domingo, 27 de julho de 2014

MIGUEL SEABRA: O TRIGO, O JOIO E A MAIORIA SILENCIOSA


Numa entrevista recente à Radio Renascença, talvez inspirado pelo circunstância desta ser a emissora católica portuguesa, o Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia achou que cairia bem uma parábola religiosa. Disse que a avaliação dos centros de investigação está a "separar o trigo do joio". De acordo com Mateus 13:24-30 durante o Juízo Final, os anjos vão separar os "filhos do maligno" (o "joio", ou ervas daninhas) dos "filhos do reino" (o trigo):

"Mas enquanto os homens dormiam, veio um inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e retirou-se. Porém quando a erva cresceu e deu fruto, então apareceu também o joio. Chegando os servos do dono do campo, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? pois donde vem o joio? Respondeu-lhes: Homem inimigo é quem fez isso. Os servos continuaram: Queres, então, que vamos arrancá-lo? Não, respondeu ele, para que não suceda que, tirando o joio, arranqueis juntamente com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar, mas recolhei o trigo no meu celeiro."

Miguel Seabra aparentemente considera que alguém, mal intencionado, andou a semear unidades de investigação semelhantes a ervas daninhas no meio das muito boas, excelentes e excepcionais e que estará na hora de as atar em feixes para as queimar.

O Presidente da FCT gosta de usar metáforas.  Já antes, numa entrevista ao PÚBLICO, Miguel Seabra tinha dito que havia uma  "maioria silenciosa" de cientistas que apoiam as políticas de "excelência" e "excepcionalidade" do Governo. A expressão "maioria silenciosa" foi usada pela primeira vez pelo Presidente Nixon dos EUA para designar a parcela do povo americano que, segundo ele, o apoiaria na sua política de guerra no Vietname, por oposição à à activíssima “minoria” que se lhe opunha e de que os media faziam eco. Toda a gente sabe que Nixon resignou. A expressão foi também usada pelo general Spínola em 1974, então Presidente da República, para designar uma suposta maioria conservadora da sociedade portuguesa, que se oporia a políticas de esquerda. Como se sabe, Spínola viu-se obrigado a procurar refúgio em Espanha.

Miguel Seabra, coloca assim o apoio dos investigadores à avaliação das unidades de investigação no mesmo patamar do apoio popular à guerra do Vietname. Nisso, provavelmente está certo.

Sem comentários:

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A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...