segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PINTAR O UNIVERSO COMO SE FOSSE O FAROESTE

Informação recebida do Ano Internacional da Astronomia

Artes plásticas, multimédia, conto, poesia ou música: os alunos do Ensino Básico e Secundário de todas as escolas do país, privadas ou públicas, poderão agora dar largas à sua imaginação e criarem obras de arte a pensar na Astronomia. O objectivo é motivar as crianças e jovens para o estudo da Astronomia e quebrar barreiras no diálogo entre ciência e arte. Os trabalhos terão de ser entregues até ao dia 31 de Janeiro de 2010. O regulamento do concurso e a ficha de inscrição estão disponíveis no site www.astronomia2009.org/astroarte.

Um estudo concluiu que os astrónomos do Hubble Heritage Project manipulam as imagens fazendo-as parecer com pinturas do oeste americano. Agora, o Ano Internacional da Astronomia desafia os alunos portugueses a fazerem do Universo uma obra de arte.

Quando manipulam as imagens para dar cor aos gases que detectam no espaço, os astrónomos do Hubble Heritage Project fazem-nas parecer com pinturas do oeste americano. Mas como será que se parece o Universo visto de Portugal? O Ano Internacional da Astronomia quer descobrir e, até ao final de Janeiro, vai desafiar os alunos de todas as escolas portuguesas a recriarem os astros, através de uma qualquer forma de expressão artística. O lançamento nacional do concurso Astronomia Artística terá lugar no dia 30 de Setembro às 15 horas na Escola Secundária Jaime Moniz, no Funchal.

Na sessão de lançamento estarão presentes entidades regionais e o presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia, Miguel Avillez, que dará uma palestra sobre a procura de vida na Via Láctea.

"A separação entre ciência, como uma actividade exclusivamente racional, e a arte, como algo de mais emocional, criativo, onde o imaginário tem um papel primordial, desfaz-se nos dias de hoje", explica a coordenadora nacional do projecto, Fernanda Freitas. "Muitos autores têm escrito sobre a separação/aproximação entre ciência e arte. O livro de Snow, As Duas Culturas (1959), que discute o aparente fosso entre as ciências e as humanidades, é um dos exemplos. Nesta obra, Snow argumentava que a quebra de comunicação entre as ciências e as humanidades era um impedimento para resolver os problemas do mundo", sublinha. "A História revela-nos que as culturas florescem quando a ciência e a arte evoluem de modo unificado, existindo diversas e variadas evidências de que as artes foram enriquecidas com as mudanças paradigmáticas na ciência e a disponibilização de novas tecnologias", avança Fernanda Freitas. "São inúmeros os exemplos de referências astronómicas nas artes (literatura, poesia, música, teatro e artes plásticas), ao longo da História. Apesar de em menor número, é possível identificar exemplos de influências da arte sobre os cientistas e a sua pesquisa. Por exemplo, as considerações dos físicos das partículas quando desenvolveram o modelo padrão foram influenciadas por noções artísticas de simetria; Einstein foi influenciado pelo conceito de beleza da física quando elaborou as teorias da relatividade e os pitagóricos tinham teorias da matemática e da música que estavam integradas numa única imagem do mundo", explica.

Um outro exemplo da proximidade entre arte e ciência é o estudo de Elizabeth Kessler a propósito do Hubble Heritage Project. "Elizabeth Kessler comparou as imagens que os astrónomos do Hubble Heritage Project manipulam quando adicionam cor aos gases que detectam no espaço, com pinturas do oeste americano. Entrevistou membros do projecto e concluiu que as fotos finais reflectem um equilíbrio entre a informação científica relevante e o desejo de fazer uma imagem atractiva para o público", sintetiza a coordenadora do concurso nacional de Astronomia Artística.

Em Portugal, são múltiplas as presenças da Astronomia na Arte. Na Literatura, informação científica de alta precisão esconde-se nos versos d'Os Lusíadas, mas não só. Ela é encontrada no "incontroverso arauto do pré-romantismo" José Anastácio da Cunha (1744-1787), no "ultra-romântico" João de Lemos, mas também em Soares dos Passos, António Nobre, Gedeão, António Osório, Nemésio, Saramago e Manuel Alegre.

Encabeçando a coordenação do projecto, o Funchal continua a estar entre os distritos portugueses mais activos do Ano Internacional da Astronomia (AIA2009). Pedro Augusto, da Universidade da Madeira, é o representante do AIA2009 na Madeira e um dos principais responsáveis pelo empenho do arquipélago nas celebrações decretadas pelas Nações Unidas. Além de exposições, conferências, sessões de observação do céu e ciclos de cinema, os madeirenses viram ainda a iluminação do Natal de 2008, as festas de fim de ano e o célebre cortejo de Carnaval serem inteiramente dedicados à Astronomia.

O Ano Internacional de Astronomia é organizado em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Agência Ciência Viva e da European Astronomical Society (EAS).

Imagem: Universo Poético (2008) pintura de Saulo Silva

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