quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ecologia e biocombustíveis


O artigo «PRESENT FOREST BIODIVERSITY PATTERNS IN FRANCE RELATED TO FORMER ROMAN AGRICULTURE» do número de Junho da revista Ecology apresenta dados completamente inesperados. Mais concretamente, o estudo sugere que, contrariamente ao que se pensava de estudos análogos em outros pontos do globo, os efeitos da actividade agrícola na biodiversidade local persistem pelo menos por dois milénios e não apenas algumas centenas de anos.

O estudo incide sobre Tronçais, uma antiga floresta de carvalhos na região de Auvergne - que deve o seu nome aos Arvernes, uma tribo gaulesa que durante as Guerras Gálicas tinha como rei o Vercingétorix que uniu as tribos gauleses e foi derrotado por Júlio César na célebre batalha de Alésia.

Como curiosidade, transcrevo um trecho do De Bello Gallico de Júlio César, obra escrita e divulgada durante as Guerras Civis de Roma e que serviu essencialmente para promover e divulgar os feitos de César na Gália e na Bretanha, que nos informa que os bretões tinham hábitos não muito diferentes dos gauleses, nomeadamente no que respeita à agricultura, e indica a importância da Isatis tinctoria, pastel ou pastel-dos-tintureiros, na Bretanha pré-romana:

«A maioria dos interioranos não semeiam cereais, mas vivem de leite e carne, vestidos de peles. Todos os Bretões, porém, pintam-se com um pastel que produz uma cor azul, e têm por isso aspecto bem horrível na guerra. São de cabelos compridos e corpo todo raspado, excepto a cabeça e o lábio superior. Cada dez ou doze têm, entre si, esposas comuns, principalmente irmãos com irmãos, pais com filhos. Os nascidos destes, se os houver, são tidos como filhos daqueles a quem foi cada virgem entregue primeiro».

Voltando à ecologia moderna, nos últimos anos os arqueólogos têm descoberto uma série de vestígios de explorações agrícolas romanas, cerca de 108, na floresta de Tronçais. Uma investigação conjunta com biólogos levou à conclusão que embora estas explorações tenham sido abandonados com o colapso do Império Romano, deixaram uma marca que ainda hoje se manifesta numa maior biodiversidade vegetal e animal em relação a áreas vizinhas.

O artigo indica ainda que o estudo dos ecossistemas localizados em antigos sistemas agrícolas romanos em florestas francesas contemporâneas sugerem que, contrariamente ao que se pensava, é necessário levar em linha de conta a história da utilização de um dado solo para se entender a biodiversidade encontrada em muitas florestas, milénios após a exploração agrícola desses locais ter sido interrompida.

Os romanos fertilizavam os solos com cinzas, estrume e «lixo» doméstico, incluindo restos de cerâmica. Esta alteração química induzida há milénios pelo homem teve efeitos «possivelmente irreversíveis» via alteração nos ciclos biogeoquímicos dos solos fertilizados. No caso das antigas explorações romanas, a acção humana traduziu-se no aumento da biodiversidade - após abandono das explorações - mas este artigo dever-nos-ia fazer reflectir nos efeitos, igualmente «possivelmente irreversíveis» mas certamente com efeitos opostos na biodiversidade, que a nossa acção induz nos solos.

Um artigo recente de Jesse H. Ausubel, o director do Program for the Human Environment da Universidade Rockfeller em Nova Iorque que foi um dos pioneiros a trazer para a praça pública a questão do aquecimento global, aborda directamente a utilização de solos na produção de energias renováveis. Embora seja céptica em relação à defesa da energia (de cisão) nuclear elaborada ao longo artigo, concordo com Ausubel que é necessário «quebrar o tabu de falar sobre aspectos fortemente negativos das energias renováveis». Nomeadamente em relação à energia renovável que foi alvo da recente Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, organizada pela UE, conferência que segundo o presidente brasileiro será repetida daqui a um ano no Rio de Janeiro.

«A fundamental credo of being green is that you cause minimal interference with the landscape. We should be farming less land, logging less forest and trawling less ocean - disturbing the landscape less and sparing land for nature. But all of these renewable sources of energy are incredibly invasive and aggressive with regard to nature. Renewables may be renewable, but they are not green».

Alvos principais nesta crítica de Ausubel, que ecoa críticas de muitos outros ecologistas, são os chamados biocombustíveis, derivados essencialmente de cana de açúcar, cereais, palma e soja, cuja cultura, embora por enquanto maioritariamente para outros fins, já invadiu as florestas tropicais brasileiras e asiáticas. Nomeadamente na Malásia, as plantações destinadas à produção de óleo de palma (óleo de dendê no Brasil) foram responsáveis, entre 1985 e 2000, por 87% da desflorestação neste país, pondo em risco o habitat natural de inúmeras espécies.

Nos últimos anos, milhões de hectares de floresta tropical na Sumatra, Bornéu, Malásia e Indonésia foram arrasados para alimentar a produção de biocombustíveis. Correm risco de extinção, entre outros, o orangotango (relatório em formato pdf da UNEP e UNESCO) e o rinoceronte de Sumatra. As estimativas publicadas num relatório recente das Nações Unidas indicam que 98% da floresta tropical da Indonésia estará degradada ou destruída em 2022. E a produção de óleo de palma destinado ao mercado europeu de biocombustíveis é actualmente a causa principal de desflorestação naquele país.

George Monbiot, o meu colunista favorito do Guardian, alerta desde 2004 para os problemas ecológicos e não só da agricultura destinada a alimentar carros, não pessoas. O seu artigo no Guardian de 27 de Março é especialmente contundente em relação aos programas europeus e norte-americanos referentes aos biocombustíveis a que chama «uma fórmula para o desastre ambiental e humanitário».

Monbiot indica que «o preço do milho duplicou desde o princípio do ano passado. O preço do trigo atingiu o máximo dos últimos dez anos, enquanto que as reservas mundiais dos dois cereais desceram para o valor mais baixo dos últimos 25 anos. Já houve motins por causa de comida no México e chegam de todo o mundo relatos de que os pobres estão a sentir o impacto. O Departamento de Agricultura americano avisa que 'se tivermos uma seca ou uma colheita muito pobre poderemos presenciar o tipo de volatilidade que vimos nos anos 70 e, se não acontecer este ano, estamos a prever igualmente reservas mais baixas para o próximo ano'. Segundo a FAO, das Nações Unidas, a principal razão é a procura de etanol: o álcool utilizado como combustível, que tanto pode ser produzido a partir do milho como do trigo».

Embora eu distinga os biocombustíveis obtidos por reciclagem de «lixo» sortido, os biocombustíveis secundários que considero de facto verdes, partilho as dúvidas de Monbiot em relação à bondade da produção de biocombustíveis primários. Pessoalmente espero que o ITER, Reactor Termonuclear Experimental Internacional, projecto internacional que tem como presidente do Conselho de Administração do consórcio europeu o meu colega Carlos Varandas e que constitui a maior experiência mundial de fusão nuclear, nos permita ter disponível em breve energia barata, abundante e produzida com impacto ecológico praticamente nulo.

Espero ainda que os muitos projectos em curso, por exemplo o projecto que integra uma equipa do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC), «Engineered Modular Bacterial Photoproduction of Hydrogen» - que pretende criar cianobactérias geneticamente modificadas para funcionarem como fotoreactores eficientes para produção de hidrogénio - permitam em breve a produção limpa e barata do único combustível cuja queima não produz CO2.

De facto, os biocombustíveis são compostos de carbono e como tal a sua combustão produz CO2. Monbiot no seu último artigo cita um estudo conjunto da consultora ambiental holandesa Delft Hydraulics, da Wetlands International e do Alterra Research Center da Universidade de Wageningen que indica que, considerando a destruição da floresta e solos de turfa associados à produção de óleo de palma, o balanço total de CO2 na utilização de biocombustíveis derivados de óleo de palma não é nulo como se pensava, pelo contrário, a sua utilização é francamente pior em termos de emissões de CO2 que o uso de derivados do petróleo.

60 comentários:

Joana disse...

Gostei muito deste post. Por várias razões este é um tema que me interessa muito.

estou fartinha de dizer a toda a gente que os biocombustíveis são um bluff! é poupar na farinha para gastar no farelo e pior gasta-se no farelo arruinando irreversivelmente muitos ecossistemas.

mas é uma medida fácil, barata e que dá milhões em imagem pública a muitos políticos que se estão nas tintas para o ambiente querem é calar uma plebe cientificamente analfabeta e que vê um bio no nome e pensa que queimar biocombustíveis é a salvação da humanidade.

Pior, estou farta de ser insultada porque parece que acham que estou a soldo das petrolíferas. Quem critica os biocombustíveis só pode ser a favor do petróleo...

Não é verdade. Este relatório da ONU é claro: queimar biocombustíveis é pior que queimar derivados do petróleo em termos de poluição e terá impacto muito negativo nos mais pobres.

Joana disse...

Um dos links para o Herald Tribune é fantástico! Leiam que vale a pena!

The biofuel myths

ndustrialized countries started the biofuels boom by demanding ambitious renewable-fuel targets. These fuels are to provide 5.75 percent of Europe's transport power by 2010 and 10 percent by 2020. The United States wants 35 billion gallons a year.

These targets far exceed the agricultural capacities of the industrial North. Europe would need to plant 70 percent of its farmland with fuel crops. The entire corn and soy harvest of the United States would need to be processed as ethanol and biodiesel. Converting most arable land to fuel crops would destroy the food systems of the North, so the Organization of Economic Cooperation and Development countries are looking to the South to meet demand.

The rapid capitalization and concentration of power within the biofuels industry is extreme. Over the past three years, venture capital investment in biofuels has increased by 800 percent. Private investment is swamping public research institutions.

Behind the scenes, under the noses of most national antitrust laws, giant oil, grain, auto and genetic engineering corporations are forming partnerships, and they are consolidating the research, production, processing and distribution chains of food and fuel systems under one industrial roof.


Estas são fundamentais:

Every ton of palm oil generates 33 tons of carbon dioxide emissions - 10 times more than petroleum. Tropical forests cleared for sugar cane ethanol emit 50 percent more greenhouse gases than the production and use of the same amount of gasoline.

Proponents of biofuels argue that fuel crops planted on ecologically degraded lands will improve rather than destroy the environment. Perhaps the government of Brazil had this in mind when it reclassified some 200 million hectares of dry-tropical forests, grassland and marshes as degraded and apt for cultivation.

In reality, these are the biodiverse ecosystems of the Atlantic Forest, the Cerrado and the Pantanal, occupied by indigenous people, subsistence farmers and extensive cattle ranches. The introduction of agrofuel plantations will push these communities to the agricultural frontier of the Amazon where the devastating patterns of deforestation are well known.

Soybeans supply 40 percent of Brazil's biofuels. NASA has correlated their market price with the destruction of the Amazon rainforest - currently at nearly 325,000 hectares a year.

JSA disse...

Queria deixar alguns pontos extra sobre o assunto.

Primeiro: falta uma contribuição importante para a produção de CO2 quando se fala de biocombustíveis: a obtenção do etanol a partir dos óleos vegetais. Mesmo a produção dos óleos exige o gasto de energia. O processo de produção de etanol a partir do óleo exige um enorme dispêndio de energia que tem de entrar na factura. Isto está a começar a ser atacado através de reacções catalisadas por enzimas (que não exigem praticamente qualquer gasto de energia), mas ainda não está optimizado.

Segundo: o balanço de carbono resultante da queima de biocombustíveis é, na teoria, nulo. Os biocombustíveis libertam realmente CO2 quando queimados, mas, EM TEORIA (sublinhe-se isto muito a negrito) será apenas o CO2 que ja captaram/sequestraram enquanto as colheitas cresciam. Os problemas estão na desflorestação e na produção do etanol.

Os biocombustíveis não são assim tão problemáticos, o que é problemático é a insistência em que são a famosa magic bullet que resolverá a dependência do petróleo. Poderão ser extremamente úteis, mas apenas num contexto de integração energética.

JSA disse...

Quanto ao hidrogénio e às células de combustível, mais algumas notas.

O problema actual não está na produção de hidrogénio, embora isto seja mais complicado que aquilo que se imagina hoje em dia. Muito do hidrogénio usado é proveniente da desidrogenação do gás natural, pelo que é intrusivo. É, de certa forma, um byproduct da extracção e do uso de gás natural, pelo que está dependente do mesmo.

Pode ser produzido, como diz a Palmira, através de cainobactérias, mas uma outra opção é a boa e velha electrólise. esta não é uma solução satisfatória por razões óbvias: exige um consumo de energia não desprezável. Aliás, se bem me lembro, na melhor das hipóteses, com rendimentos de 100% na electrólise e numa célula de combustível (e estamos brutalmente longe disso neste segundo caso) teremos um balanço energético nulo. Ainda assim, em situações de excessos pontuais de energia (centrais eólicas em dias ventosos que permitem produzir mais energia que o necessário, por exemplo) é possível recorrer a essa técnica para a produção de hidrogénio.

A seguir vem o segundo problema: o transporte e armazenamento de hidrogénio. O hidrogénio necessita de ser mantido a pressões muito altas para poder ser transportado na forma líquida e em gás é altamente inflamável (como o acidente com o dirigível Hidenburg o provou no passado). Como tal, este é mais um problema a ser ultrapassado se o quisermos usar como combustível de automóveis ou outros equipamentos.

Por fim temos a célula de combustível em si mesma. Aqui, a limitação está na membrana que é a parte fundamental do processo. A mesma tem que ser permeável a protões e impermeável à água. Este é um balanço extremamente complicado de atingir. O problema aumenta com os materiais a usar. Os cerâmicos, talvez mais interessantes em termos de algumas características físicas, são caros. Os polímeros, mais flexíveis e mais simples de transformar em membranas viáveis, têm propriedades talvez piores ao mesmo tempo que suportam mal altas temperaturas. Enquanto não se conseguir resolver o problema pelo lado das membranas não teremos céulas de combustível viáveis.

JSA disse...

Última nota para a fusão nuclear. Confesso que desej ardentemente que possa vir a ser utilizada, num futuro próximo, para produção energética. Seria um avança fundamental. Um dos grandes problemas que continuaria a existir seria com os transportes, os quais continuam a necessitar de combustíveis e continuam a produzir poluição em quantidades industriais.

A solução passará por uma integração energética a todos os níveis da sociedade. Com automóveis eléctricos com baterias carregáveis a partir de casa; redução cada vez maior do uso de automóveis e promoção de meios de transporte públicos, especialmente comboios e eléctricos; obrigatoriedade de poupança energética, etc.

Não há, isso é certo, uma bala mágica que resolva tudo. Não passaremos de uma economia baseada em combustíveis fósseis (petróleo e carvão, essencialmente) para uma outra baseada em hidrogénio, fusão nuclear ou outra. Terá de se conseguir um balanço entre todas. E ésse o caminho que será preciso seguir. Assim haja coragem.

Palmira F. da Silva disse...

jsa:

Completamente de acordo em relação ao seu primeiro comentário, o consumo de energia, por enquanto, na produção de bioalcool não é despiciendo.

E claro que os biocombustíveis poderão ser muito úteis, especialmente os secundários, mas não são a solução última/única para resolver a dependência de petróleo.

Em relação ao hidrogénio o problema é mesmo de armazenamento. Não tanto pelos riscos de explosão mas principalmente porque o H2 é um gás, isto é uma pequena quantidade ocupa um volume muito grande. o que causa outros problemas: de transporte (normalmente é produzido quasi in situ), e, por exemplo, autonomia de veículos movidos a H2.

Por outro lado, gasta-se demasiada energia para o liquefazer e armazená-lo a uma temperatura de ~20K não é pera doce.

Lembro-me que essa era a principal crítica ao Hydrogen7 da BMW

Palmira F. da Silva disse...

E subscrevo na íntegra o último comentário...

JSA disse...

Bem lembrada a questão da temperatura de armazenamento do hidrogénio. Falei no problema mas apenas pelo lado da pressão. Não duvidava que concordasse com (pelo menos parte) as observações, apenas as deixei para contribuir para a discussão, com informações que geralmente os jornais e revistas deixam de lado.

Já agora, a universidade holandesa do último parágrafo é a de Wageningen. Falta um "n" no fim do nome. Typo, obviamente.

Palmira F. da Silva disse...

Caro JSA:

Obrigado pela correcção da gralha :-)

Só mais algo em relação ao hidrogénio: admitindo que sejam ultrapassados os problemas na produção e armazenamento de H2 também não creio que este possa substituir totalmente os combustíveis fósseis em motores de combustão, como o H7, pelo menos nas quantidades actualmente queimadas.

Não faço ideia se alguém já pensou nisso e fez alguma previsão, mas não me parece que a libertação para a atmosfera de quantidades massivas de água, o produto da combustão do H2, seja inócua, nomeadamente a nível climatérico.

Ter-se-ia de utilizar células de combustível e garantir que a água produzida estva no estado líquido e que era armazenada algures, não pingava para a estrada. Doutra forma a segunda circular em hora de ponta, por exemplo, com carros todos movidos a H2 transformar-se-ia rapidamente num lago :-)

JSA disse...

Esse é realmente um excelente pento em que eu, perticularmente, nunca tinha pensado. Haveria também que pensar nos problemas de corrosão inerentes a uma contínua produção de água pelos motores. Ainda assim, penso que esse seria um problema de fácil resolução através do uso de géis superabsorventes, até porque a remoção imediata de água certamente que aumentaria o rendimento da reacção (o velho amigo Lavoisier sempre presente :-)). Mas é sempre importante bom lembrar essa possibilidade.

Já quanto aos automóveis da segunda circular, talvez fosse forma de os abrandar um pouco. Em último caso guardam-se as células de combustível para motores de barcos :-).

Anónimo disse...

Chavalos, temos sempre a energia do Sol que chega e sobra para tudo, só temos que começar a meter mais painéis para captar essa fotolhada que anda por aí perdida.
Palmira, acho muito bem que se fale dos bios porque anda muita gente enganada e até me lembro de ter visto há uns tempos o Sócrates prometer investimentos nesta área, mas a coisa não é mesmo evidente.

Palmira, estou completamente apanhadinho por ti, sabes falar de tudo com uma pinta incrível. Acho que se te conhecesse me iria apaixonar loucamente por ti, nem quero imaginar a desgraça! Tens namorado?
Beijos!
luis

Fernando Dias disse...

Venho manifestar o meu agrado por ter lido este post, não só pelo seu interesse temático mas também pela forma brilhante como Palmira o tratou. Já agora também um abraço de satisfação aos comentadores pela qualidade dos seus comentários.

Palmira F. da Silva disse...

Caro JSA:

Não sou grande fã dos actuais géis superabsorventes - poliacrilato de sódio ou poliacrilamida que têm associados problemas de disposal, são praticamente indestrutíveis, não são recicláveis nem reutilizáveis - mas não penso que remover a água seja um problema. A corrosão sim, claro.

Por outro lado, a água não afecta o equilibrio (se produzida no estado líquido, claro). De qq forma, a reacção tem um rendimento muito elevado: embora entropicamente desfavorável a reacção é muito exotérmica - liberta 285.8 kJ (68,5 kcal) por mol (2 g) de H2 queimado - por isso a constante de equilíbrio Kp é muito grande às temperaturas de operação (embora menor a altas temperaturas).

Anónimo disse...

As capacidades de auto-sustento das comunidades têm de ser aumentadas. Nesse auto-sustento incluo os recursos energéticos e os recursos alimentares. Se determinada comunidade possui muitos restos de plantas cujo aproveitamento pode ser parcialmente feito para obtenção de energia, enquanto outra parte é para re-adubar o solo, não vejo mal nisso.
O que é terrível é o capitalismo globalizado que vai distorcer todas as hipóteses de solução, para manter um estilo de vida (e de produção) completamente ecocídico.
A consciência de perigos ambientais não integrou ainda nas mentes o factor «modo de produção», como se isso fosse tabu: as mentes mais inteligentes e cultivadas têm de perceber (e transmitir às outras) que a solução está ao alcance de todos, desde que se trate de um sistema auto-gestionário, revertendo à capacidade de auto-sustentação numa certa comunidade, acabando de vez com «produzir para exportar» exclusivamente, como forma de viver da economia dos países.
Mas as pessoas têm vendas ideológicas que as impedem de ver que o problema não é técnico, mas sim político, no sentido mais nobre, ou seja, da organização geral das sociedades.

Manuel Baptista

JSA disse...

Cara Palmira, a questão da remoção de água para aumento de rendimento não foi referida num sentido químico, antes mais do ponto de vista de engenharia. A construção da célula provavelmente beneficiaria de um processo que permitisse a remoção ou, pelo menos, o fácil escape da água para fora da mesma. A remoção não será absolutamente necessária para um aumento do rendimento, mas poderá ser útil para evitar uma diminuição do mesmo causada por uma acumulação da água. Por outro lado, creio (embora tenha colegas a trabalhar em células de combustível, não é essa a minha área de trabalho) que a água está presente no estado gasoso (até devido à energia que liberta, como bem refere).

Já no que diz respeito aos géis, foi apenas a primeira coisa que me veio à cabeça, para dizer a verdade, mas outras soluções seriam fáceis de aplicar, não seria esse o obstáculo maior no processo. Em todo o caso, fosse qual fosse o processo utilizado para produção de hidrogénio, provavelmente teria origem na própria água, pelo que a libertação de água pelos automóveis ou outros dispositivos provavelmente não influenciaria o clima de forma muito intensa.

JSA disse...

Caro Manuel Baptista, deve ser muito confortável ter a visão que o progresso é apenas uma questão política, não tecnológica nem científica. Infelizmente é resultado de cegueira. Se ler convenientemente o post da Palmira aperceber-se-à que assim é. Nem todas as plantas são utilizáveis para produção do biocombustíveis, assim como nem todas as plantas são comestíveis. Ignorar isto poderá causar uma melhoria das condições sociais de populações mais desfavorecidas a curto prazo, mas a médio prazo (uma geração ou duas, na melhor das hipóteses) tal visão prejudicará toda a gente.

Um exemplo óbvio de tal conceito foi a rejeição da genética pelos regimes soviéticos, por não ser "revolucionariamente aceitável", o que causou um atraso largo na educação de gerações de microbiólogos russos (e afins) que demorou décadas a ser corrigido (se é que o já foi).

Anónimo disse...

jsa:
«Caro Manuel Baptista, deve ser muito confortável ter a visão que o progresso é apenas uma questão política, não tecnológica nem científica»

jsa, faz favor de ler o que está escrito no meu comentário (e não na sua cabeça)?
Não disse nada do que pretende que eu disse, mas antes que
A- As questões ecológicas graves têm como base um conceito produtivista associado ao capitalismo (quer seja ele «liberal», seja ele «de estado»).
B- As questões ambientais não se resolvem por causas políticas, porque tecnicamente EXISTEM soluções.
Enfim, espero que aprenda a ler o que os outros escrevem, discutindo o sumo daquilo que escrevem e não outra coisa.
Quanto à rejeição da genética pelo poder sovietico, estou talvez tanto ou mais a par da questão do que o/a Senhor/a, visto eu ser geneticista de formação (e ter estudado a questão do lissenkismo muito a fundo) e não vejo nada que tenha relação directa com a presente discussão, mas como tudo, pode ser que encontre um nexo lógico... eu não encontro, sinceramente!

JSA disse...

Caro Manuel Baptista,

primeiro que nada, lamento se o li mal. Normalmente atribuo isso a leituras apressadas minhas ou à minha falta de entendimento, seja lá porque motivo for, do que foi escrito. Neste caso, no entanto, confesso que fiz um esforço para ler com cuidado aquilo que escreveu atrás e confesso também que não o entendi bem. Por isso, parece que cometi um erro. Ainda assim, da forma como apresentou as suas opiniões, acredito que o mal não foi apenas meu. Aquilo que me terá levado então ao erro na leitura foi esta passagem «as mentes mais inteligentes e cultivadas têm de perceber (e transmitir às outras) que a solução está ao alcance de todos, desde que se trate de um sistema auto-gestionário» que parece, lamento estar então errado, que quer que as opiniões políticas se subordinem a um desejo final, sensação ainda mais notória quando leio «o problema não é técnico, mas sim político», o que não é completamente verdade. Sem dúvida que há um problema político, mas os problemas técnicos não são pequenos, bem pelo contrário. Estamos, até, numa fase em que o problema ainda não será político, uma vez que a tecnologia ainda não resolveu as suas questões.

Quanto ao seu segundo comentário (reacção ao meu), parece-me um pouco despropositado no tom. Seja geneticista à vontade, não lho levo a mal, pelo contrário. Talvez, no entanto, queira escrever as suas opiniões de forma menos exaltada e mais clara no futuro. Não é mais que uma sugestão, que só segue se quiser. Estou a ver que conhece o caso do lisenkismo muito melhor que eu (que tive de ir confirmar o nome, dado que não me recordava dele de imediato), pelo que não preciso de maneira nenhuma de o explicar. Apenas o integrei na lógica de lhe querer fazer ver (porque o entendi mal e pensei ser necessário) que a tecnologia não se compadece com os desejos políticos.

Para terminar. Concordo que existem soluções. Mas ainda não estão, nem de perto nem de longe, optimizadas de um ponto de vista tecnológico. Como tantas vezes no passado, sabe-se o que fazer em termos científicos, mas ainda falta descobrir a forma de implementar as soluções na tecnologia disponível. É o caso prático das células de combustível, por exemplo.

Anónimo disse...

Nossa. Quanta manipulação. Essa afirmativa eh ilária, não fosse trágica e tendenciosa: "The rapid capitalization and concentration of power within the biofuels industry is extreme." imagine a concentração na indústria de petróleo... que evidentemente é quem paga esse lobbies !

Joana disse...

É, parece que o maniqueísmo anónimo não afecta só criacionistas! Agora são lobbies do petróleo que nos pagam! Há com cada ... neuron challenged! Foi por estas e por outras que desisti de pertencer a organizações ambientalistas: só me saíam na rifa alucinados que pareciam fanáticos religiosos com verdades absolutas intocáveis!

Gostei de ler a discussão sobre células de hidrogénio, aprendi imenso mas pelo que percebi ainda não é uma alternativa prática ao petróleo.

O Manuel Baptista é um daqueles românticos bem-intencionados que preconiza soluções fantásticas mas que não passam disso: de fantasias. Esta das comunidades auto-sustentadas é muito gira para meia dúzia de gente com muito dinheiro que resolve dar uma de Robinson Crusoe.

Mas a solução dele resolvia todos os problemas: morria à fome ou por falta de assistência farmacêutica para aí 9/10 da população mundial, as pessoas que sobravam podiam viver alegremente sem capitalismo num sistema auto-gestionário, revertendo à capacidade de auto-sustentação numa certa comunidade... da Idade da Pedra :)))

Para mim não é o sistema de produção que tem de ser modificado: é o sistema de consumo. Afinal, os que produzem querem é vender o produto. Se as pessoas não comprassem determinadas coisas elas não eram produzidas. Mas queria ver o Manuel Baptista e outros que tais que vociferam contra a globalização e o capitalismo a lavar fraldinhas de pano e a lavar uma garrafa de vidro para ir buscar leite, azeite, óleo, etc. à mercearia da esquina.

Anónimo disse...

Julgo não errar se disser que quando se é jovem se olha com os olhos postos no futuro, na meia idade com os olhos focados no presente, a partir de uma certa idade com os olhos voltados para o passado. É o meu caso! A referência a textos latinos do "De Bello Gallico", transportou-me para os meus tempos de liceu em que os 3 ciclos iam, respectivamente, até ao 3.º ano, o 2.º ciclo até ao 6.º ano e, finalmente, o 3.º ciclo finalizava no 7.º ano em que se optava por letras ou ciências, que posteriormente se transformarem em alíneas conforme os cursos superiores a seguir. Embora eu tenha optado por ciências, recordo com saudade os tempos do latim, uma "ginástica mental" que nos obrigava a andar à procura do sujeito ou do predicado em sítios do texto que não obedeciam às normas do português. Hoje agradeço a esses tempos o suporte que me deram para o domínio (ou a tentativade domínio!) da língua pátria que vai aí buscar a origem de muitas das suas palavras actuais. Se não me engano, mais que ao grego onde nunca tive que me ver grego para o dominar. Passou-me ao lado, qual cavalo sem freio nos dentes que, felizmente, nunca fui forçado a cavalgar.

Anónimo disse...

O que se trata (?) é de dar vazão à agressão sem freio, sem problemas, porque afinal, quem é visado é um nome anónimo...
Pessoas sem peias na cabeça, acordai!
A questão que coloco é pertinente e colocada desde DENTRO da ciência. Ninguém mais do que eu pode reivindicar a racionalidade científica.
É isso que incomoda certas pessoas, muito aptas a condenar sem querer perceber.
Pois bem: isso é um obstáculo epistemológico, mas também político a encontrarem-se soluções, em termos de aplicabilidade social.
Porque o problema técnico é relativamente subordinado. Diz-me que tipo de energia e que tipo de distribuição da «propriedade» e do «uso» da mesma defendes e dir-te-ei quem és.
As pessoas que não conseguem imaginar nada para além do capitalismo parecem-se com as que viam (há apenas um século!) como uma «utopia» a ambição do ser humano voar, de fabricar engenhos voadores.
As soluções técnicas podem ser afinadas e devem sê-lo: porém, do ponto de vista político ou social é que se colocam os problemas principais.
As pessoas não querem renunciar a certos confortos, porque só vivem na angústia do «aqui e agora». Outras, não pensam senão em igualar o desfogo e o «bem estar» dos ricos... O problema, com certeza, é de ordem social e político, não é técnico: do ponto devista técnico, garanto-vos que existem muitas e boas soluções, sem perda de qualidade de vida a um nível fundamental... mas, isso implica uma outra «weltanschauung»...
Lamento, mas não há volta a dar-lhe: o problema é político e somente se pode encontrar soluções se e somente se houver honestidade política das pessoas para pensarem e argumentarem em termos políticos.

Manuel Baptista

Anónimo disse...

Comparando o rasto que a agricultura romana deixou, com o que a actual está a deixar é difícil perceber a inteligência, por tantos apregoada, sempre presente na evolução da vida.
A solução para o problema do excesso de dióxido de carbono na atmosfera passa pelo abate das florestas?
Não tarda muito, estão a perguntar aos cientistas se não desenrrascam umas árvores, ou melhor, umas florestazitas artificiais para substituir os pulmões do Planeta!

guida martins

Anónimo disse...

Parabéns a todos por esta interessantíssima discussão, que li a correr na sequência de um excelente concerto da Orquestra de Câmara do Centro, numa Igreja de Coimbra :-) . A única electricidade usada para produzir aqueles belíssimos sons era a da iluminação.
Mas Palmira: o que são biocombustíveis «verdes» ao certo? A tralha descartável que nos obrigam a consumir em excesso em todo e qualquer hipermercado? E que fica para ali a dar um mau aspecto terrível ao ambiente, de tão inestéticos serem aqueles tabuleirinhoas cheios de embalagens encarquilhadas misturadas com restos de comida?
Quanto a usar fraldas de pano: não é problema, sou uma das tais ambientalistas que usou e adorou.
Podia escrever outras coisas, sobre hidrogénio e assim, que respiguei noutros lugares, mas agora tenho sooooono...
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Corrijo (?):...que usaram e adoraram. Esta concordância deixa a desejar. zzzzzzzzzzzzzzzzz
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Só mais uma coisa:
sobre isto
http://www.trec-uk.org.uk/reports.htm
já eu tinha ouvido falar há uns tempos em alemão.
E há mais soluções.
Falta a política, pois! E resolver o imbróglio da economia.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Mesmo a propósito este artigo no DN:

COMBUSTÍVEL VERDE 'SOBE' PREÇO DE ALIMENTOS

A escalada do preço dos cereais e a canalização desta matéria-prima para os biocombustíveis vão provocar um aumento do preço de alimentos básicos em Portugal, alerta a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA).

Entre os produtos mais afectados encontram-se as rações para animais (e consequentemente a carne), pão, óleo, massas, cereais para o pequeno-almoço, farinhas e ovos. A Associação do Comércio e Indústria da Panificação (ACIP) já anunciou que o pão vai voltar a subir este ano entre os 8% e os 10%. Aumentos de outros produtos são esperados para breve.

(...)

Nos cereais, o aumento é bem evidente: as cotações do trigo e da cevada subiram 47% em apenas um ano, enquanto o milho subiu 32%. Sendo Portugal um forte importador de trigo (mais de 90%) e de milho (50%), a indústria agro-alimentar está a ser muito afectada por estas cotações.

Além de outras causas, Pedro Queiroz destaca que a "pressão" sobre os cereais deve-se à utilização destes produtos no biocombustível. "Cada vez mais os stocks alimentares são utilizados nas energias alternativas em vez de serem canalizados para a alimentação. Além disso, o facto de a União Europeia e outros países estarem a dar incentivos para estes combustíveis está a provocar uma distorção no mercado."

O responsável adiantou que não "está contra os combustíveis limpos, mas se a política ambiental está a afectar bens essenciais alimentares, devia ser revista".

Anónimo disse...

O post “Ecologia e biocombustíveis”, que tem gerado de forma viva e esclarecedora a troca de ideias que assistimos, é uma boa manifestação de um conjunto de interesses de natureza científica, tecnológica, filosófica, económica e de preocupação social por parte dos que aqui têm intervindo.
Pegando nos últimos posts, concretamente do Carlos Fiolhais sobre cultura científica, do Desidério sobre argumentação (pensamento/raciocínio) e da Palmira sobre ciência e técnica, acrescentaria uma ou duas perspectivas relacionadas com a ciência e suas ligações com outras áreas de conhecimento, nomeadamente a história e filosofia. Está bem patente nas discussões que aqui se levantam que as componentes histórica e filosófica também são centrais para o entendimento destas problemáticas e porque não dizer para uma melhor compreensão dos feitos da ciência e da técnica onde, se percebe que quer através de argumentos racionais e irracionais, quer de argumentos críticos, lógicos e criativos se pode chegar a boas conclusões.
Tomando o caso deste post, creio que o problema ambiental, a criação de energia nuclear, a questão das energias renováveis e não renováveios nos afecta a todos e a sua solução talvez não passe apenas pelas mãos dos cientistas. Por isso, aproveitaria para questionar se muitos dos temas que aqui têm suscitado interesse serviriam de indicadores que justificassem ou não a proposta de criação de cursos ou de programas de
ciência-sociedade em todos os graus de ensino, onde professores, estudantes e até políticos, fossem incitados e convidados a apresentar argumentos qualitativos e quantitativos para que se tomassem boas decisões para a resolução de problemas, logo para o bem viver.
Com certeza que este tema, à semelhança de muitos que aqui têm sido apresentados e analisados, é um bom exemplo de como se pode fazer uma boa contribuição para o tão malfadado ensino e educação de que tanto nos queixamos e preocupamos. Há dias, o Desidério trouxe para o debate o assunto sobre o que é politicamente correcto dizer-se. Corroborando com Michael Polanyi acerca do conhecimento tácito (há coisas que sabemos mas não podemos dizer), atrever-me-ia a dizer que ou a perguntar se seria interessante ou não que o Ministério da Educação ou melhor, que o sistema político, permitisse que um conjunto de professores devidamente seleccionados e com credenciais dadas, do ensino superior, institutos de investigação, indústria, ou outro, fossem permitidos ministrar aulas, nas escolas primárias e secundárias. Estou plenamente convencida de que o “status quo” se poderia alterar significativamente.

Mudando de assunto - desde há algum tempo que me ocorre a ideia de fazer uma sugestão sobre a periodicidade dos posts. Não conheço e ainda não me apercebi bem da política geral dos blogs e por isso mesmo gostaria de perguntar ao Carlos se será possível deixar os mesmos posts (2 ou 3) durante uma semana de forma a permitir discussões mais aprofundadas sobre os temas que eles encerram. Pressinto que dado o ritmo com que os posts são apresentados, por vezes ficam “coisas” por dizer, por comentar porque os posts já passaram (mesmo que se tenha acesso a eles) e perde-se a oportunidade de mais discussão, mais esclarecimento e mais depoimentos. Será este ponto de vista exequível ou o blog perderá dinâmica e interesse se não for preenchido, todos os dias, com vários posts de assuntos diferentes?

Maria Elvira Callapez

Anónimo disse...

O blog perderá dinâmica e interesse se não for preenchido, todos os dias, com vários posts sobre assuntos diferentes. Quem quer discutir sabe dirigir-se à caixa de comentários do post que lhe interessa.

JSA disse...

Guida, as florestas, importantes como são (obviamente) para a saúde do planeta,não são os "pulmões da Terra". Os oceanos sim, são-no. A maior parte do oxigénio da Terra (se não me engano) é produzido por microorganismos capazes de fotossíntese (Palmira, serão as cianobactérias originais?, aqui a memória falha-me). Claro que o abate de florestas provoca uma diminuição do resgate de CO2 da atmosfera mas, segundo as lógicas (no papel) dos biocombustíveis, o CO2 libertado por estes combustíveis é depois resgatado pelas culturas que são a fonte dos mesmos. Ou seja, há como que uma recirculação do CO2 entre as culturas e a queima dos biocombustíveis, pelo que não se adiciona CO2 à atmosfera. Não digo que esteja correcto, apenas que é esse o conceito.

Já agora, para que não seja acusado de comentar sob anonimato (também basta clicar sobre o meu nome antes de cada comentário para aceder a essa informação), assino este comentário:

João Sousa André

Anónimo disse...

Também no Público:

Agravamento do preço dos cereais vai inflacionar produtos alimentares
27.07.2007 - 08h52 PUBLICO.PT

A subida do preço dos cereais, que irão servir de matéria-prima para os biocombustíveis, vai inflacionar o preço dos produtos alimentares de primeira necessidade, tais como a carne, o pão, o óleo, as massas, as farinhas e os ovos. O alerta é da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares.

Joana disse...

A fotossíntese é quase o único processo de produção de oxigénio. Nem todas os mo's que fazem fotossíntese produzem oxigénio, são os anoxygenic photosynthetic bacterium p.e. :) O grosso das bactérias fotossintéticas são cianobactérias, cianofíceas, algas azuis, verdes ou blue-green.

As antecessoras das cianobactérias (de há 3000 milões de anos) não produziam oxigénio. Este artigo do PNAS tem uma esplicação como por selecção natural passaram a produzir :)

Nunca ouvi falar que as bactérias são a maior fonte de O2 da Terra mas pode ser verdade.

Palmira F. da Silva disse...

João (JSA)

Como disse logo no início da discussão sobre o aquecimento global e afins, a questão dos oceanos é demasiadas vezes ignorada em toda a polémica desenvolvida em volta do tema. O fitoplâncton não só produz boa parte do oxigénio que respiramos como sequestra CO2 - vide a Hipótese de Ferro. Como escrevi na altura, os oceanos são o maior tanque de carbono da Terra, armazenando-o via uma bomba de solubilidade mas também via uma bomba biológica.

Ao relação ao balanço zero de CO2 na utilização de biocombustíveis, o problema, em termos exclusivamente de CO2, é mesmo o abate da floresta e também a libertação do CO2 sequestrado nos solos, especialmente os solos de turfa. Por um lado liberta-se massivamente CO2 para a atmosfera após o corte das floresta e depois em steady state o balanço é negativo porque as culturas que irão produzir biocombustíveis têm balanço zero de CO2 enquanto as florestas originais sequestravam carbono...

Palmira F. da Silva disse...

o link não funciona. Aqui vai de novo

A Hipótese de ferro

Anónimo disse...

Biocombustíveis? Depende, como todas as coisas são bons e maus conforme se lidam com eles. Se a sua produção for à toa porque dá dinheiro na hora causa problemas ambientais graves, se forem utilizados como mais uma ferramenta onde deva ser utilizada passa a ser mais uma energia alternativa boa. O desafio é não nos relacionarmos com as energias alternativas como nos relacionámos até aqui com o petróleo (utilização quase única, porque mais fácil). A “pastilha” milagrosa para cada um consumir sem efeitos, de graça e à vontade parece-me estar no imaginário dos deuses ainda. Procurar as melhores soluções e contar com todas as hipóteses parece ser mais seguro. Olhar para os aspectos negativos dos biocombustíveis ou de qualquer outra energia e referenciá-los em qualquer circunstância não me parece uma atitude científica.
Por exemplo, em Cabo Verde onde chove pouco, a agricultura é quase nula, não existe floresta, a pobreza é efectiva, o país depende do petróleo e as pessoas fogem do campo para entupir as cidades, o biodiesel a partir do cultivo em larga escala da Jatropha Curcas (planta que já foi utilizada para produzir sabão e que Cabo Verde já foi um dos maiores exportadores mundiais durante quase dois séc.) pode ser uma bênção dos céus sobre todos os aspectos. E se juntarmos a eólica e a solar, a geotermia e as ondas do mar onde elas se justificam e possam ajudar, tudo vai ficar mais verde, o país vai gastar menos com o petróleo, a pobreza diminuirá e a segurança energética será maior.
Biocombustíveis? Sim, depende… Nuclear? Sim, depende... Fotovoltaico? Sim, depende… Afinal a ciência serve para que? Se estão a abater florestas para produzir etanol é porque deixam, isto tem a ver é com política e não com as desvirtudes dos biocombustíveis.

Joana disse...

Mais do Monbiot:

Eco-junk

Dozens of new books appear to provide an answer: we can save the world by embracing “better, greener lifestyles”. Last week, for example, the Guardian published an extract of the new book by Sheherazade Goldsmith, who is married to the very rich environmentalist Zac, in which she teaches us “to live within nature’s limits”(2). It’s easy: just make your own bread, butter, cheese, jam, chutneys and pickles, keep a milking cow, a few pigs, goats, geese, ducks, chickens, beehives, gardens and orchards. Well, what are you waiting for?

Her book also contains plenty of useful advice, and she comes across as modest, sincere and well-informed. But of lobbying for political change, there is not a word: you can save the planet in your own kitchen – if you have endless time and plenty of land. When I was reading it on the train, another passenger asked me if he could take a look. He flicked through it for a moment then summed up the problem in seven words. “This is for people who don’t work.”

Joana disse...

Sérgio Alves:

tem de se olhar para os dois lados da moeda quando se fala em energias renováveis. Olhar só para os benefícios é enfiar a cabeça num buraca e pode ser pior a emenda que o soneto.

Os biocombustíveis podem ser uma excelente solução para Cabo Verde mas são uma péssima solução se conduzirem a mais desflorestação.

Joana disse...

Este do Monbiot, que passou a ser o meu herói, é fantástico (e preconiza o contrário do que diz o Manuel Baptista....)

A Sudden Change of State

Last year, the German government published a study of the effects of linking the electricity networks of all the countries in Europe and connecting them to North Africa and Iceland with high voltage direct current cables(7). This would open up a much greater variety of renewable power sources. Every country in the network would then be able to rely on stable and predictable supplies from elsewhere: hydroelectricity in Scandanavia and the Alps, geothermal energy in Iceland and vast solar thermal farms in the Sahara. By spreading the demand across a much wider network, it suggests that 80% of Europe’s electricity could be produced from renewable power without any greater risk of blackouts or flickers.

JSA disse...

Palmira, foi excelente a iniciativa de trazer de novo esse post. Talvez vocês (no De Rerum) possam utilizar um pouco mais os auto-links, em que se citam dentro do blogue (e especificando que é um link dentro do blogue), coisa que pode reavivar alguma discussão em posts antigos, preocupação expressada pela Maria Elvira Callapez.

Quanto ao oceanos, eu referi-os antes precisamente para evitarmos esta mania de pensar que são as florestas que nos dão todo o oxigénio e que têm que remover o carbono. Essa é uma ideia passada de forma excessivamente frequente por jornalistas cujo único contacto com ciência é o computador.

JSA disse...

Já que se falou em Cabo Verde, relembro que não é absolutamente necessário falarmos em florestas para obter biocombustíveis. Há uns tempos participei num workshop da Shell onde se falava do projecto de produção de combustíveis a partir de algas em Angola. A matéria prima, em vez de cereais ou outras culturas terrestres, eram algas que existiam de forma natural na costa. O engenheiro da Shell que apresentou o workshop referiu que era importante construir as "quintas de algas" em zonas favoráveis mas que não interferissem com a biodiversidade local. Verdade que é fácil dizê-lo, mas pareceu-me, seja como for, uma boa opção. Mais uma vez, ao referirmos culturas terrestres, estamos a ignorar o contributo dos oceanos. Portugal, com o rácio que tem entre linha costeira e área total, deveria aproveitar melhor este recurso imenso.

Anónimo disse...

Apoio a visão de Sérgio Alves, acresentando-lhe uma pitada minha:

As decisões sobre o modo de vida, sobre a economia, sobre o que produzir e como produzir, pertencem aos cabo verdianos... o mesmo se aplica (ou deveria aplicar-se...) a quaisquer comunidades, independentemente das circunstâncias geográficas.

Quando escrevi o meu primeiro comentário, comecei por referir que as comunidades deviam apontar para uma inteira autonomia tanto no plano alimentar como energético. Deveria ser este um grande objectivo de qualquer comunidade humana, a qual necessariamente terá os seus modos próprios de governo, de tomada de decisões...

Ora, isto não significa -de modo nenhum- que tais comunidades sejam submetidas a uma menor qualidade de vida. O exemplo de Cabo Verde, citado no comentário anterior, é apenas um entre muitos, onde se teria a ganhar com um aumento de auto-sustentação, em termos de qualidade de vida para as populações.
Tal não significa que estejamos fechados numa comunidade desligada das outras, uma «autarcia», que é completamente diferente de autonomia.
O facto de uma aldeia ser autosuficiente em termos de energia eléctrica, por exemplo, acaso vai limitar os seus contactos, as suas trocas, comerciais e culturais, com o resto do mundo?
A resposta é «não, antes pelo contrário», visto que a independência em termos de energia eléctrica significaria que parte do dinheiro desses cidadãos não teria de ser desviado para «a conta da luz» e permitiria que todos usassem esse suplemento como melhor entendessem...
A utilização de tecnologias em pequena escala, mas com bom nível técnico, de segurança, de cuidado com o ambiente etc. é a solução do futuro em todas as sociedades.
A energia nuclear é a pior de todas, nem é «solução» nenhuma, pois não se pode encarar a sua exploração senão numa escala gigantesca, com imensos cuidados de segurança a todos os níveis, com o problema do processamento dos desperdícios e das instalações nucleares obsoletas, etc. Penso que não estou a dar nenhuma novidade.

Porque é que o preço dos cereais aumenta?
Porque os alimentos base na economia mundializada estão sujeitos a mercados mundiais, os quais são mais ou menos tão especulativos como os mercados de acções. Provavelmente, a demanda concreta de matéria-prima para biocombustível não aumentou subitamente. Provavelmente houve uma série de decisões políticas e de investimentos que deram o sinal de que iriam ser necessários NO FUTURO, grandes quantidades de cereal. Imediatamente, o preço subiu em flecha, devido à previsão de aumento da procura.
Isto demonstra suficientemente os meus argumentos, embora eu não esteja feliz por isso.
Também estou profundamente infeliz, porque vejo a comunidade científica desatenta das questões políticas. Está treinada para resolver os aspectos técnicos, científicos, teóricos... o que é normal! Mas deveria também ter atenção aos aspectos de cidadania, sociais, éticos e políticos, ou seja implicar-se com seriedade, pois eu acredito que seria um contributo valioso (e cada vez mais necessário) para fazer avançar as coisas.

Manuel Baptista

Anónimo disse...

Joana, em vez de atirares o Monbiot á cabeça dos leitores, seria melhor pensares pela tua própria.
Além do Monbiot ser um utopista político, preconizando um governo mundial da ONU, esta exercendo a soberania directa sobre o mundo... tese que ele defendeu em livro recente (salvo erro, com menos de 6 anos...), Monbiot faz aquilo que é um «truque» clássico e pouco honesto. Vai buscar os PIORES exemplos de argumentações contrárias às suas, para desacreditar as teses dos que não afinam pelo seu diapasão. Isto chama-se desonestidade intelectual: se eu não hesito em aplicar o termo a Monboit (por mais inteligência que lhe reconheça, de resto) não há dúvida que não devemos querer -num debate sereno e sério- estes «argumentos».
Uma rede eléctrica do género da descrita por ti, seria o meio das sociedadedes abastadas continuarem a bombear recursos energéticos das mais pobres, portanto continuando com o seu estilo de vida inteiramente irracional e egoístico.
Basta ver para onde seriam exportados os excedentes de energia elétrica produzidos no Sahara, ou noutras zonas mais ou menos desérticas, desertificadas, em que as populações continuariam a viver de forma miserável.

Se queres alimento, produ-lo, se queres energia, idem: evidentemente isto tem de ser feito à escala de comunidades, mas isto implica uma opção pela autonomia alimentar, energética e portanto política das mesmas...PORTANTO TOCA A RIDICULARIZAR, A DIFAMAR, A AMESQUINHAR QUALQUER COISA QUE VÁ NESSE SENTIDO... é isso que os defensores do capitalismo à outrance nos querem fazer engolir, mas agora com roupagens «verdes».

Anónimo disse...

jsa, as florestas não são os verdadeiros pulmões da Terra, contudo, com a sua destruição não está em causa somente o problema do CO2, infelizmente está também associado o desaparecimento de inúmeras espécies quer vegetais quer animais (algumas ainda desconhecidas), cujo habitat é irrecuperável.
Penso não estar a dizer nenhum disparate se afirmar que com a agricultura intensiva, de forma indirecta, também se destrói o fitoplâncton. A poluição normalmente associada à agricultura e que transforma qualquer curso de água numa espécie de caldo químico, que mata tudo por onde passa, acaba por chegar aos oceanos.
Assim, em vez de se resolver um problema é provável que se criem mais uns quantos de resolução cada vez mais complexa.

guida martins

Joana disse...

Este Manuel Baptista começa a fazer-me entender porque razão alguns católicos se sentem mais irritados que eu com os neuron challenged criacionistas e outros fundamentalistas.

Ou porque outros falam em "más companhias"...

Os maniqueístas que acham que são donos e senhores da verdade absoluta, religiosa ou não, irritam-me solenemente. Ou embarcamos no que dizem ou somos capitalistas... Só falta a cassette da "luta de classes".

Não há dúvida que os extremos se tocam. Uns põem bombas em clínicas de aborto, matam médicos e homossexuais, agridem evolucionistas e outros ateus, outros pôem bombas em labs onde se usam animais, agridem a polícia e incendeiam lojas e carros em manifestações anti-globalização, cortam às tiras casacos de peles...

Mas depois usam computadores com chips feitos em Taiwan, torres feitas na China, motherboards no Arizona, you name it.

Se querem computadores e outros luxos globalizantes produzam-nos!

JSA disse...

Claro Guida, nunca disse o contrário, apenas quis chamar a atenção para o facto de as florestas não serem os "pulmões do planeta". Isso não lhes diminui a importância, pelo contrário, porque assim nos podemos concentrar nos outros benefícios que trazem.

E claro que a agricultura intensiva acarreta problemas mesmo ao nível do fitoplâncton. O que ainda nos vai valendo é que os oceanos, enormes como são, têm conseguido ir sobrevivendo até agora. A questão é que não o conseguirão fazer para sempre e nem sequer o farão por muito mais tempo. Por isso a necessidade de explorar os recursos marítimos mas de forma sustentada.

Anónimo disse...

http://luta-social.blogspot.com/2007/07/preo-dos-cereais-no-mercado-mundial.html

Espero que as pessoas tenham elevação no debate e não caiam no estilo de insulto ideológico e intolerante da pessoa que se designa por «joana».
De resto, quero agradecer a autora do post inicial e os «comentadores» pois me estimularam para escrever a reflexão que transcrevi acima.
Obrigado e boas férias!
Manuel Baptista

Anónimo disse...

Os senhores dos petrodólares não são nossos amigos nem amigos do ambiente.

Na minha humilde perspectiva a questão energética é basicamente uma questão política. Grande parte da solução do problema passa pela diversificação das fontes, mas tal não interessa aos senhores do capital. A diversificação das fontes concordo que conduz a um conceito de comunidades muito mais restrito do que a internacional da qual terão muito menor dependência. Mas isso nada tem a ver com isolamento.

Qualquer que seja a solução energética alternativa, se for única implica investimentos brutais em armazenamento e redes de distribuição que os capitais protelarão o mais que for possível, além de criar ou perpetuar monopólios que manterão as dependências e portanto os subdesenvolvimentos. As soluções técnicas existem em vários domínios mas não são promovidas nem tão pouco é promovida a generalização da ideia que a energia é um bem essencial e escasso (a que hoje utilizamos), ao contrário do senso comum em certa medida já existente em relação ao bem água.

O paradigma do consumo desenfreado também favorece o capital e portanto as medidas de redução individual dos consumos não têm difusão. Uma maior consciencialização de todos nós seria desde logo uma boa ajuda para o problema. Se há trinta anos as empresas tivessem produzido painéis solares em vez de esquentadores a nossa conversa podia ser outra, mas alguém no entretanto tinha deixado de ganhar alguns milhões em gás. Os transportes públicos podiam já nesta altura estar a dar um enorme contributo utilizando energias limpas e dissuadindo o uso do automóvel. Muita da utilização do automóvel penso que podia, sem prejuízo, ser realizada com veículos de duas vias, energia poluente e energia limpa. O próprio ordenamento do território poderia e devia ser utilizado como instrumento de correcção e motivador de uma melhor auto sustentação: quanto custa a todos nós a IC19?

A diversificação das fontes exclui à partida os inconvenientes de uma dependência energética exagerada, relativamente a quantidades limitadas de matéria-prima ou à sua concentração, e a conflitos geográficos, mas parece ser perigoso para quem manda porque diversifica o negócio.

Há trinta anos a ecologia era uma ideia naïf, hoje é snobe mas infelizmente a maioria dos problemas mantêm-se ou agravaram-se e hoje em dia pouco tempo e espaço restam para visões idealistas como as que Lula da Silva deixou na Europa durante a Conferência Internacional sobre biocombustíveis.

Artur Figueiredo

Joana disse...

Meu caro Manuel Baptista:

Você entra por aqui dentro como os okupas que elogia no seu blog, a dizer que temos "vendas ideológicas" que nos impedem de ver a "verdade", que não conseguimos ver mais nada que o capitalismo, insulta abaixo de cão o Monbiot, responde como respondeu ao jsa e agora arma-se em vítima? A vitimização é mesmo patologia dos totalitários, ideológicos ou religiosos!

É preciso ter muita lata!

Segundo o Manuel só há uma única solução (que só as palas ideológicas não nos deixam ver, pelos vistos) para a crise energética: a anarquia ou o comunismo libertário (Trotsky?)!

tipo de organização espacial e económico, que vai ao encontro dos modelos de socialismo autogestionário, não-autoritário ou libertário, que sempre foram defendidos pelos anarquistas, anarco-sindicalistas, comunistas libertários, etc.

Desde a faculdade em que dava para o torto tudo o que metesse anarcas que não tenho pachorra para esta gente! O pior é que desacreditam os ambientalistas, etc.. todas as causas a que se colam com os desacatos que provocam (como aconteceu no 25 de Abril...).

Não me lembro de nada em que entrem anarcas que não acabe em violência...

Joana disse...

E não vai ser a produzir energia verde que vamos lá. O Artur Figueiredo tem razão ou mudamos hábitos de consumo ou não há diversificação de fontes de energia que nos valha!

Não sei se já olharam para os gráficos das estimativas de consumo de energia para os próximos 10 anos, feitos admitindo que a China mantém a taxa de crescimento actual (o que é utópico). Não dá para continuar neste consumismo desenfreado, simplesmente não dá!

Anónimo disse...

O consumismo desenfreado é um dos grandes responsáveis por esta nossa conversa, mas espero que não se leve muito a sério a conversa das fraldas de pano, de fazermos o nosso pão, cultivarmos os nossos legumes, etc., como solução. É bom não esquecer que até há relativamente pouco tempo essa era a realidade em Portugal e que essas eram tarefas das mulheres. Foi o terem-se libertado delas, ganhando tempo que antes não tinham, e não uma qualquer ideologia, que permitiu a sua emancipação, pelo menos a possível.
Porque é que não se incentiva a produção doméstica de energia eólica, solar ou outra? Pelo que tenho lido a tecnologia existe, está disponível para consumo, e a curto prazo até dá lucro a quem nela investe.

guida martins

Anónimo disse...

Da leitura das óptimas intervenções que surgiram ao longo deste debate, creio que há uma consciência ambiental, situação quase inexistente em Portugal há cerca de 10 anos. Penso que há consenso em admitir que para resolver os problemas ambientais do ar, da terra e da água, teremos de contar com os políticos, com a sociedade e com a ciência e técnica. E fundamentalmente com a economia dos países. Se houver crescimento económico, o ambiente poderá ser melhor, o que aos olhos de algum público parece paradoxal por associar o crescimento económico a maior consumo (carros, fumos, químicos, combustíveis, etc), logo à degradação do ecossistema. E em situações de “consumo desenfreado”, como lhe chamou Artur Figueiredo, surgem movimentos e campanhas apelando à redução do mesmo e em certos casos incitando mesmo ao boicote de certos bens de consumo. Seria interessante verificar, na prática, o impacto que esses apelos produzem nas populações.

Parece-me que, a breve trecho, não será difícil alterarmos os nossos padrões de consumo e atenderemos aos pedidos que nos lançam para reduzirmos a poluição. Mas isso, mais uma vez, passará e muito por um bom investimento numa excelente educação ambiental para percebermos bem a filosofia do “desenvolvimento sustentável”.

Falámos aqui de vários recursos, entre os quais, da agricutura, do petróleo, da energia, da água .... Sobre a água, deixaria uma pequenina nota. Não se tratará de uma receita mas apenas de uma sugestão para um pequeno gesto, para uma prática diária. Seria razoável alguém desenvolver uma tecnologia para que, quando tomássemos duche ou banho, a água que usamos fosse canalizada para as sanitas? E se, enquanto esperamos pela água quente durante o duche ou banho ou outra situação (para quem tem água quente canalizada) a recolhessemos em recipientes à medida e ao gosto de cada um, para reutilizar essa água no que for necessário? É uma água limpa e não deveria ser desperdiçada. É apenas um exemplo.

Maria Elvira Callapez

Anónimo disse...

Elvira: sim, há imenso tempo que é possível fazer isso com a água.O problema não está tanto assim nas soluções tecnológicas.
E, já agora: as fraldas de pano existem, mas não são, nem por sombras, como as de antigamente. A «tecnologia», se quiserem usar o termo, mudou radicalmente, o que prova que não há necessariamente fixismos ou fixações imutáveis em tecnologia. Só tenho bem a dizer das fraldas de pano que usei com o meu filho mais novo, desde que saibamos usá-las prevenindo as assaduras. Tenho falado disso noutro fórum, em que descrevi os truques que usei, por isso não o farei aqui. Há uns anos atrás pediram-me inclusivamente um texto para o Público sobre isso.
Quanto a fazer pão: estou para ir daqui a bocadinho comprá-lo a quem o faz artesanalmente. Também sei fazê-lo aqui em casa, mas dá trabalho. Daqui até eu ser uma fundamentalista vai uma enorme distância, mas em tempos, por causa da tendência para a rotulagem apressada destes comportamentos «diferentes»,a que me via sujeita quotidianamente, cheguei a assumir-me como fundamentalista, algures num artigo qualquer que escrevi :-).Coisa que, de facto, não sou.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Para quando outro post sobre o criacionismo?

Zurk disse...

Estamos de facto numa encruzilhada relativamente à substituição dos combustíveis fósseis. Os biocombustíveis não são a solução e mesmo o hidrogénio levanta problemas, que estão referidos em alguns comentários, mas ainda algumas outras questões como seja o efeito de um aumento tremendo da percentagem de vapor de água na atmosfera, que a sua massificação acarretaria. Não sabemos as consequências de tal efeito e não há nada que nos diga que seriam inócuas.

Anónimo disse...

Onde foram buscar tão deplorável tradução do excerto do De Bello Gallico?!!

Palmira F. da Silva disse...

Alice:

Só tenho uma tradução brasileira do De Bello Gallico. Agradeço-lhe antecipadamente se fizer o favor de colocar aqui outra tradução para eu a substituir.

Anónimo disse...

Tive há uns anos atrás a oportunidade, que não desperdicei, de cultivar os meus legumes. Tendo crescido em ambiente urbano, constituiu um desafio considerável. Não posso dizer que tomei esta decisão por motivos exclusivamente ecológicos, o meu gosto pelo mundo das plantas contribuiu bastante. A verdade é que com a ajuda de uns livros e de uns amáveis vizinhos agricultores, fiz a minha horta! Tentei ser o mais biológica possível: reciclava os restos orgânicos para fertilizante (foi o melhor fertilizante para plantas que já usei, mesmo em vasos), reciclava a água, nada de venenos, etc. Semeei coisas que não gosto de comer, só para ver como cresciam, por exemplo as couves-de-bruxelas, que nem os meus vizinhos conheciam, a não ser do supermercado!
Foi uma experiência fantástica em todos os aspectos, menos num: esta saborosa solução, mesmo como hobbie, consumia muito tempo e energia - a minha. Há muitas outras coisas que gosto de fazer, como ler-vos e que por falta de tempo e cansaço não seriam possíveis.
Ao mesmo tempo, percebi que as pessoas não tinham grandes preocupações ambientais. Não só não reciclavam o lixo orgânico como entupiam os contentores com a relva do jardim ou as aparas da poda dos arbustos. Esqueceram o saber dos romanos, preferem os produtos químicos, acessíveis a todos, mesmo aos que nem ler sabem, quanto mais respeitar as instruções de utilização. Fiquei nessa altura com a sensação de que a teoria que diz que os legumes e frutas do pequeno produtor são mais saudáveis, não passa de um mito.
Penso que todos devemos e podemos reduzir o nosso impacto no ambiente, mas devíamos fazer uso da tal inteligência que nos distingue das outras espécies e fazê-lo de forma global e concertada: não percebo que uma boa parte do desperdício de água se dê na rede de distribuição, antes de chegar às nossas torneiras, que não se dê pela presença de ecopontos nas instituições públicas (escolas, hospitais, etc.), que não se separe, para além das embalagens, o lixo orgânico, o que, pela minha experiência, reduziria bastante o impacto dos aterros sanitários, etc.. Para não parecer que o nosso esforço é apenas uma gota de água no oceano, de eficácia algo duvidosa…

guida martins

Anónimo disse...

Quão urbanos seremos nós, afinal? Olhando em volta com atenção, não tanto como nos dizem. Abençoados pequenos produtores, em altura de desemprego galopante. Eu consigo ler-vos porque não tenho pachorra para centros comerciais, a não ser muito de vez em quando. É cada um mais ou menos igual ao anterior... Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

OPEC on Tuesday warned western countries that their efforts to develop biofuels as an alternative energy source to combat climate change risked driving the price of oil "through the roof".
Abdalla El-Badri, secretary-general of the Organisation of the Petroleum Exporting Countries, said the powerful cartel was considering cutting its investment in new oil production in response to moves by the developed world to use more biofuels.

FT.com, June 5 2007

Ecologistas "profundos" e petrolíferas, a mesma luta!

Anónimo disse...

Naturalmente entristecido pela falta de reacção à minha provocação de ontem, junto um pequeno texto, de fonte qualificada, sobre o que justifica os biocombustíveis, sobretudo destinado aos menos informados sobre o assunto.
Realço a mais importante: os combustíveis fósseis vão acabar!

"Reasons to Promote Biofuels

As a fuel, most biofuels are more expensive than conventional transport fuels. So, if market prices are taken into account, political objectives come into play. There are several reasons why governments have decided to promote biofuels including energy security, environmental targets and rural and agricultural politics.
Biofuels can contribute to energy security by diversifying energy supply sources for transport. The displacement of petroleum fuels by biofuels would lead to a reduction in global oil consumption. This in turn would limit the need to import crude oil from unstable producing areas and reduce import spending. In addition, the blending of biofuels into traditional transport fuels increases product supply, which has been restrained this last year due to limited refinery upgrading capacity.
One of the most frequent arguments used to promote biofuels is that it is renewable. Ethanol and biodiesel provide significant reductions in greenhouse gas emissions compared to gasoline and diesel on a ‘well-to-wheels’ basis (‘Well-to-wheels’ refers to the complete chain of fuel production and use, including feedstock production, transport to the refinery, conversion to final fuel, transport to refuelling stations, and final vehicle tailpipe emissions). While a range of estimates exists, most studies find significant net reductions in CO2-equivalent emissions for both types of fuels. (See: Biofuels for Transport - An International Perspective, IEA, 2005 for a wider discussion on the subject).
There are large differences in potential carbon dioxide emissions avoidance by using biofuels. The critical factors are the amount of fossil fuels used to produce and transport the biomass feedstock and process it (including inputs into fertilisers, machinery and for irrigation); the share of zero and low
emission energy inputs; the crop yields; and the efficiency of biofuel production. For bioethanol from sugarcane and crop residues and for biodiesel from animal fats, the whole process, from producing the biomass feedstock to combustion of the biofuel, can lead to 90% carbon emission reduction per kilometre of travel compared with using gasoline or diesel fuels. Where higher energy-intensive feedstocks are used (such as annual root and cereal crops), little if any renewable energy is consumed
during the production and process, only around a 10-15% reduction in overall carbon emissions per kilometre may result.
Biofuels can also improve vehicle performance. Ethanol has a high octane number and can be used to increase the octane of gasoline. It has traditionally not been the first choice for octane enhancement because of its relatively high cost, but as other options (lead and MTBE) fall increasingly out of favour due to safety/environmental reasons, demand for ethanol for this purpose is on the rise. Biodiesel can improve the diesel lubricity and raise the fuel’s cetane number, aiding performance.
In developing economies, biofuels have the potential to stimulate and sustain rural development, create jobs and reduced import costs."

IEA/OCDE - Medium-term Oil Market Report, July 2006

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