As razões constantes do Relatório que deram a conhecer são as que toda a gente já sabe: o carácter interno da avaliação e o facto de ser referenciada ao contexto escola, a falta de preparação de quem avalia…
Trata-se de razões que, além de potenciarem injustiças e desigualdades, provocam “focos de tensão", aspecto que já havia sido destacado pelo Conselho Científico para a Avaliação dos Professores.
Os referidos peritos põem a tónica na necessidade de se encontrarem avaliadores externos credíveis, com formação especializada e devidamente acreditados, "provavelmente, professores, reconhecidos como profissionais altamente competentes e bem sucedidos, detentores de conhecimentos específicos e com competências pedagógicas aprofundadas, capazes de orientar e apoiar os outros professores".
Ainda que o Ministério da Educação aceite as referidas recomendações, a convivência entre professores está abalada. Demorará muito, muito tempo a voltar a níveis aceitáveis.
3 comentários:
A convivência entre professores já estava abalada antes desta legislatura, embora tenha piorado significativamente. Avaliadores externos com credibilidade poderia representar um grande passo em frente. Mas o problema da credibilidade, é que não sei como se garantiria.
Acho curiosa a maior predisposição para se aceitar um modelo de avaliação externo. Um sistema externo faz sentido no contexto de avaliação de uma organização, qualquer que seja (sem obstar a que a própria organização desenvolva as essenciais práticas de auto-avaliação). No entanto, avaliar o pessoal docente e não docente é algo que deve ser intrínseco aos processos normais de gestão de uma escola. Quem conhece melhor o contexto? Quem conhece melhor as especificidades? Quem conhece melhor os projectos educativos? Quem conhece melhor as pessoas?
Os que dizem que este processo, essencial para a gestão e para a melhoria contínua, deve ser externo, por uma questão de coerência, deveriam também dizer que a gestão devia ser externa, o que já não me parece ser o tom geral. Além de que uma gestão centralizada seria profundamente contraditória com o conceito de autonomia que deve ser aprofundado e não ainda mais atrofiado.
Avaliação externa de pessoas? Qual a organização em que tal acontece?
É possível e desejável conceber alguns objectivos centrais e até metas centrais, que podem ser passadas para as escolas e depois para os docentes e restantes funcionários, mas isso quer apenas dizer que há um referencial central para todos e que pode ser aferido centralmente. Mas esses objectivos e metas centrais devem apenas ser um subconjunto, do todo que compõe a avaliação dos professores. Será que por ser externa seria mais objectiva? Talvez até fosse, o que seria um benefício em abstracto. Mas dificilmente seria mais justa, o que seria um prejuízo em concreto.
É um incómodo avaliar colegas? Claro que é, principalmente numa organização em que não numca se criou uma cultura de mérito, de diferenciação e de chefia. Mas isso requer tempo e será ultrapassado com a maturidade do sistema.
O que é importante é começar a contribuir para a melhoria dos sistema e não para a destruição do mesmo, que não difere na essência da maior parte dos bons sistemas de avaliação em vigor em muitas organizações (escolas e outro tipo). Há muita coisa a melhorar no sistema, começando pela formação que deveria ter sido dada, não apenas em materia legal mas em matéria de facto; como definir objectivos; como medir; como avaliar.
Sou marido de uma professora e vi o absurdo acontecer. Mas um absurdo não legislado. Um absurdo interpretado e ordenado pelo Conselho Executivo. A minha mulher teve que produzir um dossier de evidências, com centenas de páginas para ser analisado pelo Conselho Executivo. Além de burocratizar o sistema isto inviabiliza a capacidade de avaliar correctamente, pois não é possível fazer um trabalho de análise sério, a dezenas ou centenas de professores com uma tão grande carga de papelada de evidências, além de colocar um peso no CE, completamente desadequado e de pouco valor acrescentado. Seria claramente mais benéfico que o CE se preocupasse com a optimização do sistema e a calibração do mesmo, melhorando a consistência, do que neste tipo de actividade, desnecessária para eles e para os professoras que poderiam demonstrar as evidências de forma muito mais simples e de forma descentralizada, por exemplo, aos coordenadores de departamento.
É claro que se pode confundir este tipo de absurdos e outras preversões, como objectivos completamente disparatados, ou simplesmente pouco concretos ou dificilmente mensuráveis, com um sistema errado. Mas na essência este sistema não é assim e pode ser optimizado com a colaboração das várias partes em algo mais rigoroso e conducente a uma cultura de mérito.
Critico muito desta política de educação, nomeadamente a padronização por baixo, mas não a avaliação, imprescindível e desejável. Nos largos anos da minha experiência profissional, fora da área de educação, fui avaliado por vários sistemas e por vários avaliadores. Uns melhores outros piores, mas posso dizer sem reservas que prefiro um mau sistema do que a ausência de um sistema, como na verdade acontecia anteriormente na educação, já que não havia capacidade diferenciadora e a arbitrariedade era total.
Parece-me que esta avaliação externa especializada é o passo ideal para uma justa avaliação do desempenho da função docente.
O acto avaliativo parece-me ainda mais justo desta forma, por se afastar de "intrusos" de ordem afectiva e/ou de interesses... Avaliar é um juízo de valor de natureza complexa, que implica mudanças estruturais, possui um carácter específico, podendo certamente interferir nos moldes de gestão de uma escola, pois os resultados do acto avaliativo poderão ser uma base para uma gestão mais eficaz desta organização. Até aqui a desejada autonomia dos estabelecimentos de ensino não me parece ameaçada.
O problema da credibilidade será resolvido com a formação específica, especializada para o exercício de tais funções, do "pessoal da Pedagogia" parecem-me ser afinal os especialistas em tais matérias.
Deixo de forma categórica o meu desagrado por uma "cultura de mérito, de diferenciação e de chefia " , parece-me mais uma anti-cultura, que poderá contribuir para o referido foco de tensão entre os quadros de uma actividade profissional ou pelas palavras de Marx, a cultura do explorador e do explorado.
E os meritórios chefes dessa inovadora cultura, quem, e que processos servirão para testar a sua credibilidade?
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