José Miguel Júdice defende as ideias que tenho defendido sem sucesso: que o "eduquês" não é uma política educativa de esquerda, mas sim de direita, que não é igualitária, mas sim discriminatória, e que só os pedagogos pimba do Ministério da Educação não conseguem ver isso -- ou fingem que não conseguem (mas se formos ver em que escolas os filhos deles andam talvez se torne nítido que vêem sim senhor).
Mas o Nuno não refere um dos aspectos fundamentais da ideologia do "eduquês" que domina o nosso ministério; a ideia que lhe subjaz é inacreditável, e nunca é formulada, mas é esta: filho de pobre é estúpido e não pode interessar-se por física quântica ou música clássica, não pode interessar-se pelas disciplinas centrais do conhecimento, mas apenas por estudos falsamente profissionalizantes; não pode ter talento para médico, mas apenas para caixa de supermercado. É nisto que acreditam os pedagogos do ministério, e a sua actual e inefável ministra e respectivos secretários de estado.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
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19 comentários:
Nuno Miguel Júdice???? Não será José Miguel Júdice
A criação dos cursos profissionais e profissionalizantes é, em si mesma, uma ideia aceitável, desde que não seja um meio de o Estado fugir à responsabilidade de educar cidadãos. A Escola (inclui-se aqui a Universidade) não é um centro de emprego. A Escola deve permitir aos alunos a abertura de horizontes, num esforço de igualdade de oportunidades, no que respeita ao acesso ao conhecimento, às artes e a noções de cidadania (é escandaloso que o ensino religioso se mantenha nas escolas e que ninguém aprenda e debata distinções fundamentais acerca dos vários poderes que nos governam, por exemplo). É difícil, mas não é utópico.
O Estado, no entanto, cria cada vez mais cursos desses, apenas com o objectivo de fingir que está a resolver os problemas. O Ministério debita estatísticas entusiasmadas acerca do regresso de milhares de alunos às escolas. Não explica que esse regresso se faz à custa de currículos com exigências mínimas ou de permissividade no que respeita à indisciplina e à falta de assiduidade.
"o "eduquês" não é uma política educativa de esquerda, mas sim de direita"
As pessoas de direita são os grandes promotores da idiotice no mundo, segundo aqui o "camarada" Desidérito. São as políticas de direita (liberdade para trabalhar, respeito pelo lucro do trabalho individual e colectivo, respeito pelo mérito e pelo esforço, acesso facilitado a um sistema de saúde e educação verdadeiramente rigoros, criação de lideranças fortes) e não a libertinagem de esquerda que cria solidez numa sociedade. Os senhores do ministério da educação são o produto do 25 de Abril e da libertinagem de esquerda dai decorrente. São o produto da ditadura do homem comum. São a consequência de falta de boas lideranças verdadeiramente fortes. São uma consequência de políticas de esquerda.
Mas ainda há mais problemas!! A escola está formatada para a "desgraceira", ou seja, tudo está orientado para o "mau" aluno. Por "mau" aluno entenda-se aquele que ou não estuda por que não quer, ou não estuda porque não pode. Ou seja, vai tudo para o mesmo saco. E é inacreditavelmente grande a quantidade de alunos ricos que não quer estudar e retiram recursos a outros que, sem posses, se vêem privados de apoios.
Os bons alunos nem sequer são tidos em conta, mas, mesmo assim, saem pouco beliscados pelo sistema, pois têm algumas defesas.
Os casos mais graves são os alunos médios que não têm direito a nada, nem mesmo a ter algumas ajudas importantes para migrar para o bom ou muito bom. São alunos de nível suficiente que "não dão problemas", nem são alunos de insucesso, mas com os quais ninguém se interessa.Tudo foi gasto com a a grande quantidade de maus e muito maus.
Mesmo as reuniões de avaliação são "gastas" a resolver o problema dos "maus". Os professores não têm tempo para falar dos "outros".
Confesso que já não sei há muitos anos a esta parte o que se entende por esquerda e direita. Normalmente guio-me pelo que está certo ou está errado...E todo o nosso sistema de ensino é um grande erro.
Desde 1926 até hoje, o país tem sido governado, sobretudo, pela direita, incluindo este partido que se diz socialista. Não sei se o senhor anónimo irá contradizer este dado.
No que respeita à educação, a prática actual é nitidamente elitista, com uma escola pública que, cada vez mais, é um depósito para os filhos das famílias que não têm capacidade financeira. Os outros põem os filhos em bons colégios e/ou em actividades extracurriculares. É isto que faz a direita: entrega a um pobre uma chave de fendas e convence-o de que deve agradecer por poder respirar.
Ouvir a Grândola continua a emocionar-me, mesmo sabendo que houve excessos revolucionários. Se é certo que a grandeza de uma figura esquecida como Salgueiro Maia ultrapassa largamente a de Mário Soares, fico muito feliz por ter vivido a maior parte da minha vida depois do 25 de Abril, mesmo desiludido por saber que muita coisa está por conquistar e por saber que a educação está a regredir, muito por culpa de gente dominada pelo monstro do neoliberalismo, ou seja, gente de direita.
A grandeza do meu 25 de Abril está, aliás, bem patente no facto de que até a direita mais empedernida pode falar. Noutros tempos, eu só poderia escrever isto anonimamente.
Nem mais! O Ministério da Educação é um órgão autista que não percebe qual é o objecto do seu trabalho. O mais grave é que os erros se repetem ano após ano e são sempre os mesmos, quando se muda alguma coisa é só para dizer que se faz alguma coisa pq mudança qualitativa NADA!!!!
Ah, pois é!...
Antigamente explorava-se os pobres apenas a jusante, pelo extorção de mais valias ao trabalhador. Mas, com o desarrincanço pós moderno da lei do antivalor, agora exploram-se todos, desde o glorioso trabalhador até ao mais modesto parasita de colarinho branco, também a jusante, pela extorção de mais valia no consumo
assim,
peço desculpa mas a questão "pobre não pode ter talento para médico, mas apenas para caixa de supermercado" está mal equacionada, devendo antes ser:
Pobre pode tirar o curso que muito entender desde que arranje meios de o pagar, embora com esse curso apenas consiga emprego nas caixas dos supermercados.
O ME sabe bem o que faz. Com um sistema que prejudica aqueles que se esforçam está a produzir gerações que mal sabem ler, escrever e contar. E que, obviamente não têm as ferramentas suficientes para pensar pela sua própria cabeça. E que não pensa fica nas mãos de demagogos populistas que conduzem as massas como uma manada na direcção que as elites pretendem.
errata
onde se lê o primeiro "jusante" deve ler-se "montante".
Realmente atravessamos tempos dificeis de entender. Até os cursos dos rios andam embaralhados,,
Concordo totalmente com o Desidério, acho mesmo que é uma questão de vioalação do direitos humanos.
Teresa
Eu, que sou de esquerda, e que penso que sei o que é ser de esquerda, que estudei sob um regime de ditadura e sob ele ensinei uns bons pares de anos, não vejo no actual sistema de educação em Portugal nada que possa ser dito que é de esquerda ou de direita. É o vazio quase absoluto. E o vazio é a ausência de tudo. Alguém por aqui leu algumas das perguntas de Português do exame do 9º ano? Próprias de uma 4ª classe fraquinha de antigamente. Não sendo capaz do que mais do que aquilo somente, não dá nem para uma humílima profissão em que seja preciso dizer e escrever duas ideias seguidas. Assim, não admira que as notas de Português tivessem sido melhores que as de Matemática.
O ensino é a vergonha da era depois do 25 de Abril. Por acaso ainda há dias estive com o meu amigo Álvaro Raposo França, que fez a estátua de Salgueiro Maia que está em Santarém. Falámos da mudança do monumento para um lugar onde ele ainda não o viu. Mas a pior mudança foi o herói ter sido esquecido. O mais puro de Abril, no meu entender. Escrevi um texto em sua homenagem, e do Zeca Afonso, para um livro de educação cívica cujo programa nunca foi convenientemente levado a efeito. Ontem, pela primeira vez desde que o Zeca morreu, estive com um disco (CD, pronto...) seu para pôr a tocar. Não consegui... Continuo a comover-me demasiado com as suas canções, e com a recordação da sua morte prematura. Ele estava para vir aos Açores, provavelmente até dormiria em minha casa, quando adoeceu. Vinha pelo pagamento das passagens, que eu com um simples pedido conseguira garantir por parte do Secretário Regional da Educação, que era do PSD. Para cantar de graça, portanto. Por essa bondade morreu na miséria. E acudiram-lhe mais os espanhóis do que nós mesmos, para vergonha nossa. Nem um nem outro (Fernando José e José Afono) merecia o que se fez da sua/nossa liberdade. Nem nós.
Desculpem-me o desabafo.
Um abraço a todos os que acreditam que amanhã será melhor.
Daniel de Sá
Caro Daniel,
Queria somente dizer-lhe que o seu texto é muito sentido.
Apesar de tudo, penso que a realidade hoje impõe-se de modo diferente, com outros problemas, herdados, é claro, dos tempos passados, muito para além do 25 de abril.
Obrigado pelas suas palavras. De vez em quando sabe bem ler palavras como as suas.
abraço
Rolando Almeida
Tanta gente a comentar e ninguém reparou que o José Miguel Júdice confundiu, no seu artigo, "meteco" com "escravo". Qualquer aluno do 7º ano teria reparado nisso. E assim vai a cultura (e a História), até de quem escreve de alto...
"Os senhores do ministério da educação são o produto do 25 de Abril e da libertinagem de esquerda dai decorrente."
Sim, nao restam quaisquer duvidas. Comecando com a passagem pelo Ministerio do saudoso activista do PREC: Roberto Carneiro. Saudosos tempos de alta exigencia traduzidos por um importante exame: a Prova Geral de Acesso.
Meu Caro Rolando
Não deixo de lhe reconhecer razão ao afirmar que parte da culpa do estado do ensino em Portugal foi herdada da ditadura. Só na década de 1950 é que a 4ª classe passou a ser obrigatória, depois de o ter sido antes a 3ª, mas só para rapazes. Depois a 3ª foi-o para as raparigas e a 4ª para os rapazes. Um ano ou dois depois, a obrigatoriedade da 4ª classe chegou também ao sexo de feminino. A dificuldade de acesso ao ensino secundário, e mais ainda ao universitário, produziu um país com pouca cultura. E as periferias sofreram mais que tudo o resto. Basta pensar no caso da ilha de Santa Maria, onde estudei até ao 4º ano. Começavam as dificuldades com o exame de admissão aos liceus, que era preciso vir aqui a S. Miguel. E o mesmo acontecia nas outras ilhas em relação à sede do distrito.
Depois foi a pressa de massificar o ensino. Criou-se a sexta classe, aumentando em cerca de 40% o número de alunos, sem o correspondente aumento de professores, o que não se faz por decreto. Seguiu-se a febre das universidades. A frequência do ensino superior aumentou de uma maneira extraordinária, sem o correspondente aumento de professores devidamente qualificados. Houve universidades que passaram a alimentar-se a si mesmas, criando um círculo fechado desde o ingresso nelas até aos doutoramentos. Deu no que a gente sabe. Foi a repetição da História. Já o marquês de Pombal conseguira acabar com a universidade de Évora e reduzir a quantidade de professores de Coimbra num só golpe: a expulsão dos Jesuítas. Que estavam em parte ultrapassados pelos Oratorianos, mas deixaram um vazio que a reforma pombalina não conseguiu preencher, porque não havia com quem. Esse estado de coisas manteve-se durante mais de um século, basta ler a peça cómica “O Auto da Sebenta” de Afonso Lopes Vieira (que assinalou o “centenário” da sebenta), sátira aos centenários que a monarquia caída no descalabro do Rotativismo ia comemorando para tentar levantar o seu próprio ânimo. E convém não esquecer que o poeta era um monárquico convicto. Talvez por isso mesmo sofresse mais com o estado da monarquia, tal como acontece aos socialistas como eu, que sentem mais tristemente esta apagada forma de governar supostamente à esquerda.
E sabe-se como os filhos de pais cultos normalemente têm vantagem sobre os outros, por razões óbvias.
Um abraço.
Daniel
Post scriptum
Entenda-se a respeito do exame de admissão (e dos outros): "que era preciso vir fazer aqui a S. Miguel."
Ao contrário do que muitos pensam, eu acho que a distinção entre esquerda e direita ainda faz sentido.
Em educação também; mas aí o problema complica-se porque a esquerda e a direita estão misturadas numa relação que só se pode classificar como simbiótica.
O eduquês tem um cheiro de esquerda, com efeito - mas tem um efeito de direita, que é fazer das pessoas «recursos» - isto é, muito objectivamente: coisas que existem para servir propósitos de outrem.
As escolas têm um ambiente de esquerda - mas é porque são o gueto onde a direita põe quem de momento não a serve.
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