A editora Esfera do Caos, na sua colecção Ciências da Cultura, acaba de publicar o Código Pedagógico dos Jesuítas: regime escolar e curriculum de estudos, datado de 1599, numa edição bilingue latim-português.
A Nota Prévia, Introdução, Versão Portuguesa e Notas é de Margarida Miranda, professora de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra e especialista nos textos da história pedagógica da Companhia de Jesus. São considerados uma referência os seus trabalhos sobre a utilização do teatro no quadro do ensino dos Jesuítas. É ainda uma reconhecida tradutora de textos neolatinos, sendo especialista na tradução de documentos dos séculos XVI e XVII.
O Prefácio, o Estudo introdutório e Posfácio é da autoria de Luiz Fernando Klein, José Manuel Martins Lopes e Norberto Dallabrida.
Sobre o livro:
Em 1599, na Ratio Studiorum, documento orientador da pedagogia jesuíta, determinou-se que os professores deveriam ser bem tratados para que pudessem ensinar bem! Lendo as recomendações feitas nesta obra, redigida no final do século XVI, torna-se claro que as normas pedagógicas que enuncia poderiam ajudar, com amplo proveito, a decidir as políticas e medidas educativas de hoje.
A Ratio Studiorum é considerada a bíblia pedagógica dos Jesuítas e o segredo do seu extraordinário sucesso no plano da formação.
A obra, traduzida nas mais diversas línguas onde a Companhia de Jesus instalou a sua rede multinacional de colégios, desde o Brasil até ao Extremo-Oriente, influenciou a revolução educativa da época moderna até aos nossos dias, constituindo um documento pedagógico absolutamente incontornável e ainda hoje, apesar das actualizações a que foi sujeita em relação à sua versão original de 1599, continua a ser uma fonte de inspiração paradigmática, sempre revisitada por todos os que se interessam pelo ensino e se dedicam a essa nobre actividade.
Nota: Sobre a obra o De Rerum Natura publicou antes o texto Preservar o entusiasmo dos professores a partir de informação fornecida por Margarida Miranda.
sábado, 17 de outubro de 2009
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1 comentário:
A propósito, recordemos como Luís António Verney, dois séculos mais tarde, criticava a pedagogia que vigorava na Universidade de Coimbra:
"(...) V.P. está em uma Universidade, onde é fácil desenganar-se com os seus olhos. Entre no Colégio das Artes, corra as escolas baixas, e verá as muitas palmatoadas que se mandam dar aos pobres principiantes. Penetre, porém, com a consideração o interior das escolas; examine se o mestre lhes ensina o que deve ensinar: se lhe facilita o caminho para entendê-la; se não lhe carrega a memória com coisas desnecessaríssimas. E achará tudo o contrário. O que suposto, todo este pêso está fora da esfera de um principiante. Ora, não há lei que obrigue um homem a fazer mais do que pode, e castigue os defeitos que se não podem evitar.
Não nego que deve haver castigo; mas deve ser proporcionado. Um estudante que impede que outros estudem; que faz rapaziadas pesadas, etc., é justo que seja castigado e, havendo reincidência, que seja despedido. Seria bom que nessa sua Universidade se desse um rigoroso castigo, ainda de morte, aos que injustamente acometem os novatos, e fazem outras insolências. A brandura com que se tem procedido neste particular talvez foi causa do que ao depois se fez, e ainda se faz. Neste particular seria eu inexorável, porque a paz pública, que o príncipe promete aos que concorrem para tais exercícios, pede-o assim; e em outros reinos executam-no com todo o rigor. Falo somente do castigo que se dá por causa de não acertar com os estudos. A emulação, a repreensão, e algum outro castigo deste género faz mais que os que se praticam."
(Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar)
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