terça-feira, 3 de julho de 2007

GRANDES ERROS

Errar é humano, mas errar repetidamente é desumano. Ora o Ministério da Educação, ano após ano, tem errado na redacção de provas de exames. Os exames não deviam ter erro absolutamente nenhum se fossem feitos com suficiente cuidado, mas continuam a ter. Pois no mesmo dia em que eu, num artigo no "Público", comentava que as provas de exame costumavam ter erros, foi tornado público mais um erro na prova de Física e Química. Não era preciso darem-me razão tão depressa! Interrogado no mesmo dia por uma jornalista desse diário, sugeri que o Ministério, para além de pedir desculpas públicas, apurasse responsabilidades.

Pois passado mais de uma semana não há nem desculpas nem responsabilidades. Pelo contrário: O erro foi, a todo o custo, minorado e qualquer dia até são capazes de dizer que não houve erro nenhum. O erro era de Física, mas na Química também houve uma questão mal formulada: se não existia erro crasso, existia pelo menos uma grande confusão que teria sido simples evitar.

Engraçado é que o comunicado do Ministério da Educação, entretanto substituído, tinha um erro de ortografia. O novo comunicado pode não ter erros desses, mas não brilha pela redacção. Repare-se no eufemismo palavroso: não houve um erro, houve "uma incorrecção que inviabiliza a concretização de uma resposta correcta." Incorrecção que inviabiliza? Não haverá lá ninguém que saiba escrever?

16 comentários:

Anónimo disse...

O exame em causa demorou nove semanas a elaborar - segundo a própria ministra - a uma equipa de especialistas.

Ela não disse quantos membros tinha a equipa, mas admitindo que tinha dois, a cinco dias de trabalho por semana e sete horas de trabalho por dia, temos que foram necessárias 630 horas para elaborar cada prova.

Um professor que tenha quatro turmas e em cada uma delas dê seis testes por ano lectivo gastará, se quiser avaliar as mesmas «competências», «atitudes» e «valores» que o exame supostamente avalia, precisará de 12600 horas para o fazer - ou seja, se trabalhar todos os dias do ano, 34 horas e trinta minutos por dia.

Como o dia dos professores só tem as mesmas 24 horas que o dia de toda a gente, segue-se que os objectivos, os métodos, os programas e as avaliações do ministério são, além de delirantes, um embuste.

devoured elysium disse...

Tristeza

Azul Neblina disse...

Eu tão simplesmente não consigo compreender qual a razão de, reiterada e sistematicamente, surgirem erros (e alguns bem crassos) neste tipo de provas de avaliação que se revestem de tanta importância. Não acredito que o enunciado dos exames não passe pela mão de muita gente competente (?) e que, não estes exames não sejam resolvidos, pelo menos por meia-dúzia de professores. Sendo assim, não é compreensível que tantos erros subsistam.

Um erro é uma flutuação estatística. Quando são vários é que a estatística pia mais fino e apetece-me apenas dizer que é um sinónimo de mediocridade. Uma espécie de lei de distribuição da incompetência...

Mário Montenegro disse...

Estou completamente de acordo com o que diz no seu 'post'. Em Portugal não há, demasiadas vezes, apuramento de responsabilidades. Assim como não há aquilo que deveria vir antes e que, do meu ponto de vista, é profundamente mais importante: o ASSUMIR as responsabilidades.



p.s. a propósito de erros, e só porque é também para mim importante não "dar" erros quando escrevemos e, sobretudo, quando publicamos (damos também os erros que escrevemos aos outros), julgo que o verbo "minorizar" não existirá. Talvez "menorizar" ou "minorar".

J. Norberto Pires disse...

É estranho esta sucessão de erros, anos após ano. Em todas as provas, Português, Matemática, Física, etc.

Por que razão isso começou a acontecer? Qd fiz exames no 12º ano, em 1986, não me lembro de falarem em erros.

Por acaso penso que erros nestes exames deveriam ter uma explicação, e deveriamos conhecer quem fez os exames, isto é, a comissão deveria ser conhecida.

Mas fico sem perceber por que razão os exames têm erros desde há alguns anos. E parece que são incapazes de fazer um exame sem erros.

Alguém sabe explicar? Para mim é um mistério.

Anónimo disse...

José Luís,
Não resisto a dizer-lhe que o seu comentário é muito bem feito. Tem completa razão ao argumentar desse modo.
Parabéns e obrigado
Rolando Almeida

Carlos Fiolhais disse...

Caro Mário
Obrigado por ter apontado o erro do "minorizar" em vez de "minorar". Já emendei!
Carlos Fiolhais

Vitor Guerreiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Estamos todos de acordo. Nestas e noutras coisas, aliás contra estas e outras coisas. (Pensar que Chopin compôs concertos para violino não traz nenhum mal ao nosso mundo, mas do que por aí vai acontecendo já não se pode dizer o mesmo.) Por isso talvez fosse tempo de propor que, em vez de "Não aconteceu, mas podia ter acontecido", o "mote" do "Inimigo Público" passasse a ser: "Aconteceu, mas podia não ter acontecido".

Carlos Medina Ribeiro disse...

Hoje em dia, quando um "responsável" (governamental, futebolístico, autárquico, etc) dá uma barracada faz como na tropa:

Aplica (aos problemas) o RDM:

Relativiza-os
Desvaloriza-os
Minimiza-os

-
Desta vez, a anedota foi a Sra. Ministra vir dizer que «foi só 1 erro em 1000 perguntas, pelo que não é grave».

Imagine então a senhora que ia para uma batalha e "só uma bala, em 1000, é que lhe acertava"...

Fernando Martins disse...

No meio de isto tudo era importante saber quem são os génios que fazem este trabalho de elaborar exames e quanto recebem pelo mesmo, bem como são penalizados quando erram - mesmo quando põem no Exame "uma incorrecção que inviabiliza a concretização de uma resposta correcta."

Anónimo disse...

Se centrarmos a questão nas crianças e jovens que têm que fazer os exames com estas incorrecções inviabilizantes, o seu prejuízo nunca será ressarcido. Pelas memórias de estudante, muitos sabemos, quando dominamos a matéria de um teste, o quanto nos perturba uma questão que não conseguimos resolver. Podemos saltar o problema para resolvermos rapidamente o restante questionário, disponibilizando a maior porção de tempo possível para voltarmos à pergunta deixada em atraso.
Claro, que o mínimo é a incorrecção inviabilitante não ser contabilizada na nota. A única forma possível de se conseguir ressarcir o aluno é moral e prende-se com a questão da responsabilidade, para evitar que os colegas mais jovens tenham próximas INcorrecções INresponsáveis em exames futuros. E isto não é nenhuma caça às bruxas na educação do país.

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Esta situação dos erros ( ou incorrecções) nos exames de Física, de Química e de Física e Química , que já o ano passado gerou polémica, com opiniões dispares dos especialistas, merecia ser analisada noutra perspectiva.
Não estarão estes erros associados a uma excessiva importância que é dada à contextualização das questões, obrigando a elaborar enunciados com informação irrelevante, a "inventar situações reais", descurando depois o pormenor científico?

P.V.

Vitor Guerreiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Medina Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Medina Ribeiro disse...

[ No blogue SORUMBÁTICO (http://sorumbatico.blogspot.com), onde este "post" de C. Fiolhais está transcrito, foi publicado este texto, no seu seguimento]:

*

Em tempos, ia estrear-se no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, uma determinada peça, quando sucedeu uma desgraça: o comboio que, tendo partido de Lisboa, levava a companhia, atrasara-se, pelo que o espectáculo estava comprometido.

Foi então preciso que alguém viesse à boca-de-cena e explicasse, aos espectadores que enchiam a sala, o que se passava; o estimável público decerto compreenderia que são coisas que acontecem, além de que, vendo bem, a culpa era da CP. Ora, ainda mal tinha acabado tão ingénua justificação, quando se ouviu um vozeirão irado vindo da assistência: «Viessem ontem!».

Esta história, verídica, é contada por Raul Solnado como ilustração de que «Há coisas que, pura e simplesmente, NÃO PODEM ACONTECER» porque, além da sua gravidade, são previsíveis e, como tal, evitáveis.

Claro que isto vem a propósito dos recorrentes erros na elaboração dos exames a que correspondem, invariavelmente, desculpas esfarrapadas, soluções trôpegas e - é claro! - responsabilizações inexistentes.
Desta vez, nem faltou a Senhora Ministra vir dizer-nos que só 1 erro, em 1000 perguntas, não é grave!

Pelos vistos se, num tiroteio, apenas uma bala, em 1000, lhe acertar no toutiço, a senhora achará que não é caso para alarme. Ah, valente!!

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