Na sexta feira passada tive a honra de apresentar a Sílvia Curado, que recebeu o Prémio Bento Pessoa Personalidade da Figueira do Ano no casino da Figueira da Foz. Deixo aqui o texto:
A Figueira da Foz é a terra de grandes figuras do
desporto – como o ciclista José Bento Pessoa e a basquetebolista Ticha
Penicheiro. E é a terra de figuras históricas como Manuel Fernandes Tomaz,
Joaquim de Carvalho e João Gaspar
Simoes, e de escritores actuais como os meus amigos Afonso Cruz e Nuno
Camarneiro. É a terra de Sílvia
Curado, Doutorada em Genética,
Biologia Molecular e Biologia do Desenvolvimento que se tem dedicado ao estudo
dos genes e das suas aplicações. Os seus genes são daqui.
Foi toda uma preparação escolar realizada aqui na foz do
Mondego, desde o Jardim-Escola ao Ensino
Secundário (uma parte dele na Escola Doutor Joaquim de Carvalho) – que lhe
serviu de base a um notável percurso académico-profissional internacional. Foi durante a realização do seu estágio de
Licenciatura na Universidade de Bergen, Noruega, integrado na Licenciatura em
Bioquímica pela Universidade de Coimbra, que nasceu o seu gosto pela
investigação científica. Realizou,
de seguida, o Mestrado em Biologia Celular, numa colaboração entre aquela
Universidade e o Hammersmith Hospital, Londres. Neste trabalho
aplicou o seu conhecimento dos genes à deteção de células cancerígenas (em leucemia). Prosseguiu a sua formação académica
no European Molecular Biology Laboratory, Heidelberg, Alemanha)
para realizar o seu doutoramento. Foi aí
que aprofundou a sua ligação à Genética, a sua grande paixão. A
mosca-do-vinagre serviu-lhe como modelo
para estudar mecanismos biológicos que são semelhantes àqueles que têm
lugar no ser humano. Seguiu-se, num salto sobre o Atlântico, o pós-doutoramento na Universidade da Califórnia, São Francisco, Califórnia, na área de Medicina
Regenerativa e Organogénese. Aí usou como modelo o peixe-zebra para estudar o
processo de formação e de regenlvia!eração de órgãos como o coração e fígado. Obteve
então o Certificado em Business
Administration pela University of
California, Berkeley. Mais tarde
assumiu uma posição na Universidae de Nova Ioqrue, Faculdade de Medicina, para
co-liderar o Centro de Investigação Nanomedicine Development Center.
Actualmente, nessa Universidade, é Diretora de um Programa de investigação
multidisciplinar na área da obesidade e outras patologias que afligem o mundo
de hoje. A Silvia é também um dos primeiros membros da Singularity University em Portugal, uma instituição global focada
em tecnologias do futuro. Tal como o extraordinário ciclista Bento Pessoa, que
foi campeão lá fora, a Silvia é uma vencedora com carreira internacional. Ela
pedala muito bem na sua área!
A Silvia é autora do livro Engenharia Genética – o Futuro Já Começou editado em Portugal em 2017
e que tem por objetivo desmistificar a
genética e fazer-nos pensar sobre o potencial que a engenharia genética tem.. Conforme
diz o subtítulo, o futuro é já hoje e a nossa jovem premiada preocupa-se com o
futuro! O nosso futuro individual está
em grande medida nos genes: conhecê-los melhor é conhecer o nosso futuro. Confessou-me
que lhe dá enorme satisfação saber que tem influenciado alguns jovens a seguir
o caminho da ciência, ou ter sido abordada pelo Teatro Aberto de Lisboa para usar
alguns dos seus textos.
Além do mais, a Silvia é
Presidente da PAPS - Portuguese American
Postgraduate Society, organização que visa apoiar o desenvolvimento
académico-profissional de Portugueses licenciados e pós-graduados nos Estados
Unidos ou Canadá, e que procura estabelecer pontes entre Portugal e a América
do Norte. Neste âmbito tem sido responsável pela organização de várias conferências
não só nos EUA como em Portugal. Tive a oportunidade de estar numa na
Universidade de Harvard. A Sílvia ajudou a fortalecer a rede GPS – Global Portugueses
Scientists que fundei na Fundação
Francisco Manuel dos Santos e esteve
presente numa conferência GPS sobre “Os
Humanos do Futuro”. Aí disse que ela é uma “força da Natureza” . Tenho testemunhado
o seu extraordinário entusiasmo na congregação da diáspora científica do outro
lado do Atlântico. Hoje há toda uma geração de brilhantes cientistas
portuguesas lá fora, que a Sílvia tão bem representa. Temos de lhes dar
atenção.
Impulsionada pela busca
da verdade como cientista, a Sílvia é também uma artista: usa outra das suas
grandes paixões – a fotografia – para reflectir sobre o que é de facto a verdade.
Viveremos “entre verdades”? Este é o tema da sua recente exposição de
fotografia na Embaixada de Portugal em Washington. Entre verdades, entre a
verdade da biologia e a verdade da medicina, entre Portugal e outros países,
mas transportando sempre consigo – garante-me e, porque acredito nela, eu posso
também garanti-lo - o grande orgulho de ser, para além de portuguesa,
figueirense. Uma figueirense do coração. Proponho que a Figueira da Foz, que
agora tão justamente lhe atribui o prémio de personalidade do ano, mostre aqui no Casino as suas
fotografias, mostrando como arte e ciência podem estar juntas, como arte e
ciência nos podem ajudar a sermos mais humanos. Muitos parabéns Sílvia!
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