segunda-feira, 30 de julho de 2007

PROBLEMAS COM CALCULADORAS


Faço a seguinte proposta para a utilização massiva de calculadoras no primeiro ano do ensino básico. Os professores poderão utilizar calculadoras mas apenas em problemas como o seguinte:

"Se já tens duas calculadoras e te derem duas novas calculadoras, com quantas calculadoras ficas?"

Os alunos poderão fazer o cálculo digitalmente, isto é, contando com os dedos. Usarão modelos antigos pois assim fica mais barato!

10 comentários:

Anónimo disse...

Viva,
O erro começa por se pensar que a calculadora ocupa para a matemática, o lugar do livro, isto é, lê-se o livro para se compreender o assunto ou tema. É que a calculadora no 1º ciclo acaba por ter um efeito bem mais grave que é aquele que se enuncia assim: mas se o saber está nos livros, para quê perder tempo com isso???
Abraço
Rolando Almeida

Anónimo disse...

Meus Caros Carlos Fiolhais e Rolando Almeida
Há muito tempo que estou convencido de que o óbvio é muito difícil de explicar a quem não o compreende. Por isso temo que a guerra das calculadoras seja uma guerra perdida.

António disse...

No sábado fui comprar o Público a um quiosque e paguei com uma nota de 5 euros. Para meu espanto, o fulano saca de uma calculadora e - garanto porque tive a indelicadeza de espreitar! - fez: 5 - 1,25 =...
Acredito que não tenha percebido por que razão recebi o troco com os olhos arregalados e a boca meio aberta.

Anónimo disse...

É impressão minha ou regra geral, quem faz estas propostas, nunca passou por uma sala de aula?
Fui professor e confesso que me angustiava que alunos do nono ano não conseguissem fazer uma conta de dividir de cabeça. Se lhes perguntasse quanto era nove a dividir por três, a reacção pavloviana era sacarem da máquina e fazerem a conta, o cálculo mental não existia.
Não podia estar mais de acordo consigo.

Anónimo disse...

Caro Daniel,
Pessoalmente não creio que os agentes educativos do ministério tenham arquitectado uma espécie de conspiração contra o povo reduzindo-o à ignorância. Penso é que nem tudo se deva passar pela decisão política. Como professor do ensino secundário não posso esperar que o Estado Todo Poderoso decida e eu assista serenamente a todas as decisões. Sou uma voz, tenho poder de comunicar e mostrar ao poder que certas decisões não são as mais acertadas, ainda que possam ser bem intencionadas. O discurso político faz aquilo que lhe compete: dizer que tudo está no melhor caminho. Não estou à espera que a Sra Ministra venha dizer que afinal as suas decisões foram um tremendo fracasso. nenhum político o faz, pelo menos no discurso público.Esse era o caminho directo para perder eleições. Nós, é que temos de o fazer, construindo um sistema mais justo. E temos poder de intervenção, se não nos acomodarmos à ideia muito portuguesa de dizer mal de tudo e de todos e nada fazer para melhorar. Ser treinador de bancada é estar à mercê da vontade una e exlusiva de um poder centralizador. Estou convencido que uma das nossas melhores intervenções é usar o espaço público, não para andar o tempo todo a cascar no poder (o poder é o que é, ponto final), mas para cada um de nós, usar o próprio poder que tem, discutindo as questões e problemas principais da nossa profissão e melhorar a cada dia que passa. E isto não se faz sem uma rica dose de esforço. mas a vida é mesmo isto... Apesar de me dirigir ao Daniel não estou em nada em desacordo com o seu comentário. Apenas estou a partilhar esta questão de princípio com o Daniel e com os outros leitores.
Abraço
Rolando Almeida

Anónimo disse...

Meu Caro Rolando Almeida
É essa sensação de quase impotência que me incomoda seriamente. Vivi a minha juventude sob Salazar e Caetano (este mais tolerável, sem dúvida), e já tinha cerca de dez anos de colaboração em jornais locais quando chegou a liberdade. Há dias, e porque mo pediram para uma exposição bio-bibliográfica, estive a reler alguns artigos, e eu mesmo me admirei do que disse com pouco mais de vinte anos sem nunca ter sofrido consequências de maior. Continuo a escrever sem receios, mesmo que tenha de afrontar o meu partido (o PS), como foi o caso do apoio à candidatura de Manuel Alegre, tanto mais que fui o primeiro a propor-lhe, há mais de dez anos, que se candidatasse a Presidente. Costumo dizer, e é verdade, que não devo favores ao partido nem este a mim, apesar de os vários cargos que ocupei terem sido sempre quase “impostos”.
Temos liberdade de imprensa, felizmente, mas esta serve de pouco mais do que para desabafar, pois raramente o poder instituído se deixa convencer de que não tem razão, e, na educação, o drama é grande, porque os professores quase nunca são ouvidos, dando a impressão de que, quando o são, estão já seleccionados pela previsível concordância com o Governo. E assim surgem uns programas e desaparecem outros sem que os que verdadeiramente sabem do assunto sejam ouvidos. É o caso da Filosofia, por exemplo. Ou da História. De tudo, afinal. Importa é a famigerada estatística. Que decerto subirá um pouco mais quanto à segunda língua estrangeira, porquanto o muito acessível Castelhano vai ganhado terreno ao Francês. Com isto ficarão felizes os nossos vizinhos da Península e Saramago. Nada tenho contra esta língua, tanto mais que estudei em Espanha Filosofia e Teologia. Mas não precisei de tirar curso nenhum para chegar até a dar explicações ao filho de uma família amiga, que estava no 8º ano. Em meia dúzia de dias qualquer português de inteligência média aprenderá a ler “El Quijote” no arcaico original. E que será feito dos que eram professores de Francês?
Alonguei-me. Muito mais haveria a dizer, mas facilmente se pressupõe o quê.
Um abraço.
Daniel

Anónimo disse...

Ao Daniel Sá,

Concordo contigo, mas, hoje, se tivesse que aconselhar alguém a escolher uma segunda língua, não hesitava: o castelhano. Mais, se me pedissem três, diria o alemão. Os tempos e as oportunidades assim o impõem.
Em relação às calculadoras: os alunos desabituam-se das contas. Quando necessitam pegam no telemóvel e fazem-nas. E depois? Vão para as escolas e realizá-las no papel "é seca". Afinal, o telemóvel é deles. Pensar, debruçar sobre as questões ou fazer associações lógicas tornam-se situações pouco correntes. O hábito não é adquirido. O processo escolar é uma "imposição".

Ctos,
João Moreira

Carlos Medina Ribeiro disse...

«Uma vizinha pede a outra 3 ovos emprestados. No dia seguinte, devolve-lhe apenas dois e, perante a "reclamação", responde:
- Ah,! enganei-me a contá-los!»

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Esta ingénua história em tempos fazia rir os putos que a escutavam.
Hoje, duvido que provocasse um sorriso, sequer!

Anónimo disse...

E será assim tão grave fazer as contas com uma máquina? Desde que compreendam a aritmética... sinceramente nunca achei muito importante saber dividir manualmente 3450540 por 3247. Até porque, na primária, quando o resto não era zero, ensinaram-me a apresentar o resultado e o resto, casas decimais é só mais tarde, por agora o resto até não fica mal. E a prova dos nove? Não é exactamente o mesmo que uma calculadora? Ou algum professor se dá (ou se dava, não sei se ainda se usa a prova dos nove) ao trabalho de explicar o fundamento matemático desta prova? Se o aluno sabe introduzir os valores na máquina, sabe retirar o resultado, sabe o que significou carregar nos botões, qual a desvantagem? É por ser mais rápido? Ou é puro saudosismo? É que eu conheço senhoras do estado novo que trabalham em retrosarias e que "sacam" da máquina para fazer contas que os caros comentadores fariam de cabeça. Ou será o medo ao digital? Deveríamos então regressar ao ábaco, que é uma máquina de calcular, mas rústica, fica bem na adega regional que se construiu no anexo lá de casa. O que é antigo tem muito valor!

Pedro L.

Anónimo disse...

Meu caro João Moreira, continuo a concordar contigo mas insisto na ideia de que a aprendizagem do Castelhano não ocupa muito tempo, pelo que mal contará no peso da carga horária. Claro que me refiro à compreensão essencial da língua, pois quanto à literatura, já nem os nossos clássicos se ensinam convenientemente...
A respeito do Pedro L. parece-me termos aqui um caso da escola entendida apenas como resposta ao que os alunos querem e como o querem, sem cuidar do que realmente é importante para o desenvolvimento mental. E é este que está sobretudo em causa, mais do que uma quantidade "examinável" de conhecimentos.

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