sábado, 17 de outubro de 2009

"Ratio Studiorum" da Companhia de Jesus

A editora Esfera do Caos, na sua colecção Ciências da Cultura, acaba de publicar o Código Pedagógico dos Jesuítas: regime escolar e curriculum de estudos, datado de 1599, numa edição bilingue latim-português.

A Nota Prévia, Introdução, Versão Portuguesa e Notas é de Margarida Miranda, professora de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra e especialista nos textos da história pedagógica da Companhia de Jesus. São considerados uma referência os seus trabalhos sobre a utilização do teatro no quadro do ensino dos Jesuítas. É ainda uma reconhecida tradutora de textos neolatinos, sendo especialista na tradução de documentos dos séculos XVI e XVII.

O Prefácio, o Estudo introdutório e Posfácio é da autoria de Luiz Fernando Klein, José Manuel Martins Lopes e Norberto Dallabrida.

Sobre o livro:

Em 1599, na Ratio Studiorum, documento orientador da pedagogia jesuíta, determinou-se que os professores deveriam ser bem tratados para que pudessem ensinar bem! Lendo as recomendações feitas nesta obra, redigida no final do século XVI, torna-se claro que as normas pedagógicas que enuncia poderiam ajudar, com amplo proveito, a decidir as políticas e medidas educativas de hoje.

A Ratio Studiorum é considerada a bíblia pedagógica dos Jesuítas e o segredo do seu extraordinário sucesso no plano da formação.

A obra, traduzida nas mais diversas línguas onde a Companhia de Jesus instalou a sua rede multinacional de colégios, desde o Brasil até ao Extremo-Oriente, influenciou a revolução educativa da época moderna até aos nossos dias, constituindo um documento pedagógico absolutamente incontornável e ainda hoje, apesar das actualizações a que foi sujeita em relação à sua versão original de 1599, continua a ser uma fonte de inspiração paradigmática, sempre revisitada por todos os que se interessam pelo ensino e se dedicam a essa nobre actividade.

Nota: Sobre a obra o De Rerum Natura publicou antes o texto Preservar o entusiasmo dos professores a partir de informação fornecida por Margarida Miranda.

1 comentário:

Américo Oliveira disse...

A propósito, recordemos como Luís António Verney, dois séculos mais tarde, criticava a pedagogia que vigorava na Universidade de Coimbra:
"(...) V.P. está em uma Universidade, onde é fácil desenganar-se com os seus olhos. Entre no Colégio das Artes, corra as escolas baixas, e verá as muitas palmatoadas que se mandam dar aos pobres principiantes. Penetre, porém, com a consideração o interior das escolas; examine se o mestre lhes ensina o que deve ensinar: se lhe facilita o caminho para entendê-la; se não lhe carrega a memória com coisas desnecessaríssimas. E achará tudo o contrário. O que suposto, todo este pêso está fora da esfera de um principiante. Ora, não há lei que obrigue um homem a fazer mais do que pode, e castigue os defeitos que se não podem evitar.

Não nego que deve haver castigo; mas deve ser proporcionado. Um estudante que impede que outros estudem; que faz rapaziadas pesadas, etc., é justo que seja castigado e, havendo reincidência, que seja despedido. Seria bom que nessa sua Universidade se desse um rigoroso castigo, ainda de morte, aos que injustamente acometem os novatos, e fazem outras insolências. A brandura com que se tem procedido neste particular talvez foi causa do que ao depois se fez, e ainda se faz. Neste particular seria eu inexorável, porque a paz pública, que o príncipe promete aos que concorrem para tais exercícios, pede-o assim; e em outros reinos executam-no com todo o rigor. Falo somente do castigo que se dá por causa de não acertar com os estudos. A emulação, a repreensão, e algum outro castigo deste género faz mais que os que se praticam."
(Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar)

SOPAS DE CARNE

Por A. Galopim de Carvalho   Foi num dia quente e seco de Julho, nos finais dos anos 40 do século que passou, com o sol quase a pino, na Her...