quinta-feira, 15 de outubro de 2009

SOBRE O NOBEL DA ECONOMIA
















Texto recebido do nosso leitor
Filipe J. Sousa sobre o Nobel da Economia deste ano:

A relevância do estudo da governação da actividade económica: ‘Empresa’, ‘Mercado’, ou ‘Cooperação’ como estruturas de governação

Gostaria de deixar uma breve consideração sobre o ’Prémio Sveriges Riksbank nas Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel 2009’. Dois economistas norte-americanos (Elinor Ostrom e Oliver Williamson) partilharam o prémio supracitado, frequentemente (e incorrectamente) citado na imprensa como o ‘Prémio Nobel da Economia’. Segundo o Comité Sueco da Fundação Nobel, a atribuição pretende premiar o extenso trabalho analítico e empírico efectuado pelos dois académicos na análise da governação da actividade económica, em particular no que diz respeito: (i) ao valor dos esforços multilaterais de cooperação colectiva, e.g., na gestão de recursos naturais (acordos usualmente designados na literatura como ‘Commons’); e (ii) ao papel da ‘Empresa’ como instituição relativamente eficiente (mormente quando comparada com a instituição do ‘Mercado’) na execução e coordenação de múltiplas e inter-relacionadas actividades (e.g., I&D, fornecimento, produção, marketing). (Pode consultar-se a respectiva ‘press release’ e o ‘scientific background’ do Prémio.)

Do meu ponto de vista, e contrariamente ao que alguns economistas possam pensar (e.g., o Prof. João Cesar das Neves, aqui), o prémio não reflecte a preocupação dos decisores e opinion-makers mundiais com a actual conjuntura económica (de estagnação ou crise) ou uma eventual resposta dos primeiros à segunda. Antes será apenas consequência de uma análise cuidadosa da relevância de uma área de estudo que se tem debruçado desde meados da década de 70 sobre a governação das actividades (económicas), claramente em linha com o Prémio de 1991 atribuído a Ronald Coase (aqui). (Deve-se a Coase a seminal contribuição acerca da raison d’être e das fronteiras da empresa – a empresa como resultado primário da existência de custos de transacção, i.e., custos não nulos (não raras vezes, substanciais) decorrentes do recurso ao mecanismo de preços que subjaz ao mercado (e.g., custos associados com a procura de potenciais vendedores e dos preços praticados, a negociação das condições contratuais da aquisição e a garantia do cumprimento das mesmas por parte de ambas entidades envolvidas na transacção efectuada, etc.). Consultar Coase, R. (1937), "The nature of the firm", Economica, 4 (16), 386-405.) A justificação académica para a atribuição do Prémio é naturalmente partilhada por alguns economistas, e.g., aqui.

Filipe J. Sousa (Centro de Competência em Ciências Sociais da Universidade de Madeira)

1 comentário:

maria disse...

adorei o nobel à senhora Ostrom. têm-nos dito e repetido à exaustão , no ocidente , que somos imperfeitos , incapazes de partilhar . e acreditámos . ela prova que há sítios , onde o homem não foi feito à semelhança de deus e não teve o azar do pecado original , que isso não é bem assim...ele há lugares onde toda a gente é perfeita , e bem capaz de partilhar bens comuns.
Os pagãos dos baldios? bem hajam por não terem sucumbido de todo à mitologia pecadora sofredora católica que vos transformava de borboletas lindas em traças feias.

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