Minha última crónica do "Público":
O New York Times de 29 de Junho último relatava aos americanos um facto pouco conhecido deles: “Uma versão da Internet foi inventada em Portugal há 500 anos por uma mão cheia de marinheiros com nomes como Pedro, Vasco e Bartolomeu. A tecnologia era grosseira. As ligações eram instáveis. O tempo de resposta era muito lento (uma mensagem enviada nessa rede podia demorar um ano a chegar). Mas eles construíram-na. Estavam sedentos de ter acesso ao mundo”.
Esta é sem dúvida, mesmo para nós, uma visão original dos Descobrimentos, que vem a propósito da actual exposição Encompassing the globe: Portugal and the world in the 16th and 17th centuries em Washington. Muito antes dos cabos ópticos, foi, de facto, a caravela que permitiu assegurar a primeira onda da globalização.
Com o final dos Descobrimentos a liderança da tecnologia passou para outros. Nós deixámos de fazer as coisas bem (o poeta Carlos Queiroz escreveu: “Só fazemos bem / Torres de Belém”). E o protagonismo nas comunicações à distância foi tomado por quem as fazia melhor...
Se hoje houvesse uma escolha das sete maravilhas da tecnologia, teríamos de incluir, para além da Internet, o telefone (a rede global moderna resulta aliás do “casamento” do computador com o telefone). Curiosamente, na origem do telefone está – pouca gente sabe - um notável contributo de um luso-descendente...
O New York Times de 29 de Junho último relatava aos americanos um facto pouco conhecido deles: “Uma versão da Internet foi inventada em Portugal há 500 anos por uma mão cheia de marinheiros com nomes como Pedro, Vasco e Bartolomeu. A tecnologia era grosseira. As ligações eram instáveis. O tempo de resposta era muito lento (uma mensagem enviada nessa rede podia demorar um ano a chegar). Mas eles construíram-na. Estavam sedentos de ter acesso ao mundo”.
Esta é sem dúvida, mesmo para nós, uma visão original dos Descobrimentos, que vem a propósito da actual exposição Encompassing the globe: Portugal and the world in the 16th and 17th centuries em Washington. Muito antes dos cabos ópticos, foi, de facto, a caravela que permitiu assegurar a primeira onda da globalização.
Com o final dos Descobrimentos a liderança da tecnologia passou para outros. Nós deixámos de fazer as coisas bem (o poeta Carlos Queiroz escreveu: “Só fazemos bem / Torres de Belém”). E o protagonismo nas comunicações à distância foi tomado por quem as fazia melhor...
Se hoje houvesse uma escolha das sete maravilhas da tecnologia, teríamos de incluir, para além da Internet, o telefone (a rede global moderna resulta aliás do “casamento” do computador com o telefone). Curiosamente, na origem do telefone está – pouca gente sabe - um notável contributo de um luso-descendente...
A primazia de Bell no telefone já não é hoje reconhecida. Um obscuro italiano, Antonio Meucci, entregou a patente primeiro. Todavia, em 1860, 16 anos antes da patente de Bell, um luso-alemão construiu, sem o registar, o primeiro telefone que funcionava (a primeira frase dita no aparelho foi sobre nutrição animal: “O cavalo não come salada de pepino”). Chamava-se Johann Philipp Reis (1834-1874) e o seu aparelho ficou conhecido por “telefone de Reis”. Reis era neto de judeus sefarditas da Beira Baixa que emigraram para a Alemanha no século XVIII. Órfão ainda em criança, foi criado por uma avó portuguesa que era bastante surda. E o telefone proveio da ideia de uma “orelha artificial” para a avó. O primeiro modelo de telefone – o neologismo deve-se a Reis - assentou em tecnologia luso-alemã: o microfone era uma rolha de cortiça oca coberta por uma pele de salsicha! Reis foi vencido pelo seu auto-didactismo (os seus artigos nas revistas científicas foram recusados), pelo antisemitismo (teve de abandonar a Sociedade dos Físicos de Frankfurt) e, finalmente e o pior, aos 40 anos pela tuberculose (a doença da época, que vitimou tantos génios).
Na lista das sete maravilhas tecnológicas a televisão tem decerto também um lugar. Esta – pensará o leitor – terá passado ao lado de qualquer intervenção nacional. Pois engana-se se pensar isso... Os historiadores da televisão reconhecem hoje o contributo original de Adriano de Paiva (1847-1907, faz agora 160 anos que nasceu em Braga e cem anos que morreu em Vila Nova de Gaia), doutor em Filosofia pela Universidade de Coimbra e professor de Física na Academia Politécnica do Porto. Em 1878, dois anos depois do telefone de Bell, sugeriu num artigo publicado em O Instituto que a ideia do telefone - a “orelha artificial” - fosse complementada pela de “olho artificial”. Com base em trabalhos anteriores dos irmãos Siemens que aproveitavam as propriedades óptico-eléctricas do selénio, Paiva propôs um sistema de televisão primitivo, embora sem nunca o chegar a realizar na prática. Outros não só tiveram a mesma ideia a seguir, como a conseguiram concretizar. Ficou a visão profética do professor portuense: “Com estes dois maravilhosos instrumentos [a televisão e o telefone], fixo em um ponto do globo, o homem estenderá a todo ele as faculdades visual e auditiva. A ubiquidade deixará de ser uma utopia para tornar-se perfeita realidade.”
De modo que o leitor quando estiver, diante da sua webcam, a falar para outro lado do mundo, lembre-se não só da epopeia marítima como dos trabalhos de Reis e de Paiva. Pode ser que a lembrança do engenho luso ajude a recuperar a depauperada auto-estima nacional...
3 comentários:
Realmente posso garantir que não deixa de ser uma lufada vitalidade dar conta de trabalhos tão meritórios e de reconhecimentos, talvez tardios mas ainda assim merecidos, a cidadãos lusos ou daí descendentes.
Áparte a felicidade, pode ser feita também a leitura pegando nos exemplos dados (exceptuando as navegações) no sentido de mostrar como em tantas ocasiões a diferença entre nós e o outros, tidos como melhores, é tão escassa, mas por força da nossa apatia final, não chegamos aos louros e à premiação.
Marcelo Melo
[www.3vial.blogspot.com]
Dois comentários:
Virámos as nossas costas ao génio quando expulsámos os judeus de Portugal (não é à toa que as potências que emergiram a seguir - Reino Unidos e Países Baixos - foram aqueles que os aceitaram e que, mais tarde, emergiram os EUA quando, por sua vez, a Europa os expulsou). Isso fica bem claro na odisseia de Reis e de muitos outros judeus sefarditas que triunfaram por essa Europa fora.
Os que ficámos não passamos de diletantes que temos boas ideias mas não as colocamos em prática.
O avô do meu marido, Sr Eugênio Bacci, era filho de Ana Meucci, neta de Antônio Meucci, o verdadeiro inventor do telefone.
Eugênio Bacci era italiano e imigrou para o Brasil com seus pais e irmãos.
Morou no interior de S. Paulo, em Bragança Paulista e depois foi morar no Sul de Minas.
Faleceu em Baependi MG.
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