Aquele que é, na minha opinião, o maior dos cartunistas português da actualidade, o arquitecto e designer João Abel Manta (nascido em 1928), filho do pintor de Gouveia com o mesmo nome, tratou a espaços temas científicos. Uma das suas caricaturas do tempo de Salazar representa um dos cientistas opositores do Estado Novo, o matemático Bento de Jesus Caraça (1901-1948), num desenho publicado originalmente no Diário de Notícias, e que foi também capa num dos números da revista Vértice e de um livro recente de Instituto de Ciências Sociais.
Talvez uma das imagens mais marcantes do humor gráfico dos tempos logo a seguir à Revolução do 25 de Abril de 1974 tenha sido a de um cartune, saído originalmente no "Diário de Notícias" em Novembro de 1974, representando um cortejo de grandes personalidades que são apresentadas ao Zé Povinho (o personagem de Bordalo ficou como figura típica do português) por um militar do Movimento das Forças Armadas que integrava as Campanhas de Dinamização Cultural que surgiram logo a seguir à Revolução. Logo à frente do grupo de personagens ilustres está o físico suíço e norte-americano de origem alemã Albert Einstein. A legenda diz:
- “Muito prazer em conhecer vocelências!”.
Um desenho do mesmo autor e da mesma época (publicado em "O Jornal" em 1975, mostra o Zé Povinho a mostrar a Einstein num quadro um problema muito complicado, certamente muito mais complicado que os da relatividade geral, que era o da formação do VII governo provisório. O título era "Equação VII a 14 incógnitas" e a legenda era:
- “O que é que isto vai dar ó Alberto?”
Nesta altura eleitoral, em que o problema da formação de um governo se coloca, será difícil encontrar um desenho mais actual...
Por último, um desenho ainda da mesma época, saído também em "O Jornal" em 1975, de João Abel Manta volta a mostrar um grupo de personalidades. Mas desta vez não está Einstein, mas está por exemplo o matemático e filósofo Bertrand Russel (o leitor pode tentar identificar os outros), à frente de um quadro preto, que mostra o problema que os embaraça a todos: Portugal...
Este desenho correu mundo: O livro alemão "Portugal - ein schwieriges Problem" da editora VSA, publicado em Berlim em 1976 reproduziu-o na capa.
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5 comentários:
A escolha da palavra «sábio» para designar as personagens que surgem nos cartoons é infeliz. O que ali há é «personalidades», alguns dos quais sábios, mas não todos.
Alguns dos que constam no «muito prazer», nomeadamente os da área das artes e da cultura, poderão ser mesmo considerados génios ou prodígios na sua área (Picasso, Chaplin, Shakespeare, Armstrong), mas não creio que «sábio» seja palavra apropriada (ainda que o conceito seja flexível).
Muito menos no último cartoon, onde, com muito poucas excepções, o que temos é políticos: Lenine, Marx, Engels, Trotsky, Mao, Che, Gandhi, Castro, Kissinger (com orelhas de burro...), Estaline... Classificáveis como sábios, só reconheço Russell, Sartre e Beauvoir (presumo que seja ela), mas creio que estão lá pelo seu papel de activismo político, não pelo seu trabalho na Lógica ou na Filosofia...
Caro Fernando Gouveia
Tem toda a razão, já emendei para personalidades, palavra que eu proprio tinha usado a certa altura.
Carlos Fiolhais
Caro Professor:
Extraio do cartun de um jornal francês, lido anos atrás; "Tu eras estalinistas em 1950. Não fui eu era a época". Mudando de época e de país, poder-se-á adaptá-lo ao período que se seguiu ao PREC e a uns tantos políticos portugueses que saltaram de partido em partido, qual esvoaçante borboleta de flor em flor em busca do melhor néctar.
Em desculpável brejeirice minha, alguma razão lhes assiste em não se quererem identificar com o entusiasmo de uma voz que em discurso inflamado numa assembleia partidária repleta de gente grita, com a convicção de quem não se identifica com os vira-casacas : "Graças a Deus, eu tenho um só partido!" De imediato, logo se ouve no fim da sala: "Vê lá se queres que te partam o outro!"
Razão continua a assistir a Bergson (1859-1941): “Não existe cómico fora do que é propriamente humano”.
Caro Rui Baptista
Não há mal nenhum em mudar de partido.
Churchill, mudou duas vezes e encontrou esta justificação:
"Há pessoas que mudam de partido para serem fieis aos seus princípios; e pessoas que mudam de princípios para serem fieis ao seu partido."
Com um abraço... não ao Rui Baptista, mas ao Churchill
Prezado João Boaventura:
E porque não um abraço a ambos: ao Churchill e a mim? Trata-se, apenas, de uma homenagem afectiva póstuma?
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