quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Darwin, Diário do Beagle - fósseis gigantescos


















A 8 de Outubro de 1832, Darwin fez uma incursão pela baía de Punta Alta na Argentina, que viria a ter um grande impacto no seu pensamento e constituiu um importante contributo para a ciência. Identificou um dente de megatério (Megatherium), uma preguiça gigante extinta, que atingia mais de 3 metros de comprimento; um verdadeiro gigante do passado. Neste mesmo local, Darwin já tinha identificado fósseis de invertebrados e de mamíferos primitivos, numa primeira passagem pelo local, a 22 de Setembro. Nessa altura descobriu um fóssil de gliptodonte, um tatu primitivo, com uma enorme carapaça, constituindo um dos fósseis mais impressionantes de mamíferos primitivos.

Essa descoberta seria acompanhada pela de mais 8 fósseis de grandes vertebrados quadrúpedes. Destacam-se: o Megatherium, já referido, que é uma preguiça gigante que se extinguiu há 8 mil anos; o Milodonte outra preguiça gigante, que podia atingir 3 m; o Gliptodonte, com mais de 2,5 m de comprimento, que era um tatu gigante, extinto há 10 mil anos; ou ainda parentes das actuais capivara e preá.













Os espécimes recolhidos por Darwin foram por ele enviados para Inglaterra para o seu mentor Henslow. Como refere numa carta que lhe dirige “se lhe interessar o suficiente para os desempacotar, estou ansioso por saber algo sobre eles". Foi mais tarde Richard Owen que a pedido de Darwin identificou a maior parte dos fósseis por si descobertos, e que foram novas e fantásticas descobertas para a ciência e para o nosso conhecimento da fauna extinta daquelas regiões da América do Sul.

Mas, qual a sua importância, para lá de serem descobertas que completaram, um pouco, o nosso quadro da fauna do passado?

A sua maior importância foi a de suscitar em Darwin uma dúvida e uma constatação. O que ele verificou foi que por um lado havia continuidade da fauna, isto é, havia tatus e preguiças há dezenas de milhares de anos como há hoje: temos continuidade da fauna. Por outro lado, a fauna é radicalmente diferente: os tatus, preguiças, preás do passado são por vezes muito diferentes dos actuais. Isto significava que tinha havido uma substituição de faunas, mas essa substituição não tinha sido aleatória, porque havia continuidade filogenética.

Ao fazer estas reflexões, Darwin ainda não tinha desenvolvido um pensamento evolutivo. Mas, percebe-se como quando a ideia de evolução lhe surgiu, ela subitamente passou a dar sentido a estas suas descobertas. Podemos afirmar com elevada probabilidade que estas descobertas foram um dos elementos que ficaram a pairar na mente de Darwin e que tiveram um papel desencadeador no desenvolvimento do conceito de evolução das espécies.

Há um segundo aspecto que merece reflexão. Uma parte importante dos grandes mamíferos extintos que Darwin descobriu e aqui refiro, extinguiu-se em tempos muito recentes: entre 8-15 mil anos. É uma extraordinária coincidência que animais tão impressionantes tenham existido até tão recentemente e se tenham extinto pela mesma altura. Que fenómeno poderá ter causado a sua extinção? Ela coincide com a expansão da nossa espécie, que chegou ao continente americano há cerca de 20 mil anos, vindo de norte, pelo estreito de Bering. É uma circunstância recorrente: à excepção de África, em todos os continente se verificou uma extinção maciça de espécies de grandes vertebrados poucos milhares de anos após a nossa chegada.

3 comentários:

João Silva disse...

Boa Tarde, a data tem de estar incorrecta! Eu não tenho o diario da viagem, mas tenho o "the origin of species" first published in 1859! Quanto a influência da especie humana no desenvolvimento e/ou extinc,ão das outras especies, provavelmente terá assunto para um livro...
JCSilva

Paulo Gama Mota disse...

Claro, tem razão. Lapso corrigido. É 1832.
PGM

Anónimo disse...

oi

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