Voto de Protesto
Estão a ser impostos novos cortes no financiamento público na Ciência, desta vez, nas Unidades de Investigação.
O desinvestimento do XIX Governo no setor da Ciência tem merecido constantes críticas e manifestações de desagrado por parte da comunidade científica, decorrentes dos cortes cegos em bolsas e unidades de investigação, e de processos concursais pouco transparentes que têm levado a uma desacreditação progressiva daquela que em tempos foi uma instituição na qual os cientistas confiavam – Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
No final do ano passado registaram-se cortes drásticos nas bolsas de doutoramento (-40%) e de pós-doutoramento (-65%), condenando deste modo toda uma geração de investigadores e procedendo a uma “destruição criativa” da Ciência, como assim a apelidou o conceituado investigador Manuel Sobrinho Simões.
Este cenário calamitoso é agora reforçado com a publicitação dos resultados referentes à primeira fase de avaliação das Unidades de Investigação, cujo número de cientistas “sentenciados à morte”, como assim os designou o Investigador Carlos Fiolhais, é de 5.187 num total de 15.444 investigadores.
Com efeito, a avaliação das unidades de investigação científica e de desenvolvimento tecnológico promovida pela FCT conjuntamente com uma organização internacional (European Science Foundation), cuja credibilidade está a ser muito questionada por parte da comunidade científica, desenvolve-se em duas fases distintas: uma 1ª fase eliminatória já concluída e que excluíu de qualquer financiamento 71 Unidades de Investigação, às quais se encontram associados 1.904 membros, e uma 2ª fase à qual poderão apenas concorrer as já selecionadas 168 Unidades de Investigação.
Assim, das 322 Unidades de Investigação, cerca de metade (154) poderão deixar de ter qualquer tipo de financiamento a curto prazo.
Esta falta de financiamento direto às Unidades de Investigação, acrescida dos cortes orçamentais que nos últimos anos têm sido uma constante no Sistema Científico e Tecnológico Nacional, impossibilitam a continuidade de muitas instituições e põe em causa projetos cujo retorno económico para o país é por demais evidente.
A falta de apoio a investigadores com provas dadas em diversos setores estratégicos como a Matemática, a Física, a Engenharia, a Sociologia, entre outras, muitos deles galardoados com distinções nacionais e internacionais, deve ser vivamente rejeitada, uma vez que constitui um convite à emigração, caso queiram continuam a trabalhar na área para a qual foram qualificados – Investigação.
O investimento em Ciência tem de ser uma ideia partilhada por todos para a defesa dos interesses nacionais.
Neste sentido, a Assembleia da República exprime a sua posição contrária aos cortes em curso nas Unidades de Investigação, considerando-os assentes numa ótica economicista, que não salvaguarda o investimento feito e a sustentabilidade da produção científica nacional.
Assembleia da República, 10 de julho de 2014
1 comentário:
Professor David Marçal;
Permita-me que lhe transcreva o Professor Bento Jesus Caraça, para depois o poder questionar melhor:
“Mas o que não deve nem pode ser monopólio de uma elite, é a cultura; essa tem de reivindicar-se para a colectividade inteira, porque só com ela pode a humanidade tomar consciência de si própria, ditando a todo o momento a tonalidade geral da orientação às elites parciais.
Só deste modo poderá levar-se a bom termo a realização daquela tarefa essencial que atrás vimos ser o problema central posto às gerações de hoje - despertar a alma colectiva das massas."[Bento Caraça – em A cultura Integral do Individuo]
Não considera que é descarado – por contraditório com os seus governos - aquilo que o PS escreve, “O investimento em Ciência tem de ser uma ideia partilhada por todos para a defesa dos interesses nacionais.”? E aqui pergunto, mas porque só uma ideia, e não uma tomada de posição consciente e necessária que permita a “todos” decidir!? Ou é essa consciência colectiva ao mesmo tempo perigosa para os partidos que traem o povo?
E assim sendo quem é que deve ditar a todo o momento a tonalidade geral da orientação às elites parciais, são os partidos maniatados pelo poder económico, ou a colectividade inteira?
Quando foi que o PS e os seus governos ou outros, desenvolveram politicas que levassem ao “despertar a alma colectiva das massas”? Que eu me tenha apercebido nunca, e certamente também o Professor David Marçal, porque isso seria a decadência desse e dos outros partidos políticos...
Professor, o que nos resta no momento é uma sociedade adormecida, que não está capacitada para dar a resposta necessária, repare que nem sequer é capaz de responder e perceber o embuste sarcástico que é este voto de protesto. Acredito que este trabalho de levar a cultura às pessoas deve ser feito primordialmente na Escola, - formar cidadãos capazes de intervir com consciência - esse trabalho ainda não foi bem sucedido, e a prova de que assim é, é o momento da Ciência e dos demais aspectos da vida em geral.
Cumprimentos,
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