sexta-feira, 11 de julho de 2014

Céus Fluidos no Padre António Vieira

Minha nota ínsita na "História do Futuro" do Padre António Vieira, que acaba de sair no Círculo de Leitores:

A teoria dos céus fluido opõe-se à teoria aristotélico-ptolomaica das esferas sólidas, onde se situariam os planetas do sistema solar, o próprio Sol e as estrelas fixas. Em Portugal a ideia dos céus fluidos foi introduzida pelo jesuíta italiano Cristophoro Borri (1583-1632), que esteve no Oriente e ensinou em colégios de Coimbra e Lisboa depois de ter saído de Itália, advertido pelo Geral da Companhia. Borri, um dos introdutores do telescópio entre nós, baseou-se na observação de cometas (como o cometa que observou na Cochinchina, hoje Vietname, em 1618) e no aparecimento de novas estrelas (como a Nova Stella observada em 1572 pelo dinamarquês Tycho Brahe e que hoje sabemos ser uma supernova) para contrariar a tese antiga de que os céus eram imutáveis e incorruptíveis. De facto, Borri deve-se ter inspirado em Tycho Brahe, para escrever: “Na opinião dos Antigos, que imaginavam tantos céus sólidos, não é  possível que os cometas penetrem tantos céus. Na nossa opinião, não é difícil, porque concebemos ser o céu, não um corpo sólido, mas fluido” (in Compendium de Nova Mundi  Constitutione, 1624). Depois de Borri, jesuítas portugueses como Soares Lusitano e Baltasar Teles em Évora, também simpatizaram com a ideia dos céus fluidos. Por outro lado, o francês René Descartes, no seu livro Traité du Monde et de la Lumière, escrito entre 1629 and 1633 mas só publicado em 1664, atribuiu os movimentos planetários a vórtices celestes, um conceito semelhante ao dos céus fluidos. Não admira por isso que o jesuíta Vieira, na sua História do Futuro, escrita a meio do século XVII, fale dos céus fluidos como uma ideia recente. Faz, porém, notar que se trata também de uma ideia antiga. Tem razão, pois, por exemplo, o filósofo grego pré-socrático Anaxímenes de Mileto (c. 588- 524 a.C.) considerava o ar o elemento essencial e imaginava os astros como discos flutuantes em fluxos de ar.

Sem comentários:

ROBERT HOOKE E A FORÇA ELÁSTICA

Meu prefácio ao livro Lições de Potentia Restitutiva ou da Mol a, de Robert Hooke, com introdução, tradução e notas de Isadora Monteiro, In...