“E toda a realidade/É um excesso, uma violênciacia/Uma alucinação/Extraordinariamente nítida”- Álvaro de Campos.
Corre na Net a história de um cão com um fundo moral. Sem perder mais tempo, mesmo correndo o risco de ela já ser demasiado conhecida, transcrevo-a na íntegra:
“O dono de um talho foi surpreendido pela entrada de um cão na loja. Enxotou-o, mas o cão voltou logo de seguida. Novamente, tentou enxotá-lo mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu: ‘Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?’
O cão trazia também dinheiro na boca, uma nota de 50 euros. Pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-as na boca do cão. O talhante ficou realmente impressionado. Como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para o sinal ficar verde.
Atravessou a rua e caminhou até uma paragem de autocarro, sempre com o talhante a segui-lo. Esperou pacientemente, com o saco na boca, que o sinal fechasse e a pudesse atravessar.
Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco à espera do autocarro. Quando o autocarro chegou, o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro autocarro chegou e o cão tornou a olhar. Vendo que aquele era o autocarro certo, entrou.
O talhante, boquiaberto, continuou a seguir o cão. Mais adiante, o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o autocarro, tudo isto, com as compras ainda na boca.
O talhante e o cão caminharam pela rua até que o cão parou à porta de uma casa pondo as compras no passeio. Virou-se, então, um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o mesmo, mas ninguém respondeu. Então, contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até à janela e começou a bater com a cabeça na vidraça várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme abriu a porta e começou a espancar o bicho.
O talhante correu até o homem e impediu-o, dizendo:
- ‘Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio’. O homem respondeu: - ‘Um génio? Esta já é a segunda vez nesta semana que este cão estúpido se esquece da chave!’
Moral da história? Podes continuar a exceder as expectativas, mas… a tua avaliação depende sempre da competência de quem avalia. Quanto a isso… nada podes fazer”.
Extrapolando a história para os processos de avaliação dos alunos do ensino básico, a conclusão a tirar é a de que essa avaliação é escandalosamente permissiva a ponto de numa prova de exame de Matemática deste ano, destinada a alunos do 2.º ciclo do ensino básico, ser feita a dificílima pergunta sobre o resultado da soma de 5+2!
A notícia que nos chega não esclarece se, devido "aos complexos cálculos" a que a pergunta obrigava para o cérebro de criancinhas de mais ou menos 12 anos de idade, foi permitida a utilização da máquina de calcular a que estavam habituadas assim que transpuseram pela primeira vez os muros da antiga escola primária, hoje escola do 1.º ciclo do ensino básico.
Corre na Net a história de um cão com um fundo moral. Sem perder mais tempo, mesmo correndo o risco de ela já ser demasiado conhecida, transcrevo-a na íntegra:
“O dono de um talho foi surpreendido pela entrada de um cão na loja. Enxotou-o, mas o cão voltou logo de seguida. Novamente, tentou enxotá-lo mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu: ‘Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?’
O cão trazia também dinheiro na boca, uma nota de 50 euros. Pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-as na boca do cão. O talhante ficou realmente impressionado. Como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para o sinal ficar verde.
Atravessou a rua e caminhou até uma paragem de autocarro, sempre com o talhante a segui-lo. Esperou pacientemente, com o saco na boca, que o sinal fechasse e a pudesse atravessar.
Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco à espera do autocarro. Quando o autocarro chegou, o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro autocarro chegou e o cão tornou a olhar. Vendo que aquele era o autocarro certo, entrou.
O talhante, boquiaberto, continuou a seguir o cão. Mais adiante, o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o autocarro, tudo isto, com as compras ainda na boca.
O talhante e o cão caminharam pela rua até que o cão parou à porta de uma casa pondo as compras no passeio. Virou-se, então, um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o mesmo, mas ninguém respondeu. Então, contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até à janela e começou a bater com a cabeça na vidraça várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme abriu a porta e começou a espancar o bicho.
O talhante correu até o homem e impediu-o, dizendo:
- ‘Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio’. O homem respondeu: - ‘Um génio? Esta já é a segunda vez nesta semana que este cão estúpido se esquece da chave!’
Moral da história? Podes continuar a exceder as expectativas, mas… a tua avaliação depende sempre da competência de quem avalia. Quanto a isso… nada podes fazer”.
Extrapolando a história para os processos de avaliação dos alunos do ensino básico, a conclusão a tirar é a de que essa avaliação é escandalosamente permissiva a ponto de numa prova de exame de Matemática deste ano, destinada a alunos do 2.º ciclo do ensino básico, ser feita a dificílima pergunta sobre o resultado da soma de 5+2!
A notícia que nos chega não esclarece se, devido "aos complexos cálculos" a que a pergunta obrigava para o cérebro de criancinhas de mais ou menos 12 anos de idade, foi permitida a utilização da máquina de calcular a que estavam habituadas assim que transpuseram pela primeira vez os muros da antiga escola primária, hoje escola do 1.º ciclo do ensino básico.
Pergunta maquiavélica esta que corre o risco de vir a traumatizar os alunos pela vida fora, mas se bem respondida, pelos crânios mais recheados e melhor preparadas em cálculos difíceis, irá encher de orgulho os responsáveis do ministério da Educação pela percentagem de uns tantos êxitos estatísticos de um sistema educativo exigente e que assim dava uma bofetada de luva branca à crítica injusta de Vasco da Graça Moura, ao escrever sem medir as palavras: “A escola que temos não exige a muitos jovens qualquer aproveitamento útil ou qualquer respeito da disciplina. Passa o tempo a pôr-lhes pó de talco e a mudar-lhes as fraldas até aos 17 anos. (...) Vão para a universidade mal sabendo ler e escrever e muitas vezes sem sequer conhecerem as quatro operações. Saem dela sem proveito palpável”.
Em contrapartida, uns tantos quadros responsáveis pela tutela docente tratam os professores como burocratas, obrigando-os a preencher papéis sem conta e a fazer trabalho de secretaria horas a fio. Burocratas que Marx, dirigindo-se por carta a Engels, descreve “como teólogos do Estado acusando a burocracia de fazer do Estado a sua propriedade privada, com recurso ao espírito de segredo, mantida por uma hierarquia que se protege do exterior pela sua natureza de corporação fechada”. E mais acrescenta Marx que “a actividade verdadeiramente política ou criticamente científica aparecem a esta burocracia ignorante, mas poderosa, como uma traição aos seus interesses, já que a autoridade é o princípio do seu saber e a idolatria da autoridade é a sua mentalidade”.
De forma bem diferente, draconiana mesmo, ao sabor de uma madrasta avaliação para uns, embora mãe protectora para outros, os professores vão sendo avaliados em critérios de que a moral da história acima relatada nos dá conta e em que um simples pormenor pode destruir uma carreira de devoção à res publica e um magistério sem mácula.
Pelo contrário, um simples golpe de asa de sorte ocasional, premeditado, teatralizado mesmo, pode catapultar o seu bafejado autor/actor para altos voos na hierarquia do Estado num país em que “a mediocridade é a lei”, em libelo acusatório do neurocirurgião e literato João Lobo Antunes. E desta forma a história do cão se transforma em fábula de personagens humanas a serem tratadas de forma desumana!
15 comentários:
Rui,
finalmente estamos de acordo. ;-) A 500%.
Bem sei que um comentário deve acrescentar algo ao texto e que este meu não o faz. Mesmo assim, decidi escrever para sublinhar a afirmação "um simples pormenor pode destruir uma carreira de devoção à res publica e um magistério sem mácula". A tal lei é bem explícita: o que pode ser acabará por ser -- e, infelizmente, abundam as provas de que assim é.
De forma mui simplista e numa aplicação um nadinha descabida, lá acode aquele adágio sobre os homens e os cães...
Grave, gravíssimo, é o que se perde em anos e anos de desperdício da formação essencial.
Que seres humanos hoje e, sobretudo, amanhã?
Porque dos cães, posso afiançar que melhoram a cada dia, exponencialmente.
Esses sábios nobres da lealdade e do amor.
Sim, a avaliação que foi feita nos últimos dois anos não é digna do nome. A única atitude honesta em relação a ela devia ser considerá-la nula. Obrigatoriamente. Para todos os casos.
O pior é que o que virá a seguir não dá sinais de ser melhor.
Daí que o clima nas escolas esteja mau e as perspectivas para o futuro sejam piores ainda. O ódio não é bom conselheiro.
E pensar que a "nova" ministra, com o seu currículo, embarca numa coisa assim...
Quem não tem, na sua vida, uma história para contar, em termos de avaliação, comparável à do cão visado no relato?!... JCN
12.º parágrafo, 3.ª linha:
"crânios mais recheados e melhor 'preparadas'", não.
preparados, sim.
Mensagem recebida de Guilherme Valente:
Excelente texto, meu Amigo, e tão bem escrito que dá gosto. Parabéns!
Guilherme Valente
Ai meu Deus:
Se reparar, quando defendemos causas justas, com a convicção de que o fazemos, é fácil encontrarmos eco nos leitores.
Por vezes, quer os autores do post ou dos comentários defendem a mesma causda com argumentos diferentes, o que não é menos salturar ou louvável. Ambas as situações (ou mesmo aquelas que diferem completamente das minhas) me merecem a devida atenção e o meu agradecimento.
Cordialmente,
Margarida: Também eu comungo da sua opinião no que respeita ao ditado:"Quanto mais conheço os homens..."
A pior barbaridade, que nos torna "animalescos" (no sentido de desprovidos de Razão)é tratar mal aquele que é tido como fiel amigo do homem...e tem como paga a ingratidão do homem. Infelizmente, muitas vezes, as histórias mais não são que o espelho dessa realidade.
Cumprimentos cordiais,
Caro José Batista da Ascenção: Como soe dizer-se, no melhor pano cai a nódoa! Será esse o caso do pano e da nódoa? Esperar para ver...
Cordiais cumprimentos,
Meu Caro João de Castro Nunes:
Quisera eu dizer-lhe (ou, melhor provar) haver excepções, mas não.
Se as houver (a que eu pela experiência da vida sou obrigado a duvidar), só servem para confirmar a regra da injustiça que campeia na nossa sociedade com reflexos tremendos para a avaliação dos professores: ou feita deficientemente no passado e que o presente nos diz ser pior a emenda do que o soneto. E o soneto já era tão mau!
Cumprimentos cordiais,
Ao DRN com os meus agradecimentos:
Peço o favor de transmitirem ao Senhor Dr. Guilherme Valente a minha gratidão pela mensagem que me endereçou, ademais vinda de uma personalidade da vida cultural portuguesa que me habituei a respeitar e a admirar desde tempos “remotos” de uma participação sua como orador numa sessão levada a efeito em Coimbra e a que me foi dada a oportunidade de assistir, levantando eu algumas questões amplamente por si esclarecidas.
Sou sincero. Não me está no jeito armar-me em falso modesto (modéstia por vezes bem arrogante e denunciante de uma escondida vaidade), por isso confesso que me fez bem ao ego tão gentil mensagem.
Bem haja, meu distinto Amigo.
Com respeitosos cumprimentos,
Rui Baptista
…e se a seguir o cão se virasse para o dono e lhe dissesse: “A partir de agora vais tu buscar as tuas costoletas!”, e depois virava-se para o avaliador bonzinho e dizia-lhe assim: “Que admiração parva é essa, pá, achas que andei estes anos todos a estudar pr’a agora andar p’ra’ qui a fazer recadinhos de merda?”.
Partilho a opinião doutros comentaristas do De Rerum Natura: este seu post é muito interessante e bem pensado. A começar logo pela pertinente escolha destes versos de Álvaro de Campos.
(Aproveito para lembrar aqui uma mulher valente que gosta de fábulas: Paula Rego).
A arte mobiliza a compreensão profunda da natureza humana e do húmus ancestral que nos molda a todos. A interpretação simbólica é um poderoso exercício mental que desenvolve a destreza das relações, no pensamento.
A educação pela arte é tão importante como a educação física e a educação do conhecimento teórico/experimental. Um bom currículo deveria equacionar, em igual proporção, estas três vertentes na educação.
Não foi minha intenção, quando resolvi contribuir com uma pequena brincadeira, falar de arte. Mas como o desenvolvimento acabou por ser este, tenho de deixar esta nota: é tão criativo o artista, como o cientista ou o livre pensador (e a Filsofia a sério está a fazer uma tremenda falta, nas nossas escolas).
http://www.sgmf.pt/Geral/F_Pintura/Documents/08672d50797a46aaae7557bda53e4f10MF27pint_2.jpg
Chama-se a isto... "chover em molhado" ou, como diria Rui de Pina, "chuvas dobradas". O óbvio... do óbvio! JCN
Meu Caro JCN:
À expressão popular "chover em (ou no) molhado", eu prefiro esta: serrar serradura. Chover em molhado, é sempre possível; serrar serradura nunca.
Cordiais cumprimentos,
Rui Baptista
Anónimo (17 Maio, 15:29):
Acabo de publicar um post intitulado, precisamente, "Filosofia a sério".
Cordiais saudações,
Rui Baptista
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