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Conta outra lenda urbana mais recente - na realidade a audição das transmissões da Vostok 1 não o confirma, assim como não confirma o que a imprensa internacional publicou «Não vejo qualquer Deus aqui em cima» (pode ouvir aqui o registo oficial da Russian Space Agency) - que Yuri Gagarin transmitiu do espaço a sua impressão do nosso planeta com «A Terra é azul!». Embora tudo indique que a exclamação tenha sido proferida já na Terra, esta apreciação colorida do nosso planeta visto do espaço reflecte o fascínio que desde sempre a cor exerce sobre o Homem.
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De facto, o fascínio do ser humano pela cor (e pela luz) é um arquétipo que nos acompanha desde os primórdios da História. O homem adorou o Deus sol, o Deus raio, a Deusa lua, o Deus fogo, enfim, várias fontes de luz e associou-lhes cores. Em todas as culturas, os corantes e pigmentos cumpriram funções semelhantes: na Idade da Pedra, o ocre vermelho era quasi omnipresente em ritos funerários. O vermelho simbolizava o sangue em muitas culturas e relacionava-se com divindades de guerra como Marte, Febo e Ares: o vermelho era habitual nas pinturas de guerra dos soldados para que o poder dos deuses os acompanhasse.
Concomitante com a adoração de vários emissores de luz, quer a luz quer a cor foram utilizadas pelos seres humanos de forma terapêutica - recordo uma submersão em vermelho recomendada pelas minhas avó e bisavó durante o meu sarampo infantil. Aristóteles, Pitágoras, Paracelso, Goethe e Steiner dissertaram sobre o efeito da cor no homem e já os antigos egípcios usavam a fototerapia para tratamento de algumas afecções dermatológicas. Também a cromoterapia teve os primeiros adeptos nos sacerdotes egípcios.
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Foram igualmente os egipcios que descobriram novos aglutinantes para estes pigmentos, goma arábica, clara de ovos, gelatina e cera de abelhas, aglutinantes que seriam usados até ao século XV quando Jan van Eyck e o seu irmão Hubert revolucionaram a pintura com a introdução do óleo de linhaça - e da pintura a óleo. Será a tinta homogénea inventada por van Eyck que Gutenberg utilizará na sua prensa.
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Apenas em pleno século XIX a química coloriu o quotidiano dando «vida à vida, cor às cores, para mostrar a alegria do existir e a razão do viver». Em 1856 William Perkin sintetiza por pura serendipidade a mauveína e com os seus verdes 18 anos percebe as potencialidades da descoberta dedicando-se por uns anos à produção deste - e outros- corantes sintéticos. O sucesso da mauveína assinalou o nascimento da moderna indústria de corantes sintéticos, que se desenvolveu principalmente na Alemanha do virar do século.
3 comentários:
Fabulosa a magia das cores...
Obrigada por no-la recordar de uma forma tão bela que só enaltece a magnitude do Universo.
Muito interessante. Só não concordo c/ Nero a viver no sé. I a.C.
OOps, claro que o a.C. está a mais.
Obrigado anónimo, vou já emendar.
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