domingo, 12 de abril de 2009

Como incompreender Gutenberg

Johann Gutenberg nasceu no séc. XIV, em Mainz, na Alemanha, e morreu a 3 de Fevereiro de 1468. Ficou célebre devido à sua revolucionária invenção que permitia pela primeira vez imprimir livros a um custo muitíssimo inferior quer às cópias anteriores laboriosamente feitas à mão, quer a outros métodos de impressão. O efeito cultural e social da sua invenção é muitas vezes referido pelos historiadores: a disseminação da cultura escrita que a sua invenção possibilitou terá sido um dos motores de uma parte importante dos desenvolvimentos a que se assistiu na Europa a partir do séc. XV.

Poucas pessoas conhecem, contudo, as dificuldades financeiras que Gutenberg enfrentou. Teve várias vezes de pedir dinheiro emprestado, para financiar a sua investigação, e acabou por ser levado a tribunal quando os investidores ficaram insatisfeitos com a sua falta de pagamento, ou quando quiseram deitar mão a parte da riqueza que a sua invenção previsivelmente traria. Acabou por viver os últimos três anos da sua vida de uma pensão concedida pelo arcebispo de Mainz, o que sugere que a riqueza lhe passou ao lado, ainda que não tenha ficado propriamente na miséria.

As minhas críticas ao Projecto Gutenberg parecem estranhas. Não é este projecto afinal uma justa homenagem a esse inventor sagaz, talvez responsável pelo desenvolvimento cultural de que somos herdeiros? A resposta é negativa. Este projecto é uma mancha na memória de Gutenberg, que teve precisamente de lutar arduamente para se financiar: precisamente por não ser um aristocrata, não podia dar-se ao luxo de trabalhar sem ganhar dinheiro. O Projecto Gutenberg está enraizado na nova mentalidade digital da exploração do trabalho voluntário alheio, e as consequências desta mentalidade são desastrosas.

Imagine-se o que seria Gutenberg ter determinado que, para se usar a sua invenção, era preciso que quem manipulasse as impressoras trabalhasse voluntariamente. Afinal, o argumento seria precisamente o mesmo do actual Projecto Gutenberg: trata-se de um trabalho de grande valor cultural, importante para muitos milhões de pessoas. Mal se pensa sobre o que teria acontecido com a invenção de Gutenberg percebe-se o que está hoje a acontecer. Pois é evidente que a disseminação cultural que a invenção de Gutenberg permitiu só existiu porque as pessoas que trabalhavam nas impressoras eram remuneradas. Isso permitiu o aparecimento de técnicos especializados em impressão, alguns dos quais mais tarde se tornaram jornalistas e editores. Nada disto teria sido possível caso se exigisse um trabalho missionário, gratuito, pois nesse caso só os ricos teriam podido fazer esse trabalho e nunca se teria desenvolvido a indústria editorial que hoje conhecemos e prezamos.

Este é um dos problemas de actividades digitais bem-intencionadas como o Projecto Gutenberg: o resultado é desastroso. Porque não permite o aparecimento de um corpo profissional remunerado de pessoas que façam esse trabalho, este nunca se desenvolve, ficando refém das disponibilidades que uns reformados simpáticos calham a ter, nos intervalos da novela e da operação à próstata. A digitalização e difusão de livros de domínio público é muito importante; a existência de enciclopédias de qualidade é também muito importante; tal como apanhar o lixo das cidades é muito importante. Em qualquer destas actividades, se dependermos do trabalho voluntário gratuito, estamos a fazer um mal parecendo que fazemos um bem. Estamos a fazer um mal porque não permitimos o desenvolvimento de melhores maneiras de fazer essas actividades, e porque tiramos empregos a milhares de pessoas que neste momento estão desempregadas e que teriam outras perspectivas de vida. E estamos a prejudicar gravemente a vida económica de todos, porque a nossa riqueza depende crucialmente das trocas comerciais, da compra e venda de bens e serviços. Para quem está desempregado, o voluntário que lhe faz gratuitamente o trabalho que ele poderia fazer numa empresa ganhando o seu ordenado não é uma figura assim tão simpática.

O Projecto Gutenberg tem outros problemas de fundo. Em primeiro lugar, digitaliza os livros de um modo que tem primariamente em mente a leitura de fim-de-semana — porque ninguém pode citar profissionalmente a página do livro original, dado que o Projecto privilegia formatos que não preservam a paginação original. Se eu encontrar uma obra de Hume, por exemplo, não posso citá-la no meu trabalho porque não sei em que página está a passagem que usei. Neste caso, a digitalização em curso da Biblioteca Nacional de Portugal é meritória precisamente por usar formatos que preservam a paginação original: o PDF e a imagem JPG. E o mesmo faz o Google.

O que nos traz de volta ao Google, que já referi noutros artigos. A canibalização que o Google Books está a fazer dos livros de domínio público só é possível precisamente porque existe esta mentalidade digital alimentada pelo Projecto Gutenberg: a de que o produto do trabalho cultural deve ser gratuito para ser bonito. Como o Google descobriu uma maneira de ganhar dinheiro, através da publicidade, sem que as pessoas tenham de pagar directamente ao Google, tendo por isso a impressão de que estão a consumir coisas de graça, este gigante norte-americano tem todo o interesse em pôr tanto quanto possível tudo na Internet. Claro que o Google não depende do trabalho voluntário, como o Projecto Gutenberg, dado que ninguém bom da cabeça estaria disposto a trabalhar de borla para os capitalistas multimilionários que controlam o Google. Mas o efeito económico é o mesmo: como oferecem os livros de borla na Internet, nenhuma outra empresa de digitalização pode competir com o Google Books. Caso não existisse a mentalidade aristocrática de que a cultura deve ser de borla, mentalidade que alimenta o Projecto Gutenberg e o Google Books, existiriam hoje centenas de empresas especialistas na digitalização e venda de livros de domínio público, e milhares de profissionais poderiam viver desta importante actividade.

É aqui que se esconde uma das mentiras fundamentais associada a esta mentalidade: oferecemos uns livritos digitais aos pobres, coitadinhos, que também têm direito à cultura, mas ao mesmo tempo obrigamo-los a continuar a ser pobres porque tornamos impossível que possam ser remunerados trabalhando na digitalização de livros. Isto faz lembrar uma das tiras mais memoráveis da Mafalda, de Quino, quando a Susaninha comenta que é uma sorte haver pobres senão teria de se mandar para o lixo a roupa velha.

30 comentários:

carolus augustus lusitanus disse...

Materialista, demasiado materialista...

Carlos Faria disse...

Eu até concordava se achasse alguma coerência no discurso... e nessa coerência diria, que também se deve ensinar nas universidades lusófonas o português, que se deve ser ainda mais acérrimo defensor da língua lusa do que actualmente acontece e lutar contra a língua culta e franca inglesa, pois assim estamos a dar emprego aos tradutores, que por serem pagos fazem trabalho de qualidade e asseguram nas pátrias de camões e amado mais livreiros e editores e um rol de coisas semelhantes. Mas não!
Agora pensa que após o término dos direitos de autor, a divulgação do saber no ciberespaço só deve ser promovida através de empregos pagos que levem a que as nossas consultas tenham de ser através de livros digitalizados pagos. Incoerências de quem gosta de promover a discussão e agitar as mentes... o que também é bom ;)

António disse...

“...porque ninguém pode citar profissionalmente a página do livro original...”


Nem pode nem deve, aqueles que profissionalmente precisam de fazer citações devem comprar o livro original, para dar emprego aos desempregados...

joão boaventura disse...

Essa dos pobres serem necessários para lhes oferecer roupa velha relembra a necessidade pautada por Marx de haver ladrões porque assim criaram-se novos empregos, o dos polícias.

João Silva disse...

Saudações!

geocrusoe

Falho em perceber porque é que é incoerente defender o ensino do Inglês de forma a facilitar o acesso à cultura e defender ao mesmo tempo que as actividades borlistas do projecto gutenberg são um mal.
Pode ver as coisas também por este lado: com o ensino do Inglês criam-se postos de trabalho para professores de Inglês. Talvez estes sejam superiores aos empregos criados para tradutores.
Parece-me simplesmente que as questões não têm nada a ver uma com a outra.


Caro Desidério:

Cito:

"Porque não permite o aparecimento de um corpo profissional remunerado de pessoas que façam esse trabalho, este nunca se desenvolve, ficando refém das disponibilidades que uns reformados simpáticos calham a ter, nos intervalos da novela e da operação à próstata"

"O Projecto Gutenberg tem outros problemas de fundo. Em primeiro lugar, digitaliza os livros de um modo que tem primariamente em mente a leitura de fim-de-semana — porque ninguém pode citar profissionalmente a página do livro original, dado que o Projecto privilegia formatos que não preservam a paginação original."


O seu argumento parece-me ser o seguinte:

O serviço prestado pelo projecto Gutenberg é de má qualidade por ser gratuito.
Logo, porque presta um serviço de má qualidade, o projecto Gutenberg é um mal.

Com o desaparecimento do Projecto Gutenberg as leis do mercado aplicar-se-iam a este sector e, por força da concorrência, surgeriam empresas capazes de fazer um trabalho bem feito, apesar de remunerado.
Logo, o projecto Gutenberg deveria desaparecer.


Crítica:

A premissa escondida é que um trabalho remunerado bem feito é melhor do que um trabalho não remunerado mal feito. (Estou a admitir que o trabalho do projecto Gutenberg é efectivamente de má qualidade)

Isto pode ser verdade para si, mas não significa que seja verdade para toda a gente.

Se fosse uma verdade aceite pela maioria das pessoas, apareceriam já empresas capazes de executar um seviço bem feito, embora lucrativo.

Isto não se verifica.

Assim, para a maioria da população é preferível o trabalho mau e não remunerado ao trabalho bom e remunerado.

Logo, o projecto Gutenberg é bom, porque serve os interesses da maioria da população, ainda que não sejam os seus.


Dir-me-à que apesar de servir os interesses da população, o Projecto Gutenberg não deixa de ser mau pela simples razão de que os interesses das pessoas não são bons. Elas não valorizam a cultura boa.
É vida!

Mas a disponibilização de cultura boa a preços altos não me parece ser o caminho para as pessoas passarem a gostar de cultura.

Assim, o seu raciocínio parece-me inválido.

À espera de resposta

Cumprimentos

Carlos Faria disse...

joão pedro
eu não sou contra a defesa do ensino do inglês nas universidades dos países lusófonos (até sou natural e cidadão dum país anglófono), sou contra alguns post de subserviência do português ao inglês do autor do post, que inclusive criticava a má qualidade de traduções (pagas claro!) e agora quer um sistema gerador de empregos remunerados como garante de qualidade, entre outros argumentos. Embora saiba que por vezes ele diga as coisas exactamente para incentivar a discussão e a ideia dele esteja nas entrelinhas. Portanto o meu comentário também tem críticas indirectas. Embora os problemas do projecto gutemberg para mim não é a graciosidade do colaboradores, mas sim outros que inclusive mencionou.

Anónimo disse...

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome.
2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem manda bocas.
3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

<---- os parágrafos anteriores não deveriam também ser aplicados ao artigo? É que parece faltar muito bom senso ao autor.

Um mundo sem domínio público? É o que o autor advoga?

E ainda pretende ser um defensor da liberdade de pensamento e do pensamento crítico?????

Acho que há mmmmmuito problema na cabeça do senhor desidério.

João Vasco disse...

As objecções do comentador João Pedro ao texto do Desidério parecem-me perfeitamente válidas.

Tanto quanto entendo, refutam completamente aquilo que o Desidério propõe.

Anónimo disse...

Ricardo Carvalho
O acesso à cultura não pode estar condicionado pela vontade de "profissionais" que detêm o poder de decidir o que é divulgado e o que permanece engavetado. Fazem falta mais projectos como o Gutenberg. Sem ele, muita gente nunca teria acesso a muito do material que lá é publicado. Afinal, a cultura é um bem a que todos devem ter acesso ou é para servir interesses de certas classe profissionais?

nuvens de fumo disse...

Existe aqui uma lógica retorcida que tem mais do que um objectivo imediato.

As pessoas podem imprimir novelas em jornais, várias foram publicadas. Umas eram boas , outras não. E depois ?

A internet e projectos abertos tem a utilidade que se lhes queira dar. Os livros do brasil tinham péssimas traduções, as colecções de FC tb, o princípio é o mesmo. Vale pela utilização que se lhes dá. Nem pior nem melhor, nunca ouvi dizer que se deveria proibir as más traduções e pessoalmente acho-as um atentado às obras originais, mas...quem quer lê, quem não quer compra no original.

E a pobreza é não ter acesso nenhum aos livros, mais vale uma biblioteca vasta com alguns erros , do que meia dúzia de livros bem traduzidos.

Mário Miguel disse...

Desidério,

Não é a Wikipédia, tão boa ou melhor que a Britannica em termos de informação escrita?

Porque não é possível os dois mundos estarem a funcionarem em simultaneamente, e que pelo que constato na prática é isso que ocorre.

Mário Miguel disse...

Desidério,

Não é a Wikipédia tão boa ou melhor que a Britannica em termos de informação escrita?

Porque é que não é possível os dois mundos estarem a funcionarem em simultâneo? É que pelo que constato, na prática, é isso que ocorre.

Anónimo disse...

Significa isto que o sr. Desidério defende que para dar dinheiro às editoras, se dificulte ao máximo o acesso a livros em domínio público, a que todas as pessoas têm o direito de aceder?

Eu tenho alguns livros em papel, que também estão no Projecto Gutenberg. E algumas vezes uso o livro que está no Projecto Gutenberg. Por exemplo, quando quero procurar uma passagem num livro, que demora alguns segundos no Projecto Gutenberg e muito, muito mais se a fosse procurar ao livro de papel.

Mas não pense que tendo eu o livro em papel, fosse comprar uma cópia digital do mesmo livro (eu tenho mais de 2000 livros em papel)
Nem pense que entre optar por comprar um livro em papel ou uma cópia digital, eu optaria pela cópia digital. E como eu muitas pessoas. Pelo que aqueles que seriam pagos para digitalizar livros não seriam lá muito bem remunerados.

O seu raciocínio também está errado porquanto infere que se todas as pessoas não tivessem acesso gratuito a todos estes livros, os comprariam.

Cory Doctorow é um escritor de ficção científica que tem os seus livros na web, com licenças creative commons.
Ele vive da escrita.
Há pouco tempo ele publicou um livro chamado Content, o primeiro livro que não é de ficção científica e disponibilizou-o com uma licença CC.

Eu fiz o download, li os primeiros capítulos, achei muito bom e mandei vir o livro em papel da Amazon.
Free is a business model?

Relativamente ao seu comentário sobre citações, devo dizer-lhe que me parece falso.
Explico. Existem regras para citar recursos electrónicos. Desde páginas web a livros electrónicos, passando por emails, CD-ROM, imagens, etc.

Relativamente à necessidade da página para fazer uma citação, também me parece falso o seu problema. Corrija-me se estiver enganada.
A referência bibliográfica existe para facilitar ao leitor a confirmação da citação ou para a ler no contexto original.
Se eu tiver um livro inteiro numa página web (ou em formato digital) posso demorar apenas alguns segundos para encontrar a citação que fez.
E haverá casos até em que será mais rápido encontrar uma citação num livro digital inteiro do que numa única página de um livro em papel.
Se tem um livro numa página web e um ctrl+f, precisa da página para quê?

Paula

Mario Lino disse...

Caro Desidério,

Eis um artigo de opinião bem interessante, magistralmente escrito de maneira a suscitar um acalorado debate. Em suma, mais uma das suas inúmeras provocações!

Deixo aqui alguns comentários avulsos, umas pequenas provocações minhas que certamente poderão contribuir positivamente para o debate e talvez até para o desmontar de alguns mitos que introduz.

1) Na época do Gutenberg, não havia o conceito "avançado" de registro de patentes. Como tal, a sua afirmação, cito: "Pois é evidente que a disseminação cultural que a invenção de Gutenberg permitiu só existiu porque as pessoas que trabalhavam nas impressoras eram remuneradas." deixa-me sériamente dubitativo. Foi aliás pelo contrário a ausência de direitos de autor e outras patentes que permitiu a disseminação fulgurante da imprensa na Europa.

Não deixa aliás de ser irónico de constatar que nos tempos que correm, o nosso amigo Gutenberg, após ter sido deixado na bancarrota pelo processo movido pelo seu antigo patrocinador Fust, não teria conseguido recomeçar a sua actividade, ao contrário do que aconteceu após 1455, quando Gutenberg consegui reabrir uma pequena oficina de impressão. Nos dias que correm, tal não seria possível pois o Senhor Fust não teria deixado de mover um processo por violação de patente (que certamente lhe teria caido em possessão a título de compensação patrimonial) ao Sr. Gutenberg.

2) Neste seu relato digno de fazer chorar as pedras da calçada, não deixa de ser curiosa a sua afirmação: "Acabou por viver os últimos três anos da sua vida de uma pensão concedida pelo arcebispo de Mainz, o que sugere que a riqueza lhe passou ao lado, ainda que não tenha ficado propriamente na miséria.", o que faz pouca justiça ao valor do que lhe foi atribuido em honra dos seus feitos técnicos:

- Um titulo de nobreza
- 2180 litros anuais de grão (sem taxas) por ano
- 2000 litros de vinho (sem taxas) por ano
- Um fato ceremonial por ano
- Uma bolsa de valor considerável

O que lhe permitiu uma vida certamente mais desafogada do que aquilo que o seu artigo de opinião parece transmitir.

3) O resto da sua argumentação insiste na sua falácia de sempre de que uma certa "classe ociosa -e porventura refêm do tédio-" se dedica a destruir mais ou menos conscientemente as sagradas estruturas em que repousa a nossa sociedade. Quanto a esse ponto de fundo, tecla em que tem continuado a bater à saciedade, não tenho infelizmente suficiente tempo livre para rebater todos os seus argumentos. Deixo-lhe apenas um reparo de carácter geral, e outro mais específico.
O que eu considero mais surpreendente na sua argumentação (ou consideraria, não fossem as minhas permanentes suspetas de que muito do que escreve algo deve à provocação), é a recorrente ideia falaciosa de que ao disponibilizar conteudos de graça, estamos necessáriamente a destruir capacidades criativas. A ouvi-lo, pareceria até que se porventura decidisse "baixar" algo da Internet, ao invês de a adquirir mediante pagamento a alguêm, o dinheiro que não gastei se esfuma como por magia.
Sabe bem que não é isso que acontece certo? Posso-lhe gartantir que esse dinheiro acabará eventualmente por ser gasto em alguma coisa, certamente servindo (para muita satisfação minha) a alimentar inúmeras bocas famintas.

O reparo de ordem mais geral que lhe deixo, cáro Desidério, seria o experimentar ler alguma literatura especializada sobre o tema, como por exemplo a obra "Free Culture" de Lawrence Lessig, para depois rebater os argumentos com que porventura pudesse discordar. Talvez assim, o Desidério, que certamente é uma pessoa muito séria, poderia evitar ser injustamente interpretado como um "enfant provocateur".

4) Pouco conheço da vida de Gutenberg, para alêm do que aprendi na escola. As incorrecções que descobri no seu artigo, devo-as a uma leitura atenta da entrada sobre o Gutenberg na wikipedia. É certo que obtive esta informação de graça, mas não deixa de ser interessante pensar que ter de ir a uma biblioteca, ou gastar uma pipa de massa numa "Enciclopédia Universális" teria tornado o rebater das suas ideias um processo bem mais moroso.

Outra coisa curiosa que veio agora à cabeça, é o facto de ninguêm me estar a pagar para eu comentar o seu artigo neste blogue.Mas estes comentários, caro Desidério, deixo-os aqui de graça, sem esperar alguma merecida recompensa, nobostante todos os danos que eu possa a estar a cometer contra a sociedade.

Um bem haja!

Júlio Reis disse...

Caro Sr. Murcho,

Agradeço a sua atenção pela minha próstata, e espero que a sua não lhe dê problemas de maior.

Venho aqui pedir desculpa publicamente por estar a ofender a memória de Johann Gutenberg. Sim, confesso, sou voluntário do Project Gutenberg. Não recebo um cêntimo pelas muitas horas de trabalho que faço cada semana para pegar numa obra em papel, acessível a centenas de pessoas, e convertê-la numa obra digital, acessível a milhões de pessoas. E que trabalho! Senão repare:

1) A obra é digitalizada com um scanner
2) os scans são tratados para aumentar a legibilidade
3) é feito o reconhecimento óptico de caracteres
4) esse OCR é corrigido
5) as ilustrações são tratadas
6) os scans das páginas e o texto vindo do OCR é colocado em pgdp.net, onde uma "pool" de voluntários contrasta o texto com a página do livro e o vai aperfeiçoando
7) cada página é revista em pgpd.net não uma, mas cinco vezes. O acesso à primeira ronda é automático, mas o acesso às rondas superiores está sujeito a passagem em testes.
8) depois vem o pós-processamento, onde as páginas são juntas num só texto digital, que é sujeito a diversas verificações. Aqui é gerada uma versão em texto simples, e uma versão em HTML com (pasme-se!) indicação das páginas originais do livro.
9) o pós-processamento é verificado por outra pessoa
10) o livro digital é submetido ao gutenberg.org onde é verificado mais uma vez. Et voilà, o Sr. Murcho já pode pesquisar mais um livro na Internet.

Pensei (ingenuamente?) que não estava a tirar nada a ninguém. O livro em papel fica acessível às mesmas pessoas às quais estava antes. A obra expressa no livro em papel estava no domínio público, portanto já me pertencia a mim e a todos os portugueses. Pensava eu. Agora sei que estou a ser egoísta, pois estou a roubar o ganha-pão a "milhares de desempregados". Mais ainda, o meu trabalho é de fraca qualidade e impede o surgimento de iniciativas de qualidade. A qualidade, é claro, mede-se pelo dinheiro que é gasto nas iniciativas. Como é que não compreendemos isso antes?

O seu argumento de que para termos qualidade temos que pagar por ela... penso que lhe falta uns valentes milhões de euros para ser um argumento válido. Se não está ninguém a deixar de contratar pessoas para fazer Mas façamos assim: o senhor paga-me para criar versões digitais de obras no domínio público, e eu paro imediatamente de fazer esse trabalho de forma gratuita. Combinado?

O senhor defende o funcionamento do mercado com unhas e dentes, e concorda com a preservação do acervo em domínio público; eu defendo a preservação do acervo em domínio público com unhas e dentes, e concordo com o funcionamento do mercado. Acho que os nossos objectivos são perfeitamente compatíveis! E o dinheiro vai mesmo dar jeito: os tratamentos para a próstata são bastante caros, e as reformas são fraquinhas.

Pense nisso. O meu contacto está no meu link. Fico à sua espera. Por favor não responda aqui, pois não tenciono voltar a responder ao seu blog. Já respondi duas vezes, mas à terceira só cai quem quer.

Mind Booster Noori disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Essa de não poder citar a página, é completamente ridícula, como já alguns leitores disseram. Além de que a página varia de edição para edição, e só quem tenha a ediçao correcta é que poderia obter a importantíssima informação que é o número da página.
Não mintas, Desidério, há montes de livros no google que têm "limited preview", ou nemsequer isso.
E que tal proibir as bibliotecas? Para obrigar mais pessoas a comprar livros.
E que tal proibir o empréstimo de livros a amigos?
E que tal proibir o jornal no café, que vai ser lido por 30 ou 40 pessoas e que faz diminuir as vendas?
E que tal proibir o escritor que mais vende no mundo, O Paulo Coelho, de meter as suas obras nos torrents. Acho que até seria bom manda-lo para um tratamento psiquiátrico, o homem não deve estar bom da cabeça.
É incrível que com os googles e com os torrents, cada vez se vendam mais livros!!
Desidério, muda de tema e deixa de ser ridículo. Informa-te e pensa melhor no que escreves, porque podias evitar escrever mentiras foleiras.
luis

Rolando Almeida disse...

a qualidade dos argumentos dos comentários no rerum natura leva-me a pensar que 99,9% dos comentadores tem o intestino grosso ligado directamente ao cérebro.Isto funciona assim: se não concordas comigo estás contra mim, o que é mais um sintoma de deficiência cultural do que bom senso, racionalidade e discussão. É uma desilusão saber que a cabeça das pessoas supostamente mais cultas anda assim no nosso meio. São as confusões avulsas, a falta de clareza e o insulto gratuito, do qual aqui também faço uso já que a discussão não estica.

João Vasco disse...

Rolando:

Como em todos os blogues minimamente comentados, existe sempre uma boa dose de comentadores que preferem o insulto fácil à argumentação inteligente, e é verdade que alguns dos comentários aqui colocados se ficam por aí.

No entanto, grande parte dos comentários acima coloca objecções válidas e perspicazes às ideias apresentadas pelo Desidério no texto inicial.
Na verdade, é impressionante que os erros na sua argumentação se dêem em tantos níveis diferentes.

O comentador João Pedro mostrou que mesmo partindo dos pressupostos de que o Desidério parte, seria errado tirar as conclusões ao nível da ética que ele tira, e este ponto foi reforçado por outros comentadores se bem que não de forma tão clara.

A comentadora Paula mostrou que aquilo que o Desidfério diz sobre a possibilidade de citar, longe de ser uma fraqueza de iniciativas como o projecto Gutenberg, acaba por ser uma vantagem adicional.

O comentador Mário Lino mostrou que o desidério contou a história de Gutenberg de forma algo enganadora, e que as conclusões mais naturais a tirar desta história seriam as opostas às sugeridas pelo texto do Deisdério. Acrescenta algo que também já escrevi noutra discussão sobre este tema: que o dinheiro que não é gasto numas actividades acaba por ser gasto noutras, pelo que não faz sentido alegar que dificultam o emprego. O comentador Júlio Reis reforçou este ponto, mostrando também que outras alegações do Desidério não colhiam (em particular referindo que existem livros impressos menos revistos que alguns disponibilizados pelo projecto Gutenberg).

O Luís, num tom menos cordato, ironizou mostrando que da validade do raciocínio do Desidério decorreria que a existência de Bibliotecas seria algo imoral.

Assim, muitas das críticas que fizeram ao texto do Desidério têm substância e validade. Parece-me que demonstram que a sua posição é insustentável, parecendo até pouco reflectida. Talvez o comentador Mário Lino tenha razão, e seja apenas uma provocação.

Rolando Almeida disse...

Caro João,
O João acha que as objecções são válidas. Acontece que a validade não é uma condição suficiente, apesar de necessária, para fazer das objecções boas objecções. É necessário também que elas sejam boas. Além do mais não me parece que as objecções feitas sejam boas por várias razões, mas indico uma principal: é que se está exigir provas para problemas que pura e simplesmente não se resolvem ou discutem com provas. Se tal fosse assim, o Desidério escreveria um texto descritivo,o que não é o caso. O texto do Desidério é argumentativo e não descritivo. E a maior parte das pessoas que aqui comentaram não fazem pálida ideia de como se argumenta racionalmente.

João Vasco disse...

Rolando,

Eu disse que as objecções eram válidas, mas não disse isso apenas.
De qualquer forma, uma objecção válida que parta de premissas partilhadas por todos deverá ter como conclusão que o argumento inicial não deve ser aceite.

As objecções que referi no meu texto não correspondiam a qualquer exigência de prova.

Na verdade, o Rolando, ao não responder a qualquer das objecções que referi, mas afirmar que os comentadores "não fazem pálida ideia de como se argumenta racionalmente" parece estar a cometer o erro de que acusa os outros - trocar a argumentação pelo insulto fácil.

Percebo que a impaciência o possa ter levado a cometer esse deslize, e convido-o por isso para explicar em que medida é que - por exemplo - a objecção do comentador João Pedro não é uma "boa objecção".

A mim parece-me que é.

João Silva disse...

Colegas comentadores, acho que o Desidério já nos respondeu a todos.
Basta a ler a sua mais recente crónica.

joão viegas disse...

Caros,

Ja vi que o Desidério escreveu um novo texto, no qual formula as suas ideias de forma ainda mais vaga (o que, a meu ver, equivale a admitir que não tem argumentos para responder às criticas aqui enunciadas).

Agora, mais do que a teoria de Desidério (que não leva a lado nenhum, facto de que alias ele proprio parece estar ciente) preocupa-me a forma como R. Almeida responde a João Vasco.

A meu ver, os comentarios de João Vasco foram expressos de forma educada, fundamentada e convincente.

O R. de Almeida importa-se de explicar o que é que ele quer dizer com o seu comentario das 13:57 ? Pode utilizar à vontade vocabulario técnico, mas gostaria de compreender em que é que as objecções que li (e que também me convenceram) são caracteristicos de pessoas que "não fazem pálida ideia de como se argumenta racionalmente"...

E' que se saber "argumentar racionalmente" consiste em aceitar por principio o que escreve o Desidério, então eu (e provavelmente outros leitores deste blogue) estamos gravemente equivocados...

Rolando Almeida disse...

Caro João,
O argumento do outro João não funciona porque pura e simplesmente as pessoas podem estar enganadas. Clamar pela população é ad populum. O que está em causa é que a maioria das pessoas preferem, obviamente, ter as coisas à borla e passar o resto do tempo a engordar a beber cerveja e ver a bola. O que o Desidério defende no seu texto é uma ideia muito simples: que todos gostamos de coisas grátis, mas que a nossa preferência pode não passar de uma psicofoda já que as pessoas não podem viver do ar. Se o trabalho não for pago não podemos dedicar todo o tempo ao trabalho e as coisas tem naturalmente a tendência para sair menos perfeitas. Aliás, essa é a lógica do que tem acontecido em alguns meios, como o jornalismo. As pessoas continuam a preferir jornais à borla, mas depois, com alguma formação, queixam-se de falta de qualidade. Os jornais à borla, exceptuando aqueles como o New York Times, não podem pagar a gente bem formada e competente, que vai procurar trabalho para outras bandas já que os jornais são oferecidos e não conseguem remunerar condignamente um profissional do jornalismo. Quando me refiro a pagar condignamente quero com isso dizer pagar para o jornalista poder ter uma vida, pagar a casa, a educação dos filhos, o jantar fora de fim de semana, etc.
E creio que o Desidério tem razão quando denuncia a hipócrisia que está por detrás disto tudo, principalmente num país como o nosso no qual as elites formadas e que aparecem nos blogs a reclamar qualidade disto e daquilo são na esmagadora maioria assalariados do estado, vivem dos dinheiros públicos, mas são incapazes de conceber que a produção de trabalho intelectual tenha de ser paga e bem paga.
Uma coisa mais: sim, parti para o insulto no meu anterior comentário e disse-o no comnetário. Pode lá ver o que escrevi, mas compreendo que não fixamos tudo o que lemos nas caixas de comentários.

João Viegas:
Argumentar racionalmente nem é aceitar pacificamente o que o Desidério dixit, nem atacar pacificamnete o que o Desidério dixit.
Há aqui um erro de exagero da minha parte, pois acabei a atingir quem menos queria atingir. Apesar de pensar que o seu argumento não funciona, é verdade que o João apresentou uma objecção. O meu comentário nervoso não foi decididamente para si. Somos assim, falíveis e muitas mais vezes que as desejáveis fazemos afirmações ad hoc. Quer um exemplo? Aqui vai:
"
Ja vi que o Desidério escreveu um novo texto, no qual formula as suas ideias de forma ainda mais vaga (o que, a meu ver, equivale a admitir que não tem argumentos para responder às criticas aqui enunciadas)."

Por que razão é esta frase por si escrita um mau exmeplo? Pensar nunca deixou de ser criativo. Ora, se formos criativos pensamos em mundos possíveis, condição sem a qual não podemos testar convenientemente argumentos. Em outros mundos possíveis o Desidério não respondeu porque:
- Estava a cagar na sanita
- Foi jantar
- Ficou sem internet
- Está de viagem
- Está com muito trabalho
- Etc

Com efeito o João afirma que não responde porque não tem argumentos. É perdoável! Somos falíveis. E nisso não existe problema algum. Existe sim problema quando:
- partimos para a discussão com a ideia fixa que o Desidério tem sempre razão
ou
- partimos para a discussão com a ideia fixa que o Desidério nunca tem razão.
Ideia fixa significa tomar uma premissa por verdade quando ainda não investigamos seriamente da sua verdade ou falsidade. E isto é o que mais há nos blogs.

João Vasco disse...

Caro Rolando,

Discordo que o argumento do João Pedro seja «ad populum» tendo em conta o contexto.

Se alguém diz «as pessoas acham que bater em indivíduos com sardas é bom, então bater em indivíduos com sardas é bom» estamos obviamente perante uma falácia.

Mas se alguém diz «as pessoas gostam que lhes dêem atenção, logo dar-lhes atenção é bom» essa falácia não terá sido cometida.

Isto porque não se está a estabelecer que a verdade é ditada pela maioria, mas sim a assumir implicitamente que agir de acordo as preferências das pessoas é moralmente correcto.
Assim, o argumento completo não é «as pessoas acham que dar-lhes atenção é bom, logo dar-lhes atenção é bom» mas sim:

«1- as pessoas gostam que lhes dêem atenção

2- se alguém faz uma acção que as pessoas gostam e não tem outras consequências negativas, essa aclção é boa

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3- dar atenção às pessoas é bom»

Como a segunda premissa é assumida mas não enunciada, este tipo de argumento tem a aparência de um «ad populum» sem o ser.

O mesmo se aplica ao argumento do João Pedro, pelo que a refutação que fez não colhe.

João Vasco disse...

«3- dar atenção às pessoas (quando não tem consequências negativas adicionais) é bom»

Um preciosismo, mas creio que o exemplo que dei está perceptível.

João Silva disse...

Como o João Vasco frisou (eu não tinha pensado nisto tudo no meu primeiro argumento) o meu argumento não é ad populum pois não diz que o que é bom ou verdadeiro é o que a maioria gosta.

Eu apenas digo que as actividades borlistas são boas porque as pessoas gostam delas.

As actividades borlistas:

-trazem mais felicidade do que infelicidade (as pessoas gostam delas);

-o saldo de felicidade/infelicidade é melhor do que o das actividades concorrentes.


Poder-se-à objectar dizendo que as pessoas não sabem realmente o que querem.
Isto é falso, porque as pessoas podem ter contacto com a boa cultura. Só que não querem.


Poder-se-à dizer que a cultura boa tem um valor intrínseco extra-felicidade que as pessoas não reconhecem mas deviam reconhecer.
A perspectiva de que a cultura boa tem um valor intrínseco extra-felicidade parece-me pouco defensável. Apesar de ser de um tipo muito diferente de prazer, a cultura (mesmo a boa)só serve para dar prazer e penso que nada mais.

João Vasco disse...

A fruição da cultura pode ter mais valias directas ao nível do prazer que proporciona, mas também mais valias indirectas.

Por exemplo, eleitores que coheçam razoavelmente bem como funciona o seu sistema político, como foi a história distante e recente, como funcionam outras culturas, como funciona a economia, a psicologia, a sociedade, poderão conduzir a que o governo seja mais eficaz.

Visto que apenas uma minoria pode ser especialista nestes assuntos todos, um conhecimento geral sobre estes e outros assuntos (cultura geral) pode ser melhor do que nenhum e conduzir - a este nível - a uma melhor governação, a uma melhor gestão dos bens comuns.


Por isso podemos dizer que existem externalidades positivas associadas à cultura.

Obviamente daqui não decorre que seja moralmente errado oferecer trabalho voluntário para a disponibilizar - bem pelo contrário!

João Silva disse...

Caros,
as actividades borlistas são o que está em disputa.
Assim, proponho que façamos aqui a nossa discussão para não andarmos com argumentos em cada canto.

Como o Rolando diz, a liberdade das pessoas é condicionada pelas suas limitações. Todos somos limitados e imperfeitos.

A crítica parece ser a de que as pessoas não sabem bem do que gostam.
O Rolando sugere que as pessoas não decidem em consciência, porque são demasiado limitadas. Por isso gostam de coisas frívolas.

Pergunto: Não seremos todos muito limitados? Assim, porque não sabemos tudo, nunca saberemos verdadeiramente o que queremos. Nem saberemos se queremos cultura dita erudita.
Será que por isso não devemos querer nada? Não! Devemos usar as nossas capacidades racionais o melhor que sabemos.

O Rolando diz que as pessoas não gostam de cultura erudita porque possivelmente são demasiado limitadas.

Não serão mesmo os eruditos limitados? Da mesma forma que as pessoas não eruditas não sabem o que querem, também as pessoas eruditas não o saberão pela mesma razão.

Assim, temos que fazer o melhor com o que temos.

Claro que defendo um Ensino bom para quebrar limitações.
Mas essa não é a questão aqui.
O argumento das limitações não é válido.

Se o Rolando defender que a maioria das pessoas não sabe realmente realmente o que quer por causa das suas limitações, terá que admitir que ninguém sabe realmente o que quer, não havendo por isso cultura boa, frívola ou má.

Vitor Guerreiro disse...

como é que uma coisa tão simples pode gerar tanta algaraviada, confusão e insultos?

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