domingo, 1 de julho de 2007

Tutela estatal

Com a devida vénia reproduzimos texto de Alberto Gonçalves publicado no "Diário de Notícias" de hoje (nas suas páginas de opinião "Dias Contados"):

As laboriosas cabeças que reflectem sobre a educação prometem avançar com a obrigatoriedade do ensino a partir dos cinco anos. Eis uma medida consensual. A maioria dos pais não sabe o que fazer com as crianças, donde uma solução que antecipe a passagem do encargo para o Estado será sempre bem-vinda. O Estado, por seu lado, sabe perfeitamente o que fazer com elas, e, desde que a escola trocou a transmissão de conhecimentos pela partilha da ignorância, todo o tempo é pouco.

Nunca é demasiado cedo para iniciar os fedelhos no "estímulo" de "competências", "valências" e outras joviais demências em que a escola democrática se tem especializado. Qualquer idade, tenra que seja, é ideal para se aprender que não há muito a aprender, tirando umas luzes de educação sexual, "aquecimento global", Internet e a convicção de que um chorrilho de lugares-comuns prepara melhor os meninos e as meninas do que os perniciosos resquícios da avaliação tradicional. O relativismo pedagógico não pactua com os factores de desigualdade entre os alunos: aritmética, português, etc. Nem, aliás, com o genérico critério da "exigência", já que tal aberração é susceptível de limitar a "criatividade" e ferir a "auto-estima" da petizada.

No fundo, uma criança é boa na sua absoluta pureza. Por isso não se compreende que o Ministério da Educação não a recrute logo no parto, poupando-a a cinco anos de influência familiar, eventualmente devastadora. É que, incrível que pareça, existem pais mais aflitos com o futuro intelectual e profissional dos filhos do que com a sua "auto-estima", o stress infantil e a construção de uma sociedade sem classes. Por sorte, pais assim são raros, e raramente representados nas respectivas associações. Progenitores conscienciosos não arriscam criar monstros: o Estado que crie idiotas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há frases como "...a escola trocou a transmissão de conhecimentos pela partilha da ignorância..." que podem parecer exageradas a quem não conhece a realidade das escolas, depois da aplicação de mais uma reforma engendrada por aqueles que vivem na realidade virtual do mundo perfeito dos compêndios das ditas "ciências" da educação. A prova de que, infelizmente, essa frase está mais do que certa vai vir a público na sexta-feira, quando saírem os resultados dos exames de B/G e F/Q do 11º ano. Se este ano a comunicação social revelar os resultados (no ano passado, com mais de 80% de negativas a F/Q e mais de 60% a B/G, tudo foi abafado e só foram referidos os exames do 12º ano) vai rebentar uma "bomba"!
Infelizmente já se está a ver em quem vai o ministério descarregar as responsabilidades... Pois se os programas são tão bons, a culpa só pode ser dos incompetentes dos professores...

FRM

Anónimo disse...

Peço desculpa pela indelicadeza, mas este texto é um rematado disparate: em Portugal, em nenhum nível de ensino a obrigatoriedade de frequência implica obrigatoriedade de optar pela escola pública (ou "estatal", como alguns preferem dizer). Portanto, a premissa básica está errada.
Já agora: desde quando é que a importância da família na educação depende de a criança não estar na escola? Um aluno do ensino básico ou do ensino secundário já não precisa da família? Ou deve, então, acabar-se de todo com a obrigatoriedade de frequentar a escola em qualquer nível? A família é a base da educação, mas não da educação para a clausura: a família tem de educar para estar no mundo, não para estar fechado sem "influências maléficas".
É pena que façam eco de qualquer texto que use certas "palavras-chave" que são do vosso agrado, abandonando a capacidade para destrinçar.

Anónimo disse...

Parece-me que a escola incute preocupações excessivas com avaliações é limitante na formação na medida em que restringe muito as perspectivas pela transmissão exagerada de posicionamentos tidos como correctos (muitas vezes dos próprios docentes).

Julgo faltar espaço de discussão nas escolas, feito por e para alunos, com a supervisão e aproveitamento da experiência dos docentes.
É preciso aprender a olhar, pensar e comunicar. Marrar é mais fácil.

Marcelo Melo
[www.3vial.blogspot.com]

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