terça-feira, 31 de julho de 2007
CONTINUA A HAVER TESOUROS NO QUIOSQUE
A última revista “Focus” (Nº 406 de 26/7/2007) tem como tema de capa “Feitiçaria em Portugal”. Num trabalho de 10 páginas ficamos a saber que a “magia está na moda”.
Na peça “O Exorcista de Barcelos” ficamos também a saber que Mestre Alves é uma “estrela da feitiçaria em Portugal” (terá esconjurado nada mais nada menos do que “112 espíritos malignos de vários tipos e feitios”). Como são as consultas? 0 próprio diz que começa "a conversar com a pessoa com o crucifixo na mão, vou brincando com o crucifico [sic] e fazendo perguntas (...). Se o rosto ou a voz da pessoa se modifica, se muda a personalidade, então eu percebo que há um problema de campo espiritual, que há um espírito a atormentá-la”. Nesse caso lá faz mais um exorcismo: além do crucifixo, precisa de água benta, uma estola “como a que os padres usam” e da Bíblia. A certa altura, o exorcista “mete o crucifixo no peito” do exorcizado (ai, espero que não doa muito!). Este terá ainda de tomar banhos de imersão com água e sal durante sete dias seguidos e, no final, exorcista e exorcizado vão ao “cemitério onde está sepultada a pessoa cujo espírito atormentou o seu cliente e juntos pedem para que fique em paz”. Quanto custa a aldrabice? Mil a mil quinhentos erros pois o exorcista “tem as suas despesas e acompanha sempre a pessoa”. Não diz, mas os sais de banho e os transportes para o cemitério do espírito devem estar incluídos no preço.
Há também uma senhora, conhecida por Simara, que “em pequena julgava que a avó e a bisavó eram fadas”. Agora é ela que se julga fada e faz curas com cristais. Uma consulta custa 50 euros, a que acresce o preço dos ditos cristais, que varia cada um entre cinco e dez euros. A “Focus” não diz, mas Simara (na foto, em cima) chama-se Suzete Blasco, é espanhola e já foi jornalista e cançonetista antes de se tornar cristaloterapeuta (não sei se esta profissão está registada) e taróloga (idem). Deve ser famosa pois foi ao "Big Brother dos famosos". Ela disse à revista que “sente que muitas vezes as pessoas não têm quem as ouça”. Julgo que não se poderá queixar do mesmo. Tem muita gente que a ouve e, ainda melhor, paga para a ouvir.
O trabalho parece muito completo. Até tem depoimentos do divulgador Padre Fontes e do estudioso Moisés Espírito Santo, um professor de Sociologia com um nome curiosíssimo, que costumam aparecer, juntos ou separados (normalmente juntos), sempre que se trata de feitiçaria. Como bónus, aparecem três “magias de protecção”, a última das quais é o “sortilégio das nove velas pretas”, no qual se pede “pelo poder da cruz, pelo poder da escuridão, pelo poder do fogo e do ar que se derretam as más palavras, que se convertam em nada, que assim seja e que assim se faça.”
As jornalistas que fizeram o trabalho (esta expressão não tem nada a ver com os “trabalhos” que o exorcista "faz") dizem, a abrir, que entre “mistério” e “aldrabice” cabe ao leitor o julgamento. Será que elas próprias não conseguem julgar?
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17 comentários:
Até a Florbela Queiroz anda por aí a atirar búzios
Ai! Carlos, Carlos! Costumo gostar muito daquilo que escreve (e V. até escreve muito bem!). Mas, desta vez desiludui-me.
Só por distração sua posso aceitar aquele "... terá expulso ...". Eu sei que V. sabe que com o verbo ter se usa o Partícipio regular. Eu sei que V. se não tivesse escrito a correr escreveria "... terá expulsado ...". Mas, enfim... Isso é perdoável. (Assim espero que V. vá perdoando estas coisitas aos seus alunos.)
Agora, o que mais me tocou foi a maneira como quis tratar o Moisés Espírito Santo.
Sabe que ele é seu colega, claro que sabe. É um Professor Catedrático da Universidade Nova. Tem trabalhos que me parecem de valor e foi um iniciador da sociologia da religião no nosso país. Cometeu alguns erros de apreciação e de análise em algumas das suas obras. Leite de Vasconcelos (na mesma área) cometeu muitos mais. Mas, quem lhes vai atirar a primeira pedra? Eu não serei!
Quanto ao seu nome ser curiosíssimo, só se for para si. Olhe que o meu e o seu também o são. Porque é que eu não sou Dali ou Dacolá e V. não é Funchais?
Um abraço, continue a escrever que eu continuarei a lê-lo com prazer, mas, claro, comentarei quando não concordar consigo, está bem? Mais um abraço.
Maria Daqui.
Cara Maria Daqui
Obrigado pelo reparo. Já mudei de "expulso" para "esconjurado", um termo mais apropriado.
Quanto ao Prof. Moisés Espírito Santo, receio que me tenha lido mal. Sou um admirador dele desde há muitos anos, quando li "A religião popular em Portugal". Devo ter quase todos os seus livros. Se reler o "post", verificará que não lancei nenhuma "pedra". Quanto ao nome ser bastante curioso, ainda mais que o seu e o meu, trata-se de um juízo individual, mas penso que há outras pessoas que comungam da minha opinião. A palavra curioso não tem nada de depreciativo, antes pelo contrário.
Carlos Fiolhais
Que a magia está na moda comprova-o blog De Rerum Natura ao colocar a "pseudociência" no top 10+ da coluna dos temas.
e o karamba que é licenciado, mestre e doutorado nessas cenas de expulsar demónios, atrair sorte etc e tal?
Há muito dinheiro à solta para entregar a esses intrujões!!!
Já agora, qual será o indice pelo qual "descontam" para a Segurança Social?
Então Jónatas? Não dizes nada? :)
E as tuas magias e milagres, hein?
Desculpem-me, mas não resisto a um reparo. Se está na hora de avaliar a sintaxe, e como parece que a Maria Daqui não vai na cantiga do mi(ni)stério que não (des)conta os erros nas provas de Português (e nisso dou razão à comentadora), faço notar que, em rigor, há uma falha na frase que começa "Quanto ao seu nome ser curiosíssimo". Tente descobri-lo, por favor. Bem como o Carlos Fiolhais, que o repetiu. (Não tenho prémios para dar. O prémio é acertar. O que não é difícil, aliás. Basta ler com atenção.)
Volto a pedir desculpa pela brincadeira (que é a sério), e confesso que prefiro a primeira interpretação dada à presença frequente na TV do Moisés Espírito Santo, que me parece muito redutor quando analisa o fenómeno religioso. Mas isso daria pano para muitas mangas... ou estolas.
se uma tarolesa é taróloga, quem lá vai é tarouco?
Não.
É taralhoco
Gostei do artigo mas lamento a alusão pretensamente irónica ao Prof. Moisés Espírito Santo, que merece todo o respeito, como pessoa e como cientista social.
Mas a magia sempre esteve na moda... e está cada vez mais gorda! :)
Já quanto aos magos citados, não sei se são doutorados... ou ao menos diplomados em institutos afamados!
Eu próprio, como é sabido, sou um leprechaun bem querido... embora um tanto atrevido lá co'as fadas no sentido... ;)
Ora enfim, é natural... que a magia sem igual é o desejo sensual ou o amor espiritual! :)
E tudo a Vida abençoa...
Rui leprechaun
(...que essa magia é bem boa!!! :))
Caríssimo Carlos Fiohais:
Fico-lhe muito obrigada pela resposta. Eu, também, li com muito agrado (e tenho) os livros que ele publicou. Pode crer que nunca pensei que atirava pedras fosse a quem fosse. Bem haja, por responder.
Carissimo Daniel de Sá:
Eu não sou a pessoa que mais bem sabe utilizar a nossa língua, mas vou-me esforçando por isso. Não sei o que estará menos correcto na frase:"Quanto ao seu nome ser curiosíssimo, só se for para si"
Pelos vistos, cometi um erro (mas, o CF também!). Fui ver. Nas Gramáticas não encontrei, nos Dicionários encontrei: " quanto a : relativamente a; no que diz respeito a." Seria nesta utilização de "quanto a" que estaria o erro?
Por favor, já que não consigo ver, tire-me da dúvida e diga-me onde falhei.
Um abraço e um bem-haja da
Maria Daqui
Caríssima Maria Daqui
Peço desculpa pela brincadeira - mas que era a sério no que se refere ao erro em rigr considerado -, e só o fiz porque percebi que é pessoa para aguentar alguma ironia, por isso tratou daquele modo o nosso amigo Fiolhais. Pois aqui vai a explicação. Repare na sua frase:
"Quanto ao seu nome ser curiosíssimo". À primeira vista talvez não se dê por nada, mas deveria ser: "Quanto a o seu nome ser curiosíssimo", situação equivalente por exemplo a "Pelo facto de o seu nome ser curiosíssimo". E isto porque a preposição "a" introduz um novo elemento sintáctico a que pertence o artigo "o". Sei que soa mal, talvez, mas há uma solução, pela qual até se percebe a necessidade de não aglutinar a preposição e o artigo. Ora veja "Quanto a ser curiosíssimo o seu nome". Viu como preposição e artigo tiveram de ficar separados? Alterando a ordem, mantém-se, claro, a situação.
Obrigado pela atenção. E desculpe, uma vez mais lhe peço.
Vai o meu abraço.
Daniel
Sou grande apreciador da obra de Moisés Espírito Santo (MES), de quem tenho (e li) quase todos os livros. Mas a verdade é que as suas intervenções na imprensa (porque truncadas?) são passíveis de interpretações erradas.
Quer ler os livros de MES verá que ele não é um divulgador e muito menos um «iniciado» de ideias religiosas e quejandos, mas um estudioso da religiosidade popular: não lhe interessa a «verdade» ou a «mentira» da fé, mas o «como» e o «porquê» de as pessoas acreditarem.
Quanto ao nome, é daqueles que, se surgisse numa obra de ficção, todos diriam que o autor exagerou ao escolher um nome tão obviamente motivado... :) Mais uma prova de que muitas vezes a realidade ultrapassa a ficção.
(Da minha colecção — autêntica! — de nomes motivados: Vítor Prazeres, sexólogo; António Garrote, enfermeiro; Mário Chumbinho, dentista; Joaquim Escola, prof. Ciências da Educação...)
Das poucas vezes em que algo tão trivial provoca o riso de maneira tão "desinteressada", como o nome e as respectivas profissões referidos.
A mim ,resta-me saber o que é "Fiolhais" ( só conheço uma referência ao sobrenome referido ).
É a segunda vez que venho a parar a este Blog.
Da primeira, não me recordo do porquê, mas ficou desde logo nos meus favoritos (...)
Da segunda, foi porque estou para ir a onde ando para ir há muito tempo(...),
E gosto de utilizar o telescópio e o microscópio quase em tudo, sobre a natureza das coisas... até já
Na realidade chama-se Moisés do Espírito Santo Bagagem...
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