Dizer que Agustina Bessa-Luís, se houvesse justiça no mundo, já teria ganho o Prémio Nobel por duas vezes, como disse antes deve ter causado indignação. Porque, afinal, Saramago só ganhou um e Lobo Antunes nenhum. Foi uma forma de dizer, ela própria produtora de injustiça. Em relação a Torga, que o merecia, segundo muitos, a Vergílio Ferreira, que o devia ter recebido, segundo outros, e a Jorge de Sena, ou a Cardoso Pires, por que não também? Há dezenas de laureados com o Nobel, que o não mereciam, e autores de primeira que o não ganharam. Tolstoi, consagradíssimo em vida, foi preterido por oito ou nove vezes. Mesmo os muito apreciados hoje, Pessoa, Proust, Kafka, se tivessem vivido o suficiente, tê-lo-iam ganho?
Seja como for, é de facto injusto que as literaturas, portuguesa e brasileira, só tenham um Prémio Nobel. Mas estas coisas estão sujeitas a pressões e o Português, embora falado por muitos, não tem ainda o reconhecimento internacional de um estatuto literário que, pela tradição e riqueza própria, sem dúvida merece. Neste aspecto, pelo impacto internacional único, o Prémio Nobel tem uma função de grande importância
Por outro lado, é claro que acabamos sempre por fazer comparações entre autores, mas devemos evitá-las, porque os escritores acima referidos são muito diferentes uns dos outros, e compará-los exige a introdução de tantos parâmetros que resulta quase sempre injusto. Temos direito a gostar ou não, de nos identificarmos mais com este que com aquele, e é isso que geralmente fazemos. Também é legítimo acharmos um autor melhor que outro porque, de facto, há enormes diferenças de qualidade entre os autores que por aí andam falados e lidos.
Mas é difícil encontrar as razões por que damos qualidade a um e não a reconhecemos noutro. Muitas vezes o mal está em nós. Não temos suficiente garra para descobrir o melhor de um autor, ou o nosso pensamento não vai tão longe, nem tão à frente como o que a obra exprime, ou não se alcança tudo o que o autor quis dizer, etc. Outras vezes o mal está no autor, que vale menos do que dizem.
Além disso, os padrões do gosto têm oscilado muito, e vão-se transformando, muitas vezes por influência das próprias obras, outras porque a realidade, transformando-se, necessita de outras formas de expressão, tem que encontrar modelos que sejam, dessa nova realidade, o reflexo e a sublimação. Se a realidade vai mudando, a expressão artística acaba necessariamente por se ir modificando. Estando sensível a outros estímulos, encontrando outras estruturas na construção, os autores inauguram novos quadros estéticos que, com o tempo, podem chegar a ser predominantes. E aí começa o seu declínio e o processo de substituição por outros quadros estéticos, e outras sensibilidades, que entram em conflito com o gosto dominante. Este, criando epígonos e hordas de admiradores, pouco críticos, leva às mudanças de padrão, por um processo inevitável.
Neste aspecto Agustina estará mais defendida porque é muito difícil de imitar. Saramago, por exemplo, teve de ganhar também o seu espaço e não conseguiu ainda a adesão de todos os que o lêem. E ainda bem para ele. Há admiradores que são muito má companhia. Pobre do autor de que todos, ao ler, logo gostassem muito; provavelmente não iria longe.
Portanto, o juízo de valor, positivo, sobre Agustina, não põe em causa os outros. Nem pode, pois Saramago já ganhou o Nobel e Lobo Antunes irá provavelmente ganhar, um dia. Agustina é capaz de já não ter tempo, mas a obra aí fica.
João Boavida
5 comentários:
«Seja como for, é de facto injusto que as literaturas, portuguesa e brasileira, só tenham um Prémio Nobel.»
Eu só conheço um de um escritor português. Qual foi o brasileiro?
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España são 46 milhões, nós somos 11.
Não querias a Echevarria e a D'Espido a Nobel, querias?
estamos a cima da média ibérica.
Callate.
A
* Vicente Aleixandre
B
* Jacinto Benavente
C
* Camilo José Cela
E
* José Echegaray
J
* Juan Ramón Jiménez
O
* Severo Ochoa
R
* Santiago Ramón y Cajal
Aconselho " A bibliteca " de Gonçalo M. Tavares , excelente literatura portuguesa.
Deliciem-se um pouco,
"As cabras e o modo como se aproximam de um fio de erva podem preencher todo o cérebro de uma pessoa inteligente, mesmo que tal facto se passe às sete da tarde. A Natureza não abana com os nossos sustos, a não ser a parte da natureza que o nosso corpo representa.
Uma cabra a pastar, uma vaca a pastar, um boi a pastar, uma ovelha a pastar. E ainda as ervas, e o leve vento que passa por elas. Muitas coisas acontecem na natureza. Com tanta erva e animal a pastar, para quê procurar diversão nas cidades?"
Cumpts,
Madalena Madeira
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