terça-feira, 24 de julho de 2007
"EDUCAÇÃO REGIONAL"
Com o Regime de Autonomia das Escolas (Decreto-Lei n.° 115-A/98 de 4 de Maio) e a política de Gestão Flexível do Currículo do Ensino Básico (Despacho nº 9590/99 de 14 de Maio), desde que “respeitando os núcleos essenciais” do currículo, estabelecido a nível nacional, admite-se a possibilidade de cada escola incluir propostas educativas que incluam “componentes regionais e locais”, adequadas “às necessidades diferenciadas de cada contexto escolar”.
Esta ideia que constitui, no presente, um elemento central em diversos sistemas de ensino tem sido acolhida, desde há longa data, por governações de quadrantes vários, por ideólogos com filiações distintas e, naturalmente, por educadores. No nosso país, tem tido os seus momentos áureos e os seus defensores entusiastas, como o documenta o texto que a seguir reproduzo, no qual se destrinça um toque bem português.
Data, esse texto de 1945, e é apresentado num livro com o sugestivo título “Oiça, Senhora Professora: Ensaio Pedagógico”, publicado pela Coimbra Editora, sendo seu autor um professor da Escola do Magistério Primário chamado José Maria Gaspar.
“Educação Regional”
“As povoações, como os homens, têm uma vida um destino. Quem lembra hoje a pergaminhada cujos ínclitos varões talharam as raias à nossa Pátria pequenina, nos lances mais esforçados, nos lugares mais perigosos (…). E há, neste Portugal moço e velhinho, imensas dessas vilas que, olhadas à luz de uma história mais ou menos remota, se afiguram precitos em seus destinos e almas penadas em suas vidas Porque não aproveitar esses elementos reais para dar realização a um programa de educação nacional de ensino da ‘vida e para a vida’? Tal expressão que fez época e ainda hoje tem preconcebidos intérpretes, continua a ser o mais vasto e o melhor dos programas. Espera apenas um escol educativo capaz de compreender globalmente a vida e capaz, sobretudo, de ensiná-la integralmente, sem preconceitos nem atalhos, sem concepções fragmentárias ou utópicas generalizações.
Na vida actual de cada localidade, raramente deixa de encontrar-se compendiada a História da Nação. Por que não ensiná-la, em cada escola, a partir daí – do conhecido para o ignorado, o desconhecido do próximo para o remoto, o longínquo – como preconiza a mais realista (e a melhor pedagogia?). Um solar um pelourinho, uma ermida, um cruzeiro, um simples nicho ou velha estátua observados pelos alunos e explicados por hábil mestre, surgem na região como sínteses luminosas de uma época histórica nacional (…)
Nunca a geografia elementar devia ser aprendida de outra maneira. Rudimentos de botânica, zoologia, agricultura, agricultura ou mineralogia só podem aprender-se racionalmente (…) a partir dos dados regionais, fácil e prontamente analisáveis como base do abstracto indispensável (…). Uma escola activa havia de reincarnar essas idas realidades, dar-lhes alma e corpo e trazê-las à periferia das existências que buscam rumo.
As povoações, como os homens, têm vida e destino próprios. Foi a sua história que lhos imprimiu e fixou. Uma escola da vida e para a vida não pode, logicamente, alhear-se deles para continuá-los (…)” (páginas 117- 121).
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