"Euromilhões" é o nome de jogo promovido pela Santa Casa da Misericórdia. O seu slogan mais recente, mas já com alguns anos, é "euromilhões a criar excêntricos de um dia para o outro". Os spots publicitários dão, em breves segundos, uma ideia precisa de "excêntrico": aquele que, por ter muito, muito, muito dinheiro, pode fazer o que bem entender, independentemente das consequências dos seus actos. Enriqueceu, logo pode!
A falta de conhecimento e de pensamento histórico ajudam a fixar essa ideia. Vejamos...
A imagem ao lado é de um spot (aqui) muito simples e, aparentemente, simpático: um marido, que se tornou imensamente rico quer oferecer à esposa algo único. E o que faz? (Presume-se que) Mandou adaptar o rosto da "Esfinge" ao da sua "bébé"!
Qual é o problema? Perguntarão alguns confrontadas esta questão, se até vêem graça no pequeno filme: é apenas um spot para tentar vender um produto.
É isso e não é.
É isso e não é.
Antes de mais, há que contar com o pensamento do publicitário, criativo mas dentro da lógica "o que funciona". Nada o deteve de apresentar aos clientes a ideia de que um capricho pessoal pode sobrepor-se ao valor que um legado desta grandeza tem e, sobretudo, à responsabilidade que nos cabe em o preservar. Por seu lado, os clientes aprovaram a ideia e também os meios de comunicação onde passa. Caso contrário não entrava pelas nossas casas no tom alegre e desempoeirado a que assistimos.
Imagine-se que o mesmo marido depois de ganhar os tais milhões, dizia à sua amada esposa: "vou enviá-los, sem lhe tocar e sob anonimato, para a fabulosa equipa que tenta, por todos os meios, salvar a frágil "Esfinge".
Sim, não funcionaria: na ausência de sentido histórico, veicular este altruísmo acabava com o Euromilhões!
2 comentários:
A estupidez é, de facto, ilimitada.
A ciência e a técnica e as tecnologias vieram estabelecer (fazer com que se estabelecesse) um sistema de prioridades e de valores que tende, senão a desprezar, pelo menos a relegar para plano secundário, ou irrelevante, a história, o sentido e o conhecimento do passado.
O capitalismo financeiro e o capitalismo industrial formaram a dupla perfeita e são a dupla perfeita para a promoção da ciência, da tecnologia e de tudo o que possa dar retorno (estou a falar de dinheiro).
Infelizmente, os critérios do retorno (capital financeiro) não são sustentáveis, e nem questiono se são desejáveis ou se são eticamente admissíveis.
Também foi uma pena imensa não ter havido da parte de ninguém uma previsão (visão) da furibunda barbaridade que se estava (e está) a cometer contra o planeta (em troca de mais dinheiro, para cometer mais barbaridades, em troca de mais dinheiro...).
O melhor dos mundos possíveis instalou-se e o dinheiro, que avançava na forma de tanques de guerra, passou a chover sob a forma de bombas em cima de cidades incrivelmente belas, com uma história incrível. Mas que ficaram reduzidas a cinzas (as cidades e as pessoas). As cinzas não fazem história.
Hoje interrogo-me se posso dizer que não participo ou participei
(conscientemente) em alguma guerra (do dinheiro e seus servidores).
As guerras tendem a ser vendidas como amor, mas as suas consequências são desastrosas.
E, se calhar, não merecemos mais do que isso. Mas aqui acabam os direitos do homem. Se é que alguma vez existiram verdadeiramente.
A ciência e a tecnologia e os poderes políticos colocam-se de tal modo ao serviço da ignorância e da estupidez, que é preciso criar um super poder que o impeça, que impeça a vaga (espiral) de destruição bélica e punitiva, quando não são apenas comportamentos chauvinistas e xenófobos, aberrantes (e cá vem a palavra proibida "odiosos").
A cultura não tem chegado a todos.
Muitos episódios, de que temos conhecimento através dos noticiários (os meios de difusão e de comunicação também servem para isto), revelam um desconhecimento preocupante, por parte de populações urbanas de países desenvolvidos, do significado de igualdade, liberdade, direito e, pior do que isso, uma ausência de percepção ou sentimento de reciprocidade, negando a lógica inerente ao "meum et tuum", que sustenta o entendimento do respeito do indivíduo.
Esta lacuna é mais perigosa do que o buraco do ozono, mas não vi nenhuma comunidade científica a vaticinar tragédias.
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