Não terão sentido para quem não o conquista! Com noções individuais, querer derrubar a literatura, estendendo-as à generalização absoluta é de uma enorme prepotência! A literatura deve estar disponível para todos e cada qual faz os seus juízos sobre a sua utilidade e sentido. Agora impedir que os alunos se descubram a si e ao mundo?!
Acho piada a estes pseudo-salvadores dos oprimidos, que para os salvar, permitem o uso da opressão. Obrigar os alunos a restringir-se ao conteúdo não é uma medida de imposição severa? De restrição da liberdade de pensamento? Não é levar os alunos a serem obrigados a permanecer na estupidez? E a literatura não é um jogo do ócio, de vaidade ou de masturbação intelectual! Ter semelhante visão da literatura só pode ser um sintoma da mesquinhez deste comentador anónimo, vítima de um enorme falhanço no seu “gritinho intelectual”!
Para sempre Fernando Pessoa nas escolas!!!
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