terça-feira, 27 de outubro de 2009

"PORTUGAL ESTÁ PREOCUPANTEMENTE AFASTADO DA MODERNIDADE EUROPEIA"


Informação recebida do Museu de Ciência de Coimbra (na imagem, cartoon de João Abel Manta):

Sebastião Formosinho vai lançar, a 28 de Outubro, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC), o livro "Uma Intuição por Portugal"

Portugal está "preocupantemente" afastado da modernidade europeia. O alerta é do director do Departamento de Química da Universidade de Coimbra, Sebastião Formosinho, que explora as "fraquezas" da ciência portuguesa no novo livro "Uma intuição por Portugal". A obra vai ser lançada no dia 28 de Outubro às 18 horas no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC), com apresentação do físico e director da Biblioteca Geral da UC, Carlos Fiolhais.

"A partir de um estudo do conhecimento tácito — o conhecimento que adquirimos por aprendizagem com os mestres vivos ou já falecidos — a obra debruça-se sobre a coesão do nosso país, sobre as dificuldades que temos de enfrentar para que possamos atingir a modernidade europeia", avança Sebastião Formosinho.

Em "Uma Intuição por Portugal", o cientista analisa as semelhanças e as diferenças entre países em diversos domínios, como o da ciência ou o da educação. E é dos agrupamentos que forma a partir daí, que surgem as suas conclusões relativamente a Portugal, e nomeadamente à ciência portuguesa.

"Da teoria do conhecimento tácito decorre (e a obra confirma-o recorrendo à estatística) que o conhecimento científico há-de apresentar marcas culturais, dado que é realizado com uma base fiduciária da língua, das tradições, das culturas, reflectidas na geografia dos povos europeus. Estas marcas culturais estão patentes nas semelhanças ou diferenças entre países, para as configurações das diferentes áreas científicas", explica o cientista. Nesse aspecto, sublinha, Portugal está mais próximo da República Checa e da Hungria do que dos seus vizinhos geográficos, enquanto que, por exemplo, a Espanha, que tem uma raiz cultural "bastante comum" com o nosso país, "já evoluiu", encontrando-se no grupo da França, da Suíça e da Alemanha. "A Espanha aproximou-se da sua geografia de maior modernidade europeia", nota.

Para Sebastião Formosinho, há em Portugal questões culturais que estão a "determinar" o nosso modo de vida e a "distanciar-nos" da geografia a que pertencemos. "Pedindo emprestadas palavras do filósofo José Gil, é o 'medo de existir' que atormenta de há muito Portugal. Um medo que arrasta consigo a inveja, a fuga ao risco, a não-inscrição, a instabilidade de estratégias políticas, institucionais, administrativas e outras constituindo já, infelizmente, uma marca cultural", explica.

"Dada a importância da ciência nos países desenvolvidos, o facto de Portugal se ver distanciado da Espanha e ficar numa geografia que não é a mais natural, enfraquece-nos e é motivo de preocupação futura", adverte Sebastião Formosinho. Daí que o cientista tenha decidido chamar à sua obra "Uma Intuição por Portugal", porque nela apresenta sugestões, alguma das quais "intuídas" do estudo realizado, com o objectivo de "reaportuguesar Portugal, tornando-o Europeu", isto é, de aproximar o nosso país da sua geografia natural.

De resto, adianta o director do Departamento de Química da UC, já houve em Portugal a tentativa de implementar uma escola que privilegiasse o conhecimento tácito, o tal conhecimento que advém da experiência, da relação mestre/aprendiz. "Possuímos conhecimento que não conseguimos verbalizar inteiramente, pelo que sabemos mais do que conseguimos dizer. Assim, a experiência de Viseu poderia ter sido uma escola com uma vocação para o ensino do conhecimento tácito e do conhecimento explícito, graças a uma patente aí desenvolvida, intitulada HEINET (Human Education Interface Network), e que interessou operadores no campo da medicina dentária e da arquitectura".

Licenciado em Física e Química pela Universidade de Coimbra e doutorado em Londres pelo Royal Institution of Great Britain, Sebastião Formosinho (nascido em 1943) é membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa e dirige desde 2004 o Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Ao longo de uma carreira académica que iniciou em 1964, foi distinguido com diversos prémios científicos, entre os quais o Prémio Gulbenkian para Ciências Básicas de 1994. Entre os cargos de relevo que desempenhou, foi Secretário de Estado para o Ensino Superior (1980-81) e presidente da Sociedade Portuguesa de Química (1992-98).

1 comentário:

MM disse...

parabéns. mais pessoas assim desejam-se.

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