terça-feira, 15 de julho de 2014

Ramón López Velarde (1888-1921)

Cheguei a este poeta mexicano através da leitura de romances do escritor chileno Roberto Bolaño, que viveu no México e contactou com alguns dos melhores poetas deste país.

R.L. Velarde faleceu com apenas trinta e três anos, La edad del Cristo azul.

Disco De Newton

Poema extraído de Zozobra




Omnicolor, a tarde amena...
A alma, muda,
e a luz, vagabunda,
e a aventura, plena,
e a vida, uma fada
que por amor é desembaraçada.
Céu de chumbo.
No ocaso, uma mancha
de açafrão.
Um anjo que derrama o seu tinteiro.
A brisa, como um provérbio
Pesaroso.
No delíquio dourado da colina,
hálito verde, como a respiração
do dragão.
E o vale extasiado
impulsiona o ósculo para que suba
através das claraboias do horizonte.
Tempo confidencial,
como o dedal
das bordadeiras puras
que iniciam o seu monólogo fatal
na esfera das vazias horas.
Ontem você tinha a confidência
na mão,
veia de rosicler,
um alpiste
e um perfume de Orsay.
Tarde, como um momento
de felicidade, entre as pétalas de maio;
Tarde, disco de Newton, em que era
omnicolor  a primavera
e a vida uma fada
Num amor passivo, desembaraçada...

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