terça-feira, 20 de outubro de 2009

ANTÓNIO LOBO ANTUNES E DEUS

Ando a ler, ao mesmo tempo que o novo romance de António Lobo Antunes ("Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar?, Dom Quixote), o livro, também recente, de entrevistas que ele deu ao jornalista João Céu e Silva ("Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes", Porto Editora). Porque ele refere a ciência quando é inquirido sobre religião, não resisto a transcrever as suas respostas dadas nas ps. 29-30 às questões sobre Deus:
"- A propósito do rezar de Orson Welles, qual é a sua posição sobre a religião?

- Há um velho provérbio húngaro que diz: "Na cova do lobo não há ateus." Eu julgo que não existe quem não acredite, porque o Nada não existe na Física ou na Biologia e quando se lêem os grandes físicos - Einstein, Max Planck e por aí fora -, vê-se que eram homens profundamente crentes. Chegaram a Deus através da Física e da Matemática e falavam de Deus de uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso - e cada vez mais -, embora não no sentido desta ou daquela Igreja mas naquele que me parece que a ideia de Deus é óbvia. Cada vez o é mais para mim.

- Porquê?

- É um bocado como quando o Einstein - lá estou eu a citar outra vez! - diz que "Deus não joga aos dados"... É claro que eu me zango com Deus, é uma relação de zanga também porque Ele permite sofrimento, mas talvez os seus desígnios tenham tal profundezas que não consigo atingir. O sofrimento sempre me foi incompreensível e acho que, como disse há pouco, nascemos para a alegria. A minha atitude em relação à religião é essa e não estou a falar de Igrejas mas de Deus. Não acredito quando as pessoas me dizem que são agnósticas ou ateias! Não acredita nisso, não estou a dizer que a pessoa não esteja a ser sincera, mas dentro dela, em qualquer ponto, há algo. Uma vez perguntaram ao Hemingway se ele acreditava em Deus e a resposta foi: "Às vezes, à noite".

- E o António, à noite, também acredita?

- Acredito sempre, mas zango-me muitas vezes. Eu julgo que o próprio da fé é a dúvida, o questioná-la constantemente, e muitas vezes pergunto-me se existe. É óbvio que sim."

6 comentários:

Anónimo disse...

Relativamente a dEUS, prefiro a visão do Saramago!

Anónimo disse...

E não tem medo do julgamento? Devia ter...Já Saramago, vai para o céu, com todas as honras.

Anónimo disse...

Será que Deus estava junto de si quando cometeu, segundo suas próprias palavras, genocídio em Angola?
Velho arrogante e mau caráter! Duvido que Saramago inundasse Portugal com a Lama que o Sr. faz agora.
Paulo Neves

Anónimo disse...

Sempre a mesma pessoa a comentar e a falar de Saramago.. Este homem é sem dúvida um génio, naquilo que diz, naquilo que escreve..
Se o Samarago, ao menos, que escrevesse com a pontuação correcta e legível e que não insultasse Deus, só para os ignorantes dos fundamentalistas ateus comprarem mais livros.
Com tantos escritores de qualidade que este país viu nascer, como foi ganhar um Prémio Nobel logo o Saramago, para regozijo desta cambada de idolatradores de Saramago.

Miguel disse...

Deus é tão provável como o pai natal ou a fada dos dentes! Não ignorem a ciência, não vivam no século XIX!

Jorhan disse...

Se ao menos ele tivesse conhecido o Christopher Hitchens... Imagino as horas que esses dois teriam ficado à conversa...

35.º (E ÚLTIMO) POSTAL DE NATAL DE JORGE PAIVA: "AMBIENTE E DESILUSÃO"

Sem mais, reproduzo as fotografias e as palavras que compõem o último postal de Natal do Biólogo Jorge Paiva, Professor e Investigador na Un...