Faço a seguinte proposta para a utilização massiva de calculadoras no primeiro ano do ensino básico. Os professores poderão utilizar calculadoras mas apenas em problemas como o seguinte:
"Se já tens duas calculadoras e te derem duas novas calculadoras, com quantas calculadoras ficas?"
Os alunos poderão fazer o cálculo digitalmente, isto é, contando com os dedos. Usarão modelos antigos pois assim fica mais barato!
10 comentários:
Viva,
O erro começa por se pensar que a calculadora ocupa para a matemática, o lugar do livro, isto é, lê-se o livro para se compreender o assunto ou tema. É que a calculadora no 1º ciclo acaba por ter um efeito bem mais grave que é aquele que se enuncia assim: mas se o saber está nos livros, para quê perder tempo com isso???
Abraço
Rolando Almeida
Meus Caros Carlos Fiolhais e Rolando Almeida
Há muito tempo que estou convencido de que o óbvio é muito difícil de explicar a quem não o compreende. Por isso temo que a guerra das calculadoras seja uma guerra perdida.
No sábado fui comprar o Público a um quiosque e paguei com uma nota de 5 euros. Para meu espanto, o fulano saca de uma calculadora e - garanto porque tive a indelicadeza de espreitar! - fez: 5 - 1,25 =...
Acredito que não tenha percebido por que razão recebi o troco com os olhos arregalados e a boca meio aberta.
É impressão minha ou regra geral, quem faz estas propostas, nunca passou por uma sala de aula?
Fui professor e confesso que me angustiava que alunos do nono ano não conseguissem fazer uma conta de dividir de cabeça. Se lhes perguntasse quanto era nove a dividir por três, a reacção pavloviana era sacarem da máquina e fazerem a conta, o cálculo mental não existia.
Não podia estar mais de acordo consigo.
Caro Daniel,
Pessoalmente não creio que os agentes educativos do ministério tenham arquitectado uma espécie de conspiração contra o povo reduzindo-o à ignorância. Penso é que nem tudo se deva passar pela decisão política. Como professor do ensino secundário não posso esperar que o Estado Todo Poderoso decida e eu assista serenamente a todas as decisões. Sou uma voz, tenho poder de comunicar e mostrar ao poder que certas decisões não são as mais acertadas, ainda que possam ser bem intencionadas. O discurso político faz aquilo que lhe compete: dizer que tudo está no melhor caminho. Não estou à espera que a Sra Ministra venha dizer que afinal as suas decisões foram um tremendo fracasso. nenhum político o faz, pelo menos no discurso público.Esse era o caminho directo para perder eleições. Nós, é que temos de o fazer, construindo um sistema mais justo. E temos poder de intervenção, se não nos acomodarmos à ideia muito portuguesa de dizer mal de tudo e de todos e nada fazer para melhorar. Ser treinador de bancada é estar à mercê da vontade una e exlusiva de um poder centralizador. Estou convencido que uma das nossas melhores intervenções é usar o espaço público, não para andar o tempo todo a cascar no poder (o poder é o que é, ponto final), mas para cada um de nós, usar o próprio poder que tem, discutindo as questões e problemas principais da nossa profissão e melhorar a cada dia que passa. E isto não se faz sem uma rica dose de esforço. mas a vida é mesmo isto... Apesar de me dirigir ao Daniel não estou em nada em desacordo com o seu comentário. Apenas estou a partilhar esta questão de princípio com o Daniel e com os outros leitores.
Abraço
Rolando Almeida
Meu Caro Rolando Almeida
É essa sensação de quase impotência que me incomoda seriamente. Vivi a minha juventude sob Salazar e Caetano (este mais tolerável, sem dúvida), e já tinha cerca de dez anos de colaboração em jornais locais quando chegou a liberdade. Há dias, e porque mo pediram para uma exposição bio-bibliográfica, estive a reler alguns artigos, e eu mesmo me admirei do que disse com pouco mais de vinte anos sem nunca ter sofrido consequências de maior. Continuo a escrever sem receios, mesmo que tenha de afrontar o meu partido (o PS), como foi o caso do apoio à candidatura de Manuel Alegre, tanto mais que fui o primeiro a propor-lhe, há mais de dez anos, que se candidatasse a Presidente. Costumo dizer, e é verdade, que não devo favores ao partido nem este a mim, apesar de os vários cargos que ocupei terem sido sempre quase “impostos”.
Temos liberdade de imprensa, felizmente, mas esta serve de pouco mais do que para desabafar, pois raramente o poder instituído se deixa convencer de que não tem razão, e, na educação, o drama é grande, porque os professores quase nunca são ouvidos, dando a impressão de que, quando o são, estão já seleccionados pela previsível concordância com o Governo. E assim surgem uns programas e desaparecem outros sem que os que verdadeiramente sabem do assunto sejam ouvidos. É o caso da Filosofia, por exemplo. Ou da História. De tudo, afinal. Importa é a famigerada estatística. Que decerto subirá um pouco mais quanto à segunda língua estrangeira, porquanto o muito acessível Castelhano vai ganhado terreno ao Francês. Com isto ficarão felizes os nossos vizinhos da Península e Saramago. Nada tenho contra esta língua, tanto mais que estudei em Espanha Filosofia e Teologia. Mas não precisei de tirar curso nenhum para chegar até a dar explicações ao filho de uma família amiga, que estava no 8º ano. Em meia dúzia de dias qualquer português de inteligência média aprenderá a ler “El Quijote” no arcaico original. E que será feito dos que eram professores de Francês?
Alonguei-me. Muito mais haveria a dizer, mas facilmente se pressupõe o quê.
Um abraço.
Daniel
Ao Daniel Sá,
Concordo contigo, mas, hoje, se tivesse que aconselhar alguém a escolher uma segunda língua, não hesitava: o castelhano. Mais, se me pedissem três, diria o alemão. Os tempos e as oportunidades assim o impõem.
Em relação às calculadoras: os alunos desabituam-se das contas. Quando necessitam pegam no telemóvel e fazem-nas. E depois? Vão para as escolas e realizá-las no papel "é seca". Afinal, o telemóvel é deles. Pensar, debruçar sobre as questões ou fazer associações lógicas tornam-se situações pouco correntes. O hábito não é adquirido. O processo escolar é uma "imposição".
Ctos,
João Moreira
«Uma vizinha pede a outra 3 ovos emprestados. No dia seguinte, devolve-lhe apenas dois e, perante a "reclamação", responde:
- Ah,! enganei-me a contá-los!»
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Esta ingénua história em tempos fazia rir os putos que a escutavam.
Hoje, duvido que provocasse um sorriso, sequer!
E será assim tão grave fazer as contas com uma máquina? Desde que compreendam a aritmética... sinceramente nunca achei muito importante saber dividir manualmente 3450540 por 3247. Até porque, na primária, quando o resto não era zero, ensinaram-me a apresentar o resultado e o resto, casas decimais é só mais tarde, por agora o resto até não fica mal. E a prova dos nove? Não é exactamente o mesmo que uma calculadora? Ou algum professor se dá (ou se dava, não sei se ainda se usa a prova dos nove) ao trabalho de explicar o fundamento matemático desta prova? Se o aluno sabe introduzir os valores na máquina, sabe retirar o resultado, sabe o que significou carregar nos botões, qual a desvantagem? É por ser mais rápido? Ou é puro saudosismo? É que eu conheço senhoras do estado novo que trabalham em retrosarias e que "sacam" da máquina para fazer contas que os caros comentadores fariam de cabeça. Ou será o medo ao digital? Deveríamos então regressar ao ábaco, que é uma máquina de calcular, mas rústica, fica bem na adega regional que se construiu no anexo lá de casa. O que é antigo tem muito valor!
Pedro L.
Meu caro João Moreira, continuo a concordar contigo mas insisto na ideia de que a aprendizagem do Castelhano não ocupa muito tempo, pelo que mal contará no peso da carga horária. Claro que me refiro à compreensão essencial da língua, pois quanto à literatura, já nem os nossos clássicos se ensinam convenientemente...
A respeito do Pedro L. parece-me termos aqui um caso da escola entendida apenas como resposta ao que os alunos querem e como o querem, sem cuidar do que realmente é importante para o desenvolvimento mental. E é este que está sobretudo em causa, mais do que uma quantidade "examinável" de conhecimentos.
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