quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O copo de Pitágoras

Novo texto da classicista de Alexandra Azevedo:

Diz-se, com frequência, que vivemos numa sociedade regida pela ambição desmedida, ambição essa que se reveste das mais diferentes formas, nos mais diversos quadrantes da vida. A ambição parece edificar-nos, moldar-nos, não como sonhos construtivos que fazem avançar o Homem, mas como querenças frágeis, falhas da razão, do bom senso e, quase diria, do bom gosto! A televisão parece dar amplo espaço a esta ideia, pois insiste, ano após ano, dia após dia, nesta corrida inesgotável de fama e de riqueza, no devaneio de sermos todos ídolos, estrelas.

Voltemos uns séculos atrás: à civilização grega que se edificou numa máxima de moderação. É isso que a inscrição délfica meden agan propõe: que não se faça nada em excesso. E os mortais que se atrevem a desafiar os deuses têm por certeza a ruína. Este é o pecado de Hybris, um dos elementos da tragédia clássica que se poderá traduzir por «desafio».

Esta máxima está presente nas manifestações artísticas – escultura, arte, tragédia… - e é de uma delas que encanta pela beleza e simplicidade que falamos neste texto.

É atribuída a Pitágoras (na imagem), o famoso matemático de Samos, a invenção de um curioso objecto que parece reunir, harmoniosamente, princípios da Física e da Filosofia. Trata-se de um copo que estabelece no seu interior o limite da bebida que se deve beber. Caso esse limite seja ultrapassado numa única gota, o copo vazará de imediato tudo o que contém.

A explicação física de Pascal dos vasos comunicantes, segundo as leis da hidrostática, é completada aqui, pelo ensinamento filosófico – o Homem deve ser capaz de admitir que há limites: deve querer sempre mais, mas não demais, ou a vida encarregar-se-á de repor a normalidade do seu curso.

Um pequeno filme sobre o funcionamento do copo que, com mais de 26 séculos, nos lembra o equilíbrio e a harmonia desejável a toda a acção humana pode ser visto aqui.

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