quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Conhecimento, criatividade e capacidade empreendedora



Post de Norberto Pires, Presidente do Conselho de Administração do iParque de Coimbra sobre o referido parque de ciênia e tecnologia (na foto: vista aérea da infraestrutura do iParque):

A economia do século XXI passa muito pelo progresso das cidades. Essas constituem pólos de desenvolvimento que tendem a constituir zonas metropolitanas alargadas, incluindo vários concelhos, com serviços organizados e complementares, condições de vida atractivas e elementos diferenciadores que constituem mais-valias para a vida das pessoas e das empresas.

É importante que as cidades percebam que têm de se organizar para fomentar nas pessoas a ideia simples: tenho de estar aqui porque viver aqui é excitante.

Coimbra tem condições para isso. Para constituir uma área metropolitana de considerável dimensão, tendo como lema a marca que a diferencia: a criatividade e a capacidade empreendedora. Mas isso significa actuar em várias frentes.

Na frente política é importante que os vários partidos percebam que há projectos que são estratégicos, com dimensão superior às questões locais de curto prazo, e em relação aos quais todos nos devemos colocar de acordo para que estas iniciativas prossigam de forma célere sem sofrerem revezes desnecessários.

Na frente educativa é fundamental colocar o foco em iniciativas para crianças e adolescentes. É preciso que eles percebam que o seu futuro depende da qualidade da educação que tiveram, mas também, em grande medida, da sua atitude perante a vida. Será esse binómio que lhes permitirá aproveitar as oportunidades que a vida lhes proporcionará, mas também criar as suas próprias oportunidades, seja por conta própria ou por conta de outrem. Os cursos de empreendedorismo, o contacto com empresas inovadoras e a relação das escolas com a Universidade e centros de saber, são ainda mais críticos nestas faixas etárias.

Na frente cultural há muito a fazer. Foram criados espaços interessantes e é preciso tirar partido deles. Em Coimbra tem de existir um fervilhante ambiente cultural. Coimbra tem de ser um dos locais onde as coisas acontecem. Isso é decisivo e crucial. Não perceber isso é verdadeiramente não entender como se organiza o mundo do século XXI. A cultura (e as suas manifestações) é um elemento diferenciador que fixa empreendedores e atrai artistas, cientistas, engenheiros, estudantes, professores, aqueles que fazem a diferença nos vários ramos de actividade. Ao empreenderem geram actividade económica e criam valor. E o seu exemplo é notado, pelo que a cidade se torna mais atractiva num efeito de bola de neve, lento, mas sustentável.

Lembro-me dos livros. Por que não uma grande casa do livro? De dimensão internacional, que possa ser um local onde se guarda e encontra o livro, onde se faz história, onde se faz pesquisa, onde se conhecem os escritores, onde se lançam novos livros mas também se revisitam livros já esquecidos trazendo-os de novo à consciência das pessoas, onde se lê e se cultiva o gosto pela leitura, onde está o passado, o presente e, principalmente, o futuro. Um local onde se mostra que os livros têm uma vida própria – que pode fazer parte também da nossa vida – que deve ser respeitada e protegida. Um local onde se fomentará de novo uma grande feira do livro, temática, porventura, que permita colocar Coimbra no roteiro das grandes feiras do livro e da leitura.

Lembro-me também do teatro e da música. Porque não um festival de teatro que possa trazer para a rua e para as salas de teatro peças de autores clássicos, mas também textos contemporâneos de qualidade? Pequenos excertos que surpreendam as pessoas na rua no seu dia-a-dia e as chamem para as peças completas na sala de teatro. Aqui poderia ser explorado o património histórico da cidade, usando pequenos excertos da nossa história que pudessem ser representados na rua alertando assim as pessoas para o teatro e para a mais-valia que este constitui. Porque não um festival anual de música de rua? Um evento onde se juntassem várias manifestações musicais desde a música popular e tradicional, ao fado, música ligeira, jazz até à música sinfónica e de câmara.

Lembro-me da pintura, escultura, fotografia e das manifestações amadoras destas artes, que animem a cidade e a façam fervilhar de actividade. As ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, que ligam a Praça do Município à Portagem, podiam bem ser las ramblas de Coimbra. Toda a baixa da cidade tem condições únicas para manifestações culturais de rua que teriam ainda a capacidade de revitalizar o pequeno comércio, para que este se diferencie e especialize.

Na frente empresarial é fundamental o foco no conhecimento. Já o estamos a fazer: A Universidade percebeu que tem de se ligar às empresas, de lhes prestar serviços, de fazer transferência de tecnologia e de colocar o conhecimento ao serviço da actividade económica. Isso faz-se incentivando a incubação de empresas e ideias, para que se desenvolvam empresas competitivas baseadas em novas ideias e novos conceitos de negócio. Estamos a fazer isso bem com o Instituto Pedro Nunes e outras incubadoras da região. É preciso reforçar de forma sustentável essa vertente. Devemos prestar atenção à fase de aceleração de empresas, criando condições para que as empresas incubadas cresçam rapidamente e produzam efeitos significativos na economia.

É preciso também fazer crescer de forma decisiva o Parque de Ciência e Tecnologia de Coimbra (iParque). Esse é o local onde se materializa grande parte desta estratégia empresarial, oferecendo espaço para empresas com dimensão que possam a partir de Coimbra criar produtos competitivos, necessariamente baseados em conhecimento, gerando valor e actividade económica. A estratégia definida tem essencialmente quatro objectivos:
1. Fixar as empresas de Coimbra fruto da nossa actividade criativa e empreendedora, proporcionando-lhes o ambiente e as condições para que se desenvolvam e façam “escola”;
2. Promover a aceleração de empresas já incubadas, ajudando a que cresçam junto de empresas grandes criando rede com elas e aproveitando as sinergias;
3. Promover o I&D em consórcio, isto é, uma ligação eficaz entre as empresas e os centros de conhecimento;
4. Atrair investimento de fora da região que reconheça as nossas capacidades, e que justamente coloque o foco nas mais-valias que somos capazes de gerar: forte aposta em conhecimento, relação com centros de I&D e com a Universidade e Politécnico, e existência de recursos humanos de qualidade.

Para isso preparamos um espaço de qualidade. Onde se pode trabalhar, viver e aproveitar momentos de lazer. Definimos com clareza as regras para os edifícios empresariais, seleccionamos as áreas estratégicas e iniciamos as parcerias relevantes, conscientes de que o mundo se faz em rede, cooperando com outras empresas, outros parques, outras realidades. Dotamos o parque das infra-estruturas necessárias para que sejam um aliado da actividade das empresas. Preparamos um Business Center que pode oferecer às empresas as condições para que desenvolvam os seus negócios tendo o apoio e suporte de instalações físicas de qualidade e equipas de apoio especializadas. Planeamos um edifício para aceleração de empresas (incubação de 2.ª fase) a que chamamos Nicola Tesla. Nesse edifício pretendemos sediar empresas em crescimento, e ajudá-las a acelerar o seu crescimento.

O objectivo é que estas empresas sejam mais rapidamente elementos transformadores da realidade de Coimbra: na economia, na oferta de emprego qualificado e na relação com os centros de conhecimento.

O iParque é um elemento de uma estratégia para a cidade de Coimbra e para o Centro de Portugal. Trabalha em rede com outros parques e incubadoras com o objectivo de ter uma oferta coerente e eficaz. E isso é um elemento estratégico de fundamental relevância, que foi recentemente particularizado na candidatura apresentada ao QREN, medida de Parques de Ciência e Tecnologia e Incubadoras de base Tecnológica, denominada InovC e liderada pela Universidade de Coimbra. Esta candidatura inclui ainda como parceiros nucleares o iParque, o Biocant, o Instituto Pedro Nunes, o Parque de Óbidos, o Parque de Montemor-o-Velho, entre outros.

Criado este ambiente, demonstrada a nossa capacidade empreendedora e de geração de actividade económica, verificada a ligação aos centros de saber, Coimbra e o Centro de Portugal serão atractivos para iniciativas empresariais que signifiquem um considerável investimento estrangeiro diferenciador, que é necessariamente o investimento na nossa capacidade de sermos criativos e empreendedores. Esse é que é o investimento relevante e sustentável.

J. Norberto Pires

Mais informação sobre o iParque em http://www.coimbraiparque.pt

Nota: este artigo foi publicado na revista "Rua Larga" número 26: http://www.uc.pt/rualarga/26

2 comentários:

Jose Simoes disse...

Quando se faz as contas ao gasto em combustível e tempo que as pessoas fazem ao ir trabalhar para estas mega-estruturas percebe-se que é um disparate.

E nunca vi nenhuma criada artificialmente dar resultados positivos, no contexto de quem as paga.

José Simões

maria disse...

Coimbra é assim um tanto pró parola como cidade , basta dar uma volta na rua da Sofia para perceber. Os estudantes não ajudam , são quase todos das berças , só a huc e os médicos a safam e muito pouco. Não tem indústria nem ciência por aí além ( pois é , prof devia obrigatoriamente investigar metade do ano escolar). O que não é mau. Gosto mesmo de Coimbra. Uma aldeia grande ( com petiscos do melhor) onde o curandeiro tem o papel mais relevante e não percebo o contributo do cosmopolitismo, "conhecimento" , empreendorismo na qualidade de vida de um ser humano qualquer : a cidade proporciona mais amor? mais respeito? menos solidão ? menos medo?

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