QUEM NÃO DEVE NÃO TEME

A FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia continua sem mostrar nem prestar contas públicas dos contratos que, com o dinheiro dos contribuintes, fez com a Elsevier e com a European Science Foundation, respectivamente para efectuar um estudo bibliométrico e para proceder a uma "avaliação" (vai entre aspas, claro, porque  de avaliação só tem o nome)  O jornalista António Granado pediu esses documentos, invocando a transparência e o interessse público, mas foram-lhe recusados.  A recusa não é a ele, mas a todos nós.

De facto, o primeiro estudo foi inútil porque o governo português já paga a Web of Science à empresa Thomson-Reuters, rival da Elsevier, e o Ministério da Ciência e Tecnologia dispõe de pessoal técnico especializado para fazer e analisar estatísticas. Além disso, as conclusões parece que, em muitos casos, não foram usadas pelos avaliadores, dado o contraste nítido entre as suas apreciações e os resultados anunciados (já nem falo da circunstância, uma ilegalidade manifesta, de os resultados do estudo ter, numa primeira fase, sido escondido dos avaliados).

Quanto ao contrato com a European Science Foundation, uma instituição sem experiência de avaliações institucionais à escala nacional (ou alguém acha que países como. por exemplo, a França ou a Alemanha se iriam submeter a um vexame desses?), será bom saber quanto e como vai ser pago. E, em particular, as possibilidades que o Estado português tem de não pagar parte ou a totalidade do valor contratado, dada a enorme quantidade de erros grosseiros já encontrados nas avaliações. O que tenho visto deixa-me os cabelos de pé: não é uma caso ou outro, vi manifestações de incompetência em áreas como as humanidades, as ciências sociais, as ciências exactas e as engenharias.

Quem não deve não teme. E neste caso há quem nos deva a verdade e o rigor.