Estamos naquela época do ano em que é da praxe as editoras fazerem a apresentação dos manuais escolares aos professores.
As grandes editoras apostam, naturalmente, em grande… Cada uma a tentar superar a outra.
Falo, agora, das que publicam manuais para o primeiro ciclo.
Enviam convites muito bonitos, escritos em pedagogês, na sua versão mais sedutora, a apelar directamente aos bons sentimentos educativos que um coração de professor pode conter.
Apresentam-se em grandes espaços, como teatros e hotéis, e recorrem a estratégias de marketing certeiro, como dar a ver um power-point colorido e animado, fazer demonstrações de como ensinar isto ou aquilo. Oferecem, claro, os manuais aos presentes. E, como cada manual se deve entender como um conjunto de múltiplos documentos, oferecem também uma pasta, e para se meterem as várias pastas, oferecem uma saca ou uma mochila, depende.
Tudo se remata, ou rematava, com uma pequena merenda, mas com um nome muito mais fino, à moda.
Neste ano, porém, as editoras estão a superar-se: além de proporcionarem, a cada professor que “marca o ponto”, esse envolvimento todo, que em muito parece inspirado na “estratégia Disney” (sem ofensa para esta estratégia quando no contexto Disney que, para o fim a que se destina, é legítima), dão-lhe um brinde.
Sei de uma que deu um tentador chupa-chupa, e de outra que deu um lindo balão. Na embalagem do chupa-chupa e na do balão constam slogans muito simples, tipo palavras-de-ordem. Devo dizer que tenho comigo e guardarei para a posteridade dois desses exemplares, não vá alguém dizer que a minha imaginação foi longe de mais.
Não, não vou aqui reproduzir esses slogans porque entendo serem demasiadamente humilhantes para os professores.
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13 comentários:
Oh, diga! Diga!
Assim não vale, "prontos".
Agora (mais) a sério: pedagoguês, rima (embora mal) com eduquês e estupidez.
Mas o (meu) povo (e também muitos professores...) gosta(m).
Que se há-de fazer?
Ainda recordo do tempo em que editoras, claramente no sentido de apresentar e explicar o seu projeto, rematou-o com uma peça de teatro "As obras completas de Shakespeare em 90 minutos".
Recordo-me, depois, do acordo de cavalheiros entre as principais editoras, para, nesse ano, não adicionarem às suas apresentações as apetitosas e sempre esperadas, almoçaradas e/ou jantaradas, onde os professores podiam discutir, de modo informal, as opiniões dos manuais, de modo a participarem na melhoria de manuais que já se encontravam elaborados.
Era para isso que serviam as abastadas refeições certo?!
Gostam? Bom, cada um fala por si!
Ivone Melo
A ironia não se consegue captar no sentimento da escrita, por isso, deixo aqui a indicação (comentário anterior deve ser lido com ironia e sarcasmo, embora o sarcasmo seja malicioso, coisa que não pretendo transmitir :-P)
A panóplia de manuais escolares para o 7º ano que acabei de receber em casa é... inqualificável.
Diga os slogans, Cara Helena Damião, sou professora é acho que é preciso mostrar, nem todos os professores se sentem humilhados pela estupidez, pelo contrário, muitos ficarão agradecidos pois é preciso mostrar às pessoas para que pensem sobre o assunto e não nos deixem sozinhos nas escolas.
Vou desaparecer daqui, em breve, por uns tempos. Mas voltarei.
HR
Curiosamente, um dos autores deste blog - senão o principal - é também um dos principais autores de sucessivos manuais escolares editados por essas grandes editoras...
É verdade!
No entanto, na defesa desse(s) autor(es), digo que os jogos de marketing são trabalho das editoras, não dos autores, embora haja excepções. Conheço autores que fazem um trabalho de marketing excelente, e não precisam de almoços ou espectáculos de cores (floreados).
Conheço outros que, em capacidades de comunicação, e-lhes favorável os jogos de artifícios exteriores ao diálogo/monólogo, de tão mas que são as suas apresentações.
Cara Ivone (cara colega?):
Como eu prezo que os professores reajam assim.
Mas, sobra-me a dúvida: os professores que aceitaram os balões e os chupa-chupas, com aqueles "slogans", fizeram-no porque... não gostaram?
Eu sou uma das pessoas que aceitaram o chupa-chupas e o balão, mas com uma estupefacção tal que me parecia estar perante algo surrealista e, ao trazer tais “presentes”, tive como objectivo certificar-me, ulteriormente, se eu não teria sonhando…
Caro José Batista da Ascensão:
Na verdade creio que não podia reagir de outra forma ! Estou farta de atitudes e comentários que menorizam os professores. Há trinta anos que lecciono ( desde o tempo do péssimo ministro da educação João de Deus Pinheiro, o primeiro a atacar e a menorizar os professores sem pudor algum.)e têm sido trinta anos sempre a descer. Os professores ( básico e secundário) têm todos os defeitos e eu estou FARTA! Contudo, é bom que não se esqueçam que somos a única profissão que tem influência em todas as outras.
Se calhar os professores que vão aceitando as ridículas ofertas são produto de um ensino universitário bastante pueril, ou a culpa será do ensino primário?
Há muitos anos ( dava eu ainda aulas em Aveiro), passada a perplexidade, divertiamo-nos imenso com as alunas de Letras da UA que vinham a ler a Maria no comboio. Mas o que é certo é que a Universidade as aceitou e, pelos vistos, teve dificuldade em conseguir incutir-lhes o gosto por melhores leituras.
Pelo que me toca, em geral nem vou aos encontros editoriais, mas quando o faço, trago apenas os manuais, porque não necessito nem gosto das pastas que dão. Além disso, não quero ofender a natureza e a minha casa não é armazém de lixo editorial.
Os meus colegas provavelmente terão aceitado por boa educação e talvez, em alguns casos,por um certo espírito acrítico fruto de um ensino universitário de... massas...
Ivone Melo
Não sou professor mas também estou farto de ver como são subvalorizados e maltratados. E farto do Marketing sem ética ou escrúpulos, que não pára de se espalhar e contaminar toda a sociedade.
Cara Colega Ivone:
A minha dor não é menor que a sua, estou em crer.
E os comentários que faço não se destinam a menosprezar os professores, entre os quais me conto. Destinam-se antes a tentar provocar-lhes reacções como a sua, e a minha.
Se não nos indignarmos, mesmo com os colegas que embarcam em certas coisas, onde vamos parar? E que respeito podemos (então) esperar?
Estou portanto... consigo, se não se importa.
Muito obrigado pela sinceridade do seu comentário.
Fico contente por verificar que não foi mordacidade , digamos..., gratuita. "Prontos" e afinal quais eram os "slogans"?
Ivone Melo
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