sábado, 26 de julho de 2014

Avaliação dos centros de investigação na AR, posição do CLA e de Maria de Sousa

Excertos de uma notícia do PÚBLICO:

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A bola de neve de contestação contra a avaliação dos centros de investigação conduzida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) chegou finalmente ao plenário da Assembleia da República (AR). Um mês após Miguel Seabra, presidente da FCT, ter anunciado os resultados da primeira fase de avaliação, os deputados votaram nesta sexta-feira uma proposta de protesto lançada pelo PS contra os cortes de financiamento que os centros terão na sequência desse processo. A proposta acabou rejeitada pelos deputados da maioria PSD-CDS.

“O investimento em ciência tem de ser uma ideia partilhada por todos para a defesa dos interesses nacionais”, lê-se na proposta de protesto. Nela, o PS defende que o “cenário calamitoso” da ciência portuguesa, devido ao corte nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento atribuídas pela FCT em Janeiro — que deu lugar a um grande protesto no início do ano —, “é agora reforçado com a publicitação dos resultados da primeira fase de avaliação das Unidades de Investigação”.

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Ainda na quinta-feira, a avaliação dos centros foi analisada pelo Conselho dos Laboratórios Associados (CLA), uma rede de 26 institutos e cujo secretário é o cientista Alexandre Quintanilha. As “anomalias gritantes” da avaliação devem ser “urgentemente corrigidas”, defende o CLA em comunicado divulgado nesta sexta-feira. “Todas as unidades de investigação devem ser objecto de visitas de avaliação, essas visitas devem ser conduzidas por painéis especializados, e deve ser garantida a continuidade de financiamento-base às instituições avaliadas pelo menos com Bom”, lê-se, acrescentando-se que, nas novas regras, uma unidade com Bom “será na prática extinta”.

O CLA considera a política de “ruptura” do Governo uma “irresponsabilidade política”: “Pode um sistema científico funcionar sem um grande número de centros de investigação de boa qualidade, embora não excepcionais? Não pode, em parte alguma do mundo.”

Ouvida pelo PÚBLICO, a imunologista Maria de Sousa, professora emérita da Universidade do Porto, não defende a impugnação do processo de avaliação, ainda que ela “possa vir a ser juridicamente inevitável”: “Ainda há algum espaço na audiência prévia [período em curso de reclamação dos resultados] para se perceber bem o que se não fez e se poderia ter feito. Isso é talvez tão importante e mais exemplar do que impugnar”, diz. “A audiência prévia dá-nos a todos o espaço para provarmos que passámos a ser um país que se deve fazer respeitar internacionalmente pela maturidade da sua qualidade científica.”

Miguel Seabra — que Maria de Sousa considera ter tido até aqui uma “convicção cega, sem dúvidas e de que está certo” e uma “insensibilidade” em relação à comunidade científica que deveria representar — ainda está a tempo de voltar atrás. Por que não, em vez de impugnar, dar ao presidente da FCT, também um cientista, a oportunidade de corrigir a avaliação, refere a conhecida imunologista. “Um cientista deverá ser o primeiro a dar o exemplo de reconhecer erros que possa ter cometido, mesmo com a melhor das intenções, e procurar corrigi-los sabendo as limitações do que pode fazer.”

Texto completo aqui:

1 comentário:

Ildefonso Dias disse...

Professor David Marçal;

R. Feynman escreveu “As ciências aplicadas deveriam libertar os homens, pelo menos, dos problemas materiais.”

Certamente que concorda com Feynman.

Apesar de todo o desenvolvimento cientifico e tecnológico de que dispomos hoje, isso não se verifica, de quem é a responsabilidade? Não será dos governos e partidos políticos, aliados de um poder económico criminoso? Evidentemente que é, todos sabemos isso.

Deve-se esclarecer desde já as pessoas acerca da intervenção do PS no aproveitamento deplorável e hipócrita da situação. Não tenhamos dúvidas, transcrevo o Professor Bento de Jesus Caraça, quem quiser ver que veja se assim é ou não:

"Mas, se a identificação de classe dirigente e elite cultural nunca se deu nem se dá, para quê o pretender estabelecê-la?
Razão evidente e única - porque a classe dirigente, não tendo que fazer de momento, nem necessitando, dessas antecipações geniais no domínio da ciência e da cultura (aos seus autores é dada a liberdade de morrer na miséria), precisa no entanto daquilo a que podemos chamar valores científicos e culturais de segundo plano, carece de tomar posse do que da ciência vai derivando constantemente para as aplicações, a fim de adquirir uma base mais sólida de existência e domínio. E como, por outro lado, ela sabe bem que mal vai ao seu poderio quando ele é exclusivamente de natureza material, fabrica, para seu uso próprio, um conceito novo de elite, deformador do verdadeiro, e, armada com esse conceito novo e servida por aqueles que se prestam a dar~lhe corpo, pretende aparecer como suporte único do movimento cultural, relegando para o domínio do subversivo, a que é preciso dar caça, tudo aquilo que contrariar os seus cânones.
E devemos concordar em que tem realizado a primor essa tarefa.
O trabalho de submissão, de lamber de botas, da parte das chamadas camadas intelectuais, tem sido duma perfeição dificilmente excedível. Digamos, para irmos até ao fim, que os mais excelsos nesse mister são frequentemente aqueles que, partindo das camadas ditas inferiores, se guindaram, umas vezes a pulso, outras em acrobacia de palhaço, a posições que deveriam utilizar para defesa dos bens espirituais e que só usam para trair os seus antigos irmãos no sofrimento."[A cultura integral do individuo].


Cumprimentos,

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