domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre as reformas do ensino, Portugal 1902

Transcrevo um excerto de um artigo a publicar em breve de António José Leonardo e Décio Ruivo Martins e meu sobre o ensino em Portugal no final da monarquia:

"Após sete anos de aplicação da reforma de Jaime Moniz, período que permitiu a sua execução completa, António José Gonçalves Guimarães (1850-1919), que foi lente da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, professor do ensino secundário e Reitor do Liceu de Coimbra, publicou em 1902 uma análise crítica dessa reforma na revista O Instituto do Instituto de Coimbra.

Gonçalves Guimarães alertou para um problema de fundo, que segundo muitos ainda hoje assola o sistema educativo português: a grande vontade reformista de quase todos os governos na aprovação de novos projectos de reforma que nunca são concretizados na sua totalidade, ou por falta de direcção adequada ou por limitações financeiras, ou por outro motivo qualquer, sendo alvo de um conjunto de remendos ao sabor das críticas que vão sofrendo, remendos esses que desvirtuam muitos dos seus princípios e que não raro bloqueiam a sua execução.

Um dos primeiros comentários de Gonçalves Guimarães incidiu no facto da reforma “não ter sido executada como estava escrita”, uma vez que “o reformador deveria ter sido encarregado de velar” pela sua aplicação. Considerando que a reforma foi “imitada da Alemanha”, descreveu a evolução do ensino secundário neste país, reforçando que na “Alemanha as reformas uma vez decretadas, cumprem-se rigorosamente em todas as suas partes, ao passo que em Portugal se desperdiça o tempo em vacilações e tortuosidades, em que os legítimos interesses do país são o que menos importa salvaguardar” . Acrescentou que “o ardor de reformar tudo a torto e a direito é, sem dúvida, uma das manias mais características dos nossos governos de todas as cores políticas” ."

A diferença para os tempos de hoje talvez seja que as reformas são importadas do Chile e não da Alemanha...

FONTE:
- Guimarães, António José Gonçalves (1902). "Reforma do ensino secundário". O Instituto, 49, 513-535.

2 comentários:

Américo Oliveira disse...

A propósito, recordemos o que, no último quartel do séc XIX, escreveu Ramalho Ortigão, depois de uma viagem à Holanda:
"Os factos capitais que distinguem da organização portuguesa a organização da instrução pública na Holanda são:
1º - A estreita relação entre o ensino superior e o ensino secundário, fazendo da Universidade a prolongação do Liceu, e dando por fim aos dois estabelecimentos ministrar o grau elementar e o grau completo do mesmo ensino;
2º - A plena e absoluta liberdade de opinião assegurada pelas leis ao professor desde que a Constituição de 1848 estabeleceu a separação da Igreja do Estado;
3º - A elasticidade dada aos estudos pela remodelação sucessiva do programa das matérias de cada curso, pela adopção nas universidades de professores extraordinários para cada novo ramo de ensino e pela admissão dos privat-docentem, segundo o uso alemão;
4º - Pela antiga instituição do colégio dos curatores agregados a cada universidade."
(A Holanda, de Ramalho Urtigão, 1894)

Anónimo disse...

Eu acrescentaria como leitura a História da Educação em Portugal redigida por Rómulo de Carvalho.A história repete-se inexoravelmente.

António Silva

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