Na semana que terminou, Manuela Ferreira Leite prometeu que, caso o partido de que é presidente constitua governo, serão tomadas medidas substanciais no sistema de ensino, a começar pela revisão do estatuto da carreira docente, pela diminuição das tarefas burocráticas atribuídas aos professores e pelo modelo de avaliação do seu desempenho. Não fica de fora a revisão do estatuto do aluno.
Terá afirmado a ex-ministra da Educação que “… não poderemos deixar de contemplar a alteração destes quatro aspectos que estão a paralisar o sistema, estão a torná-lo inviável, desmotivador da acção dos professores”.
Trata-se duma afirmação que, apesar de ter sido, quase de imediato, contestada pela actual ministra Maria de Lurdes Rodrigues, reúne a concordância de muitos. Eu própria reconheço que são áreas críticas, onde é preciso introduzir conhecimento válido, clareza, simplicidade, funcionalidade e rigor. Temo, porém, quando um político, independentemente do partido a que pertença, apela à mudança.
Nas últimas décadas, as mudanças decretadas para o campo da educação têm sido mais que muitas: está sempre alguma coisa a mudar e, nessa medida, só com muito esforço conseguimos inteirar-nos das linhas mestras do sistema educativo, que se repartem por inúmeros normativos e explicações adicionais, constituindo um verdadeiro teste à paciência de qualquer um. Por outro lado, as mudanças entram e saem de cena tão depressa que, em geral, quando finalmente conseguimos perceber a respectiva substância, adaptar-nos a elas e agir em função delas, percebemos que… elas vão mudar ou já mudaram.
Desta maneira, se lhes deitarmos um olhar mais atento, guiado pela lógica, perceberemos que elas se atropelam umas às outras, que há sempre qualquer coisa que não bate certo, que não se entende…
Acresce que, como a necessidade de mudança se apresenta invariavelmente como urgentíssima, não se pode destinar um período de tempo razoável para fazer uma avaliação cuidada e desapaixonada do conteúdo e pertinência de cada medida que está em vigor e da sua coerência com as restantes. E, em função disso, decidir o que é que, de entre aquilo que está estabelecido, deve permanecer e o que deve ser mudado, sendo que, de seguida, é preciso estruturar devidamente a mudança.
Na lógica político-educativa da mudança também está subjacente que o partido do governo (independentemente de qual ele é) errou todas as decisões e aquele que se propõe governar só tomará decisões correctas. Ora, se considerarmos as orientações internacionais para a educação e própria concepção que, em geral, a nossa sociedade tem da educação escolar, perceberemos que estamos perante uma falácia, pois, qualquer que seja a decisão que o partido A tome, ela não pode afinal ser muito distante daquela que o B ou o C tomariam.
Finalmente, e o que, por dever de ofício, mais me interessa salientar é o seguinte: não há medida educativa que não seja explicitamente apresentada como pedagógica, fazendo-se crer que isso constitui uma condição suficiente da sua eficácia.
Se o leitor reparar, essas medidas não são justificadas com base em limitações ou motivos económicos e políticos ou noutros, mais ou menos marginais ao estritamente educativo. Ainda assim, por trás de expressões recorrentes como “desenvolver integralmente”, ou “promover a capacidade tal…” é possível vislumbrar intenções menos nobres e mais ilusórias, mas que, aos olhos das sociedades pós-modernas e politicamente correctas, funcionam bem em termos de discurso. O Programa Novas Oportunidades é um exemplo, entre muitos outros, da distância que vai das palavras aos resultados concretos.
Por razões que não compreendo inteiramente, a pedagogia tem sido o grande argumento de quem quer impor vertiginosas mudanças educativas e também de quem as aceita. Basta dizer que é pedagógico para se concluir: “então, está bem...”. Sei que também há quem pense o contrário. Trata-se, no meu entender, de argumentações que partilham o mesmo nível de vacuidade, pois apresentar uma medida como pedagógica não constitui, à partida, nenhuma garantia de que esteja certa ou errada.
Lamentavelmente, as mudanças educativas assentam muito pouco naquilo que hoje se sabe acerca do modo “como se aprende” e do modo “como se deve ensinar”, muitas vezes parecendo que são delineadas ao contrário disso mesmo. Até podem ser redigidas com recurso ao vocabulário atribuído à pedagogia, até podem invocar modelos que se fazem passar por pedagógicos, mas tal está longe, muito longe, de as tornar pedagógicas...
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9 comentários:
Sim, mas deitar fora o actual estatudo do aluno é um mero acto de higiene. E o sistema de avaliação dos professores é algo puramente arbitrário e artificial, enfim, não é nada.
http://bomalandro.blogspot.com/
A Helena Damião tem razão em criticar o facto de na educação em Portugal "estar sempre alguma coisa a mudar". Trata-se de um reformismo inconsequente e contraproducente.
Mas em relação aos 4 aspectos referidos por MFL é diferente. São coisas que precisam mesmo mudar senão as escolas entram em colapso.
Esperemos é que MFL se ganhar as eleições promova mudanças desta vez consequente e baseadas no conhecimento (como disse a HD) - e já agora no bom senso. Que faltou completamente a esta equipa ministerial.
Julgo que a Helena Damião tem razão no PREC que corre neste sector desde 1974, no entanto Manuela Ferreira Leite acertou nos quatro pilares que estão a desmoronar a "escola" pública e como tal devemos estar muito atentos ao que se propõe fazer e devemos dar o nosso contributo para que a cura não seja mais do mesmo.
O diagnóstico não poderia estar mais correcto, não sei é se o PSD permitirá que os lobbies que vivem à custa do PREC neste sector se façam à vida e desapareçam de vez das "escolas" para que o país volte a ter Escolas, professores, alunos e encarregados de educação...
E digo PSD, porque do PS já todos sabemos, ou pelo menos deveríamos saber, que o PREC é para continuar e que os lobbies são para manter...
É bom não esquecer que os socialistas governaram o país 12 anos nos últimos 14 e os resultados estão bem à vista de todos.
Não sei se é prec ou não, mas a escola pública tem vindo a ser desmantelada, tem vinda a acentuar as desigualdades pedagógicas e sociais que os alunos trazem de casa ao invez das diluir.
Uma coisa é certa, isto tem que mudar.
Tem que de uma vez por todas se fazer uma reforma e um plano de acção a médio e longo prazo, daquilo que se quer para o ensino.
Em termos da questão da "pedagogia" há por ai muito pós modernismo a circular que desmontados os argumentos são castelos de cartas e limões exprimidos sem qualquer gota de sumo, enfim nulidades.
Temos muitos professores, alguns pseudo professores, outros "lentes" ao estilo coimbrão do fim do século XIX e temos também muitos bons profissionais, muitos deles desmotivados e por último, o escesso de recem licenciados que não conseguem colocação mas que estou em querer que grande parte deles carece que qualidades para ensinar.
O que quero dizer é que temos que limpar isto, descobrir os bons professores e motivá-los e os outros manda-los fazerem-se à vida.
É preciso também e muita gente esquece-se disso, HD mencionou que não podem ser só politicos, é preciso uma reforma no ensino que englobe toda a comunidade, professores, politicos, ME, alunos, funcionários não docentes, encarregados de educação, autarquias, sindicatos, associações e a sociedade.
Não podemos continuar a fazer reformas de reformas viradas para o umbigo de alguns, ninguem sabe tudo!
Enquanto a educação não for participada, mais importante que comparticipada, as coisas não vão mudar!
É verdade que as medidas tomadas por Sócrates na educação precisam de ser removidas sem pensar muito, de tão obviamente más. Tão erradas que os próprios autores o reconhecem. Substituídas por quê? Para isso é preciso reflexão é certo, mas como medida de emergência devem ser substituídas pelo que havia antes de Sócrates. Podia não ser a solução perfeita, mas era indesmentivelmente melhor do que o caos que agora se vive pelo país fora.
Mas o PSD esqueceu-se de outro dossiê que, embora menos falado por enquanto, é uma bomba ao retardador para lançar a miséria nas escolas: a escolha dos directores das escolas por influências políticas, nomeadamente municipais. Com certos autarcas-estandarte que todos bem conhecemos, é fácil antecipar o que serão as escolas dentro de poucos anos com a entrega da sua gestão financeira e pedagógica e elementos exteriores à escola mas "familiarizados" com os meandros da política concelhia.
Ferreira Leite e a sociedade em geral ainda não acordaram para o que se desenha no horizonte.
Gostei muito do apontamento do Fartinho da Silva: "É bom não esquecer que os socialistas governaram o país 12 anos nos últimos 14 e os resultados estão bem à vista de todos."
No seu seguimento eu diria: é bom não esquecer que PSD e PS governaram o país 24 anos nos últimos 24 anos e os resultados estão bem à vista de todos.
Eh pá, os tipos do PS arruinaram o país - agora temos de apoiar o PSD. Eh pá, os tipos do PSD arruinaram o país - agora temos de apoiar o PS. Eh pá, os tipos do PS arruinaram o país - agora temos de apoiar o PSD. Eh pá, os tipos do PSD arruinaram o país - agora temos de apoiar o PS. Eh pá, os tipos do PS arruinaram o país - agora temos de apoiar o PSD. Eh pá, os tipos do PSD arruinaram o país - agora temos de apoiar o PS. Eh pá, os tipos do PS arruinaram o país - agora temos de apoiar o PSD. Eh pá, os tipos do PSD arruinaram o país - agora temos de apoiar o PS.
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