sexta-feira, 25 de julho de 2014

VOTO DE PROTESTO CONTRA OS CORTES NA CIÊNCIA CHUMBADO PELA MAIORIA PSD/CDS

O grupo parlamentar do Partido Socialista apresentou um voto de condenação à recente avaliação das Unidades de Investigação. Este voto foi rejeitado com os votos contra do PSD e do CDS/PP e a favor do PS, PCP, BE e Verdes:


Voto de Protesto 

Estão a ser impostos novos cortes no financiamento público na Ciência, desta vez, nas Unidades de Investigação.

O desinvestimento do XIX Governo no setor da Ciência tem merecido constantes críticas e manifestações de desagrado por parte da comunidade científica, decorrentes dos cortes cegos em bolsas e unidades de investigação, e de processos concursais pouco transparentes que têm levado a uma desacreditação progressiva daquela que em tempos foi uma instituição na qual os cientistas confiavam – Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). 

No final do ano passado registaram-se cortes drásticos nas bolsas de doutoramento (-40%) e de pós-doutoramento (-65%), condenando deste modo toda uma geração de investigadores e procedendo a uma “destruição criativa” da Ciência, como assim a apelidou o conceituado investigador Manuel Sobrinho Simões. 

Este cenário calamitoso é agora reforçado com a publicitação dos resultados referentes à primeira fase de avaliação das Unidades de Investigação, cujo número de cientistas “sentenciados à morte”, como assim os designou o Investigador Carlos Fiolhais, é de 5.187 num total de 15.444 investigadores. 

Com efeito, a avaliação das unidades de investigação científica e de desenvolvimento tecnológico promovida pela FCT conjuntamente com uma organização internacional (European Science Foundation), cuja credibilidade está a ser muito questionada por parte da comunidade científica, desenvolve-se em duas fases distintas: uma 1ª fase eliminatória já concluída e que excluíu de qualquer financiamento 71 Unidades de Investigação, às quais se encontram associados 1.904 membros, e uma 2ª fase à qual poderão apenas concorrer as já selecionadas 168 Unidades de Investigação.

Assim, das 322 Unidades de Investigação, cerca de metade (154) poderão deixar de ter qualquer tipo de financiamento a curto prazo. 
Esta falta de financiamento direto às Unidades de Investigação, acrescida dos cortes orçamentais que nos últimos anos têm sido uma constante no Sistema Científico e Tecnológico Nacional, impossibilitam a continuidade de muitas instituições e põe em causa projetos cujo retorno económico para o país é por demais evidente. 

A falta de apoio a investigadores com provas dadas em diversos setores estratégicos como a Matemática, a Física, a Engenharia, a Sociologia, entre outras, muitos deles galardoados com distinções nacionais e internacionais, deve ser vivamente rejeitada, uma vez que constitui um convite à emigração, caso queiram continuam a trabalhar na área para a qual foram qualificados – Investigação. 

O investimento em Ciência tem de ser uma ideia partilhada por todos para a defesa dos interesses nacionais.

Neste sentido, a Assembleia da República exprime a sua posição contrária aos cortes em curso nas Unidades de Investigação, considerando-os assentes numa ótica economicista, que não salvaguarda o investimento feito e a sustentabilidade da produção científica nacional. 


Assembleia da República, 10 de julho de 2014 


1 comentário:

Ildefonso Dias disse...

Professor David Marçal;

Permita-me que lhe transcreva o Professor Bento Jesus Caraça, para depois o poder questionar melhor:

“Mas o que não deve nem pode ser monopólio de uma elite, é a cultura; essa tem de reivindicar-se para a colectividade inteira, porque só com ela pode a humanidade tomar consciência de si própria, ditando a todo o momento a tonalidade geral da orientação às elites parciais.
Só deste modo poderá levar-se a bom termo a realização daquela tarefa essencial que atrás vimos ser o problema central posto às gerações de hoje - despertar a alma colectiva das massas."[Bento Caraça – em A cultura Integral do Individuo]


Não considera que é descarado – por contraditório com os seus governos - aquilo que o PS escreve, “O investimento em Ciência tem de ser uma ideia partilhada por todos para a defesa dos interesses nacionais.”? E aqui pergunto, mas porque só uma ideia, e não uma tomada de posição consciente e necessária que permita a “todos” decidir!? Ou é essa consciência colectiva ao mesmo tempo perigosa para os partidos que traem o povo?
E assim sendo quem é que deve ditar a todo o momento a tonalidade geral da orientação às elites parciais, são os partidos maniatados pelo poder económico, ou a colectividade inteira?
Quando foi que o PS e os seus governos ou outros, desenvolveram politicas que levassem ao “despertar a alma colectiva das massas”? Que eu me tenha apercebido nunca, e certamente também o Professor David Marçal, porque isso seria a decadência desse e dos outros partidos políticos...

Professor, o que nos resta no momento é uma sociedade adormecida, que não está capacitada para dar a resposta necessária, repare que nem sequer é capaz de responder e perceber o embuste sarcástico que é este voto de protesto. Acredito que este trabalho de levar a cultura às pessoas deve ser feito primordialmente na Escola, - formar cidadãos capazes de intervir com consciência - esse trabalho ainda não foi bem sucedido, e a prova de que assim é, é o momento da Ciência e dos demais aspectos da vida em geral.

Cumprimentos,

Do século das crianças ao século de instrumentalização das crianças

Muito em virtude do Movimento da Educação Nova, iniciado formalmente em finais de 1890 e, em especial, do trabalho de Ellen Key, o século XX...