Atul Gawande é médico-cirurgião, um dos melhores à escala mundial. Estudou nas mais prestigiadas universidades europeias, foi bolseiro de elite, venceu prémios que distinguem a excelência, é professor catedrático de Cirurgia em Harvard. E, ainda, redactor e colunista.
Não obstante este currículo que fala por si, e talvez por causa dele, interessa-se por esse “esse sub-produto um pouco nauseabundo” (Lentin, 1994, 7), esse “tema cinzento na cor, sinistro no perfil e amargo no travo” (Lobo Antunes, 1996, 77): o erro de desempenho profissional.
Depois de ter escrito A mão que nos opera (2007), livro de divulgação, publicou, neste ano, Ser bom não chega (2009) com o mesmo teor. A Lua de Papel, editora de ambas as obras, apresenta-o como “um médico, que apesar dos erros luta todos os dias para ser (ainda) melhor.”
A propósito deste último livro, deu uma entrevista à revista Sábado da qual transcrevo a seguinte passagem, pela relevância que me parece ter para todos os profissionais que têm responsabilidades na vida dos outros, grupo onde também os professores e educadores se incluem.
Porque é que os médicos continuam a ser, muitas vezes vistos como deuses?
Tentamos ignorar o erro porque pensamos que, se o reconhecermos, as pessoas já não acreditam em nós. Mas, hoje, os doentes têm consciência que os médicos erram. Não somos perfeitos, mas procuramos essa perfeição. Daí que o nome do meu livro seja Better e não Best, porque é isso mesmo que podemos ser: melhores.
Qual foi o seu pior erro?
Foram tantos! Faço 300 a 400 operações por ano e as complicações atingem os 3 ou 4% o que significa que prejudico gravemente 10 a 12 pessoas em vez de as ajudar. Quando olho para trás, vejo que, em pelo menos metade dos casos, podia ter feito algo de diferente. Tento sempre tirar alguma conclusão de forma a que na próxima vez não prejudique ninguém.
Os erros deviam ser sempre punidos?
Não. Somos responsáveis pelos erros, mas também por remediar a situação. O problema dos erros não é dos maus médicos: o pior é que eles acontecem aos bons.
Em que sentido?
Qualquer cirurgião de renome falha. Vou dar um exemplo. Há dois meses publiquei um estudo, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde, sobre as mais-valias de haver uma lista na sala de operações para evitar infecções e outras complicações. A lista, aparentemente simples, tem pontos como dar sempre um antibiótico ao paciente entes do primeiro corte, certificarmo-nos de que toda a gente dentro da sala de operações sabe o nome da restante equipa para que não haja qualquer complicação na hora de se chamar a pessoa que se precisa, etc. Usámo-la em vários hospitais e reduziram-se as mortes em cerca de um terço. Os cirurgiões têm de assumir que são falíveis e socorrem-se de pequenas técnicas que os ajudam.
Interfere no trabalho de outros médicos?
A toda a hora! Se vejo um colega a fazer um mau diagnóstico já com uma cirurgia marcada não lhe vou dizer “és um idiota”! Olha o que estás a fazer!”, porque sei que posso ser eu o próximo idiota! O que faço é explicar-lhe que acho que deixámos passar alguma coisa e tentar resolver os problemas.”
Entrevista à revista Sábado de 25 de Junho de 2009 “Se os médicos lavarem as mão evitam milhões de mortes”, 36-38.
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9 comentários:
Porque acredito que os sonhos tornam o mundo melhor. Votem no rapaz e ajudem-no a cumprir o dele.
http://www.rumoantarctida.com/
A nova abordage médical, mas só para alguns!
A Medicina Psicossomática é uma nova concepção na abordagem médica do paciente, investigando sua doença e tratando-o como um todo, utilizando-se de exames e medicações clínicas, acompanhados de uma avaliação e terapia das emoções e “problemas psicológicos” que influenciaram na doença.
Na realidade toda doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais desencadeiam os processos do corpo através dos nervos e hormônios.
“Mente” e “Corpo” são na realidade partes integradas do nosso ser.
As emoções podem alterar o equilíbrio das glândulas endócrinas, prejudicar a circulação sangüínea e a pressão arterial, impedir a digestão, modificar o ritmo respiratório e a temperatura do corpo.
O Sistema Nervoso Autônomo é o gerador de várias sensações corporais, que você pode identificar como “emoções”.
Tais manifestações fazem, inclusive, parte da linguagem popular. As pessoas sentem os “pés frios”, ficam “geladas de medo”, têm um “bolo na garganta” ou sentem “ânsia de vômitos”, por alguém ou alguma situação que não suportam.
Desta forma, as emoções são fenômenos físicos, que existem dentro do organismo sob a forma de “sensações”.
Cumpts,
Madalena Madeira
Corrijo - abordagem médica
Campanha "Eu não sou cumplice",
http://eunaosoucumplice.wordpress.com/
Madalena Madeira
O texto traz-me à memória a opinião de um médico que declarava, a propósito dos erros, que
"se tenho 4 minutos para fazer uma operação, gasto três a pensar como fazê-lo, e um para operar."
li e pensei no que seria se assim fosse em relação aos professores!...
ze do mundo
Madalena Madeira
A propósito de
<"Mente" e "corpo" são na realidade partes integradas do nosso ser>
sugiro a leitura deste artigo titulado "A relação corpo-alma no Timeu em função do binómio saúde-doença", ou adquirir o "Timeu" de Platão editado pelo Instituto Piaget.
João Boaventura,
Infelizmente, não consigo chegar ao link que sugeriu. Do que se trata? No entanto, vou procurar no google.
Cumpts,
Madalena Madeira
João Boaventura,
Não consigo seguir o link,mas encontrei:
http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/15-ivan.pdf
Conclusão
A percepção platônica a respeito do binômio saúde-doença vai além da-quela apresentada pelos autores hipocráticos que viam a doença como restrita ao corpo. No Timeu, Platão afirma que há uma interdependência entre alma e corpo; a alma, que dá vida a um corpo, estabelece com este uma ligação orgâ-nica que só se desfaz com a morte. Não é possível, então, pensar as doenças que afetam a alma como circunscritas a esta última. Como também o inverso não é possível, visto que as doenças do corpo atingem em alguma medida a alma.
Afinal Platão e Aristóteles criaram td ou quase td ou não?
Cumpts,
Madalena Madeira
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