quinta-feira, 17 de julho de 2014

MAIS UM CASO ESCANDALOSO NA FÍSICA


Chegou-me ao conhecimento mais um caso escandaloso da avaliação da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnolologia. O LIBPHys, coordenado por Joaquim Santos, um dos físicos portugueses com mais publicações (tem trabalhado em Física Experimental com um Nobel alemão, tendo os seus trabalhos sobre o raio do protão chegado recentemente à capa da Nature) é o resultado da fusão do Centro de Física Atómica de Lisboa (Universidade de Lisboa e Universidade Nova de Lisboa) e do Centro de Instrumentação da Universidade de Coimbra. Dois centros pequenos e bem classificados juntaram-se para formar um maior, de acordo com as recomendações da FCT. A ele juntaram-se quase todos os restantes membros doutorados do Departamento de Física da UNL e os seis membros principais da UICOB - Unidade de Investigação em Ciências Orais e Biomédicas (da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa).. 

O caso parece ainda mais escandaloso do que aqueles que vieram a lume até agora. O primeiro painel da ESF - European Science Foundation  deu as notas de 18, 16 e 20 (no total de 20 valores). A média é de 18 valores. Dos três especialistas anónimos, um deles deu o máximo possível, um caso muito raro. Pois não serviu para nada. O painel, onde a Física estava subrepresentada (estava não só pouco como mal representada) anulou aquelas notas e impediu aquele centro excelente ou talvez mesmo excepcional de passar à segunda fase. Deu-lhe "Bom", o que significa Péssimo na escala da FCT, com uma esmola de 20.000 euros (que não dá nem para apurar o raio do protão, no consórcio internacional, nem para participar nos outros projectos internacionais em que os investigadores estão envolvidos). O painel ignorou quase completamente o valor e sucesso do centro e menosprezou a sua evidente visibilidade internacional. Há erros grosseiros no que respeita à contagem do número de publicações: deve ter sido feita à pressa, pois o erro é de um factor de dois (2). Perguntei aos investigadores o que se passava exactamente e eles disseram-me: 

 "O parâmetro bibliométrico das nossas publicações por investigador (naturalmente com doutoramento) está mal calculado. Em vez de ser 0,62 como o painel refere é 0,97, se o painel o calcular correctamente a partir do número de membros efectivos do centro, sendo mesmo 1,39 se tivermos em conta que todos os membros doutorados mantêm actividade lectiva, sendo, em média, cerca de 70% a percentagem de tempo dedicada à actividade de R&D, tal como a FCT aceita. Há, portanto, um factor de cerca de 2 a ter em conta na produção científica do LIBPhys. Mais ainda, no estudo bibliométrico relativo a 2007-2011, feito pela universidade de Leiden para a FCT, o CI e o CFA, que são os “core” do LIBPhys, apresentam parâmetros que os situam ao mais alto nível, similares aos obtidos por laboratórios associados cujo financiamento global é mais de uma ordem de grandeza superior. Isto não pode ser escamoteado. Por outro lado, por uma questão de justiça, a produção científica dos centros relativamente ao seu financiamento global não pode ser ignorada, análise que parece ser completamente posta de lado pelo painel."

Confio neles, cientistas rigorosos e exigentes, e não na European Science Foundation, uma entidade sem provas dadas na avaliação institucional, e muito menos na actual FCT, uma entidade que até agora foi absolutamente incapaz de reconhecer os sucessivos erros que lhe têm sido apresentados. Há uma FCT a.C. (antes de Crato) e outra d.C. (depois de Crato) e a segunda é muito pior do que a primeira, tanto na qualidade do trabalho como na lisura com que trata os investigadores. A FCT pratica o acto mais anti-científico que se pode imaginar: é incapaz de reconhecer grandes erros que saltam à vista. Com isso retira o país dos consórcios internacionais em que está envolvido e enfraquece o sistema científico-tecnológico nacional. O ministro Nuno Crato sabe isso muito bem, mas uma vez que os seus interesses são neste momento políticos e não científicos, finge que não sabe. 

1 comentário:

Isabel Duarte disse...

Começa a parecer-me, perante tanto atropelo grosseiro, que só há uma solução: exigir a anulação da avaliação. Se não for a bem, por meio dos tribunais, já que, ao que parece, haverá várias falhas mesmo de tipo processual. Por exemplo: pode uma "Audiência prévia" ter limite de palavras? Consta que não. Pode ser exigido que seja redigida em inglês? Consta que não.

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