terça-feira, 7 de julho de 2009

BUNGE E FREUD


Conheci o filósofo argentino Mario Bunge através do seu livro "Filosofia da Física" (Edições 70, M. Bunge, "Filosofia da Física", Edições 70, 1984). Há alguns anos conheci-o pessoalmente quando visitou Portugal. Ele tinha ouvido o seu supervisor de doutoramento, o físico austro-húngaro Guido Beck, falar de Portugal, porque viveu cá de 1941 a 1943 como refugiado de guerra judeu, tendo sido obrigado a abandonar o nosso país, em direcção à América do Sul. Bunge gostou de Portugal: viu um país bem diferente do que lhe contou Beck. Professor jubilado da Universidade de McGill no Canadá (perfil aqui), é autor de uma obra muito extensa e notável (mais de 80 livros e de 400 artigos). O seu último livro publicado em Espanha é "Filosofia Política. Solidariedad, Cooperacion y Democracia Integral" (Gedisa, 2009). A propósito deste livro a revista espanhola "Leer" de Julho-Agosto de 2009 entrevistou-o. E, na pergunta final, a propósito de Freud, o filósofo, hoje com a bonita idade de 90 anos, não tem papas na língua:

"Leer: Freud teorizou que a pulsão que determina mais o comportamento dos homens é a pulsão da morte, a pulsão assassina, mais do que a pulsão solidária.

Mario Bunge: Mas não há nenhuma razão para citar Freud hoje em dia, nenhuma pessoa séria o cita, nem a Nietzsche, eram charlatães. Em 109 anos de existência não se abriu um único laboratório psicanalítico; pelo contrário, os psicólogos sérios refutaram muitas vezes as fantasias psicanalíticas. Só em países como a Argentina, Espanha e França a Psicanálise tem boa imprensa".

20 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei que o Professor Carlos Fiolhais não gosta muito de psicanálise. E de facto não é fácil submeter os conceitos centrais da psicanálise a uma análise empírica. Todavia, chamar-lhe-ia a atenção para dois aspectos centrais que a teoria psicanalítica pode legitimamente reivindicar como provados. O primeiro é a existência de mecanismos psicológicos inconscientes. Talvez não seja o inconsciente freudiano, mas, de uma forma geral, a psicologia cognitiva aceita a existência de tais mecanismos. No tempo de Freud a existência de uma dimensão inconsciente do psiquismo humano era globalmente rejeitada. O segundo diz respeito à eficácia da intervenção psicanalítica. Sugiro-lhe a leitura do artigo The Effectiveness of Long-Term Psychoanalytic Therapy: A Systematic Review of Empirical Studies, de Saskia de Maat, Frans de Jonghe, Robert Schoevers e Jack Dekker publicado na Harvard Review of Psychiatry, este ano (Volume 17, Issue 1, pp. 1 – 23). A psicanálise tem efeitos psicoterapêuticos empiricamente comprovados.

PJ

Luís Silva disse...

Não sei qual é o propósito deste Post: Se é para mostrar a ignorância profunda do Carlos Fiolhais, em questões de Filosofia (tenho a certeza que o Fiolhais não faz ideia porque razão o Bunge afirma o que afirma. Aliás, o bom velho Bunge já afirmou coisas semelhantes sobre o Bohr); Se é para mostrar a sua vertigem para escrever de forma manhosa, em conteúdo e em estilo (veja-se, a exemplo, a terceira frase); Ou se é simplesmente para mostra que a Fiolhais a razão já não importa muito. O douto de Coimbra tem um propósito político e este blog é um meio de propaganda.

Seja o que for, foi completamente conseguido.

P.S. Nem a citação se escapa: "Freud teorizou que a pulsou (???)[...]"

Pauxado disse...

Fritjof Capra vendeu de certeza mais que Punge. Nunca li Capra, apesar de possuir O Tao da Física, mas sei que deu mais brado.
Agora vou ler o post.

Anónimo disse...

Olha: que engraçado. O Fiolhais, sem ter deixado uma nota de aviso, corrigiu o texto do Post. Freud explica esse tipo de comportamento, Fiolhais.

joão viegas disse...

Bom, a questão que ocorre imediatamente é saber quantos, mesmo entre os membros dos distintos laboratorios empiricos que "produzem" verdade tangivel, mensuravel e exploravel comercialmente, e que portanto no espirito do autor (e de Carlos Fiolhiais?) representam os privilegiados que "sabem", seriam capazes de subscrever tamanho disparate...

Eu digo que são poucos, muito poucos... Provavelmente muito menos do que aqueles que consideram que esse tipo de afirmações provocatorias não têm grande sentido.

Anônimo Ranhoso disse...

«Freud explica esse tipo de comportamento»

Explica por que este tipo de comportamento ocorre e não ocorre.

Esse é o problema. Explica porque A é verdadeiro e não A também ê verdadeiro.

Luís Silva disse...

"Esse é o problema. Explica porque A é verdadeiro e não A também é verdadeiro"

Isso também sucede com a Teoria de Super-Cordas e com o Modelo Standard. Curioso, não é?

Já o Popper tinha avisado que isto da demarcação entre Ciência e Pseudociência era bem mais complicado que os neo-positivistas haviam pensado.

Manel disse...

«Isso também sucede com a Teoria de Super-Cordas e com o Modelo Standard. Curioso, não é?»

A Teoria das Cordas não é ciência por enquanto e as perspectivas que venha a ser não parecem muito boas neste momento.

Quanto ao Modelo Standard vou ficar à espera que nos digne com o seu exemplo em que diz que A é verdadeiro mas não A também.

Do que conheço tem casos em que diz que tanto A como não A podem acontecer, dependendo dos valores dos parâmetros. Fixados os parâmetros ou A ou não A acontecem.

Comparar O modelo Padrão verificado em certos casos a 6 sigma ou mais com a psicanálise enquanto teorias científicas é risível.

Dou-lhe o benefício da dúvida e espero pelo seu exemplo relacionado com o Modelo Padrão.

Anónimo disse...

Nietzsche era charlatão? E Bunge e quem o cita o que são?

Luís Silva disse...

Manel:

Algumas questões centrais, para que se possa sequer iniciar a conversa:

1) De que forma, em ciência,se pode afirmar: A é verdadeiro?

2) " A é acontece" é o mesmo que "A é verdadeiro" e o mesmo que "A é um parâmetro"? (no seu comentário utiliza as três formas. O que aparenta uma enorme ambiguidade)

3) Se quer falar em coerência interna, já alguma vez se deu conta que o conceito de partícula em Física de partículas é incoerente com o conceito de partícula em Mecânica Quântica, por exemplo?

4) Como pode separar o modelo da teoria dos resultados que são modelados pela teoria?

5) É possível uma experiência refutar a Teoria Standard, dado que os dados e os próprios instrumentos são modelados pela própria teoria? (não percebe que a Teoria Standard não pode dizer nada sobre a verdade, a não ser em sentido muito fraco?)

6) Qual é o critério de demarcação que o permite determinar que a Teoria de Super-Cordas (ou outra qualquer) é ou não ciência?

Só a partir daqui se pode começar a conversar. Porque por aqui podemos chegar alguns dos pontos centrais da filosofia da física actual. Afinal, o post é sobre Bunge. E por favor, não me aborreça com respostas típicas da ingenuidade filosófica dos cientistas. Para exemplo de profunda e militante ignorância filosófica, já temos aqui o Fiolhais.

Filipe Moureiro disse...

« A psicanálise tem efeitos psicoterapêuticos empiricamente comprovados.»

Também os placebos. E daí?

Anónimo disse...

Freud foi muito importante porque deu origem a estudos sérios sobre psicanálise, inconsciente e sexualidade. Muito embora esteja já um pouco ultrapassado, revolucionou o pensamento humano.

Em relação à citação do psicanalista :" a pulsão que determina mais o comportamento dos homens é a pulsão da morte, a pulsão assassina, mais do que a pulsão solidária" não deixa, em parte de ter razão, embora não se possa generalizar.

Cumpts,
Madalena Madeira

Anónimo disse...

Não é a 1ª vez que o prof Fiolhais corrige pela calada... às vezes até apaga os comentários que lhe apontam os erros...

Manel disse...

1) A é verdadeiro se uma experiência que permite confirmar A o confirma e se as experiências que podem refutar A nunca o conseguem fazer. Sem ser aplicado a caso concretos este tipo de coisas não passam de masturbações mentais.

2) O seu comentário é um sofisma porque eu nunca confundi os conceitos. Lei outra vez o que escrevi e seja honesto.

3) Explique com exemplos porque este parece ser o único ponto passível de assim ser feito. Eu estou a ver algumas diferenças subtis mas estou genuinamente interessado na sua contribuição.

4) Demasiado genérica, ver ponto seguinte

5) Sim, é possível refutar. Exemplos de hipóteses não faltam. Temos por exemplo não conservação da 4-corrente eléctrica. Isto é passível de ser medido experimentalmente com aparelhos que dependem apenas de Física do séc XIX e uma violação implica a falsidade do Modelo Padrão. Existem outras mas esta parece-me a mais simples e flagrante.

6) Previsões verificadas experimentalmente. Até agora 0

Anónimo disse...

Pois, Manel - como temia - não percebeu nada. Isso da verdade ser aquilo que é confirmado pela experiência é tão filosoficamente primário que o denuncia por completo. O que é isso da experiência? O que é isso de ser confirmado (queria dizer verificadas? É que, uma vez mais, no ponto 6 a sua linguagem flutuou)? Mas acha que mesmo que alguma vez alguma teoria física confirmou (ou verificou), de facto, alguma coisa sobre as coisas em si, sobre as coisas da Natureza? Já ouviu falar do problema da indução? Ou do problema da objectividade? Tem alguma noção do debate filosófico sobre os fundamentos da mecânica quântica? Já vi que é da mesma escola do Fiolhais e vive nas grutas.
Leia um bom livro de Filosofia da Física. Até pode começar pelo livro do Bunge, onde, logo na páginas iniciais são-lhe servidos alguns estimulantes que o farão - espero - acordar do seu sono dogmático.

Anónimo disse...

"Freud hoje em dia, nenhuma pessoa séria o cita, nem a Nietzsche, eram charlatães"

é habitual nas escolas de pensamento mole ostracizar-se algumas personagens que não se adaptam à actualidade cultural/escolástica, à moda. E isso vai das ciências da educação e passa pela filosofia, é mole.

Depois também me parece que bater no morto fica um pouco mal (não é que o morto se importe). Se tomarmos a definição habitual de charlatão (aquele que é um impostor e está consciente disso e que, em geral, aproveita-se da impostura para recolher dividendos) parece-me uma acusação estúpida. Tão mais estúpida quando é feita a um morto.

O Bunge tem desculpa porque, a julgar pelo que se vê, está perto de acusar o Nietzsche presencialmente.

anónima disse...

a pulsão do homem , sexo masculino , dizem -eu prefiro não acreditar , ainda que , tendo em conta como gostam de brigar - é a da destruição , dado não darem à luz. Agora , Freud e os seus simbolos fálicos ? por favor , o homem era gay reprimido e bom julgador por si se julga : estava obcecado pelo falo e vai generalizou numa de se justificar. pessoalmente , por exemplo , se há coisa de que não tenho inveja é disso. não tendo , tenho. e tem a importância que tem : brinquedo.

Anónimo disse...

Cara anónima ,

O tipo ( Freud) tb era agarrado à coca, tal era o grau de apego ao prazer momentâneo, ao falo tb,repressões relacionadas com a mãe( inveja do útero), etc, etc. Mas , mesmo assim , abriu a cabeça de muita gente e deu origem à libertação sexual de 60.

Cumpts,
Madalena Madeira

Miguelito disse...

«repressões relacionadas com a mãe( inveja do útero)»

E assim vamos nós alegremente, de palhaçada (inveja peniana) em palhaçada (inveja do útero).

Anónimo disse...

Miguelito,

Palhaçada!! sim dar importância a isso é palhaçada, por isso Freud , como muitos outros eram falo e/ou uterino dependentes.

Toda a dependência é nociva!!

Cumpts,
Madalena Madeira

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