Informação recebida do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra:
Foi proposta pelo próprio Darwin, antecipou a Ciência em 100 anos e escandalizou uma sociedade pouco confiante das capacidades femininas: trata-se da Teoria da Selecção Sexual. No ano em que se assinala o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, o biólogo Paulo Gama Mota revelará a história de uma teoria que revelou um outro lado da "genialidade" de Darwin e dará conta dos últimos avanços no estudo do sexo.
"A evolução é também uma guerra dos sexos", avança Paulo Gama Mota. "As disputas pela reprodução podem atingir níveis de complexidade e refinamento elevados. Os machos de veado vermelho lutam violentamente pelas fêmeas. Em muitos insectos os machos trucidam-se. Noutros casos os machos exibem a sua beleza natural, com caudas grandes e vistosas, que atraem predadores, mas mantêm o seu sucesso por serem preferidos pelas fêmeas. Estas preferem os mais vistosos, ou os que melhor cantam, ou durante mais tempo", explica.
Paulo Gama Mota sublinha que a escolha das fêmeas continua a ser um "caso de estudo". "Mas, a guerra dos sexos não termina no acasalamento, porque há muitos comportamentos extra-par como os estudiosos do comportamento vieram a descobrir nas últimas décadas. Mesmo em espécies monogâmicas há muita paternidade extra-par", frisa.
O que é a Teoria da Selecção Sexual? Por que é considerada revolucionária? Por que motivo ficou esquecida durante 100 anos? Como é que hoje influencia a investigação de ponta na área da biologia do comportamento? Investigador dos aspectos evolutivos do comportamento, Gama Mota vai dar a conhecer um outro lado da "genialidade" de Darwin e mostrar como uma teoria traçada no século XIX continua a alimentar a investigação de ponta em Portugal e no mundo.
"A Selecção Sexual aplica-se à evolução de ornamentações em animais. Essas ornamentações, especialmente as caudas longas e as cores vistosas, claramente diminuem a sobrevivência dos seus portadores, mas tendem a prevalecer. E isso, pensou Darwin, seria um paradoxo para a teoria de selecção natural [que defende a perpetuação das características que tornam os organismos mais aptos para sobreviver]", avança Gama Mota.
"Face ao aparente paradoxo, Darwin propôs um mecanismo especial para explicar a sua evolução. Basicamente, as caudas longas podem evoluir se o custo de sobrevivência for compensado por um maior sucesso reprodutivo. Os machos com caudas mais longas, cores mais vistosas ou cantos mais elaborados, seriam mais atraentes para as fêmeas e teriam mais descendentes. E é mesmo isso que se passa", explica o também director do Museu da Ciência.
Para Gama Mota, a Teoria da Selecção Sexual é "mais uma evidência do pensamento genial de Darwin". Porquê? "Porque ele antecipou o que lhe pareceu um buraco na teoria e procurou uma explicação para ele. A explicação estava certa. Mas, com uma honrosa excepção, tal só foi compreendido 100 anos depois, quando a teoria começou a ser testada. Uma antecipação de 100 anos em ciência não é para qualquer um", sublinha.
Por outro lado, avança o investigador, o trabalho de Darwin é desde logo "genial" porque "mudou completamente" o nosso entendimento da natureza viva. "Nada em Biologia faz sentido sem ser à luz da evolução", frisa, citando um biólogo evolucionista. "1.º: porque há evolução, as espécies não foram criadas tal e qual. 2.º: porque há competição: se as árvores cooperassem entre si não teríamos bosques com árvores de 30 metros, cada uma a tentar obter mais Sol para si. 3.º: porque todos os organismos evoluíram de antepassados comuns que viveram há milhares de milhões de anos, isto é, somos todos primos, embora em grau diferente. 4º: porque colocou a origem do Homem como ser biológico no seio da natureza, fruto de um longo processo evolutivo. 5.º: porque antecipou muito do conhecimento que viemos a ter. Sexto Porque a sua teoria foi das mais férteis em ciência, dando origem a uma massa de investigação e de produção de conhecimento incomparáveis".
A sessão terá lugar no dia 15 de Outubro às 15 horas.
A entrada é gratuita.
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1 comentário:
E segundo Clara P. Correia, em "a maravilhosa aventura da vida", da editorial presença, nos animais superiores,incluindo o Homem, as fêmeas têm um papel muito importante na selecção sexual, uma vez que, em certos casos, são elas que escolhem os machos com quem vão acasalar. E adianta que "estas estratégias femininas de assegurar boa progénie são provavelmente mais antigas que as masculinas". De seguida afirma mesmo que "o número absurdo" de espermatozóies malformardos em cada ejaculado pode ser um mecanismo de, ficando eles pelo caminho, constituir(em) um obstáculo aos espermatozóides do ejaculado seguinte proveniente de outro macho - seriam os "espermatozóides kamikazes"! Haveria mesmo o que chama uma guerra química, para além dos artifícios anteriores, em que cada ejaculado conteria enzimas para destruir(em) os espermatozóides seguintes de ejaculados de outras proveniências. Obviamente, isto só tem sentido numa perspectiva em que há vantagem em que as fêmeas, incluindo as humanas, no período fértil, copulem "com tantos machos quantos consigam e, na verdade, quantos mais melhor ".
Isto é um bocadinho forte, pelo menos pela minha parte, por conflituar com a imagem cultural que tenho das senhoras. E por isso digo que, em certos casos, vale a pena sobrepor a civilização à natureza, se é que a natureza é como a imaginamos...
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