Os parâmetros são tantos e tão complexos, as grelhas são tão extensas e difíceis de preencher, o que vale aqui não vale ali, o que vale agora não vale logo... e depois tudo submetido as umas fórmulas de pedra, que dão (só podem dar) uns resultados incompreensíveis.
Esses conceitos a que uma pessoa se afeiçoa e que julga serem já óbvios quando investiga, como a "objectividade", o "rigor", a "clareza"..., levam um pontapé e desaparecem do horizonte... Fica-se sem rede, não se sabe o que pensar e muito menos o que fazer.
Qualquer tentativa de compreensão deste mundo kafkiano em que, num abrir e fechar de olhos, os processos de financiamento e reconhecimento da investigação se tornaram deixa qualquer um à beira da loucura... E, sem nada adiantar porque a confusão em que mergulha distorce as ideias...
Voltas, mais voltas e vai-se sempre dar ao que é óbvio: todo este aparato burocrático "no sense" montado em torno da ciência (e das artes, da filosofia, das humanidades, em geral... que também se vêem metidas nisto) nada tem a ver com a ciência (nem com outras áreas de conhecimento). A ciência está a passar um mau bocado e o lugar onde tem tido um acolhimento preferencial, a universidade, também.
Mas, os verdadeiros cientistas (que se distinguem dos operários-industriais de artigos) hão-de saber ultrapassar isto tudo, e a universidade (que se distingue de uma cadeira de montagem fordiana) também. Afinal uma e outra, as mais das vezes juntas, já passaram por coisas bem piores e sobreviveram.
Maria Helena Damião
3 comentários:
É o tipo de pensamento simplista patente neste post que levou à actual situação, em Portugal. Felizmente este blog pode contar com outros contribuidores.
Senhor Franco: Em vez de chamar nomes podia explicar? Por acaso gostava de entender. É que concordo com a autora mas gostava de ouvir argumentos em contrário.
Senhor/senhora Anónimo(a), não chamei nomes a ninguém. Eu não "fulanizo" as questões. Não ataco pessoas, apenas as ideias.
Mas considero que afirmar, sem o fundamentar minimamente que "os verdadeiros cientistas" ("no true scotsman", uma falácia retórica clássica), os tais que "se distinguem dos operários-industriais de artigos", "hão-de saber ultrapassar isto tudo", ao passo que "a universidade (que se distingue de uma cadeira de montagem fordiana) também" é basicamente wishful thinking, mas intelectualmente fraco.
Entendo que uma investigadora sem UM (!!!) artigo que seja numa publicação internacional como primeira autora se sinta ameaçada (ou não, atendendo que tem a sua posição segura) pelos "operários industriais de artigos", que presumo entender serem os colegas que atraem milhões de euros de investimento com os seus estudos publicados em revistas reputadas e com milhares de citações. Até eu que não sou "pedagogo" tenho artigos científicos, com trabalho experimental em pedagogia numa revista da área que, pasme-se, até tem factor de impacto. Mas entendo as limitações da senhora, porque é de uma outra geração, que não teve que se confrontar com o nível actual de exigência para progredir na sua carreira académica. Outros tempos que não voltam mais.
Entendo ainda que, tendo uma posição estável como docente universitária, ache que ela e os seus pares hão de ultrapassar tudo. Pudera, assim também eu.
Também percebo que quem vê universidades apostadas na investigação e inovação sejam "cadeiras [presumo que quisesse dizer "cadeias"] de produção fordianas" não entenda o valor das mesmas para o papel central destas instituições para o progresso científico nacional e para a sua própria sobrevivência.
Percebo, mas tenho pena que este tipo de pensamento simplista, desinformado, preconceituoso e egocêntrico ainda hoje prevaleça nalgumas universidades nacionais, sobretudo as mais antigas, que estão a ser ultrapassadas a grande velocidade pelas mais recentes. Mas pouco a pouco as universidades ver-se-ão livres destes académicos e do seu pensamento retrógrado, para seu próprio bem e da sua própria sobrevivência.
Está melhor assim, senhor anónimo?
Enviar um comentário