quinta-feira, 5 de julho de 2007

Pontualidade ou a falta dela


Post sobre a pontualidade (ou a falta dela) de Augusto Küttner de Magalhães, que tem colaborado com textos de opinião em jornais como o "Público" e o "Expresso":


Um dos problemas que ainda afecta a maioria dos nossos concidadãos é a falta de pontualidade. Há o hábito, por demais enraizado, de que para as horas marcadas para um compromisso, seja de que ordem for, exista implicitamente uma folga temporal, que pode chegar a uma hora e até mais. Se, em algumas circunstâncias, tudo se realiza à hora estabelecida, então quase há um espanto generalizado, porque algo de extraordinário se passou (quando a situação normal deveria ser exactamente a inversa!).


Convenhamos que este péssimo hábito da falta de pontualidade tem que ser rapidamente banido do nosso comportamento, pois traduz uma enorme falta de respeito pelos nossos semelhantes - convém aqui fazer uma ressalva, pois existe muita gente que é cumpridora- e nos diferencia negativamente dos países desenvolvidos, com os quais temos que competir.


Evidentemente que a pontualidade devia estar implícita nos comportamentos de todos nós, como cidadãos civilizados e desenvolvidos, não só nas nossas relações profissionais, mas em todas as nossas relações interpessoais, em todos os compromissos que assumimos. De facto, a regra da pontualidade é de concretização tão fácil que é de pasmar que ela não seja ainda cumprida universalmente, aceitando-se um atraso apenas numa situação de força maior, num imprevisto de última hora.


Cumprir a horas todo e qualquer compromisso é apenas um acto de vontade individual e colectiva. Passando a ser um lugar comum, quem não fosse pontual passaria a sentir-se mal. Essa seria uma penalização bastante simples que dispensaria outras. Aqueles de nós que prezamos a pontualidade não podemos continuar a tolerar que alguém não se preocupe minimamente com as horas.


Ser pontual é uma atitude que não custa um tostão, o que não é de somenos num tempo em que o economicismo é uma palavra de ordem. O que custa são os atrasos... Até por isso espero que rapidamente a pontualidade passe a ser comum no comportamento dos portugueses. Esta é uma das mudanças mais necessárias e uma das que teria efeitos mais positivos para todos nós!


Augusto Küttner de Magalhães

14 comentários:

Anónimo disse...

Em Portugal, ser pontual implica uma autêntica perda de tempo. é que quem é pontual perde horas à espera dos outros que pertencem à maioria que não o são. Um indivíduo pontual em Portugal sofre. E isto acontece nas escolas: ao toque de entrada na escola, tonto é aquele que se levanta da mesa para ir trabalhar. E ainda funcionamos com totelrâncias de ponto, segundos toques, etc... e tal.... se todos fossemos mais pontuais, não haveria mais espaço para a tolerância????
Rolando A

Anónimo disse...

E o famoso quarto de hora académico?
Onde deveria surgir a exigência, surge a contemporização.
P.V.

Anónimo disse...

H� pa�ses que t�m a pontualidade embutida na sua cultura. � um soft kill mais importante, at� do que uma forma�o muito especializada. Mas n�o nos esque�amos de que onde quase todos se orientam pela pontualidade o pr�prio contexto ajuda a que cada um consiga ser pontual duma forma relaxada, sem esfor�o, como que duma forma natural. Se calhar n�s, portugueses, somos contemplativos porque s� conseguimos alcan�ar as coisas � custa de muito esfor�o, muitas vezes ingl�rio e contra-natura. E ent�o baldamo-nos para curtir (e contemplar po�tica ou melancolicamente) a nossa fossa. O discurso da exig�ncia � o que se ouve mais vezes por c� precisamente porque valorizamos culturalmente o sacrif�cio. A pontualidade, para quem nasce numa cultura onde ela � o default, � uma coisa leve, mas em Portugal acaba por ser constru�da como um fardo pesado que algu�m carrega, ou at� que imp�e aos outros, de forma tantas vezes autorit�ria e ostensiva. Claro que valorizamos isso! E claro que nos adaptamos a isso, se preciso for. Mas cientes de que somos inapelavemente pecadores.
Adelaide Chichorro Ferreira

Pedro Brandão disse...

Concordo em absoluto!

É uma vergonha a foram como se deixa os outros à espera...
Os cumpridores devem estabelecer o padrão, e não compactuarem docilmente com a falta de respeito dos demais.
É este tipo de atitude que permite a bazófia de quem não paga impostos e depois se queixa de que o País vai mal, de quem desculpa uma cábula num teste e depois se queixa que os alunos não respeitam os professores, de quem anda constantemente em excesso de velocidade e critica os políticos por abalroarem a lei, e outras que se possam lembrar...
É uma questão de respeito.
É uma questão de desenvolvimento...

Anónimo disse...

Mas, existem actividades onde nós os lusitanos somos muito pontuais, como por exemplo participação em desportos tipo jogos de futebol.

Quando se combina um jogo a uma determinada hora, toda a gente é pontual! Se alguem do grupo chega atrasado é mesmo "marginalizado", e posto fora do grupo.

A motivação é muito importante...

Vitor Guerreiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitor Guerreiro disse...
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Anónimo disse...

Para além do respeito ou falta dele em matéria de pontualidade, o que dizer do respeito ou falta dele em matéria de resposta aos emails? quantas vezes não temos de enviar inúmeras vezes o mesmo email (com assunto de alta importância) a um ou a uns mesmos destinatários, sendo que esse assunto de sobremaneira relevante e útil (excluo exempls), recebe em troca uma resposta bastante tardia, por vezes já desactualizada. É isto compreensível e aceitável? Esta forma de comunicação (por emails) que parecia tão fácil, rápida e barata, por vezes torna-se morosa, burocrática e pesarosa!
Será que aqui também há falta de pontualidade e que tal atitude se está a institucionalizar? Claro que há excepções.

M Elvira Callapez

Anónimo disse...

Concordo em absoluto, à excepção da crítica aos alemães, que me parece ter muito de cliché. :-) A sociedade deles é bem mais relaxada do que a nossa actual, em muitas coisas! Mas também cortam bem mais a direito, sem dúvida, noutras. Só que essa coisa de parar um pouco para contemplar a natureza, de vez em quando (mesmo pitosga...), isso eu adquiri lá, não cá! Ah, e gostei dessa referência à pontualidade portuguesa quando se trata de futebol: eu acrescentaria, talvez, as telenovelas... E só cá é que (dantes) se fazia bicha de véspera para as inscrições nas turmas, na universidade. Nos bons velhos tempos!
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

É de notar como nunca surge uma alma que assumidamente seja concordante com os atrasos. Todos sabem da falta de consideração e de organização que isso acarreta, entre outras, mas em matéria de concretizar é o que se vê...

Notei que não há comentários dos defensores dos atrasos aqui. Longe de o ser, arrisco-me a perguntar: Estarão esse comentários/comentadores atrasados?

Marcelo Melo
[www.3vial.blogspot.com]

Anónimo disse...

Este Post já veio atrasado!

MiguelT disse...

A questão da falta de pontualidade, como muitas outras questões "civilizacionais" é tão só uma questão de "massa crítica". Parafraseando o sarcástico comentador anterior, há alguns "prussianos" em Portugal, só que o número, ou mais exactamente, a proporção desses "prussianos", não é suficiente para que Portugal seja aquilo que manifestamente não é: a Alemanha. Esta é uma questão complexa, porquanto este argumento poderia ser utilizado para defender a fundamental incapacidade dos povos de mudarem (e isso vai contra o livre arbítrio). Mas também é verdade que as leis que comandam a evolução de massas gigantescas de pessoas, como são os povos, parecem mais ou menos obscuras, e legitimam, em certa medida, a visão de que os povos são essencialmente imutáveis. Sob esta perspectiva, parece-me que pode haver alguma ingenuidade em "exortações" à pontualidade, ou a outras virtudes ditas civilizadas. Como se vê pelas reacções a este post, a vontade de uma fracção apreciável da população portuguesa é não mudar, e manter os hábitos de que alguns, só por convicções incutidas à martelada e não por um sentir profundo, se envergonham. É possível que as características do povo português (e dos outros povos) sejam em grande parte genéticas, pelo que só uma alteração da composição racial da população (importação de "prussianos", por exemplo) as fariam mudar. Como, na época em que vivemos, isso me parece bem menos provável do que a importação de portugueses pela Alemanha, ou a importação de cidadãos extra-europeus por Portugal ou pela Alemanha, acho que temos que nos contentar com a nossa sorte.
No fundo está tudo certo: sendo os "prussianos" uma minoria em Portugal, é perfeitamente justo que os seus pontos-de-vista não comandem a sociedade. Mesmo que eles se vejam (porventura justamente) como uma elite iluminada.

MiguelT disse...

Há ainda um outro tema que gostaria de abordar. Num comentário anterior, houve alguém que confessou "detestar ser 'prussiano'", presumivelmente devido às conotações sinistras de inflexibilidade, ligação ao nazismo, etc., que o termo sugere. O comentador que manifesta esta opinião está perfeitamente no seu direito. Contudo, é preciso que não se tenha a ingenuidade de associar as virtudes dos "prussianos" a aspectos necessariamente negativos. Essa é uma visão ingénua de quem tenta legitimar a estreiteza de horizontes pelo "perigo" que acarretaria o seu alargamento (uma visão tristemente bastante familiar em Portugal). E a verdade é esta: as pessoas, ou os povos, que são capazes do pior, são também aqueles que são capazes do melhor ("cão que ladra não morde"). Assim, os "prussianos", com o seu sentido de honra e obediência à autoridade, são capazes de construir a melhor ciência, a melhor filosofia, e os melhores sistemas de saúde e segurança social do mundo. Só que estas obras requerem, efectivamente, para o seu sucesso alguns actos de abnegação, respeito pela autoridade, honestidade e não-anarquismo, que porventura não agradariam aos críticos dos "prussianos". A tendência para a desconfiança sistemática e para a infracção das regras (que existe em certa medida na nossa cultura) compromete qualquer esforço construtivo de maior monta.
O que está subjacente a esta aversão pelos "prussianos" é a ideia (comprovada pela História) de que tal como estes fazem uso da diligência no seu sistema de segurança social, são também (e foram) capazes de, com grande eficácia, praticar o genocídio em massa.
É preciso estar consciente de que tanto um como o outro acto (um deles admirável e o outro hediondo) decorrem das mesmas virtudes culturais, que não são nem boas nem más, em essência. Ou melhor, intuimos que são boas, porque permitem uma maior variedade de escolhas. Se pretendermos uma vida de mediania, e um lugar imtermédio na escala civilizacional tal como o Ocidente a entende, devemos porventura conservar as nossas virtudes e defeitos. O que nos manterá, como povo, na moderada "infantilização" de que hipocritamente nos queixamos.
Se pretendermos ascender aos patamares mais elevados, embora arriscando descer às maiores profundezas, então fará sentido que tentemos imitar os "prussianos". Se é que isso é geneticamente possível, o que eu duvido...

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com o post sobretudo na ideia da injustiça de roubar tempo de vida dos nossos semelhantes.

O esforço para todos nós melhorarmos neste aspecto e colocarmos a pontualidade como virtude imediatamente visível terá sempre retorno.

Encaro sempre mais esta questão, como solidariedade e respeito para com o nosso semelhante do que como autoritarismo ou qualquer tipo de restrição das liberdades individuais.
Artur Figueiredo

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